– É o senhor Gabriel Sant’Anna.

A diretora disse calmamente como se falasse sobre como o clima lá fora estava agradável aquele dia, ou como borboletas azuis são lindas, porém difíceis de encontrar voando por ai.

–Tem certeza senhora? – Juliana perguntou depois de se recuperar do choque pós revelação assustadora.

–Absoluta professora. Por acaso a senhorita tem algum problema e não poderá ajudar? – A mulher perguntou enquanto arqueava uma das sombracelhas parecendo esperar impaciente a possível resposta da moça.

Juliana trava internamente uma batalha perdida. Algo dizia dentro de si que aceitar aquilo seria assinar sua condenação. Mas ela sabia que o faria de qualquer forma. Ela poderia dizer que tinha outro trabalho a tarde ou que fazia yoga ou tricô nas horas da tarde e seria impossível ir as aulas. Porém, seria inútil. Não mudaria exatamente nada.

–Pode contar comigo senhora diretora. Será um prazer trabalhar com o Gabriel. Não tenho problema nenhum com ele. – Ela respondeu, completando mentalmente a parte onde o único problema era o fato de ele ser extremamente lindo, fofo e incrivelmente sexy naquele uniforme, ou mesmo sem ele. Mas essa era uma parte que aquela senhora sentada a sua frente não necessitava saber.

–Então estamos entendidas. Conversarei com os alunos amanhã e mandarei um comunicado aos pais. Depois disso avisarei a senhorita o dia e a hora que começaremos. – A mulher disse sorrindo agora. – Está liberada senhorita. Pode ir almoçar agora.

Juliana sorriu sem graça e saiu da sala de aula com um misto de emoções. Ela não sabia se a sua fome havia sido denunciada pela careta que ela fazia, ou talvez fosse apenas seu estomago que tivesse roncado alto demais.

Dirigiu até em casa tentando desviar seus pensamentos do possível futuro momento a sós que logo teria com Gabriel. O garoto era provocante mesmo que involuntariamente. Juliana tinha 24 anos e um coração recém colado depois de mais uma desilusão vinda de mais uma de suas péssimas escolhas amorosas. Gabriel ser assim sempre tão fofo era quase que uma covardia tamanha.

O dia passou sem mais delongas. No dia seguinte Gabriel foi chamado a uma sala reservada, junto a mais alguns alunos. Dentre eles estavam seus próprios amigos. João e Lucas bufavam a cada nova palavra da diretora. A maioria dos alunos ali presentes aram atletas também Rapazes em sua maioria, além de uma ou duas garotas do time de vôlei.

A diretora anunciava calmamente quem seriam os professores responsáveis por cada aluno. Dito a maioria dos nomes a mulher deu como encerrada a pequena reunião, deixando o nome de Gabriel em aberto. O rapaz deu de ombros. Talvez ele estivesse ali por engano. Mas ele sabia que não era assim. Suas notas pareciam ainda piores esse ano.

–Gabriel, espere um pouco, por favor. – A voz da velha diretora voltou a soar uma vez mais trazendo o rapaz de volta de seus confusos pensamentos.

Alguns segundos se passaram até que todos já haviam saído da sala e Gabriel permanecia esperando.

–Senhor Sant’Anna, chamei o senhor pelo fato de que sua situação é um pouco diferente. - A mulher começou e ele assentiu para que ela prosseguisse.- Seu pequeno problema de concentração acabou acarretando em suas notas baixas, mas estranhamente a professora Juliana aparentemente consegue a sua atenção de alguma forma. Sendo assim, espero que a ajuda dela seja realmente proveitosa para o senhor.

–Quer dizer que a tampinha... – Ele começou a frase e parou no momento em que percebeu o olhar estranho da diretora sobre si. – A tampinha daquela caneta está no lugar errado.

–Como? – A mulher perguntou sem entender exatamente e logo balançou a cabeça em negação. – O senhor prestou alguma atenção no que eu disse?- Ela perguntou e ele agradeceu a Deus mentalmente por ela ter engolido sua desculpa estúpida.

–Sim senhora. Só me distrai um pouco. – Ele disse e ela sorriu.

–Sendo assim, exatamente como os demais alunos, a partir de amanhã mesmo as aulas extras começam. – Ela disse e ele escondeu um sorriso travesso.

–Tudo bem. –Ele falou e ela deu o assunto como encerrado, dispensando Gabriel logo em seguida.

O rapaz saiu apressadamente pelos corredores. Passou pela sala do seu irmão e o levou consigo até o carro. Dirigiu apressadamente como sempre, e Miguel apenas o observava calado. O mais novo parecia nem notar a atitude estranhamente “feliz” do irmão.

Em casa Gabriel apenas cumprimentou os pais e subiu para o quarto. O rapaz estava definitivamente em êxtase. Seus pensamentos iam por cada segundo daquele dia, e o sorriso bob continuava a brincar em seus lábios. Ele pensou em ligar para Juliana e saber a opinião dela sobre o novo “compromisso” dos dois, mas desistiu em seguida, optando pela curiosidade guardada até o dia seguinte.\"\"