Ravena estava em seu quarto, meditando como sempre. Até ser interrompida por cinco batidas na porta com insistência.
A empata bufou e foi até a porta. Nem precisava abrir para saber que era Mutano. O cheiro de tofu ficava evidente.
Antes de abrir, ela disse:
— Sai daqui, Mutano.
— Qual é? Abre a porta!
Ela suspirou e abriu.
— Vai para outra dimensão se me contar alguma piada.
As orelhas verdes e pontudas dele abaixaram e ele encarou o chão.
— Na verdade, não era piada... - O rosto dele começou a ficar vermelho.
Isso deixou a empata curiosa e a fez sair do quarto escuro.
— O que você quer então? - Perguntou ela, mais doce, por assim dizer.
Ele começou a corar novamente e coçou a nuca lentamente. Olhou nos olhos dela. Ele precisava fazer isso.
Mas não conseguia. Estava muito nervoso.
— Eu preciso voltar para a leitura, Mutano, então se não...
Ela foi interrompida pelos lábios desajeitados de Mutano nos dela. Começou a corar na pele pálida. Quando ele acabou, ele se desculpou e correu para seu quarto.
Ela estava imóvel em frente ao seu quarto, não entendendo nada do que aconteceu. Seu rosto queimava e seu coração estava batendo muito forte. Ela nunca sentiu nada assim. Ninguém nunca a fez sentir tanto quanto Mutano. Na verdade, ela gostava da amizade dos amigos, mas por Mutano é algo mais forte, intenso, que ela desconhece. Ela pode até negar, mas dentro dela, em alguma de suas partes, ela tem afeição por Mutano.
Toda a barreira antissentimentos estava se desmoronando. Ela não estava conseguindo controlar as intensas emoções. Poderia ser perigoso. Mas ela queria ser livre e ser uma pessoa normal.
Se ele a beijou é porquê sente algo por ela, certo? Ravena não queria que o verde brincasse com os sentimentos dela, mesmo esta tentando tanto esconder.
Ravena tentou voltar a ler mais um dos seus livros ou meditar, como estava antes. Mas a figura de Mutano aparecia à mente e isso enfurecia Ravena. Não podia sentir nada por ele. Era perigoso pros dois. Não queria machucá-lo.
Tomou um gole de chá e quando seus lábios tocaram a caneca, ela se lembrou dos lábios desajeitados de Mutano tocando os seus. Deu um gritinho e soltou a caneca que a fez lembrar o metamorfo. O chá (que estava na metade) caiu pelo chão. Ravena começou a suar frio. Não era normal.
— O que tenho que fazer para tirá-lo da cabeça? Voltar para Azarath e ficar lá?
"Quem sabe se entregar de cabeça ao seu sentimento?" - A parte alegre de Ravena começou a falar.
— Como é? - A empata arqueou uma sobracelha.
"Você gosta do Mutano. Devia aceitar isso e contar para ele."
— Nem pensar! Não gosto daquela criança com cheiro de tofu! - Ravena negou, sentindo o coração se negando a desacelerar.
"Eu te conheço, pois sou parte de você. Posso ver tudo dentro de você e Mutano te deixa feliz. ME deixa feliz."
— Não mesmo.
"Sem teimosia, Ravena. Aceite apenas."
— Não vou aceitar mesmo! - Bufou a empata, que agora estava de braços cruzados, parecendo uma criança birrenta.
"Como quiser, mas pelo menos eu sei a verdade. Eu adoro aquele metamorfo fofo!"
— Chega, Alegria, está me irritando. - Ravena falou em sua voz apática e a Alegria se calou. Pelo menos, por enquanto.
Ravena começou a pensar novamente em Mutano. Ele podia ser pequeno e parecer fraco, mas a verdade era que era muito forte. E ele sempre gostava de ajudar, mesmo que fosse impossível. O que a irritava e ao mesmo tempo ela adorava, era o fato de sempre querer todos rindo, pois amenizava a tensão. Ela gostava de algumas coisas que o metamorfo dizia, mas jamais admitiria. Ela também não gostava da infantilidade dele. Mas ele era o mais novo. Ela começou a esquecer a parte que a irritava e começou a pensar no "menos pior".
Cabelo? Era ok. Sorriso? Único. Orelhas? Pontudas. Ravena até gostava. Dava charme a ele.
Ele disse que nunca desistiria até fazer Ravena sorrir. Devia gostar muito da empata para passar cada dia bolando estratégias e piadas. Ele podia ser meio ingênuo, mas podia ser tão esperto às vezes.
Ravena se lembrou de algo que era totalmente mágico em Mutano, além de tudo o mais. Os olhos deles. Ela chegou a se arrepiar pensando nisso. Os olhos dele eram lindos e hipnotizantes.
De certa forma, ele era fofo. Ele sempre tentava impressionar Ravena, que nunca se impressionava com nada. Pelo menos, não exteriormente.
Ele tinha charme que só ele. Sem contar que era uma gracinha.
Ravena se perdeu em pensamentos e quando voltou a si, balançou a cabeça. Não podia pensar nem pensar aquelas coisas. Começou a corar violentamente e sentiu o coração bater mais e mais.
Olhou para a xícara no chão e suspirou. "Preciso de outro chá."
Quando estava saindo de seu quarto, viu Mutano no sofá com Cyborg, como sempre, jogando videogame. Estelar estava tentando se aproximar de Robin, enquanto este estava lendo jornal na cozinha.
Ao ver Mutano e ao ouvir aquela risada, ela congelou e correu pro quarto.
"O que é isso? Estou com medo do Mutano?" - Pensou Ravena, sentindo-se ofegante.
"Não, você só está nervosa ao vê-lo." - Explicou Alegria, surgindo dentro dela.
"Não estou."
"Fala do Mutano mas a birrenta é você!"
"Ei, fica quieta aí! Eu não gosto do Mutano assim!"
"E por que seu coração está batendo tão depressa?" - A Alegria riu.
Ravena parou por um instante. Não conseguia controlar seu coração. Por que dentre todos, o Mutano?
"Ravena, sabe que não se escolhe quem se ama. O coração escolhe."
"Não o amo."
"Deixa disso. Ama sim! Olhe esse rosto corado!"
Ravena tocou seu rosto e realmente estava quente.
"Não é isso..."
"Ravena, você não aceita porquê tem medo. Mas pode apostar que sente algo pelo seu colega. Nós sentimos."
Ravena se negava a aceitar tudo aquilo. Ela resolveu apenas pegar outro chá, ignorando Mutano. Pegou a mesma caneca e foi até a cozinha rapidamente.
— Oi, Ravena! Tudo... - Robin tentou conversar mas ela estava com cara de poucos amigos, pior que antes.
— Amiga Ravena? Tudo bem? - Estelar foi até ela.
— Tudo ótimo. Só quero mais um chá para relaxar.
— Quem quer pizza? - Cyborg parou o jogo e perguntou.
— Estou sem fome. - Respondeu a empata.
— Também não estou a fim, cara... - Suspirou Mutano.
— O que deu em vocês? - Robin ficou confuso.
— Cansaço. - Por incrível que pareça, eles falaram em uníssono.
Os demais ficaram se entrolhando e não entendendo nada.
Mutano também foi para o quarto.
"O que foi que eu fiz? Eu beijei a Ravena? Não devia ter feito isso... Agora não consigo encará-la. Mas eu amo ela... Não consegui me conter. Era só para eu contar que a amava mas eu acabei a beijando..."
Mutano estava na parte de baixo de seu beliche e olhava para o 'teto' da cama, pensativo. Nos últimos dias, não parou de pensar nela um minuto. Está certo que ele sempre fazia brincadeiras com ela, queria que ela risse um pouco. Também sempre tentava impressioná-la, já que Estelar só se impressionava com Robin.
Mas num certo dia, numa luta, Ravena o salvou. Ele ficou muito grato, pois poderia ter se ferido gravemente. Ele começou a olhá-la com outro olhos. Ele sempre a achou bonita, talvez um pouco esquisita, mas ainda assim, queria ser amigo dela. E assim, uma paixão profunda foi se instalando dentro dele. Ele ignorou as regras, driblou os pensamentos que diziam para se afastar, que Ravena era perigosa, etc...
Ele só queria que ela o notasse. Queria que o visse como homem e não como um garotinho que come tofu todo santo dia e joga videogame. Resolveu começar a impressionar começando a arrumar seu quarto, que estava praticamente um chiqueiro.
Ele só queria que Ravena sentisse o mesmo que ele. Estava muito apaixonado, mas não podia contar tudo a ela ainda. E muito menos para Robin e Estelar. Mas queria muito contar para Cyborg, que sempre foi seu amigão. Mas estava inseguro. E se este contasse para a empata? Ele resolveu esperar, por mais desesperado que estivesse.
Ele teria que abrir o jogo, mesmo que ela o dispensasse. Não aguentava mais esperar. Foi lentamente ao quarto da empata. Mas depois ouviu a voz dela em outro canto da casa. Estava na sala e estava conversando com Cyborg.
Os dois estavam rindo. Ravena rindo? E com Cyborg? Que mágica ele fez para esse milagre acontecer?
— Está se sentindo melhor? - Perguntou Cyborg.
— Estou. Obrigada, Cyborg. - Ravena deu um meio-sorriso.
— Cyb, você não tinha ido dormir? - Mutano se meteu no meio deles e ao vê-lo Ravena colocou o capuz, pois começou a ficar descontrolada.
— A Ravena queria conversar, então... - Cyb disse. - Mas já estou indo, maninho. Boa noite. Fique bem, Ravena.
— Obrigada mesmo, Cyborg. Boa noite. - Respondeu ela em voz fraca.
Os dois ficaram ali sozinhos. Mutano sentia seu coração bater forte, tanto que poderia ouvi-lo naquele silêncio. Ravena também estava sentindo o coração bater forte.
— Eu vou... - Ela começou a se afastar mas sentiu Mutano segurar seu braço, fazendo-a estremecer. Como um braço tão fininho podia ter tanta força?
— Espera, Ravena... Preciso falar com você.
Ela começou a corar, e a esperança dela era do capuz esconder, mas Mutano o tirou da cabeça dela.
— Mutano, estou ocupada...
Ele pegou o queixo dela, delicamente e virou a cabeça dela para ele. Os olhos dela vibraram ao ver os brilhantes e profundos olhos de esmeralda de Mutano. Era ferozes como a fera que existia dentro dele. Era tão intensos e profundos que Ravena quase ficou tonta e quase perdeu o ar.
— Apenas olhe para mim e não me interrompa. - Ele disse, mas também ficou corado.
A empata se viu encurralada, então cedeu.
— Ravena, sempre fui um idiota, eu sei. Mas eu sempre quis chamar sua atenção, te fazer rir, te tornar mais feliz. Você já é linda e sorrindo fica mais ainda. - Ele abaixou a cabeça e Ravena começou a ficar mais vermelha. - Eu sempre te achei legal, misteriosa, talvez um pouco esquisita. Mas você provou que é muito mais que aparência. É uma excelente amiga e é boa, mesmo sendo metade-demônio. Eu te admiro muito. Posso ser birrento e brigar com você às vezes, e não dou o braço a torcer. Sou teimoso... Mas quero que saiba que meu amor por você só aumentava apesar de você brigar comigo, me mandar para outra dimensão... - Ele parou, coçou a nuca, rindo. - Eu nunca te odiei. Desde a primeira vez que te vi, quis te fazer rir. Por você, sinto que posso correr riscos. Sei que pode se defender sozinha, mas eu queria muito te proteger. Posso parecer fraco, mas mesmo pequeno, eu sou um homem e sou forte. Sei que posso cuidar de você, Ravena. Posso ser imaturo às vezes, mas é meu jeito. Eu te amo, Ravena. Acredite nisso. Eu posso ter tido uma quedinha pela Terra mas nunca tão grande quanto o "tombo" que tenho por você. Eu sei que posso querer chamar atenção das gatinhas por aí, mas nenhuma é tão incrível quanto você. Às vezes eu fazia isso de propósito, para ver se você me notava. Mas nunca me notou. Mesmo assim, nunca desisti. Você merece alguém melhor, mais forte, mais tudo. Eu sou insignificante perto de você. E-eu acho melhor parar, pois estou falando bobagens... - Ele parou de falar e notou o rosto corado da empata. O dele também estava bem vermelho, constrastado na pele verde.
— Mutano... Seu bobo... Nada que você disse foi bobagem. Foi verdadeiro. - Ravena respondeu, com lágrimas nos olhos.
— Pode apostar que foi. - Ele a abraçou forte e ela, mesmo hesitando, foi na onda das emoções e retribuiu.
— Eu... Te amo, Ravena. - Ele disse, desviando o olhar.
Os olhos violeta dela estavam brilhando muito.
— E sei que pode se defender sozinha, afinal você é...
Mas ele não teve tempo de acabar. Ravena começou um beijo calmo e puro. Ela não queria saber o que podia acontecer, só queria curtir o momento. E estar com ele era tão bom.
Lentamente, ela afastou os lábios dos dele e sorriu, envergonhada.
— Acho que também te amo, Mutano.
Ele sorriu de orelha a orelha.
— Sério?
— Não sei bem, mas acho que sim. Só você me faz sentir coisas estranhas que nunca senti. Só você me deixa assim... - Confessou ela, coçando a nuca.
— É assim mesmo, gatinha.
— Parece que o que você queria se realizou... Eu te notei. - Ravena se permitiu sorrir mais.
— Pois é... - Ele riu, mesmo com muita vergonha.
— E eu deixo você me proteger se quiser. Mas é perigoso. - Ela deitou no ombro dele. Agora eles estava sentados no sofá.
— Sem problemas. Tudo pela minha Rae. E mais, dentro de mim existe uma fera. E eu viro uma fera se mexerem com minha Rae.
Ela riu. Era tão fofo.
— Bobo.
— Minha bruxinha.
— Fofo.
— Linda.
— Gato.
— Maravilhosa.
— Meu.
— Minha.
Foram se aproximaram até selarem mais um beijo. Os demais Titãs estavam vendo. Robin teve que segurar Estelar, pois esta queria gritar mais do que os pulmões aguentavam. Cyborg realmente ia dormir, mas resolveu deixá-los sozinhos para ver no que dava. Robin estava trabalhando num novo projeto até o menino-robô o chamar. Estelar estava com Silkie e ao ouvir que seus amigos estavam se dando bem, foi correndo (voando).
Mutano, após se separarem, se ajoelhou na frente da empata e pegou na delicada mão pálida dela.
— Ravena... Quer ser minha namorada?
Ravena nem conteve seu sorriso e suas emoções.
— Claro!
Eles se abraçam forte novamente e depois foram olhar para a lua do terraço.
— Não acredito em nada disso. Logo você, Mutano... - Ravena não olhava para ele e sim, para a lua.
— Eu sou uma caixinha de surpresas, gatinha. - Ele beijou a bochecha da namorada, enquanto segurava a mão da mesma.
— Nunca imaginei que sentisse tudo isso por mim...
— Nem eu. - Mutano riu, envergonhado.
— Mas eu vou fazer de tudo para meus poderes infernais não estragarem tudo.
— O mesmo para mim. Minha fera interior não pode estragar nada.
— Somos opostos mas... - Ravena começou.
— ...tão iguais. - Completou Mutano.
Era verdade. Eles tinham algo em comum. O que sentiam um pelo outro. Deram um selinho rápido e voltaram a admirar a lua, enquanto os demais amigos estavam vendo TV. Cyborg feliz por juntar os amigos e Robin e Estelar abraçadinhos, assistindo TV.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.