No dia seguinte, Bia foi a primeira a acordar. Era sábado e não havia nada pra fazer às 6:00 da manhã. Então Bia levantou-se, tomou um banho bem demorado, colocou o uniforme e foi tomar café da manhã. Esta ainda estava chateada por não ter conseguido desmascarar a Marian como queria.

– Nossa Bia, acordada a esta hora? – Perguntou Chico, que preparava o café.

– Pois é Chico, Milagres acontecem. – Respondeu Bia, apoiando os braços na mesa.

– Você já soube da notícia? – Perguntou Chico.

– Não. Que notícia? – Perguntou Bia curiosa.

– A Vivi tá chegando hoje de Porto Alegre. – Contou Chico.

– Ah! Legal, eu sabia que ela vinha, mas pensei que fosse demorar... – Revelou Bia. De repente alguém entrou na cozinha.

– Bom dia! – Disse Mili. Esta também estava séria.

– Bom dia! – Respondeu Chico. Bia ficou em silêncio.

– Bom dia Bia... – Repetiu Mili, dirigindo-se a Bia.

– Bom. – Respondeu Bia. Mili sentou ao seu lado. Estas se serviam com o café da manhã, quando Mosca e Binho entraram na cozinha juntos.

– Bom dia... – Disseram, um pouco desconfortáveis.

– Bom dia... – Responderam as garotas, também desconfortáveis. Os dois sentaram em outra mesa. Houve um silêncio constrangedor em seguida.
Passaram-se alguns minutos, até que todos do orfanato acordaram e foram tomar café. Bia então se retirou e foi para o pátio. Esta lia um gibi, quando Ana chegou e sentou-se ao seu lado.

– Tá tudo bem com você Bia? – Perguntou.

– Não. – Respondeu Bia.

– Por causa de ontem? – Perguntou Ana.

– Sim. – Respondeu Bia.

– E, o que você vai fazer mais tarde? – Perguntou Ana.

– Nada. – Respondeu Bia.

– Será que dá pra responder com mais de uma palavra! – Pediu Ana.

– Não! – Exclamou Bia. Ana era muito paciente, e estava preocupada com Bia, porém esta se levantou e resolveu deixar a amiga sozinha. – Tá Ana, espera... Desculpa.

– Aê ela falou mais de uma palavra! – Exclamou Ana, voltando. – Agora fala, desabafa, não é bom guardar tudo pra si... – Aconselhou Ana.

– Ah, você sabe. Tem esse lance da idiota da Marian, eu nunca pensei que a maioria fosse ficar do lado dela... – Disse Bia.

– Ah, mas ninguém ficou do lado dela, só fizeram levar em conta a possibilidade de ter sido o Janjão. – Disse Ana. – O importante é que não foi todo mundo...

– É, mas nem o Binho ficou do meu lado... Ele preferiu não se meter nisso. – Disse Bia, triste.

– Ah, então é por isso que você tá triste, né? Por causa do Binho... – Deduziu Ana.

– É você sabe... Se todos ficassem contra mim, eu não ligaria, contanto que ele ficasse do meu lado. – Revelou Bia. Ana fez cara de desanimo.

– Até se eu ficasse contra, você não ligaria? – Perguntou Ana.

– Claro que ligaria sua boba. Você e ele. – Corrigiu Bia.

– Ah bom, não deixe um garoto te fazer esquecer da sua melhor amiga. – Brincou Ana. Fazendo Bia rir.

– Sua boba! – Disse Bia rindo. – Mas agora não importa, acho que ele não quer falar comigo.

– Você quer que eu pergunte? – Perguntou Ana.

– Não! – Exclamou Bia. – Se não ele vai achar que sou eu que to mandando. – Completou Bia.

– Tá bom, não pergunto. – Disse Ana, rindo.

Enquanto isso, no quarto dos meninos...

Mosca entrou no quarto, se jogando na cama, desanimado.

– O dia começou mau hoje, né? – Perguntou Binho. Sentado em sua cama, abraçado a um travesseiro.

– Pois é, a Mili não fala comigo desde aquele dia... – Disse Mosca.

– Isso é chato. Mas pior ainda é quando você não fez nada e a garota fica com raiva assim mesmo! – Disse Binho.

– É, verdade... Mas pera, de quem você tá falando? – Perguntou Mosca.

– De ninguém! – Exclamou Binho.

– Fala logo, só tá nós aqui. – Insistiu Mosca.

– Não Mosca, deixa quieto! – Disse Binho.

– É da Bia né? – Perguntou Mosca. Binho encarou Mosca pasmo.

– E-eu não sei do que você tá falando... – Disse Binho.

– Confessa logo! – Exclamou Mosca.

– Tá, é! É dela sim... – Disse Binho.

– Sabia! – Exclamou Mosca.

– Como? – Perguntou Binho.

– Todo mundo já sacou que você gosta dela, pelo menos todos os garotos. – Disse Mosca.

– Nossa, tá tão na cara assim? – Perguntou Binho.

– Muito na cara! – Exclamou Mosca Binho ficou em silêncio, então Mosca continuou. – Bom, mas o que foi? Foi por causa de ontem, das acusações que ela fez contra a Marian? – Perguntou Mosca.

– É, ela ficou com raiva porque eu disse que não ia ficar do lado de ninguém até saber a verdade. – Disse Binho.

– Ah... Mas você tá certo em pensar assim, nada melhor do que ser neutro. – Disse Mosca.

– Mas você também né! tinha que jogar essa hipótese pra quebrar todas as provas que a Bia tinha! – Exclamou Binho.

– É mais, eu não ia deixar alguém pagar por algo se há possibilidades de ter sido outra pessoa. – Disse Mosca.

– Aí no fim todos acham que a Bia que é paranoica. – Disse Binho.

– Bom, na verdade ela é um pouco... – Disse Mosca, Binho fez cara feia. – Ah, mas quanto a isso, não fica assim, a raiva dela passa, principalmente quando ela souber que você gosta dela... – Disse Mosca, nessa hora Binho conteve o riso. – Que foi?

– Como se ela não já soubesse. – Disse Binho.

– Sério? Ela sabe? Iaí? – Perguntou Mosca.

– Promete que não vai espalhar? – Perguntou Binho.

– Claro né? – Disse Mosca.

– Tá... É que a Bia e eu... – Binho engoliu seco. – É que a Bia e eu, estamos quase namorando... – Sussurrou. – Ou pelo menos estávamos...

– Caraca!!! – Exclamou Mosca, gritando. – Isso é sério?

– Sim, né! Mas ninguém sabe ainda, só você e a Ana. – Disse Binho. Esse não sabia que Marian também sabia, pois Bia preferiu não falar.

– Tudo bem cara, seu segredo tá guardado comigo. E não fica assim, vai dar tudo certo... – Concluiu Mosca.

Algumas crianças estavam na sala, quando a campainha tocou...

– Eu abro. – falou Samuca. Este ao abrir a porta, levou um susto enorme, e bateu a porta de uma vez na cara da pessoa que esperava do lado de fora. – V-v-vi...

– Nossa Samuca, o que você viu? – Perguntou Dani.

– Foi um fantasma? – Perguntou Neco se escondendo atrás do sofá.

– V-vi! – Exclamou Samuca, sem conseguir falar direito. Até que a campainha tocou novamente. Então o mesmo engoliu seco e abriu a porta novamente. – Vivi! – Exclamou.

– Oi Samuca, valeu por ter fechado a porta na minha cara... – Disse Vivi fazendo joia, e entrando no orfanato em seguida.

– Oi vivi! – Exclamaram Dani e Neco.

– Oi gente! – Cumprimentou Vivi.

– Vivi! – Exclamaram Bia e Cris chegando na sala, estas abraçaram a garota.

– Oi meninas que saudade! – exclamou Vivi.

– Nossa, você tá diferente! – Exclamou Cris.

– Pra melhor ou pra pior? – Perguntou.

– Pra melhor claro! – Disse Cris.

– Ah bom! – Exclamou Vivi. – Bom gente, eu vim só deixar minhas malas, mas eu já tô de saída, vou ver minha irmã no hospital. – Avisou Vivi.

– Tá ok. – Disseram.

– Pois já vou indo, avisem pro pessoal que quando eu voltar eu falo com eles. – Pediu.

No quarto das meninas...

Ana desenhava quando Pata chegou.

– Oi Ana! – Exclamou Pata.

– Ah, oi pata. – Respondeu Ana.

– Então, eu vi que a Bia recebeu mais uma carta... Foi você?

– Sério? – Ana ficou surpresa. – Não, eu disse que não ia mais fazer isso, você tem certeza?

– Sim, ela recebeu ontem mesmo. – Disse Pata.

– Nossa, ela nem me falou nada! – Exclamou Ana.

– Pois é. – Concluiu Pata.

– E o que tinha escrito na carta? – Perguntou Ana.

– Ela não abriu quando recebeu. Não sei agora. – Revelou Pata.

– Ah... – Concluiu Ana.

– Ana, esse admirador da Bia é alguém conhecido? – Perguntou Pata.

– Não adianta Pata, eu não posso dizer... – Concluiu Ana voltando a desenhar.

Horas depois...

Bia não contou à ninguém sobre o encontro com o admirador secreto, esta esperou que não tivesse ninguém na sala, para poder sair tranquilamente. Quando...

– Caham! – Alguém pigarreou atrás da mesma.

– Nossa que susto... – Disse aliviada ao ver que se tratava de Pata.

– Você vai aonde? – Perguntou Pata.

– Olha, não contra pra ninguém, ok? – Pediu Bia. – Hoje eu vou saber de uma vez por todas quem é o meu admirador secreto.

– Sério? – Perguntou Pata esta ficou meio preocupada. – Mas Bia...

– O quê? – Perguntou Bia.

– E se for uma armadilha de alguém... – Deduziu Pata. Esta concluiu que talvez Ana não quisesse dizer quem era, pois talvez estivesse sendo ameaçada, o que indicaria que poderia ser uma armadilha contra Bia.

– Só vou saber indo... – Respondeu Bia, saindo.

– Espero que eu esteja errada... – Disse Pata, falando sozinha.

Na praça...

Bia chegou na praça às 16:00, pontualmente, esta sentou em um banco e passou a observar todos os cantos da praça, mas não avistou ninguém conhecido.

– Ai meu Deus, será que eu fiz bem em vir? – Pensou alto. Esta estava nervosa, com as mãos e pés gelados. Quase tão nervosa quanto no dia em que beijou Binho pela primeira vez, mas não queria pensar nele, pois ainda estava chateada com ele. Logo a garota resolveu levantar-se e caminhar um pouco, foi quando alguém lhe abordou.

– Ei você de cabelo colorido! – Exclamou um garoto desconhecido, assustando-a.

– Oi... – Respondeu Bia.

– Me mandaram te entregar isso... – Disse o garoto entregando um bilhete para Bia.

– Ah, obrigada. – Disse recebendo o bilhete. Logo o garoto se retirou, então Bia leu o bilhete.

"Que bom que você veio, agora tente me achar, estou mais próximo do que você imagina... Ass: Seu Admirador secreto."

– Nossa, que estranho... Como vou procurar alguém que não faço ideia de quem seja? – Disse Bia, olhando para os lados.

No orfanato...

– Ana! – Chamou Pata, no quarto.

– O que foi dessa vez? – Perguntou Ana.

– Você precisa me falar quem é o admirador! – Exclamou.

– De novo com essa insistência! – Resmungou Ana, revirando os olhos.

– A Bia foi se encontrar com ele! – Revelou Pata.

– O quê?! – Perguntou Ana surpresa. – Quando?

– Agorinha. – Respondeu Pata. Ana ficou pensativa. – Me conta Ana, é um garoto mesmo, ou é alguma armadilha? – Perguntou Pata. Ana ficou em silêncio por alguns momentos. – Responde Ana!

– Um garoto! – Respondeu Ana.

Na praça...

Bia caminhou por todo lado a procura de algum sinal, porém nada achou, até que desistiu.

– Nossa, acho que a Pata tinha razão, deve ser alguém curtindo com minha cara... – Pensou alto, esta então resolveu sentar em um banco novamente, dessa vez próximo a uma árvore. Até que Bia notou que nela também havia um bilhete. – Mas o quê?! – Bia se aproximou e pegou o bilhete. Então passou a lê-lo.

"Querida Beatriz, se você está lendo isso agora, peço que se sente nesse banco e conte de um até dez de olhos fechados, quem sabe assim você não descobre quem sou? Ass: Seu admirador secreto."

– Mas que viagem! – Exclamou Bia. – Mas tudo bem, você venceu. – Completou em voz alta. Bia sentou-se e passou a contar de um até dez, porém antes que terminasse de contar, sentiu duas mãos taparem seus olhos, nessa hora, a mesma tremeu de susto. – Quem é?! – Perguntou, ansiosa. Logo a pessoa tirou as mão e quando Bia se virou para finalmente ver quem era seu admirador secreto, teve uma grande surpresa.

– Você?! – Perguntou sem acreditar em quem estava vendo.

– Oi Bia... – Respondeu o garoto comum sorriso tímido. Finalmente o admirador secreto havia se revelado e ele era...

Bia não conseguia acreditar que ele era seu admirador secreto. Ele que estava ali o tempo todo passando despercebido, sem nenhuma atenção. Ele, com quem ela jogava conversa fora as vezes, quando não tinha mais nada de interessante pra fazer. Ele, quem ela conhecia a tanto tempo porém com quem nunca teve muita amizade. Ele era seu admirador, era ele.

– Duda... – Disse em voz baixa. Enquanto se encaravam.

No orfanato...

Binho estava pensativo na sala quando Ana passou, esta ia na cozinha.

– Ana! Você sabe onde tá a Bia? – Perguntou.

– Ah! Não sei... – Revelou Ana.

– Como não? – Perguntou Binho.

– Ela deve tá... Em algum lugar, mas eu não sei. – Respondeu Ana novamente, saindo.

Binho então resolveu ver se Bia estava no pátio, ao chegar lá encontrou apenas Pata.

– Pata, você sabe onde tá a Bia? – Perguntou.

– Não. Só sei que ela foi conhecer o admirador secreto. – Respondeu Pata, normalmente.

– O quê? – Perguntou Binho surpreso.

– Que foi? – Perguntou Pata.

– Ela foi conhecer, e se for o Janjão?! – Perguntou Binho.

– Agente só vai saber quando ela chegar... – Respondeu Pata.

Na praça...

Bia conversava com Duda.

– Então quer dizer que era você o tempo todo? – Perguntou Bia.

– É, era eu... – Respondeu Duda. – Tá surpresa? – Perguntou.

– Muito, eu nunca imaginei que você gostasse de mim... – Disse Bia.

– A vida é cheia de surpresas. – Disse Duda, este olhava nos olhos de Bia, que desviava o olhar.

– É... – Concordou Bia.

– Eu tô vendo que você tá usando o pingente que eu te dei... – Reparou Duda.

– Ah! É... – Lembrou Bia olhando pro pingente.

– Era da minha mãe, sabia? – Revelou Duda.

– O que? Cê roubou dela? – Perguntou Bia, fazendo o garoto rir.

– Claro que não, ela me deu, pra que eu presenteasse alguém, um dia... – Revelou Duda. – Alguém especial...

– Ah... – Bia ficou vermelha. – Bom... Mas, e a Marian? Você não tava ficando com ela?

– É, Eu tô mas, já tô de saco cheio dela. – Disse Duda. Bia estava achando realmente estranho Duda ser seu admirador secreto.

– Entendi. – Concluiu Bia.

– Pois é... – Disse Duda.

– Desde quando você gosta de mim? – Perguntou Bia.

– Ah... – Duda ficou sem respostas. – Bem, eu...

– Tá, não precisa responder... – Disse Bia.

– Não, que é isso, eu digo sim. – Disse Duda. – Acho que desde quando eu voltei da Bélgica. Eu até tentei me aproximar de você, mas a Marian não saía do meu pé...

– É? – Perguntou Bia rindo. – Nossa, pois eu sempre pensei que você gostasse da Mili.

– E eu gostava, mas, sei lá, depois que eu te observei melhor, seu jeito começou a me encantar... – Revelou Duda, olhando nos olhos de Bia, este se aproximou um pouco. Bia, com receio, direcionou o olhar para o outro lado. – Por que você desvia quando eu olho? – Perguntou Duda.

– Quê? Impressão sua... – Disfarçou Bia.

– Sei... – Disse Duda. Notando que Bia não estava a vontade.

– Vamo caminhar um pouco? – Pediu Bia.

– Tá legal. – Concordou o garoto. Logos os dois passaram a caminhar.

No orfanato,

Todos já sabiam que Bia havia ido conhecer o admirador. E algumas crianças conversavam na sala sobre isso.

– Eu aposto que é o Janjão. – Afirmou Thiago. – Ele deve ter armado tudo, desde o assalto até essas cartas...

– Eu também acho que deve ser ele, acho que ele é o único ser que seria capaz de gostar da Bia! – Zombou Cris.

– Cris isso não tem graça. – Disse Mili.

– Não tem graça mesmo. – Concordou Binho.

– Gente, isso é sério, e se a Bia tiver correndo perigo? – Deduziu Pata.

– Verdade, imagina se ela não quiser o Janjão, é capaz dele querer forçar ela a ficar com ele! – Exclamou Thiago.

– Agente precisa fazer alguma coisa! – Exclamou Binho levantando-se.

– Mas agente não faz ideia de onde a Bia possa estar! – Disse Pata.

– Vocês deviam manter a calma gente, enquanto vocês estão aí preocupados, aposto que numa hora dessas ela deve estar aos beijos com o admirador. – Provocou Marian. Nessa hora Binho se levantou e saiu, em direção ao quarto.

Na praça...

Bia e Duda caminharam um pouco, até que Duda avistou uma barraca de cachorro-quente.

– Você quer um cachorro-quente? – Perguntou.

– Ah, quero. tô morrendo de fome! – Exclamou Bia, fazendo o garoto rir. Este foi comprar os cachorros-quentes.

Enquanto Bia esperava, sentiu um leve cheiro de grama cortada, sendo irrigada, ali perto. Isso fez com que ela tivesse uma breve nostalgia, então notou que estava próxima ao lugar onde esteve com Binho a dias atrás.

Todas as cenas daquele dia voltaram a sua mente. Foi naquele gramado, que passou os melhores momentos de sua vida, foi lá onde Binho disse que a amava pela primeira vez. De repente uma tontura veio em sua cabeça, e então na mesma hora em que Duda voltava com os cachorros-quentes, Bia desmaiou.

– Bia!!! – Exclamou Duda. Segurando a garota. – Ai meu Deus, o que eu faço?! – Este resolveu tomar uma decisão, sozinho.