Eve

Capítulo 11


Tony Stark nunca gostou de ser interrompido, muito menos quando começava a trabalhar em um projeto importante. Então, quando JARVIS anunciou a ligação de Natasha, ele bufou pedindo para o IA abaixar a música que corria solta no último volume em seu laboratório.

— Pode atender. — Tony disse em voz alta, tirando seus óculos de proteção e se afastando da mesa onde soldava uma peça importante de seu mais novo projeto. Logo o barulho do vento pode ser ouvido no laboratório, e o bilionário soube que JARVIS havia redirecionado a ligação para os alto-falantes do cômodo.

— Hey Nat– — O moreno foi interrompido no meio da frase.

— Abra a garagem. — A Viúva Negra foi curta e grossa, sua voz soando fria em meio ao vento e o barulho de motor que preenchiam a ligação.

— Whoa, calma aí. Nem mesmo um “Oi Tony, como vai?” antes? Onde estão os modos dessa geração? — Tony disse balançando a cabeça enquanto andava de forma calma até o elevador.

Alguém bufou do outro lado da linha.

— Você pode por favor só abrir a garagem? Eu não acho que temos muito tempo pra formalidades já que estamos sendo seguidos por agentes da HYDRA. — A voz do Capitão América, que havia escutado o quê Tony havia dito pelo viva voz, soou de forma apressada no telefone.

— E vocês vão trazê-los pra minha torre? — A voz do gênio soou de forma falsamente incomodada enquanto ele observava os diversos andares da Torre dos Vingadores passarem rapidamente por ele no elevador.

— Você sabe que eles não vão entrar aí, e além do mais, a S.H.I.E.L.D. vai pará-los antes que eles coloquem o pé no quarteirão da Torre. — Natasha respondeu calmamente, concentrando-se no transito. Tony escutou pneus cantando antes de retrucar, desconfiado:

— Então por que se incomodarem a vir aqui? A casa de Sam é no mesmo quarteirão, vocês podem se livrar dos agentes sem a minha ajuda.

Steve suspirou do lado da linha, e Tony pode quase ver a expressão derrotada do loiro à sua frente antes de escutar sua resposta. Um sorriso de lado surgiu nos lábios dele ao já adivinhar o quê o Capitão diria.

— Eu estava esperando que a sua proposta ainda estivesse de pé.

— Finalmente! O quê o fez mudar de ideia? A Natasha é que não foi, já que ela passa mais tempo na S.H.I.E.L.D. e no andar do– — Tony parou de falar ao ser interrompido novamente por Natasha.

— Você vai saber quando chegarmos. — Disse a ruiva, acabando com a ligação antes que Tony pudesse reagir. O bilionário ficou por alguns segundos sem reação antes que as portas se abrissem e ele pudesse se dirigir até a garagem.

Andando em passos rápidos e passando por seus diversos carros de luxo, em pouco tempo o moreno chegou até a entrada da enorme garagem.

— JARVIS? — Disse ele ao IA, e foi o suficiente para que o programa entendesse seu pedido.

“É pra já, senhor.”

O portão da garagem se abriu no tempo certo, sendo que assim que o metal se retraiu completamente para dar visão à rampa que mais à frente daria na cheia rua de Manhattan onde a torre se localizava, o carro preto de Natasha passou zunindo para dentro do prédio.

A agente estacionou de forma habilidosa na vaga mais próxima a Tony, e em segundos já estava fora do carro. O mesmo se pôde dizer do Capitão, que logo saiu do banco do carona e em seguida foi em direção ao banco de trás.

Curioso, Tony se aproximou do carro, e suas sobrancelhas se arquearam de forma surpresa quando ele avistou cabelos loiros que definitivamente não eram de Steve no banco de trás. A dona deles, desacordada, logo estava nos braços do Capitão, que a tirou do carro da forma mais delicada possível.

De repente, Tony soube o motivo da súbita mudança de ideia de Steve.

***

Eu estava voando.

As nuvens eram um borrão cinzento passando por baixo de mim, enquanto em alta velocidade eu voava em direção ao pôr do sol.

Eu sabia que aquilo não duraria, a noite com certeza viria e traria consigo todos os males dos quais eu constantemente fugia. O céu, em seus tons de laranja e rosa, não ficaria assim para sempre, e logo eu teria que descer para encarar o mundo nublado e a escuridão que me era destinada desde que nasci.

Eu não queria pensar, não queria acordar, só desejava sentir o vento contra meu rosto e limpar minha mente de todos os horrores que havia presenciado minutos antes.

— Avançar em três... — A voz de Teri ecoou em meu comunicador, o quê me fez suspirar derrotada. —... dois, um. —

E com o final da contagem eu avancei em direção às nuvens, cortando o vento e indo de encontro ao meu objetivo.

Tudo era escuridão.

Eu não sabia onde estava, e nem tinha forças para sair do entorpecimento que vagarosamente eu sentia se esvair de meu corpo. O único barulho que não fazia parte dos inteligíveis murmúrios à minha volta, e que minha mente tentava de maneira falha distinguir, era o constante e irritante bip.

Memórias, que de alguma maneira eu sabia que eram minhas, passavam em flashs por minha mente e iluminavam cada vez mais o pouco de lucidez que eu tinha. Eu sabia que havia tido um sonho, apesar de não me lembrar dele, e que agora eu estava acordada. Também sabia que havia sido atacada, e isso era evidente não só por minhas memórias, mas pela leve dor que começou a surgir em diversas partes de meu corpo enquanto qualquer que fosse a droga que injetaram em mim começava a desaparecer do meu sistema.

Tentei me mover, sem sucesso, com as preocupações que começavam a se formar em minha mente. Onde eu estaria? Onde Steve estaria? Será que os agentes haviam conseguido me capturar?

Rapidamente eu pude escutar o ritmo dos contínuos bips aumentar.

— Hey? Você está acordada? — Uma voz doce e desconhecida me chamou, e alguém cutucou meu braço segundos depois.

Sim! Parte de minha mente gritou, desesperada para sair da escuridão. Por favor, me tire daqui!

Mas a parte mais forte de mim pediu de forma firme que eu me acalmasse, que eu diminuísse meus batimentos cardíacos e não alarmasse quem quer que estivesse me chamando, afinal, eu não tinha como saber se a fonte da voz era ou não um inimigo. Então foi isso o quê eu fiz.

Alguns segundos se passaram até que a pessoa recuasse, e logo o barulho de passos se afastando preencheu o cômodo.

Pareceu uma eternidade até que eu pudesse pensar mais claramente e conseguir mover meu corpo, mas quando eu finalmente consegui abrir meus olhos, um suspiro aliviado não pode deixar de sair de minha boca.

Ainda deitada e evitando me mexer, olhei em volta, e a visão que eu tive não foi nada confortadora. Mesmo sem poder enxergar muito devido a minha posição na maca, estava claro o fato de que o local era um laboratório, e dos mais avançados. A sala branca era coberta de equipamentos os quais a maioria eu não sabia o nome, além de hologramas e computadores de última geração. Um deles estava sendo usado por uma mulher há apenas alguns metros de mim.

Seria ela uma agente da organização que havia me atacado? Ela teria informações sobre Steve? Sobre esse lugar?

Com cuidado para não alertar a morena, que ainda estava de costas para mim, sentei-me na maca e procurei por qualquer objeto que pudesse me ajudar caso ela fosse hostil. Ela certamente não parecia ser uma agente, seu jaleco branco indicava o fato de que era ou da área médica, ou científica, mas era melhor prevenir do quê remediar.

Achei o quê procurava e estiquei-me para pegar a caneta que estava em uma mesa metálica logo ao meu lado, tomando cuidado para não desgrudar os eletrodos de minha pele, pois sabia que assim que eu quebrasse o contato com eles a máquina que monitorava meus sinais vitais dispararia, certamente alertando a mulher.

Peguei a caneta e analisei minha situação.

Era provável que eu estivesse em território inimigo, então teria que aproveitar o elemento surpresa se quisesse escapar ou conseguir qualquer informação. Mas que elemento surpresa eu teria se as máquinas conectadas a mim iriam me denunciar assim que eu pusesse meus pés no chão?

Eu sabia que minha sorte iria acabar em poucos minutos, já que a mulher não ficaria de costas para mim para sempre, e que teria que agir rápido, então suspirei derrotada e desconectei os eletrodos de minha pele logo de uma vez.

Como esperado os alarmes da máquina soaram imediatamente, e a morena virou-se na minha direção com os olhos arregalados por trás de seus óculos cor de vinho.

— Oh, você acord–

— Onde estamos? — Interrompi enquanto colocava meus pés no frio chão do laboratório, e com a caneta em mãos, me posicionei de forma defensiva – o quê certamente não pareceu tão ameaçador quanto eu esperava.

Ela me analisou, parecendo confusa antes de responder.

— Na Torre Stark. — Disse ela, pausando para inclinar a cabeça em confusão.— Você está me ameaçando com uma caneta? — Completou em seguida com um ar humorado em sua voz, claramente segurando o riso.

Sem piscar, continuei a encará-la, o quê a fez limpar a garganta e responder de forma mais séria dessa vez.

— Nós estamos no laboratório da Torre Stark, Capitão Rogers e Agente Romanoff a trouxeram aqui pra cima. Você foi atingida por esse dardo, lembra? — Respondeu ela retirando o pequeno objeto do bolso de seu jaleco e se aproximando.

Instintivamente, recuei alguns passos.

— Olha, eu sei que você está assustada, e tem toda a razão para estar, o Capitão me contou o quê aconteceu quando a trouxe para cá e não deve ser nada legal acordar em um lugar que não conhece depois do quê passou, mas você está segura agora. — Disse a morena de forma cautelosa, lançando-me um sorriso confortador. Algo nela me passava tranquilidade e segurança, mas mesmo que eu acreditasse em suas palavras, eu precisava de uma confirmação.

— Como eu posso saber se está falando a verdade? — Perguntei, relaxando minha postura.

A mulher, que cada vez mais eu estava convencida de que era uma cientista, andou calmamente até uma das cadeiras enquanto dizia:

— Bem, que tal eu chamar Steve? Ele deveria estar aqui agora na verdade, eu que insisti para ele ir comer alguma coisa, descansar um pouco... Custou para convencê-lo a sair do seu lado.

Assenti, mesmo que minha mente ainda estivesse uma bagunça de pensamentos e perguntas sem resposta. Eu precisava confirmar com meus próprios olhos que Steve estava bem, e só ai eu faria as perguntas que clamavam por sair de minha boca desde o momento em que pisei os pés no arsenal da casa dele.

— Oh, e é um prazer em conhecê-la Eve, meu nome é Clara.