Enquanto houver nós.

Morte, enterro e recordações...


O tiro foi disparado.

Depois do barulho da bala, o silêncio que incomodava eu estava tonta meu ouvido um barulho irritante e não sentia as minhas pernas, minha cabeça doía pelo impacto que teve depois de ter caído ao chão assim que abro os olhos finalmente vejo Douglas ainda em cima de mim, gemendo de dor Edmundo o levantou retirando de cima do meu corpo o colocando ao chão.

– CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! - Ele gritou. Com dificuldade sentei e quando me dei conta meu braço estava sangrando.

– Douglas! - Eu o chamo chorando. - Por favor Douglas, se levante... - Eu repito, sua mão ensanguentada pressionava o seu peito com muito mais sangue e um buraco. Ele havia levado um tiro no peito. Carlos Daniel se aproximou de mim tentando me levantar, me deitei sob o corpo de Douglas chorando, não queria me levantar.

– Pa... Paulina... Eu que... quero que você... saiba... - Ele parou de falar um pouco por um tempo tentando resistir e com sua mão ensanguentada segurou a minha. - Eu... te... amo... - Assim que ele revelou seu sentimento por mim, foi fatal, passei minha mão em seu rosto e deixei cair uma lágrima em seu pescoço, ouvi o barulho da sirene chegando, os convidados estavam todos chocados me observando, Edmundo estava transtornado.

– Não faça força Douglas, a ambulância já está próxima... ABRAM O PORTÃO! - Eu grito e logo algumas pessoas correm na porta principal para abrir e os para-médicos socorrerem ele.

– Paulina... Me dê... um beijo! - Ele me diz. Encaro seus olhos, ele está com dificuldade de deixa-los aberto e me aproximo ainda mais, o suficiente dando um beijo em sua boca. Apertei minha mão na dele, senti o gosto do sangue. Beijar o Douglas foi muito fácil, como se já tivesse feito isso um milhão de vezes antes, mas eu estava muito apreensiva. Quando nos afastamos, ainda encarando seus olhos, fui tomada pelos braços os pará-médicos haviam chegado. Uma moça colocou as mãos no pulso de Douglas, depois colocou sua mão em seu pescoço procurando os batimentos. Assim que me virei pois Carlos Daniel me tomou pelos braços, e eu sem pensar o abracei, meu braço estava muito dolorido.

– Vamos meu amor, vamos ver seu braço primeiro. - Carlos Daniel disse a mim, enquanto dava um beijo em minha testa e deixou uma lágrima cair.

– Por que está chorando? - Eu perguntei a ele, e um outro para-médico me fez sentar para olhar meu machucado, eu havia levado um tiro de raspão. Mas, afinal quantos tiros foram disparados?

– Estou chorando porque graças a Deus não lhe aconteceu nada. Você está viva.

– Carlos Daniel, quantos tiros foram disparados?

– Eu estava no salão com Rodrigo e então ouvimos um disparo, a princípio todos olharam ao redor procurando o barulho interrompendo a música e em seguida outro tiro, todos se abaixaram. Filomena, sua amiga da janela viu você e Douglas deitados ao chão e então gritou seu nome, me levantei indo para o quintal e Edmundo foi atrás, começamos a correr atrás do desgraçado mas ele fugiu pelos arbustos pulando ele e fugiu e então voltamos, foi quando todos já estavam ali fora em volta de vocês. - Assim que Carlos Daniel me conta a história a maca onde estava o Douglas foi para a rua e entrar na ambulância, ele estava coberto.

– Douglas? DOUGLAAAAAAAAAAAAAS! - Eu grito desesperada chorando sem ter mais nenhuma razão, só sentia dor, me levantei enquanto o enfermeiro fazia um curativo em meu braço. Carlos Daniel me segurou junto dele. - Paulina meu amor, se acalme. - Ouvi as sirenes da polícia chegando também, eram três viaturas, eu estava transtornada, e para a minha maior tristeza ainda para piorar tudo Elizabeth se aproximou de Carlos Daniel.

– Amor, vamos para casa? - Ela perguntou ao Carlos Daniel.

– Saia de perto de mim. Vá você, ficarei com Paulina. - Carlos Daniel responde segurando minhas mãos, na mesma hora Célia e Filomena chegaram gritando se aproximando de mim.

– Você precisa ir para o hospital senhorita. - O enfermeiro me chama.

– Entre meu amor, irei com você... - Não. - Eu interrompo Carlos Daniel. - Vá para a sua casa com sua esposa, eu irei com Célia e Filomena.

– Mas, Paulina...

– Mas nada Carlos Daniel, cuide de seu filho. Eu estou bem. - Mentira! Não estava nada bem. Entrei na ambulância e Célia me acompanhou apenas uma pessoa poderia entrar, enquanto Filomena desolada conseguiu uma carona com o senhor Miguel Díaz e sua esposa que de alguma forma se preocuparam comigo.

Quando deu 2 horas da manhã o hospital me liberou me passando muitos remédios.

– Preciso ver o Douglas Maldonado, será que posso? - Perguntei a um dos médicos.

– Senhorita, só familiares.

– Eu... era a namorada dele. - Eu menti, sei que sim, mas queria me despedir de Douglas. Quando o doutor me acompanhou a ala proibida para ir ver o corpo de Douglas, estava ficando gelado me aproximei de seu corpo enquanto Célia e Filomena estavam lá fora, o doutor entrou comigo na sala mas logo saiu enquanto eu me despedia dele rapidamente. - Douglas, obrigada por tudo. - Não consegui falar mais, abraçando o corpo dele chorando, passei a mão em seu rosto e com muito esforço terminei dizendo - Me perdoe não ama-lo do jeito que você gostaria que fosse, mas o amei com uma amizade forte e sincera e agora você se encontrará com Noélia. Me perdoe! - Pedi perdão, pois eu sabia que não havia motivos para atirarem em Douglas, e sim em mim, mas duvido que havia sido Elizabeth quem atirou... Era a única que tinha um motivo para me matar, ela sempre me odiou. A não ser... que a pessoa que me mandava cartas anônimas estivesse ali, e se fosse alguém da confiança de Elizabeth? Não quero mais pensar nisso, não... Não pode ser ela, ela está grávida e não seria capaz de matar alguém. Eu acho.

Fui para a casa de Célia, estava ainda toda arrumada para o meu primeiro baile que Douglas havia arrumado para mim, foi uma madrugada torduosa, não consegui dormir e Célia e Filomena ficaram comigo, mas quando o relógio bateu ás 4 horas da manhã as duas dormiram e eu deitada me lembrei de Carlos Daniel tentando me proteger, meu amor... Se Elizabeth não dissesse que estava grávida, eu ainda estaria em seus braços, sua noiva. E talvez ela tivesse lhe dado o divórcio e logo casaríamos e nada disso aconteceria com Douglas, por minha culpa ele morreu. Foi minha culpa! Não consegui pregar os olhos, mas consegui cochilar depois, mas ás 9 horas da manhã a polícia bateu em minha porta para me fazer umas perguntas, para a minha surpresa era o mesmo policial que investigava o acidente na minha cabana, as cartas anônimas.

– Será que dessa vez vocês conseguem prender o assassino de Douglas? - Eu pergunto a eles enquanto pego uma xícara de café e me sento.

– Faremos o possível. - Ele me responde.

– Querem algo? - Célia pergunta, eu fico encarando o policial que se senta recusando dizendo que não queriam nada.

– Senhorita Martins, temos umas perguntas, será que poderia responder?

– Sim.

– Me conte o que se lembra, qualquer detalhe. - Contei tudo o que eu lembrava, e depois de 40 minutos a polícia finalmente foi embora, eu só tinha a roupa da festa, mas estava usando um pijama de Célia. Peguei um táxi e fui buscar minhas roupas na mansão de Douglas, mas estava cercada por conta das investigações, e logo de repente encontro Edmundo.

– Preciso de roupas. Deixei tudo o que tinha, aqui.

– Eu levo você para comprar algumas coisas.

– Eu pago não tem problema. - Eu repondo a ele, pois eu sei que ele adorava pagar as coisas para mim. Passamos numa loja qualquer e eu comprei duas roupas pretas, de luto.

No dia seguinte...

Bem cedo eu me levanto e junto de Célia e Filomena vamos juntas ao enterro de Douglas, seu corpo estava na igreja onde ele cresceu e estava lotada cheia de pessoas chorando de luto... Há um lugar para mim reservado lá na frente junto de Edmundo e Célia e Filomena ficaram lá atrás, me sentei junto dele enquanto o padre rezava por seu corpo e foi a hora de todos irem se despedir.

O sino batia, 12 horas o caixão entrou no carro e foi direto para o cemitério próximo da família Maldonado, lá Edmundo, Bráulio e mais dois rapazes que trabalhavam no cemitério carregaram o caixão, Carlos Daniel se aproximou de mim me acompanhando junto, mas Elizabeth o puxou para perto dela. E estávamos de frente um para o outro na hora do enterro, mas me concentrei apenas em Douglas, sabendo que ele estava ali, o homem que deu sua vida por mim.

– Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, o Pai, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos os irmãos e as irmãs, em especial, com vocês a família enlutada. - O padre começou a oração. - Nos reunimos em nome e na presença do Trino Deus, do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Lembramos o nosso socorro, auxílio, conforto e consolo ele vem do Senhor que criou o céu, a terra e a todos nós. Estamos reunidos para nos despedir de nosso irmão, o senhor Douglas Maldonado....... Seu falecimento traz tristeza e dor para a família e para todos os que tinham amizade com ele. Estamos reunidos como comunidade cristã, que crê e confia que a morte não tem a última palavra sobre nós. Cremos e aguardamos a salvação e a vida eterna e buscamos o consolo na Palavra de Deus. Jesus Cristo diz em João 16.33b: “No mundo vocês passam por aflições; mas não tenham medo, eu venci o mundo.” Este consolo não nos deixa sozinhos. Eterno no sofrimento. Cristo é nossa esperança! Com a palavra, o irmão Edmundo Serrano Maldonado.

– Eu queria dizer coisas enquanto Douglas ainda estava vivo, meu irmão... Eu te amo! Eu sempre fui o irmão "mulherengo" como ele me descrevia. Quero me despedir hoje dele, que sempre foi tão bom comigo e cuidou de mim como um irmão mais velho deve faze-lo. Não sei o que dizer, pois nunca imaginei fazer isso, eu sei que as pessoas morrem, mas nunca imaginei enterrar meu irmão. Perder meus pais foi muito doloroso e eu só tinha ele, hoje não tenho mais ninguém. Mas, guardo ele nas minhas lembranças e irmão, saiba que onde quer que você esteja eu te amo muito! Vá com Deus.

– Alguém mais deseja falar suas últimas palavras a Douglas? - O padre pergunta, o silêncio toma conta do lugar e logo eu levanto minhas mãos indo em direção ao padre de frente para o caixão marrom de Douglas.

– Meu nome é Paulina Martins... Para muito de vocês sou uma desconhecida. O fato é que eu trabalhava para Douglas Maldonado, era sua dama de companhia, trabalho com ele há um 1 mês e 20 vinte dias. Ele foi o melhor patrão e amigo que eu tive o prazer de conhecer. Eu não tenho muito o que falar, pois eu sinto muito mais, e eu não saberei colocar minhas palavras corretamente aqui, mas seguirei meu caminho sempre com a lembrança de um homem que foi muito bom para mim. Na minha vida, me ajudou e muito! Por pouco tempo... Ele havia descoberto uma doença e estava tratando ela, e estava indo tão bem. Douglas, falo diretamente com você agora. Sinto uma enorme gratidão por você, o homem que salvou a minha vida, fique em paz e com Deus, pois aqui tenha a certeza que você tem pessoas que realmente te amam, como eu, seu irmão e muitas outras. Obrigada por tudo! E eu termino de falar por aqui, pois sou chorona. - Eu saio de lá indo sentar e as pessoas aplaudem Douglas.

Olhei no relógio, 13 horas e fomos embora depois dele ter sido enterrado, Carlos Daniel me acompanhou até o táxi.

– Amor meu, eu irei te visitar. Não fuja mais, tudo bem?

– Não me chama de amor, nunca fui seu amor. Mas, se quiser se encontrar comigo, tudo bem. Eu darei meu novo endereço a você. Até mais! E, obrigada por tudo. - Eu respondo, e ele me dá um beijo na testa como quem queria me proteger, queria tanto que ele me acompanhasse, mas fui forte. Pois sei que irei me vingar dele ainda. Entrei no táxi e vi Elizabeth se aproximando dele segurando em sua mão. Carlos Daniel, amor meu!