Entre beijos e chuva - OikaSuga

Capítulo único - Até breve


(POV Sugawara)

Ainda era cedo, mas com a chuva que insistia em cair, o céu se encontrava num cinza escuro tomado por nuvens. Ali dentro do quarto a luz apagada tornava o ambiente propício para simplesmente deitar e dormir, e era isso que Tooru fazia tranquilamente. Enrolado em uma coberta seu peito subia e descia em um ritmo constante.

Não pude evitar sorrir quando me lembrei de uma das inúmeras vezes que ele brigou comigo por ficar olhando-o assim, argumentei lembrando que ele gostava de ser observado, e como gostava, mas Tooru por sua vez retrucou que isso só era válido para quando ele sabia que estava sendo admirado.

Como sempre Oikawa tinha a última palavra, não porque estivesse sempre certo, mas porque é cansativo entrar numa discussão com alguém que sempre tem uma resposta na ponta da língua. Então eu apenas deixava para lá.

Um relâmpago iluminou o quarto por uma fração de segundo e ao meu lado Tooru se remexeu inquieto. Tão confiante em tudo que fazia, ninguém jamais desconfiaria que o Ō-sama Oikawa tinha medo de tempestades. Mesmo inconsciente dava para notar seu incômodo, me aproximei um pouco mais e acariciei seus cabelos, não demorou até que ele voltasse para um sono tranquilo.

Eu o conhecia como quem conhece um livro do começo ao fim. E vice-versa. Não havia receios ou segredos em nossa relação, era simples e leve me envolver com ele, mesmo que no começo as coisas não fizessem qualquer sentido para mim.

Meu coração seguia um ritmo próprio sempre que, nos jogos, ficávamos perto. O apelido pelo qual ele me chamava, Sawayaka, de longe me deixava irritado. Quem diria que com o tempo eu passaria a responder e até mesmo a gostar da forma carinhosa com que a palavra saía de seus lábios? Por outro lado, ele sempre se mostrou ter muita certeza dos próprios sentimentos, me deixando à vontade para descobrir os meus próprios, mas sempre por perto me apoiando e me amando. Sim, um amor tão reconfortante que quando eu menos esperava me peguei retribuindo aquela intensidade.

— Está fazendo de novo. — Sorri ao ouvir a voz sonolenta.

— Me desculpe. — Os olhos castanhos se abriram minimamente em minha direção. — Porém já deixo de antemão que não será a última vez. — Tooru voltou a fechar os olhos e esconder o rosto no travesseiro.

— Ainda chovendo — murmurou muxoxo contra o tecido, quase não pude ouvir.

— Sim, ainda está chovendo. Você fica inquieto quando chove assim, conseguiu descansar pelo menos?

— Não o suficiente. — Não contive a risada, ele era sempre tão dramático.

— Vem aqui então, vou fazer mais carinho para você voltar a dormir. — Não precisei pedir duas vezes, ele se arrastou deitando a cabeça sobre meu peito. O seu cheiro era uma espécie de calmante altamente efetivo para mim, logo também fiquei sonolento me deixando levar para o mundo dos sonhos.

(...)

Quando voltei a abrir os olhos me deparei com Tooru me encarando com um sorriso bobo no rosto.

— Se está esperando eu brigar por me olhar dormir, melhor esperar sentado. — Ele revirou os olhos e se aproximou me dando um selinho.

— Eu sei que você gosta de toda a atenção que eu dou — falou todo imodesto, sorrindo logo em seguida.

— Se eu disser que já estou sentindo sua falta, serei meloso demais?

— Muito. Por sorte me sinto da mesma forma. — O apertei em meus braços.

— Culpa sua em querer se mudar para o outro lado do mundo. Tinha mesmo que escolher justo a Argentina?

— Falando assim até parece que você não vai se mudar no próximo mês também. — Eu sabia que estava sendo dramático, talvez estivesse adquirindo os hábitos Oikawa de ser, afinal tinha conseguido um trabalho como professor em Buenos Aires só precisava terminar de organizar minha transferência. — Acho que temos um futuro promissor na América.

— O seu com certeza vai ser. Novo levantador titular da seleção argentina, soa perfeito para você. — Ele levantou o rosto para me olhar, um feixe de luz proveniente do poste em frente a janela iluminava nossos rostos.

— Você não precisa desistir do vôlei, tenho certeza que se quiser vai encontrar uma vaga em um ótimo time por lá.

— Não estou desistindo. Estou apenas encerrando essa etapa. Claro que o vôlei era algo maravilhoso no ensino médio, mas agora não consigo me imaginar sendo outra coisa que não professor.

— Isso soou tão maduro. — Ele sentou-se ereto e eu o imitei ficando de frente um para o outro.

— Um de nós precisa fazer esse papel. — Ele empinou o nariz virando o rosto. Se soubesse o quanto eu amava a expressão irritadiça que surgia em seu rosto sempre que fazia isso…

— Eu achei que conseguiríamos sair hoje, tinha tudo planejado para nossa despedida, mas com essa chuva acabou que estragou todos os meus planos. — Um bico se formou nos lábios finos, me inclinei para roubar-lhe um beijo.

— Ao invés de reclamar, só precisamos nos adaptar à situação. — Estávamos próximos o suficiente para eu me esticar e beijar a ponta do seu nariz. Mesmo naquela luz pude perceber suas bochechas levemente coradas. — Não preciso sair para aproveitar meu tempo com você. Para ser honesto eu prefiro até assim.

— E qual a melhor forma para usarmos esse pouco tempo que falta até eu embarcar naquele avião? — Seu olhar sugestivo me dizia que mais uma vez estávamos em sintonia.

Levantei rodeando a cama e parando atrás dele, pousei minhas mãos sobre seus ombros e beijei o topo da sua cabeça.

— Vem, vamos tomar um banho quente. — Não esperei uma resposta, apenas estendendo-lhe a mão que ele prontamente aceitou me seguindo até o banheiro.

(...)

O vapor que saiu assim que abrimos a porta para o quarto estava carregado pelo cheiro cítrico do shampoo. Olhei de relance Tooru ir até minha cômoda e revirar sem qualquer cerimônia enquanto procurava por alguma camiseta minha que ele tanto gostava de usar. Suas costas largas estavam avermelhadas pelos toques e apertos, mas era seu pescoço que se encontrava verdadeiramente marcado pelos chupões que eu involuntariamente deixei enquanto era tomado pelo mais delicioso prazer.

— Desculpe por isso. — Apontei para sua nuca.

— Como se isso fosse novidade. — Ele riu, mas quando se virou para mim mordeu os lábios enquanto me olhava de cima a baixo. — Se bem que hoje você parecia extremamente inspirado.

— Não fui o único. — Sorri malicioso. — Precisa mesmo se vestir? — Ele olhou as horas no celular e suspirou.

— Preciso, não posso me atrasar. Tem certeza que vai comigo até o aeroporto? — Tooru olhou para a janela, a chuva continuava intensa.

— Claro. Sabe como adoro aquelas cenas clichês de despedidas, não perderia por nada. — Tentei sorrir, mas por dentro já sentia meu coração apertar.

— Adoro quando tenta bancar o durão. — Ele me puxou pela cintura e eu escondi meu rosto em seu pescoço me permitindo sentir seu cheiro o máximo possível. — Um mês vai passar rápido.

— Está tentando me convencer ou a si próprio? — perguntei dando uma risada triste logo depois.

— Acho que os dois, Sawayaka. Eu te amo.

— Eu também.

A chuva caía do lado de fora e ali dentro nossas lágrimas se misturavam em meio ao beijo apaixonado. Como era difícil, se acostumar a ter a pessoa todos os dias ao seu lado e depois ter que se afastar, mesmo que por meros trinta dias.

Dentro do táxi não houve conversas, eu apenas segurei sua mão por todo o caminho enquanto mantinha minha cabeça em seu ombro. Apesar disso, havia um diálogo silencioso onde ambos nos confortamos mutuamente.

— Espere por mim — sussurrei baixinho em mais um abraço. Agora estávamos em meio ao saguão do aeroporto, cheio de pessoas indo de um lado para outro e eu sequer as enxergava.

— Não seja bobo, claro que farei isso. A questão aqui é como sobreviverei sem você por esses trinta dias.

— Eu sei, vai ser difícil. Tente não colocar fogo na nossa casa, quero ter um lugar para morar assim que chegar na Argentina.

— Vou me esforçar, prometo. — Um silêncio surgiu, já não sabia mais o que dizer mesmo que sentisse que precisava falar e falar para que ele não fosse embora tão rápido. — Ei, olhe para mim.

— Não quero. — Mesmo assim o fiz. Seu olhar reconfortante era uma promessa silenciosa de um até logo. Respirei fundo selando nossos lábios uma última vez antes de vê-lo se afastar.

— Eu te amo — falei assim que ele se virou para me olhar. O sorriso mais bonito tomou seu rosto enquanto dizia que também me amava.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.