–Mamãe?Papai?_Ele perguntou vestindo rapidamente o restante da roupa._O que vocês estão fazendo aqui?

–Acho que somos nós quem devemos fazer essa pergunta...

Juliana corou até a raiz dos cabelos e percebeu que Gabriel não estava em situação diferente. O rapaz parecia a ponto de se lançar da escada a qualquer momento.

–Sou Juliana Bonfim._Ela disse se aproximando da mulher._Professora de inglês do seu filho.

A mulher arregalou os olhos a ponto de Juliana pensar que esses sairiam das orbitas.

–Sou Marieta Sant’Anna._Ela disse estendendo a mão._E por que pelo amor de Deus você está aqui em casa sozinha com ele e vestindo apenas uma camisa que a propósito também é dele?

–Me desculpe senhora Marieta, eu acabei me envolvendo em um pequeno acidente com seu filho ontem. Meu cachorro esbarrou na porta do carro dele e ele acabou batendo a cabeça no volante e tento um pequeno ferimento no local. Eu fiquei preocupada e o levei até um hospital. O médico disse que ele deveria vir para casa, mas precisaria ser observado durante a noite e também era necessário trocar os curativos para evitar uma infecção._Juliana disse tudo isso rapidamente devido ao nervosismo.

Gabriel pareceu perceber que era hora de interferir.

–Depois disso mamãe a senhora me ligou e disse que estaria fora a noite toda. A professora não quis me largar aqui sozinho e por isso veio junto comigo. Ela trocou os curativos ontem e agora de manhã._Ele disse e viu a mulher ainda olhar desconfiada.

–Isso explica o cachorro e o curativo no pescoço, mas a roupa dela..._A mulher disse esperando uma continuação da parte deles.

–Eu não trouxe roupas e por isso pedi uma camisa ao seu filho para eu poder dormir. Eu dormi no seu sofá e a minha calça era jeans e estava muito apertada. Eu tirei a calça durante a noite e esqueci de vestir hoje de manhã.Eu estava vestindo a roupa para ir direto para a escola quando vocês dois chegaram e depois vocês já sabem o que aconteceu._Ela disse temendo a reação do casal a sua frente.

–Agradeço pelo que fez ao meu filho, mesmo isso sendo uma atitude inusitada. Daqui pra frente eu mesma cuido dele em casa e se não for pedir de mais gostaria de pedir que desse umas olhadinhas nele durante o período de aula. Mas tarde vou levá-lo a outro médico para que esse possa dar um diagnóstico mais preciso._Marieta disse dessa vez parecendo mais tranqüila.

–Vá tomar um banho que eu tenho umas roupas que podem te servir._Ela disse ainda lançando olhares reprovadores a roupa da moça._Vá comeralguma coisa Gabriel e espere sua professora para leva - lá até a escola com você.

–Tudo bem._Ele deu de ombros e pareceu aliviado.

Juliana subiu as escadas acompanhada da mulher e viu de longe o pai do garoto ir se sentar ao lado dele, talvez na esperança de descobrir algo a mais vindo do filho. Ela revirou os olhos e notou mais uma vez o olhar da matriarca da família sobre si.

–Meu filho é mesmo muito desastrado._Ela disse sorrindo._Mas ainda assim é um bom rapaz. Espero que o que ocorreu não acarrete problemas a você.

–De maneira nenhuma senhora, gostaria até de me desculpar uma vez mais._Ela disse ainda sem graça.

–Não se preocupe. Eu acredito em você._Ela disse simpática._Meu filho é muito bonito, mas ainda assim vejo que você não caiu nas graças dele.

Juliana riu. Marieta percebeu o gesto dela.

–Ele por acaso te faltou com o respeito?_Perguntou agora mais séria.

–De maneira nenhuma._Ela disse ainda sorrindo._Eu ameacei usar o Douggie, o cachorro que acertou ele com a porta, como escudo.

–Não me culpe pela parte marota dele._Ela respondeu envergonhada._Saiu ao pai.

–Não tem pelo que se culpar, ele é visivelmente um bom rapaz.

Dizendo isso Juliana entrou no banheiro e pegou as roupas que a mais velha a ofereceu. Terminou o banho rapidamente e assim que saiu do banheiro percebeu que Gabriel a esperava impaciente do lado de fora.

–Se demorasse mais dois minutos eu iria ter que dirigir a 250Km por hora para chegar a tempo na escola._Ele disse sorrindo.

–Quem disse que já pode dirigir?_Ela respondeu e ele revirou os olhos.

–Ou eu dirijo ou vamos os dois a pé pra escola._Ele ameaçou sorrindo de canto._E eu ainda ando a pé mais rápido do que você dirigindo um carro.

Juliana revirou os olhos e se poupou de responder com medo de que alguém da família presenciasse uma “discussão” dela com o garoto.

Eles foram até a garagem onde Juliana levou pouco mais de cinco ou dez minutos para convencer Gabriel de que Douggie iria com eles no carro de qualquer maneira.

Saíram de casa sob os olhares curiosos dos pais do rapaz.

–Acreditou nessa história estranha?_A mãe dele perguntou ao homem ao seu lado.

–O galo na testa diz bastante coisa não acha?_O Homem respondeu brincando.

–Tudo bem..._A mulher deu de ombros e entrou em casa._Não diga que eu não avisei depois.

Gabriel estacionou o carro próximo a escola e olhou no relógio. Como sempre estava mais uma vez atrasado.

Juliana notou para onde o olhar dele se direcionava e correu para fora do carro.

–Ai meu Deus, eu não poderia me atrasar assim._Ela disse enquanto tentava tirar Douggie do carro._Douggie, eu juro que estou seriamente tentada a dar você a carrocinha, então me faça o favor de não me dar mais motivos para isso ok rapaz?_Ela disse isso e viu o cachorro descer calmamente do carro.

–É melhor correr professora._Gabriel disse olhando divertido para a confusão que Juliana e Douggie faziam em volta de si mesmos.

–E acaso você não está atrasado?_Ela perguntou ainda distraída com a bolsa e o cachorro.

–Estou._Ele deu de ombros._Mas minha professora não chegou ainda.

Juliana se chutou mentalmente por ainda dar confiança as gracinhas do rapaz que agora desfilava calmamente rumo a entrada do colégio.

–Vai querer carona na volta?_Ele perguntou de longe.

–Não tenho outro modo de voltar._Ela devolveu a resposta.

–Pegue a chave._Ele disse arremessando a mesma no ar._ Se me virem entrando no carro junto com você ao mesmo tempo, vou ter que criar explicações inimagináveis.

–Tudo bem._Juliana sorriu.

Entraram separadamente na escola e Juliana ainda avistou Gabriel andar com o mesmo jeito despreocupado de sempre.

Ela arrastava Douggie pelos corredores da maneira que ela pensou ser a mais “discreta” possível. A garota sabia que teria que dar explicações sobre o animal, mas ela tinha uma boa imaginação, e com toda certeza se sairia bem.

Entrou na sala mostrando confiança, mesmo que nem mesmo ela soubesse direito o que fazer.

–Bom dia._Ela cumprimentou a classe que voltou toda a atenção para ela. Nesse instante ela notou que Gabriel ainda não se encontrava ali. Viu novamente os mesmos olhares de ontem e assim como os outros rapazes Juliana revirou os olhos e se virou para a porta.

–Com licença..._Gabriel dizia sorrindo sínico parado no batente da porta._Posso?

–Não vamos criar um habito não é senhor Sant’Anna?_Ela disse devolvendo o sorriso a ele.

–Com toda certeza que não faremos isso._Gabriel disse e os outros o encaram surpresos.

Juliana os ignorou e indicou o assento a Gabriel partindo em seguida para a explicação “inventada” sobre Douggie.

–Senhorita Bonfim, que mal lhe pergunte, antes de você desenfrear com seu inglês ai na frente e ninguém entender nada..._Lucas Stanfor disse arrancando risinhos dos demais._Por que temos um colega de classe novo hoje?_Ele disse se referindo ao cachorro.

–É sempre bom saber o que os alunos pensam sobre as aulas senhor Stanfor._Juliana disse arrancando novos risinhos dos demais._Mas respondendo sua pergunta, o colega novo é o Douggie e ele vai nos auxiliar na aula hoje.

–Eu perguntaria como, mas é melhor deixar pra lá._Foi a vez de João Marcos Carrara brincar.

–Pois bem, vamos lá._Juliana disse e deu início a aula. Tudo parecia estar correndo bem, e ela pela primeira vez via os olhos dos alunos realmente ligados em algo. Douggie parecia uma bela maneira de pender a atenção deles. Ela usava o cachorro para mostrar comandos simples como “sentar” “levantar” “caminhar” e alguns outros. O animal era adestrado perfeitamente.

–Juliana querida, sua mãe ao telefone na secretaria._A velha secretaria informou na porta da sala.

–Obrigado Janete, já estou indo._Ela disse e a mulher voltou para a secretaria._Douggie meu bem, fique quietinho e tome conta da classe por mim ok?_Ela disse e o cachorro abanou a calda e deu alguns pulinhos._Tentem não matar meu cachorro por favor._Ela disse rindo para a sala e indo em direção a secretaria.

O cachorro observava a tudo atentamente e até arriscou alguns passos pela sala de aula.

As garotas aproveitaram a saída da professora para se aproximar de Gabriel.

–O que houve com você meu bem?_Ana Angélica disse se aproximando dele, e fazendo Douggie dar uns pulinhos lá na frente.

–Nada de mais Angel, eu só me machuquei um pouquinho._Ele disse despreocupadamente sem revelar o real motivo.

–Mas está roxo Gabriel, e olha tem outro curativo aqui atrás._Ela disse tocando nele e arrancando um baixo gemido de dor dele.

Douggie viu a garota tocar nele e ele fazer uma careta engraçada em seguida. O animal se aproximou rapidamente de onde eles estavam e com apenas um latido assustou a moça e arrancou risadas dos rapazes. Em seguida ele saiu correndo em direção aos corredores e sumiu da vista de todos.

–Esse cachorro é louco?_Lucas perguntou brincando e notou a careta que Gabriel ainda fazia._Precisamos de um desses...

–Está mesmo tudo bem cara?_João Marcos perguntou.

–Eu me machuquei um pouco ontem e acho que só preciso de um remédio para dor. A maluca da Ana Angélica fez o favor de enfiar a mão aqui._Gabriel reclamou.

No instante seguinte os latidos do cachorro foram ouvidos outra vez e junto com ele Juliana entrou na sala.

–Que houve meu bem?_Ela disse vendo Douggie corre pela sala na direção de Gabriel.

Ela notou no instante seguinte que ele mantinha as mãos no curativo da testa e parecia um tanto incomodado.

–Pare de latir Douggie, por favor, amigão._Ele disse passando as mãos na cabeça do animal que logo se deitou quietinho ao lado dele._Bem melhor... Você sabe minha cabeça ainda dói._Ele disse como se contasse um segredo ao cão.

–Gabriel, você está bem?_Ela perguntou se aproximando dele e atraindo os olhares curiosos dos demais.

–Está doendo outra vez._Ele disse como se não houvesse ninguém mais ali.

–Mas você acabou de tomar o remédio em casa._Juliana disse e os outros olharam para eles curiosos.

–Na verdade, eu acho que esqueci de tomar._Ele disse e ela o olhou espantada.

–Como assim “esqueceu” Gabriel?_Ela perguntou com as mãos na cintura com uma pose irritada.

–Agente estava atrasado se lembra?_Ele disse aumentando um pouco voz._Mamãe chegou e depois de toda aquela cena eu acabei esquecendo.

Juliana se lembrou de tudo e corou instantaneamente fazendo as garotas da sala lançarem olhares raivosos e horrorizados a ela.

–Vamos lá, levanta daí. Vai tomar o remédio._Ela disse em um tom autoritário e ele penas assentiu._Vá com ele Douggie. E vê que não esquece dessa vez garoto._Ela disse e ele revirou os olhos saindo da sala acompanhado do enorme cachorro negro.

Juliana olhou de volta para o restante dos alunos e viu um misto de expressões na face deles. Agora com toda certeza ele percebeu a confusão que se formara. Ela concertaria isso, de alguma forma ela teria que concertar isso.\"\" Gabriel Sant'Anna