Três dias depois.

Gray foi até a casa com Happy e conseguiu alugar sem maiores problemas. Assim que assinou o contrato de um mês, avisou Erza que começou a se movimentar para poder visitar a amiga. Nessa hora, ela contou para o Mestre todo o plano e ele aceitou participar, indo com ela até a prisão.

Erza chegou na sede do Conselho como quem não quer nada além de visitar uma amiga querida. Ao seu lado, Makarov mantinha a expressão séria. Sabia que o que estavam fazendo era errado e perigoso, porém negava-se a deixar Lucy presa injustamente. Ajudaria seus filhos sem arrependimento.

Convencer os Conselheiros a deixarem a ruiva fazer uma visita, custou muito tempo. Os contra-argumentos de que ela quebraria algo ou ajudaria em uma possível fuga, não saiam de suas mentes. Com muito persistência de Makarov, e prometendo que nada aconteceria, eles permitiram a entrada dela.

Quando a ruiva por fim foi liberada para entrar, a noite já dava seus primeiros indícios. Uma guarda a levou para a sala onde ficavam confiscados vários objetos mágicos, revistou a ruiva, pediu que tirasse a armadura e colocou uma pulseira que impedia o uso de magia.

Também revistaram a sacola que a ruiva levava, onde estava uma simples marmita com comida caseira e uma garrafinha de suco para a loira. Felizmente, deixaram que ela passasse com a sacola.

Na saída ela acabou tropeçando no pé da mesa, ao lado da porta, derrubando a mesma junto de alguns objetos mágicos.

— Meu Deus! Desculpa. Com esse escuro eu não consegui enxergar o pé da mesa — tentou pegar os objetos com as mãos ainda presa.

— Sem problemas — respondeu a mulher. — Quase todo mundo daqui já tropeçou nessa mesa, não sei porque ainda deixam ela na beirada — abaixou-se para ajudar a ruiva.

— Realmente, é algo para se pensar… — sorriu carinhosa, pegando o que queria sem ser percebida.

Depois de tudo organizado, a mulher a guiou até o subsolo, onde estavam as celas. Lucy não era a única presa ali, mas Erza nem sequer reparou. Todos pareciam bem comportados, podiam ser confundidos com estátuas.

— Aqui é onde ela está — começou a abrir o portão.

— Lucy? — perguntou a ruiva entrando na cela que estava escura.

— Erza? Meu Deus! Eu não acredito que é você mesma.

— Deixarei vocês sozinhas, seu tempo acaba daqui uma hora. Nada de gracinhas — a guarda trancou a cela por fora e saiu.

— O que faz aqui? Como conseguiu entrar?

— Eu vim te visitar, oras. Entrei com a ajuda do Mestre, ele está lá em cima… O que aconteceu com você? — perguntou assustada.

Lucy estava cansada, com o cabelo embaraçado e a roupa suja. Para a ruiva era visível o quão magra a loira estava.

— Eu estou bem, Erza. Não me olhe assim.

— Se isso é estar bem, imagina estar mal. O que estão fazendo com você?

— Eles apenas me tratam como se eu fosse uma criminosa…

— Malditos… Toma, come isso que você vai se sentir melhor — entregou a sacola.

— Não precisava se preocupar, Erza — sorriu agradecida, logo atacando a marmita.

— Claro que eu precisava. Estávamos prevendo isso… Já falaram o dia do julgamento? — perguntou, sentando-se ao lado da amiga.

— Ainda não… — respondeu, bebericando o suco.

— Isso não importa muito, você sairá bem antes.

— Como assim?

— Estou aqui para te ajudar com a fuga.

— Você consegue usar magia com essa coisa aí? Eu não — mostrou o próprio braço onde uma pulseira, idêntica a da ruiva, brilhava

— E se eu te disser que tenho isso? — tirou de dentro da blusa um canivete mágico. — Corta até a parede.

— Não acredito que ninguém te revistou — arregalou os olhos.

— Eu fui revistada, mas isso eu peguei na sala de confiscados — sorriu orgulhosa de si mesma. — Tropecei de propósito em uma mesa e peguei sem que percebessem. Isso vai cortar sua pulseira.

— Erza…

— O que foi? Quer apodrecer aqui? Que eu saiba a senhorita pode muito bem invocar algum espírito sem o uso das chaves, além de que pode chamar elas.

— Como você…?

— Happy dedurou. Andou treinando escondido e nem contar para as amigas. Magoou — fingiu falsa tristeza.

— Usei essas magias apenas uma vez, até esqueci…

— Então, vai querer o canivete ou não?

— Vou esperar alguns dias para não ficar na cara, não quero que você seja presa também. Eu vou daqui direto para… Não sei para aonde vou.

— Gray alugou uma casa Vila Bela, é isolada e vai servir de esconderijo.

— Não sei chegar até lá.

— Daqui dois dias, Gajeel virá em uma missão na cidade vizinha. Saia de noite, pegue suas chaves e o espere na floresta ao sul da sede do Conselho. Avisarei ele.

— Certo, espero que tudo corra bem..

— Vai dar certo, pode confiar.

— Erza… Eu sei que você talvez não acredite em mim, mas eu preciso dizer para alguém…

— Voltou a ver o tal fantasma?

— Sim… — respondeu cabisbaixa.

— Como foi?

Lucy explicou todo o ocorrido, desde a primeira aparição até a última. Erza escutou tudo atentamente, surpresa com o que acontecia ali naquela prisão. As aparições estavam ocorrendo vezes de mais para ela duvidar da loira.

Polyusica ainda não tinha dado sinal para poder examiná-la. Makarov esperava que ela voltasse quando a loira já estivesse escondida, assim não teriam que voltar até o Conselho para pedir uma nova permissão de visita.

As duas estavam tão imersas na conversa que só perceberam que o tempo acabou quando ouviram o som das chaves. Uma hora passou voando e logo tiveram que se despedir, com a promessa de que se veriam de novo, mas, dessa vez, do lado de fora.

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O som de passos pôde ser ouvidos por todos os corredores daquela prisão. Lucy sabia que haviam outros presos ali, mas todos pareciam tão sem esperança quanto ela, antes da visita de Erza. O silêncio reinava quase o dia inteiro ali, ninguém ousava dizer algo ou planejar uma rebelião.

Os guardas passaram, olhando um por um, vendo se ainda estavam ali, presos. A visita não durou cinco minutos, assim como todas as manhãs. A passagem dos guardas era a única coisa que fazia com que Lucy tivesse uma pequena noção de tempo.

— Lucy? — ouviu alguém a chamando do lado direito de sua cela.

— Lina? — a loira se levantou, indo até o canto da parede onde havia um pequeno buraco do tamanho de uma bola de tênis.

Lina era uma mulher loira, com o cabelo mais claro do que o de Lucy. Ela já estava presa há uma semana quando a maga chegou ali e, assim que perceberam o buraco, começaram a conversar.

A mulher tinha sido presa injustamente por roubo, sua inocência já havia sido provada e sua liberdade era certa, até que acharam uma carta antiga sua, onde falava mal do Conselho. Isso bastou para que a deixassem ali para que aprendesse a “respeitar as autoridades”.

— Quando pretende fugir? — sussurrou.

— Quando você aceitar vir comigo — sussurrou de volta.

— Lucy, já vai ser complicado quando descobrirem que você fugiu, imagina nós duas.

— Não vou sair sem você, simples assim.

— Teimosa.

— Olha quem fala — riu. — Assim que sairmos, você pode ir para Álvarez, o Conselho não tem poder lá.

— Como provarei minha inocência?

— No meio da nossa saída, iremos para a sala de provas e “pegaremos emprestado” o relatório sobre seu caso.

— Você está maluca? — sorriu, animada com a ideia.

— Maluca para sair daqui! Estou apenas esperando passar alguns dias da visita da Erza, para não correr mais riscos.

— Ouvi dizer que vão te liberar para passeios na área livre. Recompensa pelo seu comportamento.

— Sério? Isso vai facilitar para que eu saiba onde eles guardam os arquivos…

— Como vai funcionar a fuga?

— O canivete que Erza me deu vai cortar essa pulseira que tenho nos braços. Assim posso invocar um espírito que consegue cavar sem deixar rastros — explicou empolgada.

— Ser maga parece ser algo legal.

— Eu sinto que você tem magia. Nunca tentou aprender algo?

— Nunca tive interesse. Sempre amei minha vida de confeiteira, fazer doces e bolos faz parte da minha vida, eu não me vejo usando magia para isso…

— Pode ser útil, adoraria ver.

— Quem sabe quando sairmos daqui? Eu ia tentar usar para poder fugir, já que não colocaram as pulseiras em mim, mas tenho medo de dar errado…

— Quando sairmos, você tenta.

— Vai ser divertido — riu. — Ouço passos, estão voltando.

O mais rápido que conseguiram, as duas afastaram-se da parede e fingiram normalidade.

— Lucy Heartfilia? — perguntou Mendy, aproximando-se da cela.

— Sim?

— Irei acompanhá-la a um passeio do lado de fora — explicou, abrindo a porta.

Levantando-se animada, a loira saiu alegre da cela. Esse seria mais um pequeno passo em seu plano de fuga. Seguiu Mendy em silêncio, subindo a escada devagar para não tropeçar, por conta do escuro.

Assim que subiram, a luz incomodou seus olhos. Mendy parou e esperou até que a loira se acostumasse, para que pudessem prosseguir. Passaram por um corredor escuro e estreito, com várias salas devidamente identificadas.

A última foi a que mais chamou a atenção de Lucy, pois tinha a porta completamente branca, diferente das demais que eram marrons. Não havia identificação, mas uma fresta foi o suficiente para que ela entendesse o que tinha ali: os arquivos dos crimes.

Usando seu raciocínio rápido, Lucy traçou um caminho mental de sua cela até àquela sala. O plano não podia falhar, caso contrário, nunca mais sairia daquela prisão.

— Muito bem! Esse é o lugar. Você pode caminhar a vontade se quiser — apontou para frente, onde estava um pátio aberto com árvores e bancos de madeira.

— É bonito — sorriu, feliz por estar ao ar livre depois de tanto tempo.

— Lucy… Você já pensou em fugir?

— Como assim? — arregalou os olhos.

— Não me entenda mal — sorriu. — Nem todos nós acreditamos que você seja a culpada pelo que aconteceu.

— Você acredita em mim?

— Sim. Acho que você deveria montar um plano de fuga, aqui é seguro, mas nem tanto.

— Está falando sério?

— Claro. Trabalho há nove anos aqui, vi muitas pessoas inocentes sendo acusadas injustamente. Provas forjadas é a principal causa.

— Sabe… Eu não sei nem como me defender mais. Sinto que quanto mais eu tento, pior fica.

— Eu entendo perfeitamente. Provar sua inocência para o Conselho é mais difícil que fugir daqui — riu.

— Cruzes…

— Ali mais ao fundo tem alguns banheiros com roupas e toalhas limpas. O fato de você ter ficado quieta todos esses dias, rendeu alguns benefícios.

— Finalmente, um banho — quase pulou animada.

— Lucy, quando for fugir, não volte para Magnólia nem que seja o último lugar do mundo.

— Alguém desconfia de uma fuga minha?

— Todos esperam que a Fairy Tail invada a sede de repente.

— É a cara deles, mas duvido que tentem isso.

— Eu também duvido — riu. — Tome cuidado nos próximos dias e, se possível, fuja o quanto antes. Seu julgamento saíra daqui quatro dias.

— Obrigada, Mendy. Serei eternamente grata pela sua ajuda.

— Fico feliz em poder ajudar.

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— Wendy, eu tive uma visão… — Charlie falou baixinho, para que só a azulada escutasse.

— O que você viu nela? — perguntou a maga curiosa.

— A Lucy no dia do seu julgamento.

— Você conseguiu ver quanto tempo ela ficará presa?

— Sim…

— Vamos, temos que contar para o Mestre! — pegou a gatinha no colo e subiu a escada até a sala do Mestre.

Ninguém pareceu reparar nas duas, facilitando o trabalho.

— Wendy? Charlie? Aconteceu algo? — perguntou o Mestre que estava saindo da sala.

— Charlie teve uma visão, Mestre.

— Entrem. Alguém mais sabe?

— Não.

— O que você viu, Charlie?

— O julgamento da Lucy.

— Quanto tempo?

— …

— Charlie, quanto tempo?

— A Lucy… Ela vai ser condenada a prisão perpétua.