Não queria que fosse assim... Não queria que isso tivesse acontecido. Isso era a única coisa que eu conseguia pensar após descobrir no hospital, que toda minha família havia morrido e eu estava bem... Bom, não totalmente bem, mas não estava morta como eles. Eu devia ter previsto o acidente... Devia tê-lo impedido! Esse pensamento me invadiu com tamanha força, que eu não consegui segurar o choro. Não podia evitar o choro, não quando eu sabia que eu era a culpada pela morte de quem eu amo.

Chorei tanto que eu acabei dormindo. Fui assombrada pelo momento em que toda minha vida foi direcionada para um caminho que por mais que eu tentasse mudar, não poderia. O momento em que minha família morreu, mas eu não.

Estávamos todos dentro do carro – eu, minhas primas Ariem e Annie, meu pai, minha mãe e a minha pequena e nova gatinha Esme – indo acampar.

Era nossa última parada antes de chegar ao acampamento de verão para a família. Minha mãe foi levar minhas primas no banheiro, enquanto eu e meu pai fomos para o restaurante escolher o que queríamos na nossa marmita. Fomos falar com uma das garçonetes. Meu pai falou que queria três marmitas para a viagem, perguntou o que eu queria na minha e quando eu fui responder, minhas primas falam para ele deixar elas escolherem dessa vez, já que eu escolhi das outras vezes. Eu ia entrar na discussão, mas por algum motivo incomum eu não o fiz.

Pagamos as marmitas e fomos para o carro, entramos e começamos a comer. Meu pai mal terminou de comer e já começou a dar partida no carro.

Passamos por várias curvas, pois estávamos subindo um morro; começou a chover fraquinho no inicio, mas depois de alguns minutos a chuva começou a engrossar, a estrada ficou um pouco difícil de enxergar, por isso meu pai diminuiu a velocidade. Fazíamos uma curva para descer o morro quando o carro patinou e o resto começou a ficar embaçado, meu medo me fez desmaiar e quando vi estava sendo socorrida pelo SAMU.

Acordei suando frio, totalmente em pânico para perceber qualquer coisa a minha volta. Respirei fundo várias vezes, mas meu coração continuou acelerado, olhei para minhas mãos e as vi tremendo tremendamente, tentei inspirar e expirar como minha mãe falava para mim fazer quando eu era pequena e tinha pesadelos estranhos.

Fiz isso várias vezes até que eu me acalmei me descobri e levantei meio tonta, mas logo fiquei “boa”, fui até o bebedor, peguei um copo e coloquei água até a metade, levei o copo até os lábios e bebi toda a água de uma vez. Enchi o copo mais uma vez e bebi tudo de novo e fui para meu quarto, me deitei, fechei os olhos e tentei dormir, mas não consegui.

Fiquei acordada até duas horas antes de o sol nascer, mas não aguentei mais e acabei me entregando para o sono, cansaço e tristeza. Acordei quatro horas depois, como estava muito cedo não havia recebido meu café da manhã. Esperei acordada até dar um horário aceitável para eu ir andar pelo hospital.

Estava andando pelo hospital quando esbarro com a enfermeira Jackeline, ela olha para mim e sorri, faz um silêncio um pouco constrangedor até que ela o quebra:

- Então você já está melhor, em? Eu ia falar com você agora mesmo sabia? – ela não dá espaço para eu responder, porque logo emenda. – Bem, vou logo direto ao ponto, você vai receber alta amanhã. – ela levanta a mão para me silenciar. – sei que você deve estar pensando a onde irá ficar, mas não se preocupe isso já foi resolvida, sua tia Razie pediu há algumas semanas a sua guarda e aceitaram, então, amanhã você começará morar com ela. Ok?

- S-Sim. – sorri, isso era uma noticia “ótima”. Razie? Merda! Minha tia, também conhecida como mãe das gêmeas Airem e Annie, que por sinal morreram por minha causa. Ótimo! Dá para melhorar?!

- Ah, e ela também agendou umas consultas com os psicólogos daqui.

- Pera. O quê?? – meus olhos quase saltam das orbitas.

- Algum problema?

- N-Não. – Sim! Sim, é um problema! Um grande problema! – Não tem problema nem um. – falo sem gaguejar.

- Ok, agora, acho melhor você mocinha voltar para seu quarto e descansar um pouco. – ela diz me segurando pelos ombros e me virando na direção em que fica meu quarto dando leves empurrãozinhos nas minhas costas.

Fui para meu quarto e comecei a arrumar as poucas roupas que havia sobrado do acidente. Pelo menos não vou ter que comprar tantas roupas como eu imaginei. Terminei de arruma-las e fui me deitar, já que noite passada não havia dormido quase nada. Fiquei acordada durante dez minutos até que o sono de uma noite mal dormida chegou.

Por incrível que pareça, não tive sonho - pesadelo ou lembranças indesejáveis – algum, simplesmente um lugar escuro que não ia a lugar nem um.

Acordei 16h13min da tarde, me espreguicei e fui ao banheiro jogar uma água no meu rosto. Sai do banheiro e voltei para o quarto, me troquei. Peguei a bandeja com o meu jantar e comecei a comer. Terminei de comer, larguei a bandeja encima da mesinha e sai do quarto, - estava cansada demais de ficar no quarto sem nada para fazer, não tinha nada para ler, nada para assistir – olhei para os lados e fui andando sem destino em mente.

Estava passando pela ala de fisioterapia quando vi um garoto alto Provavelmente ele tem 1,78 de altura de cabelos pretos, pele branca como a neve. Fiquei encarando-o até que ele se vira e me vê, nossos olhares se encontram por alguns segundos antes de eu desviar o olhar. Droga! Não vi qual era a cor dos olhos dele! Direcionei meu olhar para parede ao meu lado e fui andando sem olhar para ele de novo, mas sentindo o seu olhar nas minhas costas.

Quando parei de andar, meu coração estava acelerado. Meu Deus! Acho que estou tendo um ataque cardíaco! Comecei a respirar mais calmamente, com isso meu coração começou a desacelerar.

Comecei a pensar no garoto que eu acabara de ver. Ele parecia ser bonito... Aquela pele branca era muito bonita principalmente porque combina com os cabelos pretos como a noite... Iniciei novamente minha caminhada, mas ai divagando nos meus pensamentos.

Dei uma volta completa pelo hospital e ia dar mais uma se não fosse pelo fato de Jackeline me mandar para o quarto e tomar um remédio para me ajudar a dormir, pois amanhã de manhã minha tia Razie iria me buscar.

Fui para o quarto e fiz como ela falou. Logo depois do meu banho rápido já estava com os olhos dificilmente abertos. Deitei na cama e capotei.