Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

ESPERANDO O FIM

Chiisana Hana

Capítulo V

Lima, Peru.

Ikki comprou um jornal e procurou um detetive nos classificados. Marcou uma hora com o único que encontrou, mas estava tão ansioso que não conseguia ficar na pousada. Saiu para caminhar um pouco, depois foi almoçar num shopping center perto do prédio onde ficava a sala do detetive. Na vitrine de uma joalheria, viu uma corrente com um pingente que lhe chamou a atenção: uma delicadíssima Fênix de ouro. A Fênix, sempre ela, a que renascia das cinzas.

"Esmeralda também é uma", pensou, buscando dentro de si a certeza de que ela ainda estaria viva. O maldito negociante confirmou a história do velho, e ele viu a ficha dela no hospital, falou com gente que cuidou dela, sabia que ela saiu de lá viva, mas e depois? Afligia-o pensar que ela podia não ter sobrevivido nas ruas e isso o deixava com um misto de felicidade e medo. Perder Esmeralda pela segunda vez seria duro demais.

"Não, ela sobreviveu", obstinou-se a pensar. "Eu preciso acreditar que sim. Eu preciso agir com a certeza que sim." Então entrou na joalheria e comprou o colar porque ele seria o primeiro presente para Esmeralda quando se reencontrassem.

Na hora combinada, Ikki dirigiu-se até a sala do detetive, que se chamava-se Estebán Cortiles, e era um homem atarracado, de feições andinas e olhar sereno. Atendia numa sala minúscula localizada em um prédio do centro da cidade. Após ouvir todas as informações de que Ikki dispunha, ele entrelaçou as mãos e falou:

— Bom, resumindo, você procura por uma moça loira, que era escrava na Ilha da Rainha da Morte e foi trazida para cá com sérios problemas de saúde por conta de alguma substância que lhe deram para que parecesse morta. A última notícia que temos é que ela teve alta do hospital há alguns anos.

— Isso mesmo – Ikki confirmou, nervoso. A possibilidade de encontrar Esmeralda viva abriu uma parte de seu coração há muito fechada, despertando sentimentos dos quais ele tinha abdicado e trazendo emoções que ele nunca havia experimentado.

— Certo – prosseguiu Estebán. Avaliava Ikki desde que ele entrou na sala. Falava um espanhol correto, então provavelmente era verdade que viveu no Peru por anos, mas definitivamente ele não parecia ser um homem rico. – Isso vai lhe custar um bom dinheiro, rapaz.

— Dinheiro não é problema. Diga o seu preço e eu pago.

— Três mil soles (1) a cada semana de trabalho. Em dólar seria cerca de mil por semana... Isso e mais alguma eventual despesa que eu tenha com transporte, alimentação, alguma informação que eu precise comprar...

— Fechado – Ikki disse sem regatear, e entregou ao homem um maço de dinheiro referente ao primeiro pagamento. – Pode começar agora mesmo. E saiba que, se encontrá-la, pagarei muito mais.

— Certo, senhor – disse o homem de um modo confiante que acabou por contagiar Ikki. – Aguarde notícias em breve.

Ikki assentiu e voltou para a pousada. Sentia-se vivendo um sonho estranho e nebuloso, caminhando por uma ponte que ele desconhecia, suspenso a centenas de metros. Do outro lado, a vida que ele sempre sonhou com sua Esmeralda, e que considerava perdida. Abaixo, só a escuridão. E não havia como voltar.

— Esmeralda pode estar viva – ele murmurou. – É quase inacreditável.

Seu coração cansado palpitava de esperança, mas era uma sensação sufocante, permeada pelo medo. Ele abriu as janelas do quarto, buscando um pouco de ar. Olhou para o céu, queria ver um bom presságio nas estrelas, mas era uma noite escura e sem Lua.

— Onde quer que você esteja, meu amor, eu vou encontrá-la. É uma promessa.

—S-A-I-N-T-S-

Los Angeles, EUA

Tomado pelos sentimentos decorrentes dos últimos acontecimentos em Atenas, Hyoga abandonou o curso de artes cênicas. Ficaria em Los Angeles apenas pelo tempo necessário para cumprir os compromissos profissionais já agendados, depois voltaria para a Europa.

Quando terminou a sessão de fotos do dia, ele foi para o restaurante onde Elise trabalhava, onde jantou e ficou tomando alguns drinques, até o final do expediente dela. Só então comunicou sua decisão de deixar os Estados Unidos e os motivos.

— Então você vai mesmo embora? – Elise perguntou, surpresa. Antes ele parecia disposto a ficar, investir na carreira de ator e no relacionamento com ela.

— É, eu vou – ele respondeu, convicto. – Falta pouco para minha filha nascer e esse maldito incêndio me fez perceber que eu preciso estar lá. Tem algo ruim acontecendo com as pessoas que amo. Não posso ficar aqui e fingir que está tudo bem, Elise.

Elise ponderou por alguns minutos. Estava apaixonada pelo jovem russo, achava que ele também sentia o mesmo, e ele vinha com essa notícia.

— Me leva com você? – ela pediu sem pensar. – Eu posso trabalhar lá também, podemos... podemos ficar juntos.

"Déjà vu", pensou Hyoga enfastiado.

— Eu sinto muito Elise, mas não. Eu não vou cometer esse erro outra vez.

—S-A-I-N-T-S-

Tóquio, Japão.

— Ela vai conosco e vai levar as garotas – June disse a Shun assim que desligou o telefone. Estava falando com Agatha, combinando com ela a volta para Atenas. – Estão todas preocupadas com o que houve lá no condomínio.

— Eu já imaginava. É melhor que todo mundo fique junto. Só queria poder avisar o Ikki sobre tudo isso, sabe? Se ele ligar pra cá, não vai encontrar ninguém, se ligar para o condomínio Olympus obviamente também não vão atender e com certeza ele não tem os novos números do Santuário.

— Shun, esquece o Ikki – impacienta-se June. – Ele não tá pensando em você, meu bem. Nem deve lembrar que você existe.

— Não é bem assim, June. Você não o conhece como eu. Ele tenta fingir que não se importa, mas se preocupa demais com todos nós.

— Se você diz… – ela falou, sem acreditar muito nisso. O pouco tempo que conviveu com Ikki dizia para ela o contrário.

Coincidentemente, o telefone tocou. Shun atendeu.

— Finalmente desocuparam essa droga de telefone – Ikki disse do outro lado da linha.

— Ikki! – exclamou Shun ao reconhecer a voz do seu interlocutor. – Meu irmão, eu estava justamente pensando em você! Tanta coisa aconteceu...

— Por aqui também... – ele disse.

— Ah, é? – intrigou-se Shun.

— É, mas eu não posso contar agora. Só liguei para avisar que estou bem e que você não deve se preocupar comigo.

— Certo. Escuta, nós estamos indo para a Grécia. A história é bem longa, mas resumindo: Saori estava sendo mantida prisioneira por Julian, então Seiya e Shiryu tiraram-na de lá. Só que o Julian ficou revoltado e mandou incendiar o condomínio. Agora estão todos no Santuário.

— Alguém morreu?

— Não.

— Então está tudo bem, Shun. Se não morreu ninguém, está tudo bem.

— Mesmo assim eu e June estamos indo pra lá amanhã cedo e eu estava aflito por não saber como avisar a você. Agora estou mais tranquilo, mas é complicado não ter como falar com você.

— Certo, certo – Ikki disse, soando cansado. – Anota o telefone da pousada onde eu estou.

Shun pegou o número e deu a Ikki o da casa de Libra, o único dos novos números do Santuário que ele possuía. Conversaram mais um pouco, Ikki sempre evitando dizer no que estava metido, apesar da insistência de Shun.

Depois que desligou, Ikki recostou-se na cama, pensativo. Apesar de não demonstrar, nem sempre sentia falta do irmão, mas em seu atual estado de espírito, queria mesmo estar perto dele, abraçá-lo, ouvir palavras de incentivo e conforto. Não só dele. Queria ouvir os conselhos de Shiryu, sempre muito maduro e sábio para a pouca idade, inspirar-se na felicidade dele com Shunrei, ouvir as bobagens de sempre que Seiya falava, e ver o "Pato" vangloriar-se de suas peripécias no curso de artes cênicas. Queria estar perto de todos eles...

— Estou mal mesmo – constatou sorrindo. – Até daqueles retardados estou sentindo saudades.

—S-A-I-N-T-S-

Quando Shunrei acordou, estava deitada numa cama, em um cômodo completamente escuro. Havia um barulho baixo de motor e ela sentia um balançar muito suave, parecido com o do iate onde ela e Shiryu passaram a lua de mel.

— Estou em algum tipo de embarcação – ela deduziu. – Mas que droga!

Sentiu a cabeça latejar, provavelmente por causa do clorofórmio que tinham usado para deixá-la inconsciente quando a puxaram para o carro. Passou a mão na cabeça e estranhou a sensação da nuca livre. A trança que costumava usar tinha sido cortada de forma irregular.

— Que porcaria – lamentou-se, mas logo mudou de tom. – Bom, cabelo é o menor dos meus problemas agora.

Ela tateou ao redor e sentiu uma mesinha de cabeceira com um abajur. Tentou acendê-lo mas não funcionou. Sentiu as paredes ao redor e calculou que era um quarto bem pequeno. Minutos depois a porta se abriu e a luz do corredor iluminou fracamente o quarto. Uma mulher entrou rapidamente e depositou sobre a mesinha uma tigela de comida e um copo de água. Shunrei fixou o olhar na direção dela, procurando gravar sua imagem caso precisasse descrevê-la quando saísse dali. A iluminação fraca não ajudava mas a chinesa achou-a familiar.

— É melhor você comer – a mulher advertiu com uma voz trêmula, e tornou a fechar a porta, deixando Shunrei no escuro.

— Essa voz... – Shunrei murmurou. Agora estava certa de que era alguém que já conhecia. – Onde eu ouvi essa voz?

Não pretendia comer nem beber nada que lhe dessem, mas estava vasculhando a memória tentando descobrir de onde conhecia a mulher, quando seu estômago roncou. Ficou numa dúvida tremenda: precisava comer, mas e se houvesse algo ruim na comida?

— Bom, se quisessem me matar, teriam matado – decidiu depois de alguns segundos. Tateou na mesinha, pegou a colher e começou a comer o mingau que a mulher trouxe. – Só espero que essa minha lógica esteja certa.

—S-A-I-N-T-S-

No Santuário, Shiryu procurou a esposa por todas as partes e não a encontrou. No começo, não estava muito preocupado mas o tempo foi passando e o desespero começou a tomá-lo. Todos que ele encontrava no caminho respondiam que não a viram, até que um dos guardas da entrada informou que viu Shunrei sair muitas horas atrás.

— Como é que é? – Shiryu perguntou, incrédulo.

— É, ela saiu – ele disse, indiferente.

— E você deixou?

— E eu ia fazer o quê? Amarrá-la? Ela é sua mulher! Você que tome conta!

— Droga! – ele resmungou, socando o ar embora sua vontade fosse de socar o guarda.

Shiryu sabia muito bem aonde Shunrei foi, mas também sabia que algo sério aconteceu para impedi-la de voltar ou pelo menos de avisar a ele. Então ele foi direto ao hospital, onde Fatma confirmou que Shunrei esteve lá para visitá-la, mas já tinha ido embora há muito tempo.

Desnorteado, o cavaleiro voltou para o Santuário. Não sabia o que fazer, nem mesmo por onde começar a procurar.

— Preciso falar com o Mestre – ele murmurou várias vezes durante o trajeto. – Ele vai saber o que fazer.

Assim que desceu do carro na entrada do Santuário, Shiryu ouviu os guardas chamarem seu nome. Um deles veio correndo em sua direção, trazendo um grande envelope pardo.

— Senhor Shiryu! Deixaram isso para o senhor! – o soldado gritou e lhe entregou o envelope.

Shiryu rasgou-o apressadamente. Dentro dele, encontrou uma trança de cabelos negros e um bilhete onde estava escrito apenas um número de telefone e a frase: "Entregue o que é meu e eu devolvo o que é seu".

— Filho da mãe! – exasperou-se Shiryu. – Eu vou arrancar a cabeça dele!

Com a trança nas mãos, Shiryu correu em direção às Doze Casas. Em Áries, Mu mandou Kiki chamar Dohko e, enquanto isso, tentou acalmar o amigo.

— Isso é claramente uma armadilha – Mu disse. – Julian sabe que não pode entrar aqui no Santuário e quer nos atrair para outro lugar.

— Dane-se – Shiryu retrucou. – Eu vou a qualquer lugar. Assim que ele disser para onde levou a Shunrei, eu vou lá buscá-la. E passarei por cima de quem estiver no meu caminho.

— Sei que está preocupado – Mu disse, dando um tapinha nas costas de Shiryu.Mas precisa pensar com calma. Qualquer passo precisa ser bem planejado.

— Tanto que eu falei para ela não sair... – Shiryu lamentou.

— Ela achou que não teria problema…

Quando Dohko finalmente chegou, Kiki já o tinha deixado a par dos acontecimentos. Shiryu mostrou-lhe a trança e o bilhete.

— Ele acabou de mandar isso – disse o cavaleiros. – E graças a Deus que foi só o cabelo.

— Temos que descobrir para onde ele a levou – Dohko disse. – Eu vou telefonar. Você não tem a menor condição de conversar com o Julian ou com quem quer que esteja do outro lado da linha.

Dohko foi até o telefone da casa de Áries e discou o número que estava no bilhete. Depois de dois toques, o próprio Julian atendeu.

— Vejo que receberam a encomenda – ele disse e sua voz soou sinistra.

Dohko manteve a sua firme e controlada.

— Sim. O que quer, Julian?

— Não é óbvio? Quero a minha noiva de volta. Você me entrega a Saori e eu entrego a chinesa. Simples assim.

— Onde?

— Ela está aí perto? – Julian indagou, ignorando a pergunta de Dohko.

— Não. Não está.

— Então só me ligue de novo quando ela estiver por perto. Direi a ela, e somente a ela, o que fazer. E é óbvio que ela terá de vir sozinha, senão a chinesinha morre. Não pense que estou brincando, porque eu não estou.

— Entendi – Dohko disse e desligou o telefone. Então, calmamente começou a dizer a Shiryu o teor da conversa. – Ele só vai dizer o endereço à senhorita Saori. Achei que podíamos resolver isso sem que ela soubesse, mas parece que não. Temos que ir lá em cima e tornar a ligar com ela por perto.

— E a Shunrei? Ela está bem?

— Está – Dohko respondeu, torcendo para que fosse verdade. – Ele vai devolvê-la se entregarmos a Saori. Claro que não faremos isso, mas faremos o Julian pensar que vamos entregar a deusa.

— Então o que estamos esperando? – indagou Shiryu, e começou a subir em direção ao Décimo Terceiro Templo. Dohko e Mu acompanharam-no.

Lá em cima, o Mestre escolheu cuidadosamente as palavras para contar a Saori o que houve.

— O Julian entrou em contato conosco – começou o cavaleiro. – Ele quer falar com a senhorita porque tivemos um incidente.

Saori estremeceu.

— Mais um? – ela perguntou, referindo-se ao incêndio. – E o que foi dessa vez?

Dohko parou, pensando em como contaria a ela sobre Shunrei, mas Shiryu impacientou-se e disparou:

— Ele está com a Shunrei! Ele a sequestrou hoje! Mandou um envelope com o cabelo dela.

— Eu sabia que ia acabar acontecendo algo – a deusa disse, terrivelmente abalada. Estava adorando ficar no Santuário, onde se sentia protegida e amada por Seiya, mas sabia que em algum momento Julian tomaria suas providências. Só não imaginava que seria Shunrei quem pagaria.

— Não importa o que vocês digam – ela prosseguiu – , eu vou voltar para ele.

— De jeito nenhum! – Seiya protestou. – Nós tiramos você dele, não foi? Também vamos conseguir resgatar a Shunrei.

— Agora o Julian vai estar preparado, Seiya – Saori argumentou. – Vocês não vão pegá-lo desprevenido como pegaram.

— Preparado com o quê? – Seiya tentou rebater. – Armas? Você sabe que armas não podem conosco. Não, você não vai!

— Seiya! É a Shunrei que está lá! – Shiryu gritou em desespero. – Ele ama a Saori, do jeito maluco dele, mas ele ama. Não seria capaz de fazer a ela! Já a Shunrei... – refreou-se, incapaz de completar a frase, e começou a chorar.

— Primeiro vamos ver o que ele quer que Saori faça – disse o Mestre. – Depois, elaboraremos uma estratégia.

Dohko pegou o telefone e discou o número indicado no bilhete. Entregou o fone a Saori assim que Julian atendeu.

— Olá, minha querida! – ele disse, alegre e jovial, como se nada estivesse acontecendo.

— Por que você fez isso? – Saori retrucou e sua voz era puro desespero.

— Eu só quero tê-la de volta, meu amor.

— Desse jeito? Envolvendo uma pessoa inocente?

— Era o único jeito que eu dispunha. Você não me deixou opções, meu bem. E ela colaborou saindo daí.

— Eu vou voltar. Devolva a Shunrei, estou voltando para a sua casa hoje mesmo.

— Não vai ser tão simples assim. Você vai me encontrar em um lugar.

— É só dizer onde.

— Ouça bem as instruções, minha querida. Você vai para a minha mansão, sim. Lá, um piloto de minha confiança estará esperando com o helicóptero pronto para decolar. Ele sabe para onde deverá ir. Ah, não preciso dizer que ele só vai decolar se você estiver sozinha, não é? E se seus cavaleirinhos tentarem fazer qualquer coisa, a moça morre.

— Onde ela está?

— Está segura. Assim que você estiver comigo, mando levarem-na ao Santuário.

— Certo, Julian. Não faça nada com ela. Eu estou indo.

— Estou esperando ansiosamente, querida.

Depois de desligar, ela repassou aos cavaleiros o que Julian lhe disse.

— Helicóptero... – Shiryu murmurou. – Então ela não deve estar por perto...

— Saori, você não vai! – Seiya disse, abraçando-a de modo protetor.

— Não tem outro jeito, meu bem. Eu preciso ir.

— Acho que ela deve ir – Mu finalmente se manifestou. – Assim nós saberemos o destino do aparelho e poderemos buscar as duas.

— E como vamos fazer isso sem que ele saiba? – Shiryu indagou. – Ele disse que se tentarmos algo...

— Eu sei como... – Mu respondeu.

Continua…