Esme apareceu na porta.

- Olá, Jake. Estão caçando agora, mas Renesmee ainda está aqui. Entre.

- Obrigado, Esme. - falei, meio desconcertado pela sua beleza. Joguei as chaves no banco e acompanhei-a.

- Ela está pintando, desde que voltou de La Push. Já está com sede, dá pra ver em seus olhos, mas ela não quer sair de lá.

- Perigoso? - perguntei, parando nossa caminhada. Ela me olhou com aquele jeito materno de sempre e sorriu. Eu arregalei meus olhos, involuntariamente; uma vampira podia mesmo ser angelical.

- Não, creio que não. Nessie, querida? - chamou ela, enquanto batia na porta lilás.

- Um segundo, vovó!

Eu olhei para a porta, meio impaciente. Ela abriu depois de meio minuto e sorriu.

- Jake! - um abraço. Todos os problemas se foram, a ansiedade, as dúvidas, tudo. Eu estava bem ali, no seu abraço.

- Está tudo bem, amor?

- Sim... - resmunguei, de olhos fechados.

- Hm, faz um tempo que você está me abraçando. - falou ela, rindo. Eu me soltei do abraço, sem graça.

- Oh, certo. Hm, Esme disse que você está pintando.

- Sim, mas não que eu possa te mostrar. - ela disse, apreensiva.

- Por quê? - perguntei, abraçando sua cintura, para capturar o doce cheiro de seus cabelos.

- Porque não. - ela se desvencilhou dos meus braços e correu até a varanda. Eu a segui, confuso.

- Droga, Jake! Não posso te mostrar! - ela falava, enquanto eu tentava pegar o quadro de suas mãos.

- Ei, vem cá... - eu disse, quando ela se dependurou na grade da varanda. Com um sorriso malicioso, ela pulou, caindo perfeitamente ilesa na terra.

- Vem me pegar então, lobo mau.

Ela continuava me encarando, feroz. Isso me lembrava dos velhos tempos, quando ela apostava qualquer coisa comigo. Eu puxei meus lábios em um sorriso e saltei, até chegar perto dela.

- Está sentindo a tensão, Jake? - perguntou ela, provocando-me.

- Não sei por que, mas hoje é dia de caçar vampira. - falei, entrando no seu jogo. - E qual é a aposta?

Ela riu alto.

- Eu. Se me pegar, pode ver o quadro e tem direito à um pedido; do contrário você perde a oportunidade.

Eu sorri, vitorioso. Nós dois sabíamos quem ganharia e o quê pediria. Ela abaixou a cabeça e levantou lentamente, com os olhos um pouco mais escuros do que o normal, encarando-me. Eu rosnei para ela, sentindo a última atmosfera humana tomar conta para que desse lugar ao enorme lobo.

Ela saiu correndo pela floresta adentro, me chamando à caça. Nossas apostas nunca tinham limites, era lobo contra mestiça, e já havia se passado o tempo que eu a deixava ganhar só para ver seu rosto feliz. Flexionei minhas patas e dei um grande impulso para a pedra alta que havia ali, seguindo o rastro de Nessie.

O cheiro continuava bem fresco, por isso eu sabia que ela ainda estava ali, em algum lugar. Eu me agachei, eriçando meu pêlo para me preparar para o bote. Os dentes afiados já estavam à mostra, rosnando para que minha vampira aparecesse.

Inimiga natural. Ódio repulsa. Dois pólos distintos de imãs que insistiam em ficar juntos... Alguma coisa não se encaixaria, nunca.