Eu Sou A Número Dois

Capítulo Sétimo - Mil Anos Infinitos.


As nuvens passavam pelos os meus olhos como furacão. Tudo era muito depressa e quanto mais avançava a velocidade, mais curiosidade eu tinha de saber onde estávamos indo.

Meu coração saía pela garganta cada vez mais que ele pisava no acelerador.

-Onde estamos indo, Guilherme? – Perguntei gritando ao vento.

-Já esteve no paraíso? – Perguntou virando um pouco o rosto de lado, provavelmente tentando emitir o som de sua voz melhor.

-Ér... Acho que não. – Eu disse tentando decifrar o que ele dizia.

-Então, você vai conhecê-lo hoje. – Disse. Eu quase comecei a imaginar o esboço de seu sorriso.

-Como? Tentando me matar? Ah sim, entendi agora. – Eu disse num tom de escárnio.

-Claro que sim! Muito engraçado dona Selina! – Ele disse brincando.

Deixei o silêncio tomar conta de nós. Provavelmente já era uma da tarde, mas não me importava com o tempo. Afinal, quase todos os meus problemas já estavam resolvidos, mas mesmo que não estivessem não posso somente viver para eles, certo?

Observando o cenário maravilhoso que nos cercava e o calor do início de dezembro tomando conta de nós. Atrevi-me a cercar a sua cintura com os meus braços.

A partir de agora me sentia segura, sentia-me completa e feliz. Como se Guilherme cobrisse a falta que Douglas, meus pais, meus amigos e o resto da minha família faziam.

Senti as batidas de seu coração acelerar mais, e ele simplesmente consentiu com o meu abraço.

Observava cada vez mais a rodovia quando vi a placa escrita: Bem vindo a Torres – Litoral Norte Gaúcho.

-Nossa! Não acredito! Você me trouxe para Torres! É meu sonho conhecer essa praia, dizem que é maravilhosa. – Disse sorrindo, a emoção tomando conta de mim.

-E É, mas sem você, pra mim ela não é nada Selina. – Falou ele outra vez inclinando a cabeça de lado.

Quando finalmente paramos, descemos no centro de Torres. O lugar era muito agradável.

Parei para dar uma olhada na hora. Guilherme me surpreendeu pegando no meu pulso e tirando o relógio e o celular das minhas mãos.

- O que você está fazendo? – Perguntei com os olhos inconstantes.

-É melhor você esquecer-se disso por hoje, te proíbo de olhar para a hora. Selina viva o momento, esqueça-se de sua vida, aproveite agora. –Ele disse olhando em meus olhos. Estávamos ao lado de sua moto que estava estacionada e ele ainda com as mãos em meu pulso, olhando firmemente nos meus olhos.

-Tudo bem, concordo com você. –Fui deixado o seu olhar para trás e soltando suas mãos do meu pulso.

Ele pegou minha mão e começamos a caminhar pelo centro de Torres. Tinha várias lojas, vendendo diversas coisas.

Em especial, uma loja me chamou atenção. Tinha CDS e várias pulseiras vendendo. O nome da loja era “Centro de Vendas de Torres”, o nome era brega, mas acredite, o que tinha lá, não tinha em nenhuma loja na qual você para trinta reais em uma pulseirinha. Enquanto eu olhava os CDS que tinha na loja, Guilherme foi para o caixa pagar um CD do The Smiths que ele tinha gostado.

Essa era uma das últimas lojas que visitávamos porque o sol estava quase se pondo e a praia era bem perto dessa loja.

-Vamos Sel? – Perguntou-me ele tirando-me dos meus devaneios.

-Claro! O que você comprou? – Perguntei, buscando a sacola em suas mãos.

-Só o CD, Sel. – Disse ele. –Você gostou de algo? – Perguntou-me olhando nos meus olhos.

-Ah, algumas coisas, mas prefiro não levar nada. – Disse caminhando em direção da porta, ao seu lado.

-Por quê? – Perguntou-me abrindo a porta para mim e saindo logo atrás.

-Ah porque estou em uma situação financeiro meio difícil. Enquanto não publicar o seu livro, não irei sossegar nesse aspecto. – Disse olhando para o seu rosto, reparando que seu olhar estava lá na praia.

-Hum, entendi. Vamos à praia? – Perguntou ele, cheio de brilho no olhar.

-Ah, não está muito tarde? Deveríamos ir embora quem sabe? – Falei esperando resposta.

-Ah fica quieta. – Disse ele avançando em minha direção.

Sinto que minha altura de repente fica maior e vejo que ele pegou minhas pernas. Meu rosto estava tocando suas costas.

Ele foi correndo em direção ao mar. Ele só parou de correr quando chegamos à beira do mar.

-Seu maluco! – Eu disse elevando minha voz sorrindo e dando um tapinha no seu ombro.

-Por quê? Eu tenho que lhe as ensinar coisas boas da vida. Você tem que aprender a se desprender da vida em momentos como esses. – Ele disse olhando para o céu que agora estava num tom laranja, pois o sol estava se pondo. Que paisagem linda, que exuberância, que loucura, acho que vou morrer ali mesmo com tanta perfeição alcançando os meus olhos. – Douglas não lhe levava a lugares assim? – Perguntou ainda reparando o céu.

-Não. Fui muito infeliz ao lado dele. – Constatei.

Ele simplesmente sentou-se na areia, retirou os coturnos pretos e deitou-se na areia, já que a praia simplesmente estava vazia, deixando a água do mar atingir de leve em seus pés. Ele simplesmente me olhava, convidando-me a fazer o mesmo.

Fiz o mesmo e foi a melhor sensação que senti, em toda a minha vida. Foi tranquilo, foi suave, até parecia à morte. Abri meus braços e ele fez o mesmo, mas não aumentou a distância entre nós. Então decidi perguntar algo a ele.

-Guilherme, parece que, sei lá, te conheço há muito tempo, mesmo que isso não faz uma semana que aconteceu. – Disse olhando para o seu rosto e depois para o céu.

- Eu sei, eu também sinto o mesmo, é incrível como tu se encaixa com a gente. – Ele disse me fitando.

-É, mas tudo isso é muito errado. Você é casado e tudo mais, é uma falta de respeito com a sua esposa. – Eu disse querendo que ele dissesse que tudo aquilo era mentira.

-Selina – Disse ele se levantando um pouco e se apoiando na areia com o seu cotovelo e virando-se para mim, fiz o mesmo, imaginando que o que ele iria dizer eu deveria engolir cada letra – Me deixa experimentar algo, só preciso sentir essa sensação – disse ele se aproximando do meu rosto. E eu sequer me movi, eu não queria deixar aquele momento passar, eu só queria que aquele momento durasse para sempre, mil anos infinitos.

Seus lábios finalmente alcançaram os meus. O beijo dele era cordial, doce, como mel. Era surreal o que eu estava sentindo. Apesar de já ter beijado antes, nunca senti isso. Nunca senti isso com Douglas, nunca senti isso com ninguém em minha vida, sentia como se a doçura dele estivesse atravessando a minha alma e o meu coração, era algo irreversível, eu queria-o pra mim, por agora e para sempre.

Quando achei que aquele momento não duraria muito, ele soltou os meus lábios e olhou em meus olhos, finalmente achando meu olhar e eu o dele. Sorri e ele retribuiu o sorriso.

Depois disso, me beijou novamente, mostrando que não estava arrependido nem um pouco do que havia feito.

Depois do segundo beijo, percebi o que havia feito. Estava estragando mesmo a vida dele, como ele havia falado hoje na hora do almoço.

Não posso deixar que o egoísmo tome conta de mim e estragar o amor que sua esposa sente por ele, então saí correndo para onde a moto estava. Mais que instantaneamente ele veio atrás. Pegou no meu braço, virou-me para ele e perguntou-me:

-O que aconteceu? Não gostou? – Perguntou.

-Claro que gostei Guilherme, você não sabe a sensação que senti no momento que estava deitada com você naquela areia. Você precisava ter sentido o que eu senti, mas tudo isso aqui é muito errado. Eu já lhe disse, você é casado e estamos enganando uma pessoa. Por favor, só me leve pra casa por hoje.

Ele não respondeu nada. Colocou o capacete delicadamente em mim e deu partida na moto. Certa de que eu tinha estragado o dia e tudo o que eu havia sentido antes, não me permiti abraçar sua cintura, mas ele levou os meus braços até ela e eu deixei. Infelizmente, eu ainda era muito fraca.

Quando ele chegou até meu condomínio, me deixou em frente. Parei por um momento em sua frente, mas ele estava de cabeça baixa e assim que tive uma oportunidade, reparei que seus olhos estavam negros, assim como o dia em que Douglas me bateu.

Você quer entrar? – Perguntei, tentando ajustar tudo isso.

-Não Sel, obrigado. A gente se vê por aí. – Disse me dando um beijo na testa e ligando a moto, deixando-me segundos depois sozinha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.