Dias se passam depois da briga com Callie. Estou parado diante de um espelho e reexamino meu uniforme. Não consigo me acostumar a ele, o lugar onde fica minha tatuagem esta coberta por mangas engomadas e por um brasão que desconhecia. Mas esse brasão seria pelo que eu lutaria e morreria se fosse necessário.

Meus pensamentos são interrompidos por uma sombra próxima do meu quarto, Rose, com os meus antigos coturnos de guerra e muitas lagrimas nos seus olhos castanhos. Ela sempre usava meus coturnos, mesmo eu comprando todos os sapatos que as garotas da idade dela gostavam, ela me disse que era uma homenagem para o “falso pai” dela. Sempre que eu a olhava, lembrava de Luke e dá culpa que eu sentia:

–Você não pode me deixar – A voz de Rose estava menos impetuosa como de costume.

–Eu não vou te deixar, isso se chama trabalho, eu volto para o jantar.

Dou um beijo em sua testa e passo por ela indo em direção ao corredor. Lá esta a Callie encostada na parede me olhando com seus grandes olhos pretos de reprovação, dou um sorriso pra ela como se não me importa-se. Apesar de seu olhar, ela vem em minha direção, acomoda suavemente as mãos em meu rosto e me da um longo beijo na bochecha. Senti meu rosto corar um pouco, mas tentei ignorar. Essa não era a primeira vez que Callie ficava um pouco afetuosa de mais comigo. Isso sempre confundia minha mente e a deixava enrolada. Houve uma vez de quando Rose era ainda pequena em que isso aconteceu.

Tínhamos acabado de colocar Rose para dormir e estávamos saindo de seu quarto. Após eu fechar a porta me virei para me dirigir ao meu quarto quando Callie segurou minha mão forte e carinhosamente:

–Ela realmente gosta de você, sabe?- Disse Callie olhando para nossas mãos dadas.

–Claro que sei. Eu também a adoro, e gosto de cuidar dela.

Callie da um passo a frente e fica mais próxima de mim. Algo estava diferente nela naquela noite, mesmo assim não me afastei:

–Você sabe... Como sou grata por tudo o que você fez não é? Quer dizer... Você se sacrifica tanto por nós. Você teve muita coragem de fazer isso. Sempre penso como poderia retribuir tudo que você fez por nós- Ela estava muito perto e seus grandes olhos pretos me prendiam em seu olhar- Mas não tem como eu fazer nada, só vejo que te trago cada vez mais trabalho e não acho que eu vala a pena...

–Não diga isso. Você sabe que gosto da companhia de vocês duas aqui. É claro que você fez algo por mim. Você estava ali por mim em momentos muito difíceis. E isso significa muito para mim.

Então algo apareceu a mais em seu olhar. Ela estava muito próxima. Eu poderia a ter parado, no entanto não o fiz. Ela se aproximou de mim e pressionou seus lábios contra os meus. Ainda sentia que segurava minha mão, e que tinha pegado a outra. Apesar de suas ações mostrassem o que ela iria fazer aquilo me pegou de surpresa, e por um momento deixei que continuasse, até soltar as suas mãos e segurar em seus ombros a afastando de mim:

–Callie o que... O que foi isso?

–Bem eu...-Conseguia ver que estava completamente corada.

–Callie... Você sabe que não posso. Kate...

–Mike, a Kate não está mais aqui. Você tem que deixar o passado para trás. Eu não sou importante o suficiente para você? Você prefere se prender a alguém que nem esta mais aqui do que a uma pessoa que faria tudo por você e que te ajudaria mesmo nos momentos mais difíceis?

–Não é desse jeito. Kate era para ser a mulher de minha vida. Porem você...

–Eu o que? Você esta dizendo que eu sou somente alguém com que você deve aturar viver? Que não sente nada por mim?

–Não foi isso...

–Não... Não precisa mais falar nada. - Ele se afastou de mim e soltou uma leve risada irritada. - Foi uma idiotice minha ter feito isso. Eu devia ter deixado tudo como estava. Era só que...

Antes de terminar a frase ou de me dar tempo para refletir em algo para dizer, Callie passou por mim abruptamente e foi para seu quarto.

Depois deste incidente, Callie se afastou de mim e tentou fingir que aquele incidente nunca havia ocorrido. Porem eu sempre me lembrava, e isso me confundia, e até incomodava. Callie continuou sendo minha amiga e morando comigo, e sempre demonstrava esse cuidado comigo, contudo não sei ao certo o que pensa e sente exatamente sobre mim...:

–Vê se não se mata ok? -(se tivesse que definir Callie com uma palavra seria PREOCUPAÇAO).

–Relaxa, o Tio Robin vai estar lá.

Vou andando em direção à porta e ouço-a dizer “ele mal consegue cuidar da própria cabeça, imagina cuidar das dos outros”.