Epcot City

Capítulo I


40 anos atrás...

Aquele homem alto, moreno e altivo encarava sua cidade através da janela do seu gabinete. Era prefeito de Epcot City já fazia muito tempo, seu povo diz que ele recriou a cidade, tornando-a o centro de atenções de várias empresas multinacionais e de outros interesses industriais, sobre os quais teve o total controle para estabelecê-los nela. Usava seu costume terno preto e tinha suas mãos atrás das costas, fazia questão de observar atentamente cada canto daquela paisagem. Ele nasceu e cresceu na cidade, conhecia os cidadãos e possuía toda a confiança deles, a qual tinha por merecer. Um homem extremamente sério quando o assunto era seu povo, mas que era, provavelmente, o prefeito mais carismático que o mundo já viu. Costumava sorrir muito.

Perdido em seus devaneios nem notou quando a porta foi aberta, ouvindo a voz da sua secretária, voltou-se para ela.

— Com licença senhor, o chefe da polícia está aqui para vê-lo. – Informou Lilian. Ele a encarou sério com o olhar cerrado, a mulher estremeceu.

— Peça que entre, por favor. – Disse seco. Dois segundos depois sorriu de canto e riu alto – Tinha que ter visto sua cara Lilian! Foi hilária! – Exclamou ele, a secretária só pôde retribuir o sorriso e se retirar, sempre caía nas pegadinhas dele. Um homem alto, de cabelos negros como a noite e pele escura entrou no gabinete com um largo sorriso.

— Não trabalha mais, senhor prefeito? – Perguntou o recém chegado com um ar divertido, fechando a porta em seguida.

— Para saciar sua curiosidade, já terminei a papelada da manhã e espero que tenha feito o mesmo, caso contrário terei que o advertir, meu caro Mufasa! – Disse o outro, dando um abraço no chefe da polícia. Esses dois são amigos desde que se conhecem como gente, sempre um sendo o braço direito do outro – Alguma novidade? Como vai Sarabi e o moleque?- Perguntou.

— Eles vão bem! - Respondeu - E sobre os incidentes sobre os quais falavamos semana passada, acho que pode ficar calmo por enquanto, não ocorreram nos últimos dias. – Disse ele, o prefeito sabia bem sobre as preocupações do amigo – Mas e o Michael? Respondendo bem às aulas?

— Mais do que poderia ter desejado! O garoto me acorda de madrugada para mais lições. Só perguntei para ele se gostava do assunto agora quer virar político! – Respondeu ele rindo, o chefe da polícia fez o mesmo.

Michael era o filho adotivo do prefeito, este que nunca se casou ninguém sabe lá o porquê. Ele e Simba, o filho de Mufasa, eram melhores amigos assim como seus pais.

—Nossa! – Disse o prefeito caminhando em direção ao amigo, arrancando dele um fio de cabelo branco – Está ficando velho Mufasa! – Disse ele, o outro nem esperou para retrucar.

— Ninguém precisa de esforço para ver que os anos não lhe fizeram bem, meu amigo! – Disse com um sorriso vitorioso, o outro se fingiu de magoado para, em seguida, rir junto com Mufasa.

Se formou um ar leve e divertido ali, daqueles que poucas pessoas tem a capacidade de criar facilmente. O prefeito seguiu em direção à janela, acompanhado pelo amigo.

—Engraçado, acho que nem vi os anos se passarem tão rápido. – Disse sorrindo, o outro fez o mesmo.

— É verdade. – Concordou – Mas acho que foi muito bem aproveitado! – Falou colocando a mão no ombro do prefeito. – Todos nós devemos muito a você. Sabe disso. – Disse caloroso, compreendia os sentimentos que dominavam o amigo mais que qualquer um.

— Nada seria possível se você não me atentasse todo dia. – Falou. Era verdade. Mufasa sorriu e olhou para o grande relógio posto no canto da sala.

— Nossa! Já é tão tarde? Tenho que pegar o Simba na escola! – Disse rindo, tinha se esquecido desse detalhe. – Bem, vou indo. Se cuida aí, amigo! – Se despediu dando um abraço no outro.

— Sempre. Você também! – Retribuiu o prefeito. Viu o amigo passar pela porta, dando um último sorriso de canto em sua direção.

~~~~~ *****~~~~~

Em frente ao gabinete do prefeito, estava um jovem garoto. De cabelos negros como a noite e de olhos grandes, curiosos e sonhadores. O governante de Epcot City sempre disse ao seu filho o quanto se identificava com o pequeno e por isso, depois de conversarem numa breve visita surpresa ao orfanato da cidade, decidiu adotá-lo.

Michael estava de mãos dadas a Lilian, ela que havia acabado de alertar o prefeito sobre a chegada do filho da escola.

— Pode entrar, Michael. - Disse a mulher com um singelo sorriso, abrindo a porta para o garoto.

Ele fez o pedido, entrando no gabinete do seu pai. Logo o viu de costas, não entendendo o porquê ele parecia encarar a paisagem novamente. Depois de três curtos passos dados, o prefeito virou seu rosto para Michael, dando uma breve risada.

— Não vai me dar um abraço, moleque? – Aquelas palavras soaram com muito humor. Logo, o garoto largou sua mochila no chão para correr e dar um abraço no seu pai, este que se agachou para ficar no mesmo tamanho do garoto. – Como foi a escola? – Perguntou ainda afogado naquele abraço.

— Foi legal, papai! – Disse empolgado, saindo dos seus braços para encará-lo – A aula de artes foi incrível! Nós fizemos... Hum... Não sei o nome daquilo, mas era demais! E a aula de matemática também! A professora disse que eu já sei fazer multiplicação!

— Isso é ótimo, filhote! – Falou o prefeito passando a mão nos cabelos do garoto. – Muito bom, mesmo! – Deu mais um abraço nele.

Não havia lugar no mundo onde o pequeno Michael se sentisse mais confortável.

O prefeito se levantou , colocando suas mãos nos ombros do filho e virando-se, novamente, para aquela janela.

O pequeno não entendeu mais uma vez. Por acaso seu pai queria mostrar-lhe algo? Se sim, não fazia ideia do que.

— Pai... Por que está encarando a cidade? Estava fazendo isso quando cheguei, não é? – Resolveu perguntar. Não havia absolutamente nada de extraordinário acontecendo lá fora.

— Gosto de apreciá-la. – Simplesmente disse, abaixando sua cabeça para encarar o garoto, exibindo um largo sorriso – Sabe, Michael... Quando olho para essa cidade lembro muito da minha infância, de como cresci junto com ela. Lembro o quanto ela mudou... Fico imaginando o que mais poderia ser melhorado, o que mais eu poderia fazer por ela, por seu povo e por você, meu filho – Disse ele, com aquele brilho nos olhos que o pequeno nunca mais esqueceu.

— É incrível, papai... – Sussurrou Michael.

— Pois é! – Exclamou alto o prefeito, assustando o garoto. – Não vá achando que estou ficando louco, meu filho, só estou apreciando a paisagem – Completou dando muitas gargalhadas, que acabaram tirando também várias de Michael.

O menino se encantava. Como seu pai conseguia? Ele contagiava o ambiente de alegria, podia sentir o ar leve que ali se formava...

— Humm... – Abaixou seu olhar novamente, encontrado com o do garoto – Filho... Acha que pode ser mágica?! – Arregalou os olhos para Michael, causando o mesmo com os do menino.

— P-Pode?

— Mas é claro! Ela nos rodeia! Talvez é o que faça tudo mudar, ou o que faça nos tornar o que somos! – Disse e, com um grande sorriso de canto, ergueu seu filho no ar – Nós descobrimos, moleque! – Comemorando alto, misturado com os gritos de Michael.

— Senhor? – Param ao ouvir a voz da secretária, que estava na porta como quem estava segurando uma risada – Desculpe-me interromper, mas o senador Roy já chegou para a reunião.

— Ah. Peça-o para esperar por um instante, por favor. – Disse a Lilian, que acenou com a cabeça se retirando – Pois é, filho... Parece que vamos ter que deixar a brincadeira para mais tarde!

— Tudo bem! – Disse Michael imediatamente. Ele entendia o trabalho do pai, o que menos queria era ser um problema para ele – Te vejo depois! – Disse dando logo dando curtos e rápidos passos em direção à porta.

— Ei! – Exclamou o prefeito. Agarrou o garoto e deu-lhe mais um abraço – Até logo, campeão! – Disse num sussurro, piscando para o filho. Este acenou com a cabeça, indo mais devagar...

Ao passar pela porta, ainda podia ver o brilho no olhar e seus lábios imitindo um “até logo” mais uma vez. Foi fechando a porta lentamente... Tentando, ao máximo, observar aquele largo sorriso que o prefeito de Epcot City exibia.

Nenhum dos dois esqueceu esse dia... Como de vários outros também. Ambos tinham a capacidade de se recordarem muito bem de momentos como esse, detalhe por detalhe.

Aquele cara, aquela imagem, aquele momento... Michael, jamais, esqueceu.