Eternal

Capítulo 15 - I will always love you |SEASON FINALE|


– Então era sobre nós? Digo, tudo isso? – Julian tinha sua mão segurada por Robbie.

Os meninos estavam sentados no topo do prédio, na grande cobertura, tinham como telhado as estrelas brilhantes ao alto. Tão longe, mas tão perto em luminescência, como fora a vida dos dois sempre. Agora sabiam da essência de tudo, do motivo das perdas, das mortes, da destruição. Eram eles. A expressão de Robbie quando encarava a frente era desoladora, e Julian, embora sentisse o mesmo por dentro, apenas tentava fazer o outro menino sair daquele estado de coma pessoal. Olhou de lado para o loiro, acariciou sua mão e levemente. Os outros meninos deviam estar com seus pais lá dentro, cada um tinha o que pensar sobre a oferta da entrega.

– Nos fizeram de porcos para o abate. Eles sabiam de cada passo, estavam apenas jogando o suficiente para esperar a hora certa, Ju. – Robbie disse ao quebrar seu silêncio.

– Eu sei. Mas não é como se a maior explicação nos fosse dada? Sempre tentamos entender o que nos fazia estar sempre juntos quando criança, e tão pequenos. Agora sabemos, mesmo que com esse mundo desabando.

– Somos as crianças do cérebro desenvolvido precocemente. Parece com os robôs do meu curso, ou X-Men. – Uma leve risada escapou da boca entreaberta.

– Neste caso, eu sou a Vampira. Porque eu vivia num mundo que me afastava das pessoas, porque eu nunca seria bom para nenhuma delas, eu iria destruí-las. – Julian olhou pra Robbie e tentou esticar os lábios.

Robbie achegou-se mais a Cachinhos e passou seu braço em torno dos ombros do namorado. O apertou contra si bem forte, e olhou de lado para ele:

– Eu não me importo de ser o Gambit, ele é estiloso. E a melhor parte dele é estar com a Vampira, se não se importa.

– Obrigado por isso, senhor das cartas.

E então os dois ficaram em silêncio novamente, aquele silêncio que entrecortava suas almas e incomodava mais um ao outro que as palavras que diziam quando brigavam ou estavam com raiva por algo. A corrente gélida percorreu os dois e um aqueceu o outro, Julian dentro dos braços de Robbie. Percebeu a respiração acelerada do menino, aquela que se fazia presente quando estava preocupado ao extremo com algo. Tanto Julian como Robbie sabiam que os pais nunca os entregariam para a OPB, por mais que o mundo estivesse em jogo, ainda assim, eram frutos do vosso amor, um carinho e cuidado feito para jamais acabarem.

– Eu vou me entregar, Cariño. – Com um pesar imenso na voz, eis que Robbie entregou-se para o namorado.

– O quê? Não, Robbie! Não pode fazer isso. – Saiu de sua proteção a encará-lo nos olhos.

– Eu não quero ver o mundo destruído, mas acima de tudo eu não quero te ver machucado.

– Não, Robbie, isso não. Nossos pais vão arranjar um jeito. Você não pode ceder aos caprichos daquela mulher. – Julian tinha lágrimas nos olhos.

– Chegou a hora de livrar-se do laço dos pais, sermos adultos, Julian. Chegamos na estrada sem volta – Robbie segurou seus pulsos e o imobilizou – Está sendo a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, mas é você, é tudo por você. – Robbie encostou a testa na do namorado, permitindo sentir medo, porém, o medo compartilhado com o grande amor da sua vida.

– Eles vão matar você, aquelas substâncias. Não, Robbie. – Lágrimas molhavam o rosto de Julian.

– Me desculpe, meu amor. Eu tenho de fazer isso, eu não mudarei de ideia. – As mãos de Robbie soltaram Julian e se direcionaram para seus cabelos. Os acaricio, sentiu seu cheiro e fechou os olhos.

Em meio as lágrimas inevitáveis, Julian beijou Robbie e colocou as mãos em seus cabelos loiros, da mesma maneira. Enquanto o beijava foi capaz de sentir todas as coisas que aquele rapaz fizera em sua vida, bem como, voltar no tempo e ver cada momento que outrora viveram. Se estava vivendo, era por causa dele, porque Robbie Marks o resgatou de tudo que um dia o apequenou diante da vida. Ao final, o loiro abraçou o namorado e com os braços fortes não o soltou. Deitou a cabeça do namorado em seu peito e chorou.

– Eu não consigo sem você. – Disse Julian.

– Você consegue, Ju. Você deu a maior de todas as provas de que pode qualquer coisa na vida. Você mudou, cresceu.

– Mas é por você, tudo. – Julian soluçava.

– Fico feliz em ser isso para você, mas partirei ao amanhecer. – Aquelas palavras destroçaram o coração de Julian e este apertou-se ainda mais nos braços de Robbie.

– Posso pedir uma coisa? – Perguntou o protegido.

– Sim.

– Pode segurar a minha mão enquanto eu durmo, como se estivéssemos juntos no passado? Segure minha mão como se fosse a última vez. – Cada parte daquele momento era pior para ambos, e nas memórias de Julian aquilo era o marco da vida que tivera por conta de Robbie.

– Posso. Eu sempre estarei segurando sua mão, cariño. – Ergueu o rosto de Julian uma vez mais e depositou seus lábios nos dele ternamente.

Robbie ajudou Julian a levantar dali e seguraram na mão um do outro enquanto voltavam para dentro do apartamento. Encontraram todos dormindo, com algumas exceções no primeiro quarto. Lito e Hernando conversavam e ambos pareciam chorar, Julian foi até eles e os deu um abraço forte. Nomi e Amanita estavam perto deles, o que fez com que Robbie fizesse o mesmo. O abraço do loiro nas mães foi demorado, pois em seu âmago sabia que era provavelmente o último, por mais que elas não soubessem. Ao final, os namorados seguiram para a sala, local no qual escolheram dormir. Julian deitava no sofá da direita, já Robbie, na esquerda. Olhavam-se por horas até que o sono viesse. Julian deitou em seu sofá ainda com lágrimas ao redor dos olhos. Diferentemente das noites passadas, eis que seu namorado sentou no pé do sofá e lhe segurou a mão. Com a cabeça encostada na almofada, o mexicano vislumbrou os olhos do namorado. Jamais os esqueceria. Não queria acreditar que na próxima noite não veria mais aquele olhar. Beijou as costas da mão direita de Robbie e o mesmo o outro fez para com ele. Ficaram um ao lado do outro, até que Julian foi levado pelos devaneios dos sonhos.

Nomi Marks sentiu o bipe do celular automaticamente, tinha Neets dormindo em seu colo. Ao abrir a tela do aparelho viu uma notificação diferente das que costumava receber. O sol irrompia seus primeiros raios pela janela do quarto e ela viu Hernando dormindo abraçado com Lito. A loira levantou calmamente, depositando a cabeça de Neets num travesseiro. Quando finalmente entendeu do que se tratava encheu-se de alegria. Era uma nova mensagem no seu antigo blog, o mesmo que dera para Julian. Mal podia esperar para ler do que se tratava. Abriu imediatamente o endereço no celular e quando seus olhos leram as primeiras linhas, logo teve noção de que algo estava estranho. Comprovou isso ao terminar de ler a postagem.

A mulher saiu correndo do quarto e foi até a sala. Encontrou o filho dormindo sentado no chão ao lado do sofá. O sofá encontrava-se vazio:

– Robbie! – Ela chamou.

O menino abriu os olhos e deu um sobressalto, se a mãe havia acordado significava que havia perdido a hora de partir. Olhou para trás para ver Julian e tudo que encontrou foi o sofá vazio.

– Cadê o Julian, mãe? – O menino perguntou aflito.

Nomi segurava o celular na mão com lágrimas nos olhos, ela leu de novo algo ali. O filho levantou do chão rapidamente:

– Fala, mãe. Cadê o Ju? – Robbie foi até ela.

A julgar pela expressão da mãe, algo ruim tinha acontecido. Nomi chorava lentamente, enquanto Amanita apareceu na porta do quarto:

– Nomi? O que aconteceu? Ouvi as vozes.

O celular ficou tão evidente que Robbie o tomou da mãe furtivamente:

– Robbie, não! – Ela tentou recuperar, porém, o filho foi mais rápido.

“Como se tornar um herói – Por: Julian Rodriguez” – Apareceu a tela inicial do blog de sua mãe. Ele pegou o texto e passou a ler. As pessoas foram acordando pouco a pouco, e a sala que parecia inabitada, teve mais pessoas do que o momento pedia. Robbie estava tão imerso no que lia, que a voz saia normalmente para que todos ouvissem. Os olhos do menino foram se alternando do susto para as lágrimas diante do que lia:

“E como Rose Dawson, cá estou, escrevendo, na esperança de que como um desenho guardado nas profundezas do oceano, minhas palavras também possam ser guardadas. Oi, pais. Oi, outros pais. Oi, outros 7. Eu sabia que era bom com grandes entradas, mas pela primeira vez estou tendo de tentar ser bom numa saída. Bem, não houve uma boa saída, porque eu não poderia me despedir de vocês sem que tentassem me fazer desistir daquilo que preciso e estou decidido a fazer. Eu tenho visto muita coisa ultimamente, pessoas machucadas, lugares sendo destruídos, como naqueles meus piores pesadelos de infância. Eu tenho visto o mundo como o pior lugar para viver, e era um momento diferente para mim. Eu havia saído do meu próprio mundo para tentar voar. Foi bom, mas quando vejo o rumo que as coisas tomaram, apenas quero me trancar lá novamente e ser a criança aprisionada no alto da torre e que tinha medo de descer um degrau. Quando vejo as coisas destruídas e as pessoas feridas, eu só consigo pensar no quanto de culpa eu tenho e no quanto sou capaz de segurar e vê-las morrendo por minha causa. Isso nunca aconteceria no meu mundo, porque no mundo do Julian as pessoas podiam viver.

Nós tivemos bons dias juntos, independentemente de próximos ou distantes, sim, nós tivemos. Eu tenho muito para falar de cada um de vocês, mas temo que talvez o tempo não seja meu amigo neste momento. Lee, você é tão bom nos seus jogos, tem um talento tão grande quando coloca sua verdadeira paixão numa tela, que o maior ultraje da realidade seria que não fizesse isso para que outras pessoas pudessem ver. Não prive os outros do seu maior talento, afinal, pode ser o que te destaca. Meu pai Lito me disse isso quando cantei pela primeira vez. Malika, doce Malika, você é provavelmente a menina mais doce e forte que conheci, e eu conheci muitas, sem contar nas que me maltratavam com seus companheiros na escola. Obrigado pelos curativos, pela paciência em ouvir, e até mesmo por dar aquele apoio moral. Faz diferença o fato da atenção, da dedicação. Está no caminho certo. John, você é o ser humano mais detestável do planeta terra, principalmente por querer ser quem você não é. Ser um garoto gentil e frágil não te faz menos homem, nem mesmo apoiar a sua mãe e dizer para ela o quanto a ama. Te faz mais até. Poucos são os que vão se importar com você na vida, e ela é a primeira deles. E mesmo que você seja o ser mais detestável do planeta, e com tantas burradas, ela vai te amar do mesmo jeito. Porque é genuíno, é eterno. Melanie, soldadinha de chumbo, quebra nozes, ou somente Mel. Eu vi você perder muitas coisas, mas nenhuma delas conseguiu te impedir de seguir em frente. A aceitação é o passo mais difícil, e você passou pela linha. Eu tenho certeza que quando voltar para Chicago, Rachel estará esperando você. E não há dúvidas de que provavelmente a vida vai te dizer o quanto esperar vale à pena.”

Lito apareceu esfregando os olhos e logo foi preso pelas palavras, ele sempre as conheceria. O modo como quem falava de algo profundo iria sempre lembrá-lo de seu filho. Malika abraçou Kala quando ouviu seu nome nos escritos. Lee foi abraçado por trás pela mãe, um gesto tão diferente dos que ela costumava praticar com ele. Sun protegeu o filho em seus braços. John estava solto, porém, Riley estava ao seu lado, e tendo ouvido todas aquelas cosias, a mulher loira tinha lágrimas caindo pelos olhos. O menino vendo aquilo, levemente tocou a mão da mãe, como se silenciosamente lhe pedisse desculpas. Mas Melanie foi a que mais ficou impactada, uma vez que, Will não sabia sobre Rachel. O olhar do pai ao ouvir aquilo foi direcionado para ela com seriedade, mas não uma seriedade má, uma seriedade que a fazia pensar que poderia ter contado para ele, que não o devia ter escondido nada. Mas como o fazer com tanta dor pela perda da mãe. A menina não disse nada, mas abraçou Will com força e este a apertou forte.

“Viola, Viola, eu gosto do seu nome, é diferente. Talvez a mensagem mais difícil que eu aprendi na vida, é a do perdão. Perdoar dói, é difícil, mas não é impossível. E quando perdoa alguém, com o tempo a dor some, porque a magoa se dilui. Eu não sei como foi para você crescer sem a sua mãe ou simplesmente viver a mercê do fato de não ser querida, mas agora você a tem. Pode não entender as suas ações, no entanto, pode entender as suas razões. Razões nunca são convenientes para duas pessoas. Precisa perdoar a sua mãe, porque provavelmente é o primeiro passo para aceitar que o tempo pode ser reposto, revivido, mudado. E cheguei na minha por último, mas não menos importante. Zanna. Você é a pessoa deste grupo com a qual mais me identifico. Zanna Vandamme, a grande Zanna Vandamme. O mundo não nos entende, porque a maior razão disso é sermos diferentes e desejarmos ser reconhecidos e respeitados por quem somos. Não importa se você homem ou uma mulher, o ideal de igualdade é possível. Como é possível suportar as tormentas pela escola de defender a sua causa. Eu nunca esquecerei do dia em que te vi pela primeira vez, na sacada minha casa enquanto eu chorava e não tinha a coragem de admitir para você o que fazia. Você é uma grande mulher, para um grande mundo, ou talvez ele seja pequeno demais para você.”

Viola Bogdanow tinha as mãos nos cabeças com o rosto apavorado pelo que ouvia. Não acreditava naquilo, enquanto Zanna se soltou do abraço do pai e pela primeira vez teve de secar lágrimas na frente das pessoas. Zanna chorou pela primeira vez aos olhos dos outros. A menina secava as lágrimas com dor no peito. Julian havia sido seu melhor amigo desde o episódio da sacada, e naquele instante a garota percebeu e desejou que ele aprendesse a ser uma pessoa feliz. Quando Hernando encontrou Lito do lado de fora do quarto e já ouvindo a mensagem, o mais forte tinha as mãos na cabeça com lágrimas circulares nos olhos. Nando botou o par de óculos.

“E dentre todos estes, eu tenho alguém especial. Quando eu era criança, certo dia, eu havia derramado todas as peças do meu lego de coleção no chão e nenhum dos meus pais estavam em casa, e mesmo que estivessem, eu havia acostumado com a solidão. Pegava as peças, não as montava, mas as pegava e soltava, e num determinado dia uma pessoa apareceu no meu quarto. Estava do meu lado. Ele era loiro, branquinho e com olhos claros. Ele me perguntou se eu queria brincar com ele, e eu apenas queria entender como aquele menino havia ido parar no meu quarto. Eu não recebia visitas, eu não tinha amigos, e acho que meus pais pensavam que podiam me esconder que sabiam disso. Eles nunca conseguiram. No dia que aquele garoto me perguntou se eu queria brincar, eu dividi com ele o meu lego e pelo resto da tarde passamos montando uma grande fortaleza. A construção de brinquedo ficou bonita, realmente. E ao final de tudo, perguntei seu nome, ele me perguntou o meu. Éramos, respectivamente, Julian Rodriguez e Robbie Marks. Robbie Marks foi o primeiro amigo que eu tive na vida, talvez, o único que fez a minha infância valer à pena. Haviam dias em que eu pensava que Robbie era um anjo, como naquelas histórias nas quais alguém sempre é salvo ou protegido por um. À medida que o tempo foi passando, as coisas ainda eram estranhas, mas Robbie Marks sabia fazer tudo ficar melhor, afinal, Robbie era o contraste da minha tristeza. Ele era alegria. Eu entendi o que era amor no dia que meus pais me explicaram a diferença entre eles e as demais famílias e quando o fiz, percebi que amava Robbie Marks, e amava de uma maneira tão inocente, o amava a ponto de colocar um band-aid num corte seu ou a ponto de não rir pela falta de um dente de leite.

Este mesmo menino foi quem viu todas as coisas que eu guardei durante muito tempo, principalmente nos dias em que a agressão na escola começou. E quando eu não aguentava mais o mundo e desejava sumir, Robbie apenas precisava me fazer companhia do lado da cama e eu sabia que o sol voltava no dia seguinte. Esta cena se repetiu até o dia em que o vi pela primeira vez no aeroporto há algumas semanas atrás. Mas antes disso, bem antes, eu percebi que amava Robbie Marks, mas não daquela maneira infantil. Notei que amei Robbie Marks por duas vezes na minha vida, e na segunda, a ponto de fazer o que estou fazendo. Eu amo Robbie Marks a ponto de estar caminhando para uma estrada sem volta, pois jamais aceitaria o fato de deixar que a pessoa que me ensinou a sorrir pudesse estragar todo o seu futuro brilhante. Quem é triste não tem muitas coisas a perder, mas quem é feliz, este sim tem a maior das dádivas em risco quando a vida está por um fio. Sorrir foi a melhor coisa que aprendi nestes anos todos, porque é simples, não precisa de esforço, somente estar bem. Eu estou sorrindo tanto enquanto escrevo isto, que provavelmente vão achar uma piada. Eu estou sorrindo porque eu achei o meu propósito na vida.”

Ao ler sobre ele, foi como se todas as memórias lhe passassem a mente de volta. Robbie misturou o choro soluçante com a leitura e as mães correram para lhe abraçar. Todos na sala tinham a expressão de tristeza, mas ele não havia acabado:

“Em todo este tempo eu estive pensando tanto acerca de tudo o que me aconteceu, principalmente depois das longas conversas com a tia Nomi. E vejo que o que me aconteceu na escola era uma tentativa da vida me fazer sentir pena de mim mesmo, e ela conseguiu, até o dia em que eu decidi que eu não seria mais uma vítima, que seria um herói. Verdadeiros heróis não salvam apenas o mundo, mas também, salvam a si mesmos quando o mundo cai em pedaços. Eu olhei para minha parede do quarto, sozinho, durante mais de sete anos da minha vida, e hoje eu concluo que enquanto eu o fazia, não estava verdadeiramente sozinho. Estava com vocês, estava com Robbie. E por todas estas razões eu me levanto por vocês hoje, eu me despeço para um plano maior na minha vida. EU só estou dizendo um longo até logo. E eu não posso esquecer nunca que como a lenda, a canção de adeus de um cisne é sempre a mais bonita. Eu canto pelos meus pais, canto por vocês. Eu canto pelo mundo, eu canto por mim. Eu sou meu herói. Sejam também. “

Julian

Quando a mensagem terminou, não havia ali uma reação que não fosse de espanto, tristeza, perda. Para Lito e Hernando era uma combinação dos três fatores, tanto que nervoso o homem passou a dar socos na parede e teve de ser segurado por Wolgang. O homem chorava igualmente seu companheiro. Julian havia ido embora, ele escolheu se entregar no lugar de Robbie Marks. O menino loiro dizia:

– Ele foi embora, mãe. O Julian foi embora – Ele chorava desmedidamente e Amanita o apertava – O Cachinhos foi embora.

– Calma, Robbie, a gente vai fazer algo. – Nomi dizia ao acariciar seus cabelos.

Subitamente Robbie se desvencilhou delas e correu em direção a porta. O menino a abriu rapidamente e por sorte viu o elevador ali, parado. Robbie entrou e fechou a porta antes que as mães pudessem intercepta-lo. Enquanto descia naquela grande caixa metálica, sentiu Julian, estava com Julian.

O menino marchava com a Jaqueta de Harley Quinn pela rua, ao final estava o grande hospital, este erguia-se no final de uma longa escadaria. Julian chorava e tinha as mãos dentro do casaco:

– Não faz isso, Julian. Por favor, não faça. – Disse ele.

Julian virou para o lado e viu o namorado, aquilo doeu mais nele.

– Vai acabar, Robbie. Não vai haver mais destruição e nem te perderei.

– Você é meu melhor amigo, Julian. Não faça isso, pense nas vidas que ainda vamos mudar juntos. – Zanna apareceu a sua frente com lágrimas.

Julian a desviou como se não a visse, começou a caminhar mais rápido.

– Man, não faz isso. – A mão de John Blue o interceptou brevemente, mas ele desviou e começou a correr.

Enquanto Julian corria para a escadaria, todos eles passaram a aparecer como num caminho traçado. Todos diziam a mesma coisa, mas nenhum seria capaz de tirar dele aquilo. Apertou o frasco na mão direita e correu, apenas seguia em frente com todas aquelas vozes. E atrás de si a voz do pai surgiu. Lito o olhava com o rosto destruído por lágrimas:

– Julian, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Filho, eu te amo, por favor, não faz isso. Eu vou arranjar um jeito de resolver tudo. Por nós, por mim e pelo seu pai inteligente, não faça isso.

– Eu amo vocês, muito. Me perdoem. A vida vai ser longa para vocês, vão ter tempo para um outro Julian. Eu sinto muito. Diga para a tia que a minha loucura ama ela e todos vocês. – E Julian correu mais alguns lances, até mais uma vez escutá-lo.

– Julian, por favor. Pelo amor que eu terei o resto da vida somente por você, não faça isso. Cachinhos, eu te amo, por favor. – Encarou a Robbie Marks.

– Eu te amo, Robbie Marks. E é por isto, acima de tudo, que eu te amo. Pelo herói que sempre foi na minha vida. Obrigado. – Destampou o frasco e o levou aos lábios. Julian bebeu o líquido e o gritou de Robbie ecoou em sua mente, mesmo quando sua imagem foi se diluindo como uma poeira que o vento levava. A medida que Marks sumia, o rosto de Julian era consumido pelas lágrimas, a menta era levada pelas memórias, e o coração era levado pela dor de dizer adeus.

E então ficou Julian sozinho. Não havia mais nenhum dos outros 7, nem seu pai. O menino tomou coragem e terminou de subir as escadarias. Ao chegar no hall de entrada do hospital, o menino tratou de enxugar as lágrimas. Foi direto até a recepcionista:

– Eu gostaria de ver a doutora Alma Arcan, por favor. – Disse o menino.

– Quem devo anunciar. – Perguntou a mulher.

– Julian Rodriguez, eu vim de muito longe, do México. Eu sou alguém que ela deseja muito encontrar. – Disse o menino.

– Então ele veio?

Julian se virou e viu a figura branca e de cabelos negros e espessos que lhe encarava. Possuía fascinação no olhar. Alma.

– Uma das crianças de cérebro desenvolvido, eu não acredito.

– Isso acaba aqui, Alma. Sem mais vítimas. – Disse Julian a encarando fixamente.

– Como o combinando, acabou. Você se entrega perante mim para aceitar as dores de todo um mundo, obviamente eu os liberto. Boa escolha. – A mulher disse dando ordens aos guardas. Os mesmos prenderam Julian Rodriguez e o levaram dali.

Robbie Marks resistia aos movimentos de Amanita para tirá-lo dali. Chorava e estava de joelhos em meio a estrada. Uma multidão de carros desejava passar e várias pessoas observavam. Em meio aquela via lotada de pessoas, ele derramava seu pranto pela última imagem que tivera de Julian, pois já não o sentia mais, nem tampouco o via.

– Ele foi embora, mãe. A culpa é minha. – Ele gritava.

Wolfgang foi obrigado a intervir e segurou com força o menino, o colocando nos braços e carregando. Robbie se debatia em seus braços. Ele foi levado para dentro com toda a sua dor, mas não sabia que mesmo sem a conexão, era exatamente o sentimento que tinha dentro de Julian Rodriguez.

Haviam colocado a bata de hospital nele, bem como, todos aqueles fios iniciais, porém, haviam outros que precisavam ser implantados na cabeça. Alma segurou a máquina por si mesma. Deu um breve sorriso no espelho e Julian assentiu. O objeto passou a ser deslizado por seus cabelos, que pouco a pouco foram caindo ao chão. A cada chumaço que despencava o menino sentia quentes lágrimas que desciam-lhe pela face. A sua imagem estava sendo desconstruída definitivamente. Mas a certeza de que Robbie Marks estava bem lhe fazia perceber que simples cachinhos não eram tão importantes quando a vida do seu grande amor. Derramou uma lágrima a mais, assim como, o fez Robbie ao cair no sono pelo efeito do sonífero.

– É tudo por você, tudo que eu faço. – Sibilou Julian ao abraçar o próprio corpo.

–FIM-

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.