Durante a madrugada, espalhadas na sala de seu apartamento. As Aves de Rapina. Foi um nome interessante para os jornais, pelo menos Cass achou. Foda, foi a palavra exata. O burburinho nas ruas, mais vigilantes para Gotham.

Mas, de repente era isso o que se tornaram. As Aves de Rapina reunidas no apartamento de Dinah não sob o perigo de ameaças de gangues, máfia ou palhaços, mas para as tão desejadas "festas do pijama" de uma Harley Quinn ainda procurada pela polícia.

Cosmos, tacos, 21, Pictionary. Independente da atividade proposta, a noite terminava com algum aviso de despejo pela "perturbação da ordem pública". Três advertências acumuladas naquele mês, mas empenhadas em obter a quarta nessa noite. Mas, ainda assim, era agradável observar a estranho grupo que Cass reuniu.

Dinah encostada próxima à entrada da varanda, recebia a brisa da cidade. A atenção sendo compartilhada entre Gotham, abaixo delas, permitindo esse estranho momento, e sua garota italiana permitindo que Harley se acomodasse junto a ela no pequeno sofá e com quem tentava manter os vários tópicos de conversa.

A palhaça estava surpreendentemente calma, apesar nos dias comuns ser expansiva, irritante e a principal defensora de acompanhamento psicológico para todas elas, enquanto no outro lado da cidade, Bruce se alimentava do antebraço de algum carteiro infeliz.

Última rodada do jogo de desenho e adivinhação.

"Duro de matar."

"Não."

"Máquina Mortífera."

"Não."

"Exterminador do Futuro?"

"Pelo amor de Deus!"

"Kill Bill."

"Não, mano." A garota continua desenhando furiosamente outros traços no quadro branco. Montoya apenas observa, bebericando algo triste e sem álcool. Era o momento sóbrio do ano.

Entre tantos olhares oferecidos, poucos eram encontrados por Helena durante a noite ou quando percebido ela agia como confidente de algum segredo. Dinah sorri para a reação da mulher e inclina suavemente a cabeça, a incentivando participar do jogo. Uma sobrancelha é erguida. Mensagem não compreendida.

Cass aguarda com expectativa. "Sua vez."

"Toy Story." Helena sugere.

Cass busca o quadro e analisa os homenzinhos de palito e expõe para Helena com a cara estranha, "Sério?"

Helena dá de ombros, "Nós assistimos semana passada."

"Puta merda. Trinta minutos de explicação e pela última vez, não é...", ela não termina, já sentindo o olhar de Dinah.

"Tá, agora é minha vez." Dinah interrompe. "Divertida..." ele diz e medita; os olhos levemente cerrados, "mente," e termina com aquele sorriso meia boca.

Cassandra joga o quadro e os pinceis no chão, "Vão tudo tomar no-"

"Ok. Acho que já deu por hoje, vamos." Montoya a chama, levantando-se da poltrona. "Acorda ela aí, por favor." Ela gesticula para Harley que dormia tranquila com a cabeça no ombro de Helena, confortável demais, Dinah observou.

"Joguinho estúpido." A pequena voz irritada de Cassandra surge, enquanto organizava os pinceis no chão.

"Vai pegar teu casaco, esquentadinha." Montoya diz.

No outro lado da sala, Dinah e sua missão de acordar Harley.

"Não." Ela murmura no pescoço de Helena, aferrando-se ainda mais no corpo da outra mulher.

"Harley!" Dinah adverte, sempre com a pouca paciência, tentando libertar Helena do aperto forte da palhaça. Os olhos facilmente maníacos despertam para um brilho malicioso.

"Signore italianas fica tão bem de preto," Harley diz acariciando a barra da camiseta de Helena, "você não acha?" pergunta sorrindo para Dinah que a ignora, e por fim a entrega para Montoya.

Com braço na cintura de Harley, Renée tratava de se despedir.

"Amanhã, vamos investigar aquele depósito. Cedo."

Cassandra passa rapidamente entre elas com suas pequenas murmurações até as escadas.

"São só rabiscos, Cass!" Dinah grita para a menina, onde um único dedo médio é resposta.

"Não se preocupa, ela vai ficar bem. E não esquece."

Dinah assente e as observa partir.

"Ciao, bella." Harley grita do corredor. Agora o despejo vem.

Dinah fecha a porta e suspira contra a madeira. Ela cresceu com aquele conhecido tom de Montoya que no passado era dirigido à sua mãe. Os mesmos diálogos e murmurações em sua porta, os quais quando criança tentava acompanhar da mesa de jantar. Esses ouvidos atentos serviriam melhor para as lições de piano, sua mãe dizia.

E estar com Montoya, era lembrar da mãe; desenterrar uma história que por anos procurou esquecer, mas não se vela o incomodo da ausência de alguém, principalmente um exemplo de altruísmo e justiça como Dinah Laurel Lance foi.

Quando Dinah se vê no espelho, não era preciso; o nome, os dons herdados, e agora, Dinah contemplava os mesmos passos da mãe, menos o destino, assim Montoya a assegurava. Ela tinha Cass e... ok, Harley. E Helena - ela tinha Helena. O que sua mãe diria ao informá-la por quem se apaixonou.

Dinah olha para ela, singular, em pé no meio da sala de estar, retirando o glitter da roupa.

Dinah anda até a mulher em sua sala, se aproxima e descansa a cabeça no esterno dela; onde escuta os rápidos batimentos e sente o cheiro fresco do amaciante - seu amaciante - na camiseta de Helena.

Nos últimos dias, sendo ela, sempre a última a sair, tão sorrateira. Ou uma ação intencional, assim Dinah gostaria de pensar, apesar de não ser muito do feitio de Helena.

Após as missões, a presença de Helena na sua casa se tornou algo comum para momentos não tão suaves como limpar o sangue das roupas ou para cuidar das constantes contusões e sempre sob a necessidade de convite, Helena dormia na sua casa.

Onde estavam nesse relacionamento ou o que pretendiam nesse acordo silencioso; ao final do dia, quando o cansaço se faz presente, não importava, na verdade.

"Você está bem?" A pergunta é dita e uma mão sem peso acaricia seu cabelo.

"Hmm." Ela diz ainda com a face afundada entre os seios da outra mulher, aspirando o aroma de sabonete, ainda ali na pele dela. Ela envolve os braços na cintura de Helena. Os pés se confundem no chão, enquanto elas entram em uma caminhada desajeitada até o quarto.

Por fim, quando elas encontram a grande cama, repousam frente a frente, se encarando nos travesseiros. A mão repousada em sua cintura; compartilhando o mesmo ar e confortável sob o olhar de uma moça tão peculiar.

Não haviam outras perguntas expostas ou flutuando sobre elas, mas aquelas sobrancelhas contrariavam qualquer interpretação. Parecia haver algo ali. Dinah ergue a mão e a aproxima do rosto de Helena. Ela aceita o seu toque, fecha os olhos e Dinah apenas recebe a respiração lenta de Helena na sua face.

Dinah aproveita e calma, traça com os dedos, cada linha do rosto de Helena.

As pontas dos dedos tocam aquele espaço entre as sobrancelhas, a fim de suavizá-lo. Eles acariciam as pequenas cicatrizes na linha da mandíbula e seguem até o canto da boca de Helena. Exploradores em uma missão, uma suave e prazerosa missão. A tentação de beijá-la surge e apesar de estar entre o frescor do corpo de Helena, o conhecido cansaço já se fazia presente, então ela simplesmente escolhe manter para si qualquer luxúria e apenas compartilhar mais outro acordo silencioso de uma noite quente.

Dinah dá algumas piscadelas mais espaçadas, para melhorar a visão, já turva; e as mãos ainda sobre o rosto de Helena. Era como ler em braile. Uma linguagem que ainda não dominava tanto quanto desejava.

Helena abre os olhos. Era simplesmente adorável admirá-la desarmada sob a baixa iluminação provida do pequeno abajur. As sobrancelhas calmas. Os olhos castanhos suaves em um brilho quase inocente.

Dinah ajusta a cabeça no travesseiro, os pensamentos estavam longes e incoerentes.

Em algumas noites, ela pedia para Helena ensinar o dialeto siciliano; sussurrar palavras como "torneira" ou a lista de compras do mercado na língua dela, e era um evento.

Hoje, ela iria pedir a lista de compras e Helena concede o seu desejo. As palavras soavam engraçadas, como vinho suave na boca de quem fala. Ela sorriria para isso.

Eram os cosmos batizados de Harley? Era o sono?

A sensação do corpo em um suave balanço como se estivesse sobre as ondas de um mar calmo.

Como seriam as praias na Sicília? Dinah imaginou Helena em uma praia.

Ela iria contar as pequenas manchas de sol nos ombros de Helena; de um claro marrom e tímidas, mas Helena ainda estava de camiseta.

Ela deveria retirar essa camiseta.

Elas tinham todo tempo do mundo, mas o sono se apresentava cada vez mais forte e mais forte...

Amanhã.

Ela irá ler mais de Helena amanhã.