Eu não sou ciumento!

Kris observou com o cenho franzido todos desviarem de Kyungsoo enquanto ele buscava um lugar para sentar. O baixinho achou um lugar vago em uma mesa, mas logo ela foi desocupada sem motivo aparente. Kyungsoo não pareceu se importar e passou a comer seu lanche com vontade. No entanto Kris se viu preocupado. Seu baixinho não tinha amigos e não conversava com ninguém além dele e sabia que isso era inteiramente sua culpa. Estava decidido, sua nova missão era encontrar amigos para Kyungsoo.

Kyungsoo acenou para Kris de onde estava e o veterano foi todo feliz para o lado dele, por ter sido chamado.

— O que estava fazendo parado ali no meio da cantina Yifan-Hyung? Fazendo Cosplay de poste?

Kyungsoo implicou vendo Yifan rir e pegar seus Jeotgarak (Hashi) para acompanhar Kyungsoo na refeição.

— Eu apenas fiquei em choque, você está ainda mais bonito hoje que nos outros dias.

Yifan riu do rostinho corado de Kyungsoo que apenas socou seu braço e voltou a comer. Kyungsoo olhou para seu Hyung de rabo de olho e viu que ele estava com a cara toda suja do molho do macarrão e pegou guardanapos para limpar o rosto de Yifan.

— Aigoo, olha só para você, parece uma criança. – Disse enquanto passava o guardanapo com brutalidade no rosto de Yifan.

Os dois estavam em sua pequena bolha conversando de maneira animada, dividindo comida e rindo uma das palhaçadas do outro sem perceber os rostos surpresos dos colegas em volta. Minseok principalmente não sabe como reagir, já que não se lembra de algum dia ver Yifan tão feliz e relaxado ao lado de alguém, nem mesmo quando era ele ali no lugar de Kyungsoo.

A verdade é que Minseok tinha sido amigo de Yifan quando tinham acabado de sair do ginásio. Os dois possuíam a mesma idade e eram apaixonados por esporte, mas então Yifan começou a se tornar distante e briguento, sempre arrumando confusão e tirando notas baixas. Ele só não foi expulso do colégio, devido a todos os prêmios esportivos que ganhava em todas as competições que participava. No entanto ele ficou estancado no primeiro ano do colegial, durante o segundo ano Minseok até tentou manter a amizade, mas tudo se tornou insuportável quando o amigo descobriu seu maior segredo.

Yifan nunca contou para ninguém, mas vivia fazendo piadinhas, soltando frases de duplo sentido e deixando o amigo desconfortável. Até que Minseok explodiu e os dois rolaram no chão da escola em uma briga épica. Dês de então os dois apenas se estranhavam e viviam de ameaças pelo corredor.

Agora esse garoto novato andava com ele pelo corredor todo grudadinho como se fossem próximos a anos. Tão injusto! Minseok queria tirar satisfações, mas sentia medo de como isso poderia acabar. Sabia que se ficasse as vistas de Yifan ele ia o irritar até que os dois brigassem.

Iria esperar que ele estivesse sozinho e então iria se aproximar finalmente.

Yifan estava observando o casal de longe para ter certeza de que eles eram as pessoas certas para o trabalho. Alguém precisava proteger seu Soo quando não estivesse por perto. Depois de observar por algum tempo decidiu que aquela era definitivamente a dupla perfeita. A presidente do conselho estudantil Kim Junmyeon do e o campeão de Hapkido Byun Baekhyun, os dois do segundo ano, eram definitivamente as melhores pessoas para Kyungsoo ter ao lado.

Furtivamente Yifan se aproximou fazendo ambos gritarem de susto. Junmyeon se agarrou ao braço de Baekhyun tremendo da cabeça aos pés e Baekhyun engoliu em seco assustado com a presença do veterano do primeiro ano.

— Venham comigo!

Yifan arrastou os dois até sua sala onde Kyungsoo estava o esperando para saírem juntos até um restaurante nas redondezas. Baekhyun e Junmyeon estavam mudos de espanto. Mesmo sendo quase idolatrados pelos alunos da escola eles não eram exceção em seu receio com o aluno Chinês. Por isso não sabiam como agir diante do gênio impetuoso do colega.

Kyungsoo parecia confuso ao ver Yifan acompanhado por Baekhyun e Junmyeon, mas deu de ombros quando o chinês comunicou que eles iriam comer todos juntos. O casal ficou ainda mais confuso, mas não protestou.

O grupo foi junto até um café próximo. Por incrível que pareça Kyungsoo foi o primeiro a puxar conversa. Meio envergonhado e com as bochechas coradas, mas disposto a não deixar o silencio constrangedor cair sobre eles. Yifan também os acompanhou na conversa mostrando toda a sua capacidade de interação social. Baekhyun e Junmyeon ficaram impressionados com o quão agradável ele poderia ser e passaram a se sentir mais confortáveis.

— Yifan-Hyung, eu tenho que ir para casa terminar os exercícios, não se esqueça de fazer os seus. – Kyungsoo disse ao se despedir.

— Pode deixar, Soo.

Yifan beijou a bochecha de Kyungsoo que se iluminou todo como uma árvore de natal. Ele se despediu de seus Sunbaes que fitavam a cena achando muito fofo a interação entre os dois. Junmyeon era uma Fujoshi assumida e Baekhyun era bissexual, nada que Yifan não tenha se certificado antes.

— Kris-Hyung, você gosta muito do Do Kyungsoo, não é?

Baekhyun deu um soquinho no braço do mais velho que assentiu envergonhado.

— Um dia a gente vai casar, vocês vão ver!

E Junmyeon teve que segurar um gritinho histérico de felicidade enquanto Baekhyun caía na gargalhada.

Minseok havia conseguido encurralar Yifan atrás da quadra. O chinês estava gazetando aula para dispersar sua energia acumulada. De jeito nenhum conseguiria prestar atenção na aula com tanta adrenalina correndo em seu sangue. Por isso havia pegado a bola do time de basquete escondido e tinha se refugiado ali, só não esperava topar com seu velho amigo.

— Por que está fazendo isso Kris? Porque se aproximar do Do? Vai fazer com ele o que fez comigo? Vai cuidar dele, se tornar importante para depois fazer da vida dele um pesadelo? – Minseok gritou.

Yifan respirou fundo e olhou nas írises do terceiranista. Ele estava magoado e era tudo sua culpa. O início do colegial foi muito difícil para Yifan, afinal foi quando ele entendeu melhor sua sexualidade. Esse também foi o período de intensas brigas com sua família ao revelar ingenuamente a eles o seu segredo. É claro que toda a família tradicional Chinesa de Yifan caiu matando em cima dele. Eles simplesmente não conseguiam aceitar!

Yifan apenas conseguiu permanecer na Coreia graças ao seu Tio Kevin que morava no Canadá e que foi o único a o apoiar em tudo. Até mesmo o convidou para ir morar com ele, mas Yifan disse que tinha o sonho de se tornar um idol e por isso preferiria continuar na Coreia. Sua família de parte Chinesa continuou o infernizando, ao perceber que Yifan tinha apoio e não mudaria de ideia sobre o assunto. Isso fez com que a ansiedade de Yifan disparasse e ele acabou descontando tudo na escola e principalmente em Minseok.

— Me desculpe Xiumin. – Yifan disse baixinho e se curvou a quase noventa graus assustando Minseok com essa mudança de atitude.

— O que aconteceu com você Kris... – Minseok disse balançando os cabelos de maneira nervosa. – Não foi do nada que tudo aconteceu, não é?

Yifan estava muito calado. Minseok engoliu em seco quando o viu levantar a cabeça. Ele tinha as bochechas e coradas e parecia completamente envergonhado.

— Eu amo Do Kyungsoo. – Yifan deu uma pausa recuperando folego.

Minseok arregalou os olhos entendendo mais ou menos o que poderia ter acontecido. De repente se sentiu mal por não ter confrontado o antigo amigo muito antes. Antes de deixar que a raiva afastasse os dois.

— Eu o amo. – Yifan repetiu.

No entanto nenhum dos dois percebeu Kyungsoo se aproximar a tempo de escutar apenas a última parte do que Yifan havia dito.

Kyungsoo não sabia exatamente como agir naquele momento. Yifan havia se declarado para outra pessoa e a realização de que ele poderia estar com outro e dizer todas aquelas palavras bonitas que sempre erma para si para outra pessoa o machucou de um jeito que nunca imaginou que aconteceria.

— Soo?

Mal percebeu as lágrimas embaçando seus óculos de leitura, o som dos soluços saindo de seus lábios assustando Yifan.

— Não é nada disso que você está pensando.

Mas Kyungsoo não conseguia pensar em mais nada, além do fato que tinha acabado de perder Yifan para sempre. Por isso saiu correndo com vergonha das próprias lágrimas e triste demais para olhar para qualquer um dos dois.