Erva Doce Amarga

Capítulo 2 - Jogo sujo


Era segunda feira e Tony esperou por José, mas ele estava impossibilitado de chegar à empresa no horário combinado por motivos particulares.

Tony, porém, não queria esperar mais e decidiu agir logo. Pediu para que Vinni fosse chamado.

Na sala de Tony, Vinni esperava em pé por ele. Era um homem humilde, mas muito competente.

_ Bom dia, senhor Vinni. – disse Tony entrando e fechando a porta do escritório – Sente-se.

Acanhado, ele tomou uma cadeira.

_ O senhor mandou me chamar?

_ Sim. Eu quero lhe dizer que nós não precisaremos mais de seus serviços. O senhor está sumariamente demitido.

Vinni não acreditava no que estava ouvindo. Era funcionário da empresa há 15 anos e nunca teve problemas com seu trabalho.

_ Mas... Eu não entendo...

_ Está tudo bem, estou demitindo o senhor por motivos particulares. Quero que após o expediente o senhor passe no R.H. para acertar os detalhes. Era só isso. Pode voltar ao trabalho, senhor Vinni.

O homem saiu do escritório arrasado. Mesmo reconhecendo que receberia um bom dinheiro pelo tempo de trabalho, não queria ser demitido, pois dedicou muito de sua vida àquele trabalho. Vinni foi praticamente “mão direita” de Antônio.

Tony achou um pouco estranho passar por aquela situação, mas achou mais fácil do que pensava efetuar uma demissão.

E seria mesmo fácil, não fosse uma decisão mal tomada demitir alguém com tanto tempo de casa, e que limparia parte do cofre da empresa quando lhe fosse acertado todos seus direitos.

_ Eu disse que devia me esperar! – dizia José indignado com a ação de Tony.

_ Ele foi admitido há dois anos, José. O que vai receber?

_ Vinni é o funcionário mais antigo daqui tirando a mim. A data que você viu foi do retorno dele após as férias. Você não conhece esses documentos, Tony? Por Deus! Além disso, ele é competente e era protegido de seu pai.

_ Protegido? Eu era protegido de meu pai! E eu já o demiti, não posso voltar atrás.

_ Tony se tiver que pagar 15 anos de casa para esse homem, o que vai acontecer é que ele ficará mais rico que você! E eu não estou brincando com as palavras! È melhor você pensar bem no que está fazendo. Sabe que seu pai nunca aprovaria a demissão de Vinni também.

Tony ficou chateado com a forma como José falou com ele, mas estava mesmo inconformado em ter tomado uma decisão estúpida por ignorar algumas regras trabalhistas.

Naquelas alturas, Tony não teve coragem de voltar atrás da decisão, e então bolou um esquema de conspiração para tirar Vinni da empresa sem ter que pagar a ele seu tempo devido.

Depois de saber que Vinni cumpriria com o aviso prévio, esperou por uns dias, e então colocou seu plano em prática.

Durante a noite, ele foi até a empresa e abriu um dos cofres onde ficava o dinheiro que foi retirado do banco para as despesas internas do dia seguinte. Depois pegou algumas notas do meio de um pequeno monte, e levou consigo para casa. Ele sabia que além dele e de José, Vinni também tinha acesso àquele cofre, pois costumava pagar alguns fornecedores em dinheiro vivo e no ato da entrega.

No outro dia, quando Vinni chegou, foi chamado ao escritório. Lá, ele esperou por Tony durante dez minutos, até que o avisaram para ir ao vestiário, onde ficavam os armários. Além de Vinni, outros funcionários foram chamados também. E Tony estava lá com dois policiais.

_ Nós estamos aqui por que o meu cofre foi aberto essa noite, e foi roubado de lá uma pequena quantia em notas que estavam devidamente registradas no sistema da empresa. Como acreditamos que foi alguém daqui mesmo que conhecia o lugar onde o cofre estava, decidimos revistar os armários. Por favor, abram seus armários.

Eram 12 armários ao todo, e foram todos abertos.

Para a surpresa de todos, menos Tony, o dinheiro estava no armário de Vinni.

Ele ficou pálido.

_ Eu... Eu não sei como esse dinheiro foi parar aí! Eu juro. Senhor Tony, tem que acreditar em mim...

Tony se virou de costas para ele, estava com pena do homem que começou a chorar, enquanto ele era algemado, e os outros funcionários se indignavam, pois sabiam que ele não era capaz de roubar.

Tony não fazia a ideia do valor que Vinni tinha para sua empresa.

Estava tudo feito. Mesmo com sua consciência pesada, Tony manteve a denúncia contra Vinni e depois demitiu também pessoas ligadas a ele e que especulavam aquele episódio. Não era difícil que alguém que conhecesse a índole de Vinni entendesse que ele foi vítima de armação. Mas só uma pessoa tinha certeza disso e sabia quem era o autor.

José foi ao escritório para falar com Tony.

_ Eu estive fazendo umas contas, Tony, e...

_ Que bom! Você é meu contador! – disse sorrindo.

Mas ele não estava nada contente.

_ Com a venda do apartamento conseguimos pagar as dívidas atrasadas, você não deve mais nada a nenhum fornecedor...

_ Essa é uma ótima noticia! Por que não vejo que você pensa assim?

_ Por que com as demissões que você efetuou, teremos outras despesas...

_ Mas eu já considerei isso, José. As vendas desse ano nos renderam o suficiente. Como não tenho mais dívida externa...

_ Você não me deixou terminar, Tony! Não me interrompa novamente. – Tony o encarou agora sem seu sorriso – Não temos fundos para cobrir o salário dos funcionários. Eu me referi às dívidas de fornecedores, mas temos dívidas com os bancos, e você terá que pagar com esse dinheiro reservado, pra que os juros não aumentem. Então faremos um novo empréstimo...

_ Não acha que vou entregar um ano de venda para os bancos, José! Você acha? Se for para continuar endividado, vou pagar os funcionários, e depois veremos o que fazer com o banco.

_ Não é assim que funciona, Tony. Quando seu pai fez o empréstimo...

Tony se alterou.

_ Eu já estou cansado de ouvir você me comparando com meu pai. Ouça bem, José, o meu pai não está aqui, e eu vou fazer aquilo que eu achar melhor, por que a empresa é minha, entendeu?

José se levantou e alinhou seu terno.

_ Eu entendi “Senhor Tony”! Se for deste modo, deixarei que resolva tudo do seu jeito.

_ A onde você vai?

_ Minha esposa vai ser operada da vista hoje. Se não sou útil aqui, serei lá com ela. Tenha um bom dia!

_ José! José!

Mas ele nem olhou para trás. José estava exausto de ouvir e ver as coisas que Tony dizia e fazia, por que eram todas equivocadas, e ele não se deixava ser administrado por alguém como seu contador que sabia tanto sobre a empresa quanto Antony, estava colocando “os pés pelas mãos”.

Tony ficou preocupado. Debatia as críticas e ideias de José, mas não conseguia ter ideias melhores, e só pensava em vender os imóveis que tinha para resolver os problemas financeiros.

Era meio dia e ele ia sair para o almoço, quando na portaria da empresa foi surpreendido por duas pessoas. Era uma mulher e uma menina, mãe e filha.

_ O senhor é Tony Colins?

_ Sim. O que desejam?

A mulher de cabeça baixa deixou que a menina falasse.

_ Você é Tony Colins?

_ “Senhor” Tony Colins! – disse ele ao perceber que a garota que não devia ter mais que 15 ou 16 anos e estava muito alterada – Quem são vocês?

_ Ela é minha mãe e eu sou a filha de Vinni Golvea, a quem você acusou de roubo.

Tony olhou para a mulher que já o encarava também.

_ Senhora, me desculpe, mas eu não tenho nada para dizer sobre isso. Por favor, queira se retirar com sua filha.

Mas a garota não queria sair da frente dele, e o deixou desconsertado.

_ Eu só vim aqui pra dizer que meu pai não é um ladrão, e que você deve ter armado pra ele...

_ Veja lá como fala, mocinha! – ele falou com a voz mais baixa, procurava conter-se por causa das pessoas que estavam por perto, tanto fora quanto dentro da empresa e escutavam tudo – Não pode acusar as pessoas assim, sem provas.

_ Todo mundo sabe que meu pai é honesto, e todo mundo diz a mesma coisa. Você pensa que está acima da lei por que tem dinheiro, mas há uma lei da qual você nunca vai escapar. É a lei de Deus!

Tanto ela quanto a mãe estavam emocionadas e a mulher tentou tirar a menina de lá.

_ Eu sinto por tudo que houve, mas nada posso fazer senhora. Por favor, vá embora.

_ Você não sabe o mal que fez a minha família, senhor Colins! A vida vai lhe cobrar caro pelo que fez, e eu espero estar lá nesse dia para ver! Toda vez que você cair eu juro que farei tudo pra estar lá pra ver. Nunca mais vai dormir em paz!

Daquela forma ela terminou seu discurso, pegou a mão de sua mãe e saiu com ela de lá.