Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

ESPERANDO O FIM

Chiisana Hana

Capítulo XVI

— E e-eu... s-sou... o pai? – gaguejou Ikki, fitando Pandora e o bebê adormecido no colo dela, ainda parados na soleira da porta.

— Mas é claro! – ela respondeu, irritada. – Eu não estaria aqui se não fosse! Será que nós pelo menos podemos entrar ou vai nos deixar aqui na porta?

— Sim – ele respondeu, ainda chocado, dando passagem a ela e apontando o sofá. – Desculpa.

— Quando eu fui embora, já estava grávida – ela começou a explicar depois de se acomodar no sofá com o bebê. Deu uma boa olhada na sala e sentiu-se incomodada. Aquela casa não parecia coisa do Ikki. – Eu já sabia que estava.

— E por que não me contou, caramba? – Ikki indagou, procurando moderar o tom de voz. Não queria parecer irritado, embora estivesse.

— Eu não queria que você ficasse comigo por causa do bebê! Depois eu mudei de ideia e tentei entrar em contato, liguei para o apartamento mas você não voltou para o Japão e a Pani não me dizia onde você estava. Quando ele nasceu eu tentei mais uma vez, mas continuou não dizendo nada.

— No começo ela realmente não sabia onde eu estava... – ele justificou. – Que loucura isso tudo, Pandora...

Ele também sentou no sofá e levou as mãos à cabeça. Sentiu-se dentro de um furacão, sendo jogado de um lado para o outro, e respirou fundo, procurando aprumar-se.

— Você tinha que me contar... – ele disse, depois de alguns instantes de silêncio.

— Você ouviu o que eu disse? Eu tentei! – ela gritou, mas logo abaixou o tom de voz. – Olha, eu não vim aqui para brigar. Você está sabendo agora, não está? Ele se chama Stephen e nasceu no dia 27 de agosto. Faz um mês hoje. O que mais você quer saber?

— Eu nem sei o que dizer... – Ikki falou, olhando direito para o bebê no colo de Pandora e reconhecendo nele seus próprios traços. – Eu tenho um filho...

— Eu estava decidida a criá-lo sozinha – ela continuou – e sei que o faria muito bem, mas não posso negar isso a ele. Não posso impedi-lo de conhecer o pai, de conviver com ele, de ter o nome nos documentos. E eu não quero que ele cresça e me culpe por privá-lo dessas coisas. Então eu reuni toda a coragem que pude e vim. Eu sabia que se você não estivesse aqui, o Shun estaria e ele certamente saberia seu paradeiro. Bom, é isso. Agora o resto é com você. Se você não quiser o Stephen na sua vida, tudo bem, mas aí a culpa vai ser exclusivamente sua.

— Pandora, você realmente não me conhece – ele disse e tocou de leve a cabecinha do filho. – Eu jamais faria algo desse tipo.

Foi então que Pandora notou a aliança de casamento reluzindo no dedo dele e não pôde esconder o choque. Só então aquela casa rosa, a decoração extravagante e as almofadas coloridas fizeram sentido.

— Você se casou? – ela perguntou, mesmo já sabendo que a resposta seria afirmativa. – Então foi por isso que “sumiu no mundo”, né?

— É uma longa história, mas você vai entender quando conhecer a minha esposa... – ele disse, e então chamou em voz alta: – Esmeralda!

Pandora franziu a testa, pensou ter ouvido errado porque simplesmente não podia ser esse nome.

— Aquela Esmeralda? – ela indagou, confusa. – A... morta?

Esmeralda pretendia ficar quieta na cozinha para que Ikki pudesse conversar tranquilamente com a ex-namorada e resolver tudo que estivesse pendente, mas diante do chamado ela foi para a sala, procurando manter um sorriso amigável na face.

— Como você bem pode ver – disse Ikki, abraçando a esposa –, ela não está morta.

Pandora continuava fitando-os pasmada, sem conseguir acreditar que aquela moça loira, bonita e sorridente, usando um pingente de fênix que certamente foi um presente de Ikki, era a mesma por quem ele sempre se lamentou.

— Meu Deus... – Pandora murmurou, incrédula. – Você a encontrou? Como?

— Eu já disse que é uma longa história – ele respondeu.

Ikki explicou rapidamente a Esmeralda o que estava acontecendo

— Então você tem um filho – Esmeralda disse depois de ouvir a explicação dele. Olhou o bebê cautelosamente, ainda de longe. Depois se voltou para Pandora e falou: – Olá, Pandora. Parabéns pelo bebê. Ele é muito bonito.

— Obrigada – Pandora agradeceu, ainda estupefata e sem conseguir disfarçar. – Desculpe, mas eu estou muito chocada. Realmente gostaria de saber como isso aconteceu...

— Você vai ter tempo para isso – disse Esmeralda, sentando-se ao lado dela. – Vocês vão ficar um pouco conosco, não é?

— Eu não sei se devo... Não sei... Não sei mais de nada.

— Deve sim. Você tem um filho com o meu marido. Vamos ter que conviver com isso, não é?

— Bom, é verdade... Mas... É que eu estou completamente chocada com essa história toda.

— Todo mundo ficou assim quando eu cheguei. É normal, já que todos achavam que eu estava morta, até mesmo o Ikki.

— Principalmente ele – Pandora disse, lembrando-se de como a loira sempre foi uma sombra que impedia Ikki de viver qualquer coisa plenamente.

— Você vai se acostumar – Esmeralda falou e tocou gentilmente a mãozinha enluvada do bebê. – Ele parece com o Ikki…

— Parece mesmo – admitiu Pandora. – E ele também já mostrou que é genioso e cheio de vontades. Já estou prevendo que vai dar trabalho.

Pandora amava falar do filho, o qual tinha se tornado sua única razão de viver. Estava sozinha no mundo quando voltou para a Alemanha. Não tinha mais família, nem amigos, mas carregar Stephen no ventre deu-lhe forças para seguir em frente. A gravidez e a preparação do enxoval e do quarto preencheram seus dias de solidão e quando ele nasceu, foi como se o mundo tivesse se iluminado novamente. Os primeiros dias depois do nascimento foram de muito cansaço, dúvidas e pouco sono, mas também de descoberta de um amor que ela desconhecia. Tanto amor que ela acabou decidindo que Stephen merecia conhecer e, se possível, conviver com o pai e o tio. Ele merecia uma família. Ela viajou para a Grécia com essa certeza e, secretamente, também nutria esperanças de voltar para Ikki quando ele conhecesse o filho. No entanto, a presença de Esmeralda desfez em milésimos de segundo todas as expectativas que ela tinha criado.

— Então, como você soube que ela...? – Pandora perguntou. Queria saber, queria entender como esse “milagre” tinha acontecido.

— Na verdade, foi graças a você – Ikki falou.

— Como? Não entendi...

— Na nossa última briga você me disse para tirar os ossos dela da ilha...

— Sim, eu me lembro... Eu estava com tanta raiva...

— Eu sei, mas segui seu conselho e não encontrei nada além de pedras no caixão que deveria ser o dela. Então descobri que ela não estava morta e a partir daí foi uma procura desesperada, com a ajuda de um detetive, até finalmente chegar ao lugar onde ela estava.

Pandora sentiu uma dolorosa pontada de tristeza por Ikki nunca tê-la amado como ama Esmeralda. Poderiam ter sido felizes se ele tivesse metade desse amor por ela, se ele tivesse feito um mínimo de esforço para construírem um bom relacionamento, mas o coração dele sempre esteve com Esmeralda. Talvez ele não conseguisse deixá-la no passado porque inconscientemente soubesse que ela estava viva.

— E vocês se casaram mesmo? – Pandora perguntou. Ainda não conseguia acreditar. – Estou querendo saber se casaram legalmente, sabe?

— Sim, casamos ainda em Lima – Ikki respondeu. – Não queria trazê-la para cá sem as coisas estarem corretas.

— Que coisa mais louca... – murmurou Pandora, pensando se esse homem na sua frente era o mesmo Ikki de sempre. Ela não conseguia vislumbrar o velho Ikki fazendo algo como se casar. A única explicação que ela encontrou foi que a casca grossa dele se partiu e de dentro saiu um outro Ikki que ela desconhecia.

— Louco é você chegar aqui com um filho meu no colo! – ele exclamou. Já começava a se acostumar com o fato de ser pai. – Vocês estão precisando de alguma coisa?

— Não, estamos bem. Eu só queria que você soubesse que tem um filho, que o Stephen pudesse ter o sobrenome do pai, conhecer o tio... Queria que ele tivesse uma família, já que eu não tenho mais ninguém... Infelizmente eu já registrei ele, mas acredito que deva ser uma coisa simples de retificar.

— Creio que sim. Vou cuidar disso o mais rápido possível. Você está hospedada em algum lugar?

— Cheguei hoje cedo e me hospedei em um hotel.

— Certo. Depois do almoço podemos ir lá buscar as coisas de vocês.

— Ainda não sei se vou ficar aqui, Ikki.

— Claro que sabe. Como a Esmeralda já disse, vocês podem ficar conosco.

— Sim, gostaria muito que ficassem – reforçou Esmeralda. – Além do mais, hotel não é um bom lugar para um bebê tão novinho. Aqui vocês ficarão mais confortáveis.

— Bom, então ficamos – rendeu-se Pandora, afinal era esse seu objetivo desde o início. Por precaução, caso não encontrasse Ikki no condomínio, deixou as malas em um hotel simples, relativamente perto do local. Iria buscá-las quando resolvesse a situação com ele. Só não contou com a presença de Esmeralda para atrapalhar seus planos. E a loira estava certa, teriam de conviver de qualquer forma, então que começasse logo.

— Ótimo – disse Ikki. – Estávamos ajeitando as coisas para um almoço com o pessoal, para comemorar nossa mudança para essa casa. Antes estávamos morando na casa do Shun... É até bom porque apresentamos logo o Stephen a todos de uma vez e não fica uma lenga-lenga.

— Isso me lembra que preciso voltar à cozinha para ajudar a Pani – disse Esmeralda. – Fique à vontade, Pandora.

A alemã agradeceu. Ainda se sentia meio atordoada com a situação, mas já conseguia manter uma aparência mais controlada.

— Quer segurar ele um pouco? – ela perguntou a Ikki, ao notar o receio dele.

— Não sou muito bom com bebês, mas posso tentar. Vou ter de me acostumar, não é?

Pandora colocou-o nos braços desajeitados do pai, que olhava intrigado para o filho.

— Ele é bem bonitinho – Ikki disse e sorriu.

— Ele é lindo! – corrigiu Pandora também sorrindo e segurando a mãozinha do bebê. – Meu filho é perfeito! Um príncipe!

— Você foi bastante corajosa por ter enfrentado tudo sozinha...

— Foi difícil, claro, mas valeu a pena.

Pandora contou a Ikki que teve uma gravidez tranquila. Alugou um apartamento em um bairro tranquilo de Munique, onde Stephen nasceu, de parto normal, às 09:05 da manhã do dia 27 de agosto de 1991. Ela tinha escolhido esse nome porque significava “coroado” e mandou fazer o enxoval dele todo em branco e azul, com coroas bordadas.

— Tem certeza que não vai dar problema ficarmos aqui? – ela perguntou ao final de seu relato.

— Claro que não. Você não viu que a Esmeralda ficou até feliz?

— Sei lá... se fosse eu, teria ciúmes...

— Ela é tranquila. E não há razão para ter ciúmes.

Pandora engoliu em seco ao ouvir isso. Deu graças a Deus quando a campainha tocou e ele foi atender, ainda segurando Stephen, permitindo que ela digerisse as últimas palavras sem que ele visse sua cara de decepção.

— Melhor se prepararem para a surpresa – ele disse a Shun e June quando abriu a porta.

— Que bebê é esse? – perguntou Shun, já olhando intrigado para o menino.

— Bom, esse é o meu filho – Ikki respondeu.

— Você tem um filho? – Shun indagou perplexo. – Como assim? Tá doido?

— Entrem, entrem, vocês vão entender...

Os dois entraram e de fato entenderam tudo assim que viram Pandora sentada no sofá.

— Olá – ela cumprimentou os dois com um aceno. – Como vão?

— Muito bem, obrigado – Shun respondeu. – E você, como vai?

— Estou bem. Eu e meu bebê estamos bem, Shun.

— Nossa, eu estou bem chocado, confesso. Ikki, quando você vai parar com as surpresas?

— Foi surpresa pra mim também, Shun.

— Deixa eu ver meu sobrinho direito! Ele é tão lindo! Olha, Ju.

— Lindo mesmo – admitiu, olhando do bebê para Pandora. – E a Esmeralda? Como ela reagiu?

— Ela está encantada – Ikki disse. – Eles vão ficar um tempo aqui conosco. Com certeza ela vai gostar de ajudar a cuidar dele.

— E como é o nome do meu sobrinho? – Shun perguntou.

— Stephen... – Ikki falou, parecendo não muito satisfeito. – Tanto nome melhor, a Pandora chama o menino de Stephen... Pelo menos não é Fritz, Wolfgang, né?

Pandora deu um sorriso irônico e rolou os olhos. Quase disse para Ikki parar de ser idiota, mas resolveu ficar quieta a fim de manter o clima amistoso.

— Posso segurá-lo? – Shun pediu e Pandora concordou. Então ele pegou Stephen, para alívio de Ikki. – Que menininho mais lindo do tio!

— Eu vou levar a sobremesa que trouxemos lá para a cozinha – disse June, mas o que queria mesmo era saber da própria Esmeralda o que ela estava achando dessa história. Não acreditou que ela estava “encantada” como Ikki disse. – Com licença.

Shun ainda se divertia conhecendo o sobrinho e perguntando coisas a Pandora, quando chegaram Shiryu e Shunrei com Keiko. Ikki começou a explicar-lhes rapidamente a situação e ainda não tinha terminado quando Hyoga chegou e, logo depois, Seiya apareceu com a filha, desculpando-se por Saori não ter vindo. Justificou dizendo que ela quis aproveitar pra descansar um pouco.

— Tem sido difícil para ela – ele explicou. – Por mais que eu tente ajudar, à noite não tem jeito... Aí aproveitei para trazer a Heiwa e dar umas horas de sossego a Saori.

— No começo é difícil mesmo – Shunrei disse. – Depois vai melhorando.

Ikki terminou rapidamente de explicar sobre Pandora e Stephen.

— Agora que até o Ikki é pai, só falta o seu, Shun – Hyoga disse.

— Ih, ainda deve demorar bastante! Tenho um longo caminho de estudos até me tornar médico. Só depois disso, pensarei em filhos. Mas tudo bem, porque já tenho meus quatro sobrinhos lindos.

— Nossos filhos vão crescer juntos – constatou Shiryu com alegria, desejando que os priminhos se dessem bem, que crescessem saudáveis e felizes.

— É mesmo – concordou Seiya. – Acho que vão ser uma turma unida como nós!

— Estava pensando justamente nisso – disse Shiryu.

Na cozinha, Esmeralda confirmou para June que estava tudo bem, mas a namorada de Shun ainda não conseguia acreditar.

— É a ex-mulher do Ikki que tá lá na sala com um filho dele e você não está com ciúmes, Esmeralda?

— Não. Eu tenho que compreender e aceitar tudo que ele fez antes de me encontrar. Se ele tem um filho, acho ótimo. Até porque não sei se conseguirei dar isso a ele. Além do mais, o menino não tem culpa nenhuma. Ele merece conviver com o pai.

E Esmeralda não disse a June que aceitava tudo aquilo de bom coração também porque podia simplesmente ser o contrário: Ikki podia tê-la encontrado com um ou mais filhos. Só não aconteceu dessa forma porque ela tinha sido forçada a abortar diversas vezes e ainda sofria as consequências físicas disso. Tinha certeza absoluta de que se fosse assim, ele a aceitaria com suas crianças, então por que ela não aceitaria e receberia bem o filho dele?

— Olá, meninas – Shunrei cumprimentou ao entrar na cozinha. Trazia uma bela travessa de salada, que Pani pegou e colocou sobre a mesa. – Quer ajuda com alguma coisa, Esmeralda?

— Ah, não precisa, Shunrei – respondeu a loira, colocando uma travessa de arroz sobre a mesa. – Já está tudo quase pronto. Só falta terminar de assar o peixe.

Inconformada, June aproximou-se de Shunrei.

— Se fosse o Shiryu, como você reagiria a isso? – ela perguntou. – Uma ex-mulher sentada na sua sala com um bebê.

— Eu ia ter que engolir e aceitar a criança, claro. Afinal, aconteceu antes...

— E mesmo que tivesse acontecido depois… – disse Esmeralda. – Como eu disse, o menino não tem culpa. Ele tem pai, precisa dele e sei que Ikki cumprirá seu papel muito bem. Está tudo certo, June.

— É, o bebê não tem culpa – June continuou e voltou-se para Shunrei –, mas você ia receber a vadia na sua casa?

— Vamos ter de conviver, June – Esmeralda disse antes que Shunrei respondesse. – É melhor para todos que a gente conviva bem.

— Sinceramente, eu não teria esse sangue frio de vocês.

— Não se trata de “sangue frio” – Esmeralda disse. – Eu já passei por tanta coisa nessa vida… Não vou deixar ciúme bobo e egoísmo privarem aquela criança de ter o pai. Se o Ikki quisesse, ele estaria com aquela mulher até hoje. Mas ele não quis, ele foi me procurar, me encontrou, casou-se comigo e não com ela. E vamos voltar logo para a sala!

Quando elas retornaram à sala, Shiryu estava falando sobre seus planos para os próximos dias:

— Então, semana que vem completamos um ano de casados e vamos voltar a Santorini. Aluguei um iate grande e estávamos pensando se vocês não gostariam de ir conosco.

— Mas não estragaria a segunda lua de mel? – perguntou Shun.

— Vamos com um bebê de sete meses... Não vai ser exatamente uma lua de mel. Só um passeio legal em família. O mestre Dohko também vai conosco.

— Você quer é dividir a despesa, seu safado! – exclamou Seiya, rindo.

— Já paguei tudo, seu tonto! – retrucou Shiryu.

— Eu não posso, tenho que estudar e... – Shun começou, mas foi interrompido por June.

— Mas a gente topa de qualquer jeito – ela disse. – Meu amor, é só um fim de semana.

— Tá, mas eu vou levar o livro.

— A Heiwa ainda é muito novinha – Seiya falou –, então acho que não vai dar para ir.

— E eu tenho que voltar para os EUA – justificou Hyoga. – O meu filme já vai ser lançado e terei um monte de compromissos profissionais, entrevistas por todos os lados. Aliás, espero que vocês me vejam na tevê e também vejam meu filme no cinema, hein?

— É claro que vamos ver! – disse Esmeralda empolgada. – Eu amo cinema!

— E você vai ficar só nesse filme, pato? – Seiya perguntou.

— Não. Meu agente já está negociando outro papel. E se esse filme fizer sucesso, e eu acho que vai fazer, muitas outras portas se abrirão.

— “Meu agente”... – debochou Seiya. – Já está metido, né?

— Ele sempre foi – disse Ikki.

— Se você quiser posso falar com ele pra arranjar um trabalho de figurante pra você, Ikki. Daria um ótimo leão de chácara.

— Eu vou dispensar! Sobre o passeio, você quer ir, Esmeralda?

— Eu adoraria, mas não vamos atrapalhar mesmo, Shunrei?

— De jeito nenhum! – Shunrei disse. – Se achássemos isso, não estaríamos convidando.

— Então nós topamos! – exclamou Esmeralda, empolgada.

Pandora já estava se sentindo totalmente fora de lugar, querendo sair correndo dali, quando Stephen acordou, começou a chorar e ela deu graças a Deus por isso.

— Chegou a hora de encher a barriguinha, né? – ela disse ao filho, pegando-o do colo de Shun. Esmeralda aproximou-se dela.

— Quer ir lá para cima para ficar mais à vontade com ele? – ela perguntou.

— Seria muito bom, Esmeralda.

— Quero que saiba que está tudo bem – Esmeralda disse a ela, quando a acompanhava até o quarto. – Você e o Stephen são muito bem-vindos aqui.

— Obrigada e me desculpe – a alemã agradeceu. – Eu fiquei muito, muito chocada ao ver você, e acho que isso ficou bem claro na minha face. Eu não consegui mesmo disfarçar. Mas é como você disse, vou acabar acostumando...

— Eu também ainda estou me acostumando com tudo. É um mundo novo. O Ikki, essa casa, amigos... Bom, fique à vontade. Qualquer coisa, estamos lá embaixo. Vou servir o almoço daqui a pouco.

Pandora agradeceu novamente e quando Esmeralda saiu, deu uma boa olhada no quarto do casal. A parede lilás, os móveis brancos, a colcha florida sobre a cama, uma foto grande dos dois sobre a cômoda. Ikki estava radiante nela, com um sorriso e um brilho nos olhos que ela jamais vira antes e Pandora não conseguiu evitar que as lágrimas viessem.

-S-A-I-N-T-S-

— Ela ficou amamentando o Stephen – Esmeralda disse ao retornar para a sala. – Ikki, temos que dar um jeito no outro quarto rapidamente. Está limpo, mas não tem nada lá.

— É, vou ver isso já que eles vão ficar pelo menos alguns dias com a gente.

— Mais tarde trago uma cama lá de casa – disse Shun.

— E temos um bercinho de armar da Keiko – Shiryu disse. – Podemos emprestar.

— Beleza – Ikki disse. – Tudo ajeitado.

— Viu como é bom morar perto da gente? – Shun riu.

— É, maninho, é ótimo. Só tenho que ver como farei o negócio do registro do menino.

— Quanto a isso – Seiya começou –, a Saori tem um ótimo advogado aqui na Grécia. Vou te dar o número dele.

— Mas será que é seu filho mesmo? – June perguntou.

— Tá mais do que na cara… O bebê é parecido demais com o Ikki.

— Ele só tem um mês... – Ikki disse. – Significa que ela foi embora grávida. É só fazer as contas.

— Sim, mas de quem? – June perguntou e foi fuzilada por olhares de reprovação. – Tá, desculpa, só acho que ela não é uma pessoa confiável.

— Vocês implicam uma com a outra desde que se conheceram – Ikki disse – mas ela não é a piranha que você acha que ela é.

— Eu não vou com a cara dela e ela não vai com a minha, é isso. Mas tá, já entendi, vamos mudar de assunto.

— É melhor mesmo porque ela já está descendo... – Esmeralda disse baixinho.

— Ele dormiu de novo – Pandora avisou. – Deixei-o na cama, com travesseiros ao redor.

Esmeralda aproveitou e começou a servir o almoço. Depois da refeição, Shun foi com Hyoga buscar a cama, enquanto Shiryu foi pegar o berço. Ikki aproveitou para conversar direito com Pandora agora que o choque inicial já tinha passado.

— Você disse que alugou um apartamento... – ele começou. – Eu vou comprar um lugar pra vocês. E claro que vou mandar uma grana também.

Pandora ia falar que não tinha ido atrás disso, mas Ikki se antecipou.

— Eu sei que você não veio por essa razão, mas é o certo. Você não está sozinha nessa. Se preferir continuar na Alemanha, tudo bem, mas acho que aqui vocês teriam mais assistência... E também acho que seria legal ele crescer aqui, perto de mim, das primas... Mas você é quem sabe. O que você decidir, eu apoio totalmente.

— Eu preciso de um tempo pra pensar, Ikki... Não acho que seria uma má ideia mudar para cá, mas ele ainda é muito novinho…

Pandora queria dizer que mudar para Grécia era o que ela mais desejava, que era seu plano desde o começo, que tinha o dinheiro mas não comprou o apartamento porque ainda tinha esperanças de voltar a morar com ele, o que, infelizmente, não seria possível. Se Ikki estivesse com qualquer outra mulher, ela lutaria por ele, mas com Esmeralda não adiantaria nem começar. A guerra já estava perdida.

— Talvez você tivesse alguma esperança – ele disse, como se adivinhasse os pensamentos dela. – Mas eu... bom, você viu. Eu estou casado e muito, muito feliz.

— É, eu vi. Ela sempre foi tudo pra você, mesmo quando você achava que ela estava morta. Nunca houve espaço pra mim.

— Houve. Eu gostava muito de você. Você é uma mulher incrível, Pand. Linda, sensual, inteligente, mas a Esmeralda...

— Eu sei... não precisa continuar.

— Espero que você encontre alguém que te ame de verdade. Você merece.

— Não, esse papo de “você merece”, não... Além do mais, eu não estou procurando ninguém. Não quero. Está tudo certo. O Stephen preencheu todos os espaços.

— Você diz isso agora, mas ele vai crescer... Você vai acabar encontrando alguém. E eu espero que seja um bom homem, porque se ele fizer alguma coisa ruim com o meu filho, vai ter que se ver comigo. Bom, é isso. Agora me dá o endereço do hotel. Vou lá pegar suas coisas. Daqui a pouco o quarto de hóspedes ficará pronto. Shiryu trouxe um berço e umas coisas da Keiko pra ele. É só um improviso, mas da próxima vez que vocês vierem vai estar tudo pronto.

Mesmo sem querer, ela sorriu. Ikki sempre tinha sido protetor com Shun e já estava mostrando que seria com Stephen. Apesar do “fator Esmeralda” ter acabado com suas expectativas pessoais, o resto tinha saído melhor do que ela esperava. Stephen teria um pai protetor, tios amorosos, primas da mesma idade e até uma madrasta que, esperava ela, fosse boa para ele.

-S-A-I-N-T-S-

Dias depois, Hyoga atravessou o tapete vermelho de um importante festival de cinema, posando para fotos com astros veteranos. Apesar de ser seu primeiro festival, ele parecia totalmente à vontade. Logo em seguida, participou da coletiva de imprensa de lançamento do seu filme. Falou com desenvoltura sobre a importância desse primeiro trabalho no cinema e sobre suas expectativas quanto à estreia. Ao lado dele, o diretor do filme falou sobre o empenho do “jovem estreante russo”, a dedicação dele nas cenas de ação, todas feitas fez sem dublê.

— Ele é incrível! – disse o diretor. – Todos no set ficaram impressionados com o talento e a capacidade dele e também com a resistência ao frio!! Gravamos numa nevasca e ele nem parecia se afetar.

— Fez até um pouco de calor – Hyoga completou, rindo. – Eu cresci na Sibéria. Estou acostumado.

— Mas você agora mora na Grécia, não é? – perguntou um repórter. – Para ficar perto da mãe de sua filha.

— Para ficar perto da minha filha – ele corrigiu. – Aliás, dedico todo o esforço nesse trabalho a ela, que tem sido uma luz na minha vida, e aos meus irmãos, que são incríveis. Espero que eles estejam me assistindo agora, porque se não estiverem eu vou virar Midgard de novo! E é só isso que eu vou falar sobre minha família.

Alguns repórteres ainda insistiram no assunto, mas ele se esquivou de todas as perguntas dizendo que só falaria da carreira e do filme. Outros quiseram saber dessa história de “virar Midgard de novo” mas Hyoga se esquivou novamente.

— Só vou falar sobre trabalho – ele disse e deu uma piscadela misteriosa e irresistível para as câmeras.

Em Atenas, os irmãos estavam mesmo reunidos na casa de Saori para assisti-lo.

— Ele está falando um inglês perfeito! – Shun disse. – E está muito desenvolto, parece que fez isso a vida inteira.

Saori concordou e completou:

— Está mesmo. Estão chamando ele de “jovem talento russo”! Está com tudo o nosso Cisne!

— E ele ficou muito bonito nesse terno todo preto – Shunrei completou.

— Eu ficaria muito melhor que ele nesse terno – enciumou-se Shiryu.

— Que nada! – gritou Seiya. – E você gosta é de arrancar a roupa que a gente sabe. Sempre achei que o Hyoga levava jeito pra ser galã, eu digo isso há muito tempo.

— O pato só vai fazer sucesso porque é loirinho do olho azul – disse Ikki. – Nem deve ser tão bom ator.

— Você está com inveja, Ikki? – Seiya disse. – Você e o Shiryu. Dois invejosos.

— Eu? – indagou o Dragão. – Eu não estou com inveja. Só disse que fico melhor que ele nesse terno. E fico mesmo.

— Não tenho inveja de ninguém, pangaré – disse Ikki, olhando para a esposa. – Tudo que eu queria da vida já consegui.

Enquanto os rapazes ainda falavam de Hyoga, Shunrei aproveitou para conversar com Saori.

— Como você está? – perguntou a chinesa, pois achou a deusa mais abatida que o normal para uma mãe de recém-nascido.

— Tem sido muito difícil – confessou Saori. – Eu estou aqui com vocês, mas minha vontade é dormir por uns seis meses seguidos. Estou quase arrependida de ter decidido cuidar da Heiwa sozinha, sem uma babá. O Seiya me ajuda no que pode, mas eu me sinto esgotada. Não como direito e, principalmente, não durmo.

— Talvez seja hora de ceder um pouco e pedir ajuda... – sugeriu Shunrei.

— Tenho medo de parecer uma mãe ruim.

— Arranjar uma babá não vai fazer de você uma mãe ruim, Saori.

— É o que o Seiya me diz todo dia, mas eu queria muito ser capaz de fazer isso sozinha. Ela é minha filha. Você consegue, a Eiri consegue, até a Pandora tem conseguido, por que eu não?

— Porque as pessoas não são iguais. Simples assim.

— Acha mesmo que não seria ruim para a Heiwa?

— Lógico. E acho que você já tem alguém aqui… o Tatsumi não trouxe a esposa?

— Sim. Ela já me ofereceu ajuda algumas vezes...

— Então aceite! Você não vai encontrar alguém melhor.

— Eu vou fazer isso, Shunrei.

Quando as duas voltaram a prestar atenção na conversa dos rapazes, eles já falavam do passeio para Santorini.

— Está tudo certo para amanhã, né? – perguntou Shiryu. – Quero sair às dez.

— Tudo certo, Shiryu – Ikki respondeu. – Vou levar a Pandora no aeroporto e encontro vocês na marina.

— Dez em ponto – confirmou Shun.

— Não se atrasem – reforçou Shiryu. – Santorini, lá vamos nós de novo!

Continua...