PVD Hermione

Meu estômago ronca loucamente enquanto aguardo o fim da aula. Sim, olhem até que ponto cheguei. Desejar que a aula acabe o quanto antes. Mas qual será o porquê disso, não é mesmo? Afinal, a hora do almoço já passou e minha fome animal deveria ter sido saciada.

É. Isso seria aplicável a mim se EU TIVESSE ALMOÇADO.

Meditando agora sobre minha vida, concluo que nada está saindo como planejei no início do ano. Quer dizer, “estudar até enlouquecer” não é o que está ocorrendo exatamente até agora, e isso certamente me irrita. Muito.

Sem falar na ameba loira que de uma hora pra outra simplesmente resolveu entrar na minha vida. E notem o detalhe: sem ser convidada!

Oh, mas quem sou eu, não é mesmo? Quem sou eu para mandar na minha vida e decidir quem participa dela ou não? Que direito tenho de me indignar com tais fatos?

Droga.

“Muito bem, muito bem. Podem ir. Quero o resumo para a próxima aula, não se esqueçam!” Resumo? Tipo, hã? Não liguei e saí em disparada. Temi que o buraco em meu estômago se estendesse por todo meu corpo e acabasse sugando-me inteira. Sempre gostei de História da Magia, mas aquela aula estava muito... enfadonha? Ok, estava insuportável! Ou era a fome que atingia gradativamente meu cérebro?

Que se dane. Eu preciso de nutrientes agora.

Não sei como cheguei tão rapidamente à mesa da Grifinória, mas aqui estou. E oh, é impressão minha ou essa comida está com um gosto diferente? Novo tempero, talvez? Vida longa aos elfos-domésticos!

“Hum, Mione?”

Ah não! Quem é a criatura insensível que ousa atrapalhar meu momento de glória e satisfação? Ergo a vista a contragosto e dou de cara com meia dúzia de olhares espantados.

Harry me olhava assombrado; Gina arregalava os olhos e o coitado do Rony mantinha a comida suspendida, ainda a caminho da boca.

“O quê?” pergunto confusa.

***

“Que horas acaba essa detenção?” Harry quis saber, enquanto caminhávamos.

“Hum... Acho que quando Madame Pince fechar a biblioteca.” Eu não tinha pensado nisso.

“Ah... Gostaríamos de poder ajudar.” Ele mirou-me penalizado. Sorri em resposta.

“Não se preocupe. Vai ser moleza.” Eu realmente me obriguei a acreditar nessas ingênuas palavras.

“Se você diz...” maldito Harry. Que palavras mais animadoras!

Por fim chegamos ao meu tenebroso destino.

“Obrigada por me acompanhar até aqui.” passei as mãos por seus cabelos rebeldes e sorri quando um tom avermelhado preencheu sua face.

“Que é isso, Mi...”

Lancei um olhar indiferente para o ruivo que não tinha proferido uma palavra sequer.

“Obrigada pra você também.” Me virei e adentrei a biblioteca.

“De nada, Mione...”

Cretino. Usa essa porcaria de voz triste e melancólica só para me persuadir. Mas eu não caio nessa... Rá, vai sonhando querido!

“Boa noite, Madame Pince.” Cumprimento-a.

“Boa noite. É aquela ala bem ali.” Ela aponta para a esquerda. Mas que mulher direta!

Aceno em concordância e sigo a direção indicada. O jeito é abraçar meu destino conformadamente. Chorar não vai causar pena em ninguém mesmo.

Dou uma rápida olhada no local e começo a trabalhar. Cantarolo uma música mentalmente enquanto empilho alguns livros da mesma seção. Anoto mentalmente alguns títulos para ler depois e sigo com minha missão.

“É isso aí, Granger, arruma tudo direitinho.”

É claro que já é óbvio o que aconteceu em seguida. Mas vamos lá, só para dar o gostinho da alegria em ver a desgraça dos outros. Eu, totalmente compenetrada em minha tarefa, me assusto com aquela voz macabra e horripilante que ecoa no espaço silencioso. Os livros que estavam em minha mão caem no chão e aquele que eu erguia com esforço para uma prateleira mais alta do que eu, cai em minha cabeça.

Fico parada, ainda com a mão estendida.

Lembro-me do dia em que recebi a carta de admissão em Hogwarts; da alegria que senti ao descobrir que era uma bruxa.

Maldito dia.

A partir de então, Merlin vem enviando sutis sinais de que não se encantou nem um pouco com a minha presença em seu mundo. Ora um cuspe, um arroto, um puxão de orelha...

Entretanto, recentemente ele tem demonstrado reações um pouco mais agressivas.

Mas agora foi a gota. Não teve cuspe, nem arroto; eu sei que acabei de receber um tapão de Merlin, bem na minha fuça.

E como se não bastasse, o infeliz do Malfoy começa a rir silenciosamente de meu infortúnio. Quem foi o miserável que o mandou aqui, hein?

“Malfoy.” Digo calmamente, abaixando meu braço.

“Granger.” ele acena com a cabeça, ainda sorrindo. Imbecil. “Oh, não se importe comigo.” Puxa uma cadeira e se senta. Arqueio uma sobrancelha. “Continue.” Ele estende a mão.

Cobra lazarenta. Morra e arda no inferno. Depois volte para que eu o mate com minhas próprias mãos. Retorne para lá e queime, seu cretino, queime eternamente.