P.O.V Nico di Angelo

– Tem uma coisa que não faz sentido nenhum nisso – eu expresso, depois de alguns minutos em silêncio. Thalia, jogada em minha cama com a barriga para cima, vira o olhar para mim. – Se nossos pais eram inseparáveis, o que foi que fez isso acabar?

– É isso o que você precisa descobrir – ela se senta e pisca pra mim. – Que tal um momento pai e filho, hein?

– Ah, legal – eu murmuro. – Sobrou pra mim.

– Claro que sobrou pra você! – ela exclama e me dá um tapa na cabeça. – Você quer saber tanto quanto eu.

– Ok, eu tento falar com ele qualquer hora. Você poderia tentar com Hera também.

– Pode ser.

– Vamos comer alguma coisa e depois fazer nada até às 19 horas? – eu pergunto e ela se vira com uma expressão confusa.

– Por quê?

– Eu não disse que a Paige nos chamou pra jantar? – ela fecha a cara e nega com um balanço irritado de cabeça. – Ah, desculpe. Ela me pediu para chamar você. Nós podemos ir...

– Não – ela se levanta e digita alguma coisa no celular. – Eu vou sair com outra pessoa.

– Ah, é?

– É.

– Quem? – eu pergunto e ela dá um sorriso malicioso pra mim.

– Com o Leo.

Reviro os olhos e ela ri, puxando meu braço e me tirando da cama.

– Vamos comer, di Angelo.

– Você só sabe fazer isso, Thalia Grace? – eu pergunto e ela abre a boca para responder. – Você está comendo por três. Eu sei, eu sei.

Ela mostra a língua e me ignora.

– Cadê a Bianca?

– Saiu com minha mãe. Elas estão cheias de segredinhos.

Me jogo no sofá e dou um tapa ao meu lado, para que Thalia faça o mesmo. Ela se vira e vai até a cozinha. Me levanto e vou atrás.

– Já parou pra pensar que vai crescer cada vez mais? – ela reflete, sentada enquanto observa sua barriga com um pedaço de bolo na mão.

– Geralmente é o que acontece, né – eu digo e ela me xinga. – Estou brincando, nossa.

– Idiota – ela me mostra a língua. – Fala assim porque não é você que está gordo.

Meus olhos vão para seu corpo. O short de tecido colorido e uma camiseta dos Power Rangers. O cabelo preso em coque e o rosto sujo com o chocolate do bolo.

– Você não está gorda – eu digo e ela revira os olhos. – Olha só para você, Thalia. Nunca vi ninguém tão desarrumada continuar linda desse jeito.

Ela ri e faz uma pose.

– Você tem razão, eu sou totalmente maravilhosa – eu dou uma risada e ela dá outra mordida no bolo.

– Qual é a sua com os Power Rangers, afinal? – ela olha para mim como se eu tivesse acabado de confessar um crime.

– Qual é o seu problema com eles? – ela pergunta, irritada.

– Nenhum – eu faço um gesto com as mãos. – Não está mais aqui quem falou.

Ela me olha com desprezo e dá atenção toda para o bolo em suas mãos. Me aproximo e dou um beijo em sua bochecha. Ela arqueia sua sobrancelha, mas nada diz. Dou outro beijo e ela solta um risinho.

– O que foi, Nico?

– Não posso te adorar um pouco? – continuo dando beijos. Ela não me impede, até eu dar um beijo no pescoço dela. Ela dá um pulinho e me afasta. – Relaxa, Thalinha.

– Relaxa você – ela cruza os braços -, e de preferência, longe do meu pescoço. E não me chame de Thalinha.

– Você costumava ser mais simpática comigo – eu faço um bico e um coração quebrado com a mão. Ela ri e me dá uma cotovelada.

– E você costumava ser menos sentimental.

– Eu já disse que amo sua risada?

Ela revira os olhos, mas suas bochechas enrubescem mesmo assim.

– Eu vou me trocar – ela diz, se levantando. – Vê se faz o mesmo e não deixa a alemãzinha te esperando.

P.O.V Thalia Grace

– Você só pode estar de brincadeira, Leo – eu sussurro, observando a trança Reyna através do vidro da janela da loja de instrumentos. Ela vira-se para a janela e Leo me puxa para baixo.

– Ela não é linda? – ele diz com um sorriso bobo.

– É linda e está vindo para cá – eu murmuro, apontando para Reyna. Ela lança um olhar confuso e anda lentamente até nós.

Olho para Leo e ele está paralisado com uma expressão de choque. Eu o puxo para cima e dou um sorriso para Reyna.

– Oi, Reyna! – exclamo, fingindo surpresa. – Você por aqui. Como vai?

Ela retribui o sorriso e dá um aceno de mão discreto para Leo, que dá um sorriso bobo como resposta.

– Eu trabalho aqui – a morena diz. – Como estão os bebês? Jason me contou que são gêmeos.

– Estão bem!

– Isso é ótimo – ela dá outro sorriso e ficamos em silêncio. – Então... O que estavam fazendo espiando a loja pela janela?

Olho para Leo, que abre a boca, mas não diz nada. Reyna franze a testa.

– Nós vamos comprar um instrumento – eu respondo.

– Sério, qual? – Reyna questiona, encarando Leo.

– Thalia quer um piano – Leo responde.

Reyna se vira para mim com surpresa em seu rosto.

– Você toca piano?

Obrigada, Leo. Não fala nada, mas quando fala, é pra me destruir. Faço um gesto com a mão e dou uma risada.

– Leo, não explicou direito – eu me viro com raiva para ele, dando um sorriso falso em seguida. – Eu quero um piano infantil. Aqueles coloridos e pequenos, sabe?

– Ah, sim! – Reyna anda até uma prateleira e aponta para nós. – É só escolher.

Pego um colorido com animais e entrego para ela.

– Quero esse – Reyna assentiu e vai até o balcão, voltando com um pacote amarelo.

– É só você passar ali na frente e pagar – eu aceno com a cabeça e ela me dá um sorriso. Me viro e ela me chama. – Se você souber de alguém que possa me ajudar com alguma língua... Meu pai está me obrigando a fazer alguma coisa. Sua madrasta morou na França, não? Será que...

Me viro para Leo com um sorriso malicioso e ele arregala os olhos, negando com a cabeça discretamente.

– Leo fala espanhol – eu exclamo. – Tenho certeza que ele adoraria te ensinar.

Reyna olha para Leo, esperando uma resposta.

– Claro, é só você me dizer os dias e eu te ajudo – Leo passa a mão no cabelo e suas bochechas enrubescem. – Só que acho melhor não ser lá em casa, minhas irmãs e minha madrasta são... Descontroladas.

– Tudo bem! – Reyna responde animada. – Aqui em frente tem um café maravilhoso, podemos estudar lá depois do meu turno.

Leo assentiu e a morena pede o número de celular dele, para que eles possam conversar sobre as aulas. Consigo sentir Leo gritando de animação por dentro. Quando saímos, eu jogo o embrulho amarelo em Leo.

– Carregue porque eu te fiz um favor enorme e ainda tive que comprar um piano!

Ele ri e bagunça meus cabelos.

– Foi mal, Rainha do suco. Vou te pagar um brigadeiro como pedido de desculpas.

– Ótimo – eu faço uma dancinha com os braços. – Pelo menos meus filhos já têm um brinquedo. Eles vão usar daqui uns quatro anos, mas tudo bem.

– E eu vou poder ver e falar com Reyna várias vezes durante a semana, graças a você! – ele exclama animado e me abraça de lado. – Claro que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer porque ninguém resiste ao meu charme.

– Tirando o fato de você travar e não conseguir falar – eu faço uma careta. – Você é sempre tão falante e simpático. O que foi que aconteceu?

– Eu perco a fala quando ela se aproxima – ele dá um sorriso apaixonado. – Ela é tão linda, não consigo lidar.

– Eca – eu cutuco ele com o cotovelo. – Que tal meu brigadeiro agora?

...

Quando chegamos a frente à casa de Nico, já são quase 23 horas. Leo me levou para comer brigadeiro e depois fomos até um karaokê, onde ele me fez cantar as músicas mais bregas que existem nesse mundo. Estou prestes a me despedir, quando Leo franze a testa e estica o pescoço, encarando algo atrás de mim.

– Você pode ir pra minha casa se quiser, Silena e Piper vão ficar super animadas – ele diz, puxando uma mecha do meu cabelo.

Arqueio a sobrancelha e olho para trás, encontrando Nico e Paige conversando sentados debaixo da árvore com os rostos praticamente colados. Sinto o sangue subir e me viro para Leo, controlando a raiva.

– Eu vou ficar, Leo – ele assentiu e se despede, indo embora em seguida. Respiro fundo antes de me virar e andar até os dois.

– Nico di Angelo! – eu exclamo com raiva quando me aproximo dos dois. Paige dá um pulinho para trás, mas quando percebe que sou eu, dá um sorriso. Eu olho para ela por 2 segundos com uma cara séria e me viro para Nico de novo. – Será que vocês não podem ir se agarrar em um lugar onde ninguém me veja sendo traída?

Ele arregala os olhos e olha para a porta de entrada. Paige se levanta.

– Eu não sabia que estavam namorando – ela diz, olhando com raiva para Nico.

– E não estamos. Quer dizer, fora dessa casa, não estamos. Mas a família de Nico pensa que estamos juntos – eu dou um sorrido raivoso para Nico. – Eu não vou deixar sua mãe pensar que você me traí assim na cara dura. Então, por favor, não me faça te expulsar do seu jardim e se retire antes disso.

Cruzo os braços com raiva e Paige dá um suspiro.

– Tudo bem, Thalia. Minha mãe chegou – ela dá outro sorriso. Vaca. – Foi uma pena você não ter ido conosco.

– Quem sabe outro dia, né?

Ela sorri mais uma vez e se despede. Corre para um carro vermelho parado em frente a casa. Nico se levanta e passa a mão pelo cabelo. Olho com raiva para ele.

– Então... Como foi seu encontro com o Leo?

– Cale a boca, Di Angelo.

Quando entramos em casa, estão todos na sala, rindo e cercados de caixas e embrulhos de presentes. Bianca dá um grito e Maria bate palmas para nós.

– Tarããã – Bianca abre os braços e balança as mãos para os presentes.

– Que recepção calorosa – eu murmuro. – É seu aniversário, babaca?

Nico nega e anda até eles, sentando ao lado de Hades. Faço o mesmo e me sento ao lado dele.

– O que significa tudo isso? - Nico pergunta, se referindo aos presentes.

– É para os meus netos – Maria sorri. – Tem alguns para você também, Thalia.

– Ai, deuses – eu exclamo e pego uma caixa azul. – Posso abrir todos?

Bianca balança a cabeça com um sorriso enorme e se ajoelha ao meu lado. Abro a primeira caixa e encontro pijamas de animais. Não consigo controlar um grito.

– Tem até de girafa! – eu exclamo. – Quero um pra mim também!

Nico abre pega outra caixa menor e abre, encontrando diversos tipos de mordedores. Bianca joga uma caixa verde em meu colo.

– Eu fiquei semanas procurando por todos os lugares que ia – ela dá um tapinha na caixa.

Abro a caixa e encontro diferentes bodys e camisetinhas com frases sobre tia. Hades lê as frases em voz alta e todos rimos. Até chegar a duas com a mesma frase: BIANCA É A MELHOR TITIA DO MUNDO.

– Essas eu mandei fazer – ela explica e Nico ri. – Ali tem uma caixa com roupas com outras frases. E aquela ali – ela aponta para uma caixa branca –, tem de todos os super heróis.

Passamos o resto da noite abrindo os presentes. Brinquedos, roupas com frases para os bebês e para mim, mamadeiras e mais um monte de coisas de bebês.

– Eu nunca vi você tão animada – Nico diz da porta do meu quarto, me dando um susto. Ele mostra as caixas em sua mão. - Eu trouxe o resto.

– Coloque ali – eu digo secamente e aponto para o canto do quarto. Ele faz o que eu digo e se vira para mim. – Agora você pode sair.

– Não aconteceu nada entre Paige e eu, Thalia... Ela é só uma amiga.

– Eu quero dormir, Nico – eu digo e vou até a cômoda, pegando um pijama. – Não estou nem aí para vocês dois.

Ele concorda e se retira do quarto. Minha única vontade é ser de uma novela, para jogar um vaso na porta como todas as vilãs poderosas.

...

Saio do carro quase caindo de sono. Annabeth corre em minha direção.

– Bom dia! – ela exclama animada e me abraça.

– São sete e meia de uma segunda-feira, se tem uma coisa que esse dia não está, é bom – eu reclamo.

Andamos até o corredor, Annabeth animada e eu me arrastando. Ela para em seu armário e começa a conversar com Lydia. Ela acena pra mim e eu continuo andando até o meu armário. Quando chego ao número 298, vejo Paige, Bianca e Nico conversando um pouco a frente. Reviro os olhos e me viro para pegar os livros.

– Quem é aquela? – Jade pergunta, aparecendo do meu lado.

– Que susto, garota – eu reclamo e ela me encara, esperando a resposta. – Você a conhece. Paige, a garota alemã que namorou o Nico na sexta ou sétima série, não lembro. Ela saiu da escola no mesmo ano que você entrou.

Jade encara os três.

– Você jogou comida nela – ela diz, pensativa. Eu assinto. – O que ela está fazendo aqui?

– Atrapalhando – eu respondo e bato o armário com força, fazendo algumas pessoas olharem para nós. – O que você está fazendo aqui, aliás?

– Credo, Grace – ela faz uma careta e passa a mão por seu cabelo loiro. – Eu não vou com a cara dessa garota.

– Entra na fila, querida – eu respondo e começo a andar. Jade segura meu braço levemente, fazendo eu me virar.

– Você viu Calipso e Drew?

Eu respondo que não e a olho com confusão. Ela solta meu braço e se vira indo em direção oposta a minha. Que garota confusa.

P.O.V Nico di Angelo

Thalia passa por nós e nem olha apara o lado. Penso em chamá-la, mas Paige segura meu braço.

– Você tem aula de física agora também, né? – ela pergunta, com seu sotaque forte. Eu assinto e ela sorri. – Ótimo. Eu não me lembro direito das salas.

Caminhamos até a sala e Paige entra cumprimentando algumas pessoas. Procuro Thalia pela sala e não a encontro.

– Aqui, Nico – Paige diz e aponta para uma mesa vaga. Thalia vai ter um ataque se você sentar aí, Nico. – Você é bom em física? Porque eu sou horrível.

Thalia entra na sala e seus olhos vão diretamente para nós. Ela morde o lábio inferior e respira fundo. Ela está prestes a se virar, quando Jade a puxa pelo braço e anda até nós.

– Não seja idiota – Jade murmura com irritação e empurra Thalia para frente.

Paige dá um aceno para elas.

– Oi... Jadelyn, né? – ela exclama. Jade a encara.

– Prefiro só Jade – ela responde, dando um sorriso forçado. Ela se vira para Thalia. – Fala, garota.

Falar o que, Jade? – Thalia pergunta, sem paciência.

Jade passa a mão pelo cabelo e se vira para nós.

– Você está no lugar da Grace, gringa – ela diz, normalmente. – Emily está sozinha, vai lá.

A boca de Thalia se abre com incredulidade. Paige pisca algumas vezes antes de sorrir e se levantar.

– Ah, me desculpe, Thalia – ela diz e pega suas coisas, andando até Emily.

Jade a segue com o olhar carregado de desprezo, se virando para nós novamente quando ela se senta ao lado de Emily.

– De nada, Grace – Jade diz e sorri para mim. – Bom dia, Nico.

Ela se vira e anda até Drew, que a encara com olhos arregalados também.

– Para o mundo que eu quero descer – Thalia murmura, fazendo uma careta em seguida. – Meu Deus, isso foi tão Bianca.

– Desde quando Jade virou sua defensora oficial? – eu pergunto e ela balança a cabeça.

– Isso foi... interessante.