Estações estáticas

Primavera — Psyche&Tsugaru


As cerejeiras estavam em flor, seus galhos com grandes ornamentos cor de rosa. O chão depois da varanda estava forrado de pétalas. Era por volta de quatro da tarde, o sol fazia com que tons de laranja e rosa cobrissem o céu, e o garoto de cabelos negros insistia em ficar sentado sobre o piso de madeira escurecido.

Ele estava esperando.

A brisa refrescante passava por ele enquanto observava atentamente as flores rosadas, elas em nada lhe chamavam a atenção, eram apenas um detalhe diferente no cenário a sua volta.

E ele ainda esperava.

Talvez fosse hora de ceder.

Tsugaru lhe dera outra bronca, e o proibiu de vê-lo enquanto não pensasse seriamente sobre o que tinha feito. Mas que ele bem se lembrasse, fora um acidente o que acontecera na sala de estar, ele não pretendia fazer um estrago daqueles.

Era a coleção favorita de Tsugaru.

Porém, aquele acidente ocupava um espaço pequeno de seus pensamentos, tudo o que ele queria agora era poder ficar deitado no colo de Tsugaru, o ouvindo recitar seus preciosos enkas.

Psyche estava decidido, ele daria o braço a torcer.

O problema era saber para onde diabos Tsugaru fora. Logo ele que sempre - sempre - fora zeloso e paciente com a personalidade inquieta de Psyche.

É, dessa vez ele conseguira exagerar.

Mas que diabos ele poderia fazer para encontrá-lo?

Pensar adiante não era uma prática do garoto de cabelos negros e quem o fazia por ele era quem não estava ali agora. Tsugaru. E encontrar uma forma de fazê-lo aparecer, não parecia ser fácil.

"Eu só quero que pense sobre o que fez, Psyche"

Uma brisa primaveril preenchera a varanda no momento em que ele ouvira a voz grave de Tsugaru dançando por seus ouvidos, e como se houvesse picado cebolas, seus olhos começaram a lacrimejar, nem mesmo ele poderia acreditar que estava chorando por tão pouco.

Era melhor dizer o que sentia, por mais que só as cerejeiras sem graça fossem ouvi-lo.

— Me desculpa, Tsugaru! Você sabe que não foi por querer! Eu quero você! Onde você está? Apareça Tsugaru! Eu juro que vou ser mais cuidadoso!

Droga, ele não queria soar tão desesperado, por mais que estivesse.

— Espero que cumpra com o que diz, Psyche.

Aquela voz grave que ele tanto adorava.

Ele podia sentir a presença iminente dele atrás de si crescendo.

— Tsugaru!

O mais alto dos dois só teve tempo de soltar uma risada que fora cortada pela falta repentina de ar, tão forte fora o abraço que recebera. Psyche era apenas lágrimas, esfregando o rosto no haori branco azulado.

Os fios loiros de Tsugaru estavam fora do lugar quando sentara na varanda colocando o outro em seu colo, acariciando as madeixas negras, tentando assim acalmar o garoto.

— Pensou sobre o que fez mesmo?

Ele negou com a cabeça.

— Eu queria te ver.

— Ansioso.

— Eu sei. Desculpa, eu vou tomar mais cuidado mas, por favor, não faça isso de novo. Não gosto de ficar sem você.

O loiro apenas sorrira.

— Eu sabia que dessa vez ia funcionar.

Psyche o encarou contrariado.

— Você brincou com meus sentimentos para conseguir algo? O que aconteceu com o meu Tsugaru?

Com seus dedos longos ele segurava delicadamente o rosto do menor, apreciando as íris róseas que ele possuía.

— Eu só usei o que tinha em mãos, Psyche.

O garoto se virou bruscamente para frente, fugindo do carinho de suas mãos, não saindo do aconchego que os braços de Tsugaru lhe ofereciam. Se limitou a encarar as flores, nada ali havia mudado enquanto eles se reencontraram, tudo permanecia tranquilo, assim como era a presença do loiro, o lugar onde moravam exalava paz. O que a presença do moreno fazia ali era desequilibrar essa serenidade, porém Tsugaru adorava tê-lo por perto.

— É primavera - comentou o loiro.

— Que bom que notou, ela fica mais sem graça a cada ano que passa.

— Mas você gosta dessa estação, Psyche. Sempre que entoo Hanafubuki Reflect, você fica quieto, é tão difícil te ver assim.

Aquilo desmoronara a fachada de irritado que o moreno criara.

— Então cante para mim.

E em pouco tempo, o cenário que a primavera criara no jardim deixava de ser entediante, não com a melodia que Tsugaru cantava, não. Aquilo, só de poder escutar a voz do loiro, Psyche tinha certeza de que a estação das flores chegara.