_ Não estou doente, doutor, apenas não quero sair de casa. – dizia Tony que recebeu Simon em seu próprio quarto.

_ Eu entendo Tony. Acontece que você é meu paciente de terapia, e é meu dever estar aqui quando você não pode ir até mim.

_ Eu agradeço por sua atenção, mas também não quero mais falar sobre o que aconteceu.

_ Antes então que encerremos esse assunto, eu preciso lhe fazer uma pergunta. Suponhamos que... Emily esteja mesmo lhe fazendo isso, aparecendo e depois sumindo, pra que você pense que está em perigo todas as vezes que vai dar um passo importante em sua vida...

_ Não, doutor, não é suposição!

_ Certo, a suposição é para quem ainda não a viu como você a vê, Tony. O que acha que poderia ser feito pra que ela parasse?

_ Eu não sei!

_ É inevitável notar seu semblante de horror, Tony, ao falar sobre ela. Se um de nós , hipoteticamente falando, falasse com ela para que retirasse a maldição que você diz que ela lhe colocou, acha que ela tiraria?

_ Eu não sei!

Daquela vez, Tony já estava claramente amedrontado.

_ Acha que ela pediria algo em troca? Se pedisse, o que seria?

Totalmente vulnerável, ele respondeu enfim.

_ Pra trazer o pai dela de volta, e não o demitir... Mas eu não posso! Eu não posso voltar no tempo?

_ O que consertaria se pudesse, Tony?

A voz de Simon era firme. E Tony lhe respondia agora com a voz branda, de olhos fechados. Estava tomado pela lembrança e aos poucos, Simon conduziu sua mente àquele momento no banco.

_ Eu não teria demitido Vinni.

_ Se você já tivesse demitido o que não faria depois?

_ Não teria armado pra que pensassem que ele era um ladrão. Ela não teria me rogado aquela maldição, e José não teria mandado me matar.

_ José mandou alguém te matar? Por que, Tony?

_ Por que eu ia limpar a imagem de Vinni, e ia pagá-lo devidamente. Ia fazer isso para atender ao pedido de minha filha.

_ Por que ele matou Vinni então? E sua filha?

_ Eu não sei! Se eu não fosse, não estivesse naquele banco, minha filha não teria morrido, nem Vinni. – ele parou de falar e começou a chorar.

Muito surpreso com aquela declaração, Simon o tirou do transe em que ele estava.

Tony respirou fundo e disse ainda tocado:

_ Agora você sabe.

_ Tony, você está dizendo que seu ex-contador tentou matar você? Por que não contou isso à polícia?

_ Na época ele ameaçou contar à polícia sobre a armação que fiz para Vinni, e ia me incriminar, dizer que eu mandei que o matassem. Se ele fizesse isso, eu seria preso, e teria que pagar advogados... Eu deixaria Raquel na miséria, e ela já havia perdido nossa Debie... Doutor, minha vida se transformou num inferno!

Por alguns instantes Simon pensou que Tony podia estar fantasiando tudo aquilo, mas sabia que Tony não mentiria estando em transe.

_ Tony, se ele queria atingir a você, por que matou Vinni e Debie?

Tony pensou um pouco sobre os detalhes daquele dia que não contou a ninguém, até aquele momento.

_ Quando o bandido se aproximou, Emily e Vinni estavam próximos de nós. E ele chamou por mim, olhando pra Vinni, e atirou. Outro que estava com ele disse: “É o outro!”, e ele atirou em mim, mas...

_ Acertou Debie?

Tony não conseguiu dizer mais nada.

Sem querer faze-lo sofrer mais, Simon pediu que ele dormisse um pouco, saiu do quarto e ia embora quando se encontrou com Raquel entrando pela porta da sala. Ela estava pálida.

_ Raquel, o que houve?

_ Simon, José tem um documento que afirma que ele é dono de tudo que pertenceu ao meu sogro! – ela lhe mostrou uma cópia – Ele é dono até da marca!

_ Isso é impossível! – pegou o papel para conferir.

_ Meu advogado deixou o caso! José recorreu da sentença... Ele ganhou! Simon, nós não temos como pagar outro processo! – ela foi para seu quarto onde Tony já dormia. Preferindo deixa-lo em paz, Raquel saiu para a cozinha.

Simon sentou-se, atónito. Não conseguia decifrar se aquele documento era verdadeiro.

_ Meu Deus, parece mesmo uma maldição.

Ele foi ao encontro de Raquel na cozinha e a encontrou chorando muito.

_ Não chore Raquel, vamos dar um jeito nisso!

_ Nem mesmo poderei pagar o que lhe devo! Terei que dispensar você! Oh, Deus, o que será de Tony?

_ Não se preocupe com isso. – fez com que ela o encarasse – Eu amo você, e farei de tudo para desvendar esse caso, mesmo que no fim veja você nos braços de Tony, mas feliz!

_ Por quê? – disse surpresa com aquela declaração.

_ Por que agora é pessoal!

Mesmo sem entender, Raquel sabia que ele não estava blefando.

Simon pediu a Raquel que mantivesse Tony em casa e deitado, pois estaria na pista de Emily, achava que ela era a chave para a solução de tudo. Disse que entraria em contato quando soubesse algo.

Mas ele fez mais do que apenas procurar Emily, ele a encontrou. Emily era assistente de José, e trabalhava para ele apenas para se vingar.