Doroteia colocou mais vinho na sua taça enquanto aproveitava a noite chuvosa com relâmpagos e trovões. Ela sabia que havia alguém ali na porta de entrada da sua casa.

– Quer um pouco de vinho senhor Cunnings - disse ela se virando para o homem.

Carl ficou absolutamente sério ao ficar frente a frente com a viúva. Esta, por sua vez, já sabia qual era o motivo da antipatia dele.

– Vejo que finalmente pegou o senhor Lane. Agora já deve saber a verdade sobre mim não é?

– Para a senhora mandar matar o seu próprio marido foi como esmagar uma barata qualquer. Não teve remorso, não teve escrúpulos.

– Fui eu sim. Mandaria de novo se eu tivesse outra chance.

– Qual era o seu envolvimento com as meretrizes?

– Nenhum. Na verdade eu já planejava matar o Manfield há muito tempo. - ela se sentou no sofá - Aquele velho tinha posses importantes inclusive esta pensão. No entanto a família dele reclamava na justiça para se apoderar dos seus bens. Como ele já tinha me incluído no testamento eu fiquei como beneficiária de trinta mil libras juntamente com a pensão. Mas para não correr risco de perder tudo para a família dele eu antecipei a sua morte. Harrison ficou como meu inquilino quando eu descobri que ele era um assassino. Correria riscos, mas decidi arriscar e fiz uma aliança com ele. No mesmo dia Anabelle Lacombe me viu conversar no escritório com alguém, ou seja, com Lane, porém ela não o viu. Depois disso me chantageava diversas vezes até eu pedir que ele a matasse. Joan Truman era outra meretriz que guardava o meu segredo e por fim Manfield. O mais curioso disso tudo é que o velho desconfiava, depois descobri que vocês dois estavam planejando pegar o assassino. Harrison estava por um fio e decidiu matá-lo antecipadamente. Quem pagou foi Willame Ford que ficou foragido durante dias. Nesse tempo eu recebi o abono do meu falecido esposo e paguei uma quantia de dez mil para Lane. Quanto ao Ford descobriu meu segredo, porque Anabelle havia escrito uma carta e ele a achou, depois ficou me chantageando com isso.

– Então foi por isso que a senhora mandou matá-lo.

– Eu não. Não sei quem foi o causador da sua morte, mas fiquei muito feliz quando eu soube da morte dele. Lugar de chantagista é o túmulo.

– A senhora acabou de confessar a sua culpa perante um agente da lei. Portanto a senhora será presa e julgada pelo seu envolvimento como a mandante dos crimes. Terá direito a um advogado, todavia acho muito difícil que não seja condenada.

– Senhor Cunning sente-se agora um herói? Agora que resolveu todo o mistério em volta dos assassinatos com certeza irá receber uma comenda do Estado por seus serviços prestados incluindo nesse caso. Sente-se que vai aproveitar uma possível promoção? - ela põe a taça sobre o móvel ao lado e pega a arma. Em seguida apontou para o tenente - Pena que não vá desfrutar tudo isso em vida.

A senhora Barker apontava a arma na direção do policial. Pediu para que ele largasse a arma. Carl soltou sua pistola e levantou os braços.

– Só vai estar complicando sua situação. Escute, você pode contratar um advogado e tentar amenizar a sua pena. Porém me matar não vai livrá-la de uma prisão perpétua.

– Cale-se! Isso não estaria acontecendo se o senhor não tivesse interferido. Maldito dia em que eu lhe aceitei aqui na minha casa e todos os dias que eu me fingi que era uma boa mulher. Agora não, agora já é tarde demais. Se eu for pra cadeia pelo menos matarei o meu algoz de uma vez por todas. Adeus senhor Cunnings.

Doroteia apertou o gatilho.

Carl abriu seus olhos. A arma que ela usava estava descarregada. Atrás da mulher, o empregado Jones apontando uma pistola na direção dela.

– O que? Jones? Como pode?

– Surpresa senhora Barker? - Ele retira do bolso do casaco as balas - Está faltando isso? Deixe-me explicar, serviço de espionagem britânica. Há cinco anos eu venho vigiando a senhora. Crimes como sabotagem, falsidade ideológica e participação nesses assassinatos. A senhora está presa.

Ela soltou a arma. Os policiais vieram e a prenderam. Carl ficou surpreso.

– Queria te agradecer por tudo. Se não fosse por ti eu estaria morto.

– Não foi nada amigo - disse Jones - Somos todos colegas de trabalho. Vivemos para o mesmo propósito. Com licença.

A senhora Barker foi levada pelos policiais. Colocaram-na numa prisão móvel. Carl observou a mulher indo embora na cela. Sentiu um grande alívio por ter feito sua parte na prisão dela.

...

Liam chegou na Scotland Yard na segunda-feira quando foi recebido com palmas pelos seus colegas. O rapaz não entendeu muita coisa e foi chamado até a sala do comissariado. Sem entender o motivo ele foi.

– O que foi senhor... Tenente!

– Olá Liam - disse Carl sentado na cadeira do comissário.

– O que o senhor faz aqui? Cadê o comissário?

– Está olhando para ele - o rapaz se impressionou - eu fui promovido esse final de semana para comissário de polícia.

– Meus parabéns senhor.

– Pare com isso sargento, eu sou comissário pelos meus méritos assim como você está sendo sargento pelos seus.

– Sargento? - Liam ficou pasmo - Como assim?

– Estou promovendo você para sargento. Ah a sua medalha. Mostre-o sargento Christie.

Natasha colocou uma medalha de honra no peito do colega. Os dois se olharam, depois se abraçaram. Carl interrompeu, pois local de trabalho era sagrado.

– Agora acabou a moleza. Vamos ao trabalho, podem sair por favor.

Os dois saíram da sala do comissário para irem aos seus próprios gabinetes.

– Depois do trabalho você aceita sair comigo? - disse Liam.

– Aceito com uma condição.

– Qual?

– Liam Mason eu quero que venha jantar na casa dos meus pais hoje a noite, por favor.

– Será adorável.

Os dois sorriram e voltaram para as suas vidinhas medíocres de sempre.

FIM