–-Para...

–-Para. – Imitei Damon

– Lele.

–-Lele.

–-Pi

–-Pi

–-Pe

–-Pe...

–-Do!

–-Do! – falei animada.

–-Paralelepípedo. – disse rápido, me deixando agoniada por não conseguir falar.

–-Palalele... Argh, eu não consigo! – resmunguei cruzando os braços, ele soltou uma boa gargalhada.

– Falta jeito. Sério. Pedreiro.

–-Predre...

–-Não, pedreiro.

–-Pedreiro. Ah consegui! – exclamei animada, ele riu e bateu em minhas mãos.

Era sábado á tarde e concordamos em não sair mais por hoje. Talvez á noite no shopping mais perto – excluí-lo da lista de coisas á visitar ainda – para ver um filme ou coisa do gênero, mas preferíamos ficar dentro do apartamento, fazendo algumas coisas divertidas – Ideia de minha mãe, para que nos 'enturmasse' mais.

Ele tentava me fazer falar algumas palavras difíceis brasileiras, e eu não conseguia muito, mas mesmo assim, era divertido tentar.

Damon estava relaxado. Com uma bermuda e uma camiseta velha vermelha, sem estampa alguma. Chinelos e com os cabelos bagunçados. Sem sua jaqueta ou perfume. Eu usava uma calça jeans, regata e meu inseparável All Star de couro preto.

Na TV passava um filme brasileiro, Se eu fosse você 2 e eu lutava para entender melhor sem precisar da legenda, embora estivesse conversando com Damon.

– Como se acostumou tão fácil?

– Não foi fácil. Prática. Como estamos tendo agora. – Ele colocou as pernas no sofá.

– AH sim...

Olhei para a TV grande.

–-Se eu fosse você! – Falaram juntos os personagens. Eu sorri. Já sabia tudo que acontecia – seria estranho se ocorresse na vida real.

– Quer pipoca?

–-Quero. – sorri para Damon. Ele foi para a cozinha e ficou lá por um tempo.

Quando voltou, com pipoca sabor manteiga, se deitou novamente no sofá. Tive que ir ao seu lado para dividir o balde de pipoca.

A tarde toda foi assim. Depois fui dar uma volta no condomínio e apreciar o por do sol, olhando para a avenida. Cheguei a ver as crianças brincando no parque, até Damon me encontrar e dizer que iríamos para o shopping ver uma pela no novo teatro. Fui tomar um belo e relaxante banho, coloquei uma roupa mais formal. Um vestido vermelho com detalhes pretos, um colar e uma sandália.

Algo me dizia que eu passaria frio.

(…)

A peça foi perfeita – embora Damon tivesse que me dizer algumas falas pois não conseguia traduzir tudo. Jantamos em um restaurante Árabe e antes da peça pedimos um Frapuccino de Brigadeiro no Starbucks.

Eram mais de dez horas da noite e estávamos observando os bichos de bundinha brilhante perto das luzes, observando os carros e ônibus passando por ali.

– São vaga-lumes. – Eu disse.

– Nãão, são grilos.

– Nada a vê! São vaga-lumes. – revirei os olhos.

– EU vivo aqui, eu sei que são grilos.

–-Eu sou esperta, sei que são vaga-lumes.

Ele bufou.

–-Ah, são bichos de bunda brilhantes. – deu de ombros. Eu ri.

– Ok, bichos de bunda brilhante. – ri novamente e estremeci de frio. Tentava esfregar minhas mãos em meus braços nu para esquentar, e mesmo assim continuava congelando. Quando é que iríamos embora?

Damon bufou, e afastou um pouco do muro e percebi que tirava sua jaqueta – Provando-me que era cavalheiro.

Ele ficou só com uma camiseta preta de manga curta, e jogou sua enorme jaqueta em meus ombros. A enrolei em mim. Melhor do que vestir os braços e continuar com frio.

– Você some nessa jaqueta. – Ele riu. - Sério.

– Tira uma foto, tenho que mandar pra Rose. – Entreguei meu celular. Ele se afastou um pouco e tirou uma foto de mim.

– Agora uma de nós dois. – Ele se aproximou de mim. Peguei o meu celular e ele pegou o dele, tiramos fotos com as bochechas coladas. – Até seu rosto está gelado! Acho melhor irmos embora.

– Não, eu quero chocolate quente.

– Você paga.

Ooook. – Dei de ombros, vesti os braços da jaqueta e o puxei para dentro do shopping, procurando o Starbucks.

O banheiro do shopping era lindo. Grande e cheio de espelhos. No sanitário que entrei havia uma pia, um espelho atrás do vaso e um na frente da pia. Quando saí, era como uma “sala de espelho” com uma lata de lixo no meio. Me encarei no espelho e percebi o quanto parecia pequena na jaqueta de Damon.

Havia umas mulheres com maquiagens e perfumes, amostra grátis. Experimentei um perfume delicioso e sai contente, vendo Damon com meu chocolate quente estendido.

– Obrigada. – agradeci.

– De nada. – ele sorriu. – Está com um cheiro diferente.

– Amostra grátis. É normal por aqui?

– Acho que sim, no masculino não tem isso. – deu de ombros.

Fomos caminhar um pouco pelo shopping, até irmos para o estacionamento. As pessoas olhavam para nós como se fossemos namorados, – Por estarmos lado a lado e eu com a jaqueta dele. – e isso soava meio estranho.

Posso ter dado uma trégua, mas Damon era a pessoa mais irritante que existia nesse mundo.

A noite foi bem divertida, capotei de tão cansada que estava e nem mandei mensagem para Rose ou meus pais. Apenas dormi tão bem e confortável que não queria levantar da cama no dia seguinte.

(…)

Dias depois, sábado.

– Quero uma tatuagem. – disse a Damon, olhando o homem acima do peso, debruçado em uma cadeira fazendo tatuagem nas costas.

Estávamos na galeria do rock, um sábado ensolarado e delicioso para ficar fora de casa. Havia uma loja de tatuagens feita de vidro, podíamos ver como era o processo e não parecia doloroso.

– Credo.

– Qual é, eu quero uma.

– De quê? Balões? Corações? – Soou irônico. Revirei os olhos.

– Uma caveira na coxa.

– Com florzinhas?

Revirei os olhos e entrei na loja, o deixando para trás.

Devo ter acabado com minha língua de tanto mordê-la para não gritar. Estava fazendo uma caveira na coxa esquerda com uma flor vermelha em seu olho direito. Damon sorria ao meu lado, aproveitando da minha dor.

– Meio grande para a primeira tatuagem, não?

– Tenho uma na cintura, atrás da orelha, na nuca também.

– Pretende ser toda tatuada?

– Talvez.

– Quero fazer uma. No braço, que tal? Um desses dragões sinistro, que vai até as costas.

– Eu quero um lanche. Estou com fome. – Ele revirou os olhos e foi até o balcão acertar sua tatuagem.



Não me arrependi da tatuagem. Comi um delicioso lanche na entrada da galeria, e depois estava cansada pela tatuagem então fomos direto para casa, ficar de molho assistindo filmes.