No mesmo dia, à tarde. Já estava uniformizado e pronto para ir servir meu país. Olhei-me no espelho pela ultima vez para ter certeza do que estava fazendo, a sanidade já tinha sido perdida há tempos atrás no dia do meu alistamento. Será que meu pai teria orgulho de mim? Ou ele largaria tudo por uma mulher?

–Bem, o que esta feito, esta feito- Digo para mim mesmo.

Direciono-me a porta e pego uma pequena caixa que devo dar a Kate como presente para sempre se lembrar de mim.

Saio de casa e vejo muitas famílias se despedindo de seus filhos e maridos que vão lutar na guerra. Vejo Kate sentada na fonte de água que fica em frente a minha casa. Eu a olho e dou um sorriso, ela esta usando meu casaco que eu a emprestei ontem à noite. Ela corre em minha direção e eu abro os braços para recebê-la com um belo abraço.

Quando Kate me solta, nós entrelaçamos nossas mãos e como sempre suas mãos estão frias. Continuamos andando em silêncio até conseguirmos avistar o avião que irá me levar para a Alemanha.

Olho para o lado e vejo um filho dizendo para seu pai “Mate aqueles malditos pai, e depois volta para casa!”. O garoto parece um pouco comigo e isso me lembra de meu pai, mas meus pensamentos sobre ele são distraídos com um choro baixo de Kate:

–Eu vou ficar bem, eu juro.

Ela balança a cabeça afirmativamente e solta a minha mão para eu poder entrar no avião. Sento no primeiro lugar que vejo e fico olhando Kate da minúscula janela do avião. Seu cabelo parecem menos ruivo daqui e seus olhos perderam o brilho.

Aquela sensação. Sinto a mesma sensação que senti na noite anterior quando ela bateu na minha porta chorando. Desço do avião o mais rápido que posso, pessoas tentam me segurar, mas eu sou mais forte. Corro em direção a Kate e a agarro em meus braços a fazendo flutuar no ar. Beijo ela como se a não visse durante anos e quando paro de beija-la a coloco no chão. Ajoelho-me no chão frio da pista de pouso e de repente a expressão de seu olhar muda. Ela leva as duas mãos a boca e eu tiro a pequena caixa do meu uniforme:

–Kate, eu não posso ir emborra sem te perguntar... Quer casar comigo?

Ela desaba no chão, coloca suas mãos em torno do meu rosto, aproxima o meu nariz com o dela e balança a cabeça afirmativamente:

–Sim?- Eu pergunto.

–Sim.

Eu a levanto no colo e a giro como se o mundo não estivesse em nossa volta. Pessoas estão batendo palmas e outras estão gritando felicidades:

–Vamos lá, noivinho. Quanto mais cedo for, mais cedo volta.

Um homem me puxa me fazendo soltar Kate. Entro no avião e fico lembrando os nossos momentos juntos e percebo que tenho que me concentrar em outra coisa agora: A MORTE.