Estagiários

Sentimentos confusos


No dia seguinte...

P.O.V Do Freddie

Acordei com uma baita ressaca, eu mal conseguia abrir os olhos. Minha cabeça latejava sem parar, rolei pela cama gemendo, quando eu consegui despertar um pouco mais, olhei para o meu relógio digital sobre a cômoda, aquela porcaria não devia estar certa. Eu estava fodidamente atrasado, joguei meu edredom para o lado e me lancei para fora da cama, disparando para o banheiro.

Quase meia hora atrasado.

Merda. Merda. Mil vezes merda...

Mal tive tempo para escovar os dentes, como estava sem camisa, apenas borrifei meu desodorante após lavar o rosto e usar o enxaguante bucal.

Peguei a primeira roupa que vi, uma camisa lilás de linho, presente da minha mãe, um jeans casual e um blazer preto. Calcei meus sapatênis, eles nem estavam limpos, ao menos coloquei meias lavadas.

Tomei um banho francês.

Passei perfume até na nuca e atrás das orelhas.

Aquele canadense vai me pagar por não ter me acordado.

Como perdi o transporte da empresa, o jeito foi pegar uma condução pública. Entrei no ônibus com o estômago roncando, eu já estava há mais de 40 minutos atrasado.

Flashes da noite anterior pipocaram em minha mente enquanto o ônibus balançava e eu me agarrava na barra de ferro para não beijar o chão.

Foi então que lembrei do beijo roubado.

Puta merda... Ele me beijou.

Cheguei na Editorial, quase fui barrado por ter esquecido minha carteirinha de identificação, achei meu crachá dentro da minha pasta. Foi o que me salvou.

Corri para o elevador feito louco.

Bati na porta do Sr. Papperman, estava muito nervoso.

— Entre! - Deu permissão.

— Peço perdão pelo atraso, senhor, eu sinto muito e...

— O Sr. Oliver já me explicou tudo! - Que droga.

O linguarudo tinha me dedurado.

— Pode entrar, Sr. Benson, lamento pela sua vovozinha. - Papperman me lançou um olhar terno.

Olhei para o Oliver confuso, ele apenas deu meio sorriso.

— Ah, obrigado, senhor... - Eu não tava entendendo nada.

— Espero que sua avó se recupere logo. Seu colega me contou que ela comeu sabonete por engano, deve ser a idade, o meu bisavô já comeu ração de gato achando que era cereal. - Contou o chefe.

O meu colega havia mentido para salvar minha pele?

À troco de quê? Ele não faria aquilo por nada...

— Pois é, o estômago da minha vozinha ficou cheio de espuma, tiveram que fazer uma lavagem gástrica... - Fingi um lamento.

— Pobrezinha... - Papperman se compadeceu.

Vi o Oliver segurando o riso.

[...]

P.O.V Do Beck

— Por quê mentiu para o chefe? - Perguntou quando fomos no setor da gráfica.

— Queria que eu contasse sobre sua bebedeira? Eu poderia narrar todo o vexame que deu. Não seria lindo? - Me irritei.

— O que quer em troca? Eu não vou fazer favores sexuais pra você! - Avisou mexendo na impressora.

— Como é? - Parei o que fazia, estava no computador.

— Lembro do beijo. - Falou nervoso.

Enguli em seco e comecei a ficar agitado.

— Foi por impulso. - Murmurei constrangido.

— Nunca mais ouse me beijar. - Pegou os papéis impressos.

— Não deveria ter me provocado! Você deixou a toalha cair! E de noite você...

— Bebi pra caramba, eu sei. Mas não dei em cima de você. - Esclareceu.

— Mas eu...

— Só esquece, porra! Temos um projeto pra preparar. - Ele só queria mudar de assunto.

Horas depois...

— QUE HORROR! - Sr. Papperman gritou. - Que gato mais bizarro. - Virou a tela do notebook.

Era o rascunho para usarmos no site de vendas. Teríamos que criar um gato para representar a marca da ração.

— Isso são orelhas ou chifrinhos? - Indicou as orelhas pontudas.

Benson segurou o riso... Eu desenhava muito mal mesmo.

— Desculpe, senhor, eu vou refazer. - Peguei o notebook.

— Aqui está o logo, faltam alguns detalhes e...

— VOCÊS NÃO ENTENDERAM O LANCE DO PRODUTO? MEU DEUS, VOU TER UM CHILIQUE! - Começou a se abanar.

Olhei para o logo que o Benson criou.

— Qual é o problema, senhor? - Eu também não via nenhum.

— REFAÇAM TUDO! - O chefe estava tendo um ataque de pelancas?

Benson e eu nos entreolhamos abismados.

Sr. Papperman colocava defeitos em tudo.

[...]

— Dá para me ajudar com esse slogan aqui? - Sentei ao seu lado.

— Se vira, não tá vendo que tenho que terminar de personalizar o site de vendas? - O chefe surtou quando viu a cor antiga que ele colocou no site.

Ele deixou bem claro que queria amarelo-mostarda e não verde-couve.

— Se não dá conta de criar um simples slogan, pede pra sair. - Falou estressado.

Bufei enquanto me afastava.

— Vou ganhar essa vaga! - Avisei sério.

— É o que veremos, meu caro. - Debochou rindo.

Horas depois...

— Esses banners estão ridículos! - Exclamou o chefe.

Minha vontade era de enfiar a caneta rosa no olho dele. Papperman tinha uma coleção de canetas com cheirinho de frutas.

— Mas, senhor, eu passei 2 horas preparando e...

— Te perguntei alguma coisa, estrupício? Quêm é o diretor chefe aqui? Eu escolho a dedo, não vou permitir que essa campanha seja um desastre pela incompetência de vocês! - Nos ofendeu.

— Chefinho! - Seu assistente invadiu o escritório.

— O que é, criatura? - Papperman fuzilou o pobre rapaz.

— Wade Collins está aí fora querendo falar com o senhor. - Avisou sorrindo.

[...]

P.O.V Do Freddie

— Tá ouvindo isso? - Gemidos vinham da sala do chefe.

Ele e o tal Wade Collins estavam resolvendo alguns assuntos.

Que tipo de pessoa transa no próprio escritório?

— Tá à fim de um café? - Estávamos na salinha ao lado.

— VAI, GARANHÃO! - Gritou o Papperman.

Ouvimos o baque da mesa virando e gritinhos.

Corremos para longe dali, o trauma seria grande para nós dois.

— Então, você é gay? - Perguntei quando sentamos na cantina.

Era uma espécie de saleta para refeições somente para estagiários.

— Sou bi. - Respondeu adoçando o café.

— Hum... - O analisei.

— Ainda pensando no beijo que roubei? - Sorriu.

— Hãn? O quê? Sai fora, eu não...

A porta foi aberta abruptamente e duas mulheres invadiram se agarrando.

Eram as gatonas, ambas importantes na Editorial.

— Puta merda! - Exclamou a loira.

Nos notaram ali.

— Porra! - A morena começou a ajeitar a saia lápis.

A loira tinha a blusa de seda desabotoada.

Ambas com o batom borrado.

— O que estão fazendo aqui? - Samantha Puckett nos fuzilou.

— Amor, é o lugar deles, os estagiários comem aqui. - Jadelyn West lembrou a noiva.

— Oh! - A outra sorriu amarelo.

— Não vimos nada... - Fizemos cara de paisagem.

Elas dispararam para fora enquanto gargalhavam sem pudor.

Eram duas taradas loucas. Começamos a rir.

[...]

1 semana depois...

A ração com molho especial extra foi lançada, a campanha foi um verdadeiro sucesso.

Oliver e eu saímos para comemorar no dia do lançamento, e acabou rolando um clima. Ficamos. Foi uma experiência nova para mim. Jamais me imaginei beijando outro cara. E como gostei... Começamos a sair desde então...

— O chefe está uma pilha de nervos... - Seu assistente deixou a sala do Papperman aos tropeços.

Foi então que ouvimos os lamentos chorosos. Adentramos o escritório, o loiro estava debruçado na mesa, uma garrafa de vinho estava ali ao lado dele.

— Aquele infeliz... - Soluçou. - Além de partir meu coração, ele levou até minha plantinha... - Mais um soluço. - Paguei 100 pratas naquela Orquídea indiana... - Assoou o nariz.

Ele havia sido chutado por Wade Collins, ouvimos as fofocas que corriam pela Editorial.

— Dei tudo para ele, TUDO! Ele me sugou todinha, roubou até meu perfume com fragrância única, mandei fazer em Paris... Aroma de Lírios com pimenta rosa e baunilha. - Entornou a garrafa de vinho.

— Chefe, nós...

— SAIAM DAQUI, SEUS FRUTRICADOS! - Quase caí de susto. - Estão dispensados por hoje... - Tremia tanto que até derramou vinho na camisa caríssima.

Ele só usava marca italiana.

Beck e eu corremos com medo de sermos atingidos pela garrafa que custava umas 1.000 pratas.

[...]

— Quer provar minha Quesadilla de frango? - Estávamos almoçando no Taquitto's.

— Não, obrigado. - Nós dois amávamos comida mexicana.

— A gente podia ir tomar uns drinks mais tarde. Ainda quero fazer um tour em Seattle. Que tal me mostrar os pontos turísticos? - Pegou minha mão.

— É uma boa ideia... - Puxei minha mão discretamente.

As pessoas estavam olhando.

Ele recolheu a mão constrangido.

— Primeiro recusou o beijo no elevador, agora não posso nem te tocar? - Me olhou triste.

— Têm câmera no elevador. - Olhei ao nosso redor. - Estão olhando para nós... - Sussurrei.

— E daí? - Ergueu uma sobrancelha.

— Minha mãe infartaria se soubesse que estou saindo com um...

— Um cara que você adora beijar quando estamos sozinhos no flat? Um cara que está te proporcionando uma experiência tão boa que você está curtindo? Um cara que está realmente gostando de você? - Levantou me deixando sem reação por alguns segundos.

— Beck, eu...

— Você têm vergonha, Freddie. Morre de vergonha. Não precisa assumir, vou voltar para L.A se você ficar na Editorial, acho que a vaga vai para você mesmo! - Me deu as costas indo embora magoado.

— Caralho! - Praguejei.

Eu ainda estava tão confuso com tudo.

Era 100% hétero até ele surgir na minha vida e bagunçar meus sentimentos.