Michaela era uma das conselheiras da ilha. Como ninguém se
nomeou ou agiu como líder, todos concordaram em optar por um conselho formado
por sete pessoas. Entre eles estava Michaela. Os únicos que a chamavam assim
eram adultos, portanto no momento era Mika, para todos. Ela tinha cabelos negros
até a cintura, olhos puxados típicos, orientais e usava uns óculos que faziam
com que parecesse mais séria que o normal.

Agatha, Cinthia e Joanne entram repentinamente na sala, fazendo Mika levantar bruscamente.

-Fechem a porta– Antes de a redoma aparecer, Mika era uma das mais animadas do grupo, mas
agora tem se comportado de maneira muita mais severa, o que já era de se
esperar, devido seu temperamento sensato de tentar resolver ou melhorar ao
máximo a situação.

-O que esta havendo? – Joanne era a mais perdida da sala.

Antes que alguém possa responder, uma garota
loira com sardas entra na sala. Seus olhos eram tão grandes que pareciam pires de porcelana azul ou até mesmo um personagem de mangá.

-Jess – diz Agatha.- Onde está Ana?

- Foi chamar Sarah e Choi. Podemos começar, explicamos para eles depois.

-Certo- começa Mika.- Todas nós sabemos que no primeiro dia da Redoma, todos os indivíduos
maiores de quinze anos simplesmente desapareceram.

Até aí, qualquer um concordaria.

- Bem, verificamos que ontem à noite nosso colega Victor completou quinze anos. Hoje de manhã o procuramos, porém não estava mais em sua casa e... Em nenhum outro lugar.

Há uma pausa.

Jess coloca as mãos sobre a boca e abaixa a cabeça como ato de compaixão ou piedade. O silêncio prolonga-se até determinado momento e é interrompido pela
pergunta mais óbvia a se fazer:

- Ou seja, não tem escapatória? Nosso aniversário de quinze anos é esta bomba relógio? –
pergunta Joanne, não parecendo abalada por causa de Victor.

Outra pausa.
Todos trocam olhares esperando alguém saber, ou pelo menos fingir que existe
uma resposta exata para tal questão. Até que Mika se habilita e diz calmamente:

-É aí que está.– os músculos do rosto dela se contraíram e sua expressão parecia confusa –
Nenhum de nós sabe ainda. E até agora, ninguém voltou para contar.



********


-Eu juro que eu não sabia! – soluçava Kevin, enquanto suas lágrimas misturavam-se com o sangue escorrendo de seu nariz.


O outro garoto, George, que segurava Kevin apenas com uma mão e pela gola da camiseta a quase meio metro do chão, estava com os dentes trincados e o punho fechado ameaçando:

-O que você está fazendo aqui?! Está é minha casa! Você estava comendo a minha comida! O que está pensando?!

Outro soco.

- Para! Para! Já bastava você me batendo no colégio antes disso tudo! Para!

E mais um no meio do nariz.

- Ninguém mandou você estar na minha casa, Kevin seu fracassado!

- Eu nunca invadiria se soubesse que estava ocupada! Muito menos se soubesse que era por
você!

Mais duas pancadas. Agora o chão já estava encharcado. Sangue e choro. Sangue e choro.

- Para! Para! Para! Deixe-me em paz! Por favor! Para!

George não pararia por aí, não se forte rangido não tivesse interrompido a gritaria. O
barulho prolonga-se e os soluços de Kevin não param um instante. Neste momento
o chão começa a rachar e os gritos retornam a cozinha de George.

- O que você está fazendo, cara?! Vai partir minha casa ao meio desse jeito!- Quem estava
entrando em desespero agora, era George. Em vão, pois Kevin ainda gritava com
as mãos no rosto, jogado no chão.

Mas a rachadura só aumentou, do chão foi subindo para as paredes e finalmente ao teto,
parecendo um gelo quebrando ao meio, como nos filmes.

-Se acalma velho! Não sei o que você está fazendo, mas vai detonar tudo! Sai daqui!- A casa tremia. George estava em pânico. Saiu correndo pela porta dos fundos, mas antes chuta Kevin, que logo em seguida levanta enxugando as lágrimas e corre atrás antes de ser esmagado pelo
concreto.

Ao chegar à rua, George estava de joelhos com os olhos arregalados. Não só ele, pois já
havia uma multidão assustada observando o estrago de longe. Parte da parede da
casa estava demolida e o asfalto da sua também havia levantado, como se uma
toupeira mutante tivesse passado por ali.

-Sua aberração! Olha o que você fez! Você é um deles. Sai daqui antes que eu te arrebente, seu
merda! Minha casa... Olha bem o que você fez!- George estava fora de si.

Nessas alturas, Kevin não sabia mais como
agir. Chorar de novo não era uma opção. Gritar, muito menos. Todos já sabiam
que tinha sido ele que havia destruído tudo. Já era tarde demais para se
acalmar.

-Kevin... – uma garota com duas tranças no cabelo, parecia solidária- Vá procurar ajuda.
Acredite, é o melhor a se fazer à uma hora destas. Procure Gabe ou alguém do
posto policial. Eu aviso algum membro do conselho.

-Qual... Qual é seu nome? – ele ainda estava em estado de choque

-Joy. E eu... Bem... Também sou uma aberração. – Antes que ele pudesse perguntar qualquer
coisa, ela já estava correndo, e em poucos segundos, sua velocidade já era tão
alta que ela era apenas um borrão, mas ninguém tinha percebido nada. Não com
uma casa desmoronando na esquina.

“Certo. Eu sou um terremoto. Ou consigo produzir um. Ou quase isso...” os pensamentos eram
confusos na cabeça de Kevin. O que tinha acontecido nesses últimos cinco
minutos? Só sabia que estava se direcionando para o posto de Gabe. Como
explicaria o que estava havendo? Era tudo tão simples e ao mesmo tempo tão
complicado de descrever no momento.

–Uau – era só o que conseguia dizer. E repetia: - Uau...


********

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.