Entre o Céu e a Terra
Capítulo 8
Foram recebidos como estranhos quando entraram em Nargabad. Eles não tinham noção de quanto tempo passara dentro da dungeon e se isso de alguma forma influenciou sobre as suas autoridades em Nargabad.
Porém, eles sabiam que a situação em que estavam não era muito boa. Sujos, malcheirosos, com roupas esfarrapadas e machucados; não pareciam os príncipes de outrora.
Tamujin desmontou de seu cavalo e passou as rédeas para um guarda.
— Onde está o senhor Chatai? — perguntou.
— A essa hora ainda deve estar dormindo, sua alteza.
— Vossa alteza, — chamou um guarda. — Acreditávamos que tinham voltado para a capital.
Muna e Tamujin estavam rodeados; todos curiosos com a chegada repentina dos príncipes reais.
— E desistido de tudo? — Muna perguntou, arqueando as sobrancelhas e desmontou de seu castrado. — Apenas tínhamos coisas pra fazer fora daqui. Agora levem esses sacos para o nosso quarto. — Dito isso, Muna marchou para dentro da propriedade.
Ainda era cedo, aos poucos Nargabad ia ganhando vida e a notícia da volta dos príncipes ia se alastrado pelas minas. Em parte, Muna estava feliz por estar de volta.
Em seu quarto retirou a túnica que agora tinha um cheiro estranho e ainda tinha a mancha de sangue. Aquilo precisava ser queimado. Tomou um longo banho que merecia, lavou os cabelos e tratou das feridas.
Ao terminar, vestiu uma túnica azul com pelos na gola e nas barras da vestimenta. Colocou uma calça de algodão e calçou as botas de couro. Fez uma trança no cabelo, prendeu no alto na cabeça e a escondeu com o gorro.
Seus soldados a esperavam do lado de fora do quarto, e ao sair foi reverenciada.
— É bom vê-los de novo. — Sorriu.
— Vossa alteza, o senhor seu irmão lhe esperar no escritório do administrador. — Informou-lhe o soldado.
Ela aquiesceu e foi acompanhada por eles até o outro prédio. Ao entrar na sala, Chatai se pôs em pé a reverenciou com a mão no peito. Muna sorriu. Ele aparentava estar bem, com boa saúde.
Puxou a cadeira em frente à mesa e sentou-se ao lado do irmão.
— Sinceramente, achei que estaria morto, senhor Chatai.
— E você não foi a única, princesa — disse ele. — Eu mesmo acreditei que morreria de febre ou seria morto. — Ele se sentou na cadeira atrás de sua mesa. —Bom, nada aconteceu e vocês estão de volta.
Tamujin pegou uma das papeladas sobre a mesa e as folheou.
— Houve alguma mudança em nossa ausência?
— Apenas mais uma boca pra alimentar — respondeu. — Um pouco depois que vocês partiram chegou um médico novo vindo da capital, depois que o outro desistiu. Se não fosse por ele eu não estaria aqui, e metade dos homens feridos no último conflito teriam perecido sem ele.
— Isso ótimo! — disse Tamujin, aliviado. — Por acaso ele pensa em desistir do trabalho também?
— Não. Creio eu que ele esteja gostando da experiência. — respondeu Chatai.
— E onde ele está? — Indagou Muna.
Chatai mandou que um guarda parado próximo a porta chamasse o médico, e não demorou para que voltassem com ele.
O médico era um homem franzino, de ombros baixos e longos cabelos negros amarrados numa tira de couro. Ao ver o príncipe e a princesa na sala ficou surpreso e fez uma desastrosa reverência.
— Pode se levantar, Munkbat — disse Chatai. — Nosso príncipe e princesa estavam interessados em conhecê-lo. Apresente-se.
Ele pigarreou e empertigou as costas.
— É um imensurável prazer servi-los, meus senhores. — Fez uma reverencia. — Não vou decepcioná-los.
— Você ainda é novo — observou Muna, surpresa.
Tamujin segurou uma risada e empurrou de leve a irmã. A garota revirou os olhos.
— Só na aparência, minha princesa. Carrego 29 anos nas costas.
— Mais velho que nos dois juntos — observou Tamujin e brincou: — Ele é muito velho pra você, Muna.
— Idiota — resmungou e deu um soco no ombro do irmão. Pôs-se de pé. — Ignore meu irmão, senhor Munkbat. Eu lhe agradeço por trabalhar conosco e por ter cuidado do senhor Chatai em nossa ausência. Seu esforço será recompensado.
Ele fez uma breve mesura.
— Já me sinto recompensado por servi-los, vossa alteza.
Muna sorriu e voltou a se sentar em seu lugar.
— Junte-se a nós, Munkbat. — Chatai convidou. – Temos muito o que conversar.
Começaram uma reunião e ficou decidido que grande parte dos tesouros adquiridos na dungeon seriam investidos em Nargabad, assim quitando de vez as dívidas e trazendo alguma melhoria que o local tanto necessitava.
A aldeia não ficara de fora. Tamujin havia prometido isso àqueles aldeões, e precisava cumprir.
Meses se passaram e o príncipe a e princesa trabalhavam sem cessar. Os presos agora trabalhavam de forma decente, e aqueles que eram oriundos da aldeia e trabalhavam nas minas recebiam seus devidos pagamentos.
Criaram leis e esperavam que fossem aprovadas pelo rei, e uma delas era que injuriadores não fossem condenados a Nargabad. Afinal, o local era justamente para aqueles que cometeram crimes graves.
Com os pés descalços, Muna observava a vista montanhosa de sua janela. Já era o entardecer, e o último resquício de sol era engolido pela chegada da noite. O ar estava abafado e o som dos homens se reunindo para jantar era agradável.
Tudo estava calmo até Tamujin bater à porta.
—Muna, — chamou ele ao entrar no quarto. — Agora a pouco chegou um enviado da capital e trouxe isto.
Era uma carta e tinha o selo real rompido. Pelo jeito, o príncipe já lera antes e só agora compartilhava a informação com a irmã. Muna leu em silêncio e ao terminar levantou o olhar para o irmão, boquiaberta
— O rei nos quer de volta… — sussurrou surpresa.
— Já era hora! — Exclamou o príncipe animado. — Estamos aqui há quase um ano.
Muna voltou a atenção para a carta. Onze meses passara rápido demais e, embora Nargabad estivesse a tudo vapor, sentia que tinha mais, muito mais a fazer ali. Não queria deixar tudo para trás como se tudo que fizera não valasse nada.
— Temos de arrumar nossas coisas em uma semana. — Tamujin informou. — Vamos partir antes do alvorecer.
—-
Nargabad parecia estranhamente silenciosa naquela madrugada. Alguns mineradores ainda dormiam nos alojamentos, mas outros estavam de pé para ver os príncipes partirem. Os castrados que haviam trazidos estavam prontos e os soldados os esperavam.
— Lembrem-se sempre de Nargabad, meus príncipes — disse Chatai e os reverenciou. — Ela será sempre fiel a vocês.
Muna montou em seu cavalo.
— Não nos esqueceremos, senhor Chatai. Jamais.
Tamujin o agradeceu e montou em seu cavalo.
— Bem... — disse ele. —, até à próxima.
Chatai e tanto outros que os assistiam partir os reverenciaram. Muna olhou para trás mais uma vez, sentindo um aperto no peito por ter que deixar Nargabad.
Fale com o autor