Era normal. Costumeiro.

Começava com um bufar, um revirar de olhos e um cruzar de braços. Muitas vezes, essas coisas também vinham acompanhadas de passos se afastando até que não fosse mais possível vê-lo.

A seguir, todas as atenções iam para o outro. Ronan sorria sem graça, e tentava negar, talvez passar a responsabilidade para outra pessoa, ainda que soubesse que era inútil.

Era consigo que Lass estava bravo, magoado.

Lass era uma peça misteriosa, uma figura que, quanto mais o entendia, menos o conhecia. Ele era sensível, como uma bomba relógio, e a cena que já tinha se tornado comum para a Grand Chase não era nada menos do que o céu cinza que anunciava uma tempestade.

E, felizmente para Ronan, aquela tempestade acontecia entre 4 paredes e de forma discreta e silenciosa para que ninguém além de si notasse.

Mas talvez preferisse que Lass gritasse e o insultasse, até mesmo o agredisse. Com certeza doeria menos do que a cena dos olhos claros úmidos e acusadores o julgando enquanto a voz, já falha pelo choro silencioso que ainda não trazia soluços, falava consigo. Sempre a mesma frase.

—Eu estou decepcionado com você.

E doía. Machucava. Por que era verdade, por que tinha falhado com o rapaz. Mais uma vez.

E mesmo quando o abraçava e secava suas lágrimas, sussurrando entre beijos suaves contra a pele úmida que era um idiota e que iria melhorar, iria aprender a não falar sem pensar perto dele, Ronan sabia que não era o suficiente.

Porque Lass merecia alguém doce, merecia alguém que o fizesse sorrir mais do que chorar, que soubesse lidar com pessoas e não alguém como ele, um soldado no fim de tudo, que estava acostumado demais a ser consolado para saber como consolar alguém.

Sua preocupação e sua afeição não eram o suficiente, não para alguém que estava tão fundo quanto Lass. Mas mesmo assim, ele concordava.

Lass aceitava que fosse Ronan a vir lhe consolar, a vir conferir se estava bem quando sabia que algo ali pudesse ser um gatilho para más memórias e mais crises. Lass aceitava quando era Ronan que zelava por seu sono, que tentava lhe mimar com petiscos cozinhados durante as tardes no quartel general, e com uma xícara de café e sua presença ao seu lado, lhe oferecendo segurança e companhia.

Mas apesar daquilo, Ronan não era suficiente. Não quando as maiores crises do rapaz eram causadas por si quando não media as próprias palavras. Não quando não fazia ideia de como pedir desculpas e reparar os próprios erros. Não quando era incapaz de fazê-lo sorrir mais do que o fazia chorar.

Não quanto sentia que amava-o tanto, mas sabia que não era bom para ele.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.