Era a arma que matou Douglas Maldonado...

Sem saber o que fazer e com cuidado rapidamente peguei a caixa e a coloquei em cima de minha mesa de centro na sala. Eu a olhava e não conseguia entender como aquilo teria ido parar em minha porta. Como? Quando? Quem? Sentei no sofá e com minhas mãos no rosto e a cabeça baixa eu tentava pensar, estava desesperada.

– Meu Deus! A arma que matou Maldonado, mas... quem? Bem, pode chegar alguém a qualquer momento, não posso deixa-lá aqui a vista. Devo ligar para o Edmundo, mas pelo que li ao jornal ele estava viajando para Miami. - pensei. Logo tratei de pegar e leva-la até meu quarto. - Pronto, aqui! Bem, acho que ninguém futricaria debaixo de minha cama. Vou deixa-la aí até saber o que fazer com isso.

Me levantei e segui com meus afazeres. Eu não conseguia deixar de pensar nem por um segundo naquela arma que por acaso - ou não - havia ido parar na porta de minha casa. Segui e quando finalmente consegui terminar tudo o que eu tinha para fazer me joguei no sofá e sem perceber eu dormi.

Já era fim de tarde quando um som na porta incomodou meu sono. Batiam sem parar. Mas, quem será? Não me lembro de estar esperando por alguém. Sem mais pensar levantei-me e fui em direção a porta, a destranquei e quando puxei a maçaneta em minha direção haviam dois homens fardados ali.

– Sra Paulina Martins? - meu Deus como ele sabia que aquele era meu nome? E, como vieram parar aqui? Sem mais me questionar me apresentei.

– Sim, eu mesma. Algum problema? - eram dois policiais e só então me lembrei da arma que eu havia recebido mais cedo, a que matou Douglas Maldonado.

– Vim com um mandato e tenho permissão para revistar sua casa. - naquele momento minhas pernas viraram pó e meu coração batia tão rápido que eu podia ouvir o eco em minha cabeça.

– Claro. Fiquem a vontade. - respondi tentando parecer o mais calma possível.

Abri espaço e logo eles estavam dentro de minha casa.

– Aqui é a sala. Se quiser pode dar uma olhada em tudo. Cozinha, banheiro, todos os cômodos. Fiquei a vontade. - eu disse. Senhor, o que eu estou falando? Tem uma arma debaixo de minha cama que foi usada num assassinato. Cedo ou tarde vão achar então, não há nada que eu possa fazer. Os policiais reviraram tudo por ali. Levantavam as almofadas do sofá, abriam e fechavam gavetas a todo instante e todos os cômodos até que..

– Senhora...? - ele chamou-me meio receoso.

– Paulina. Paulina Martins. - completei.

– Ah claro, Paulina Martins. Encontramos essa caixa em baixo de sua cama. Tem algo que a senhora queira nos contar ou mostrar? - passei a mão por detrás de minha cabeça e quase rendida o permiti.

– Bem, vocês são policiais e por mais que eu tente manter isso escondido um dia descobririam. A verdade é que... - me aproximei dele e com sua licença tomei a caixa em minhas mãos, tomei coragem e abri, ali, em frente aos polícias. - Estava engasgada um pouco sem saber como explicar. - Eu... Eu recebi essa caixa hoje pela manhã sem remetente, por um momento estranhei mas eu fiquei nervosa e então a escondi... Mas, não fui eu.

– Senhorita Martins, contar essa história não irá aliviar a arma encontrada aqui em sua casa. A senhorita deve nos acompanhar até a delegacia para falar com o delegado e dar o seu depoimento. - Sem ter como me contestar ou me defender a minha única saída era ir e torcer para que entendessem o meu lado.

Um dos policiais retirou uma algema para colocar em minhas mãos apanhadas para trás como se de fato eu fosse uma assassina. - Não será necessário algemas senhor. - Eu digo a ele que me encara desconfiado. - Para onde acha que eu iria fugir? - Eu termino dizendo olhando fixamente em seus olhos.

– Tudo bem senhorita, então nos acompanhe. - O outro policial me direcionou a palavra. Pegou em meu ombro me levando até a porta para a saída e o outro policial com a caixa que continha a arma levava para a viatura. Quando finalmente estava ao corredor do apartamento dei de cara com Carlos Daniel que vinha me visitar. Ele olhou para tudo aquilo e eu não consegui me conter, uma lágrima escorre de meu rosto. "Carlos Daniel..." eu digo seu nome enquanto ele ainda assustado com a cena pergunta o que havia ocorrido, e o policial que me guiava para a porta colocou uma de suas mãos no ombro de Carlos Daniel o afastando de mim.

– Ok. Ok! - Carlos Daniel diz ao policial atando suas mãos se afastando de mim com uma passo para trás. - Mas, o que houve? - Ele volta a perguntar a um dos policiais, mas seus olhos fixaram-se em mim e eu estava muito nervosa, quando pedindo clemência para que eu e ele pudéssemos sair dali e ir para bem longe.

– No apartamento desta senhorita encontramos a arma do crime que assassinou o milionário senhor Douglas Maldonado. - Carlos Daniel fica perplexo e o policial me dá um leve empurrão para que eu continue em direção do elevador.

– Em que delegacia estarão? - Carlos Daniel questiona e o policial replica lhe dando a resposta e então abaixo a minha cabeça e entro no elevador com os dois policiais, mas assim que saio para a minha surpresa do outro lado da rua vejo Julio.

Entrei na viatura com meus pensamentos confusos sem saber o que fazer ou dizer, o que estou pensando eu não deveria dizer nada ou fazer ainda menos. Quando cheguei na delegacia dentre vinte e cinco minutos era o mesmo delegado que cuidava dos meus casos e do assassinato de Douglas Maldonado. Ele me olhou com um olhar de quem já pressentia que eu estivesse ali. Fiquei numa sala pequena e estava abafado o lugar, ou era apenas eu que estava me sentindo realmente muito mal. De qualquer forma estava me sentindo mal com tudo aquilo. - ALGUÉM ESTÁ AÍ? POR FAVOR EU PRECISO DE UM COPO D'ÁGUA. - Eu gritava dentro da sala como uma tola. Havia apenas um relógio ali dentro, passou cinco minutos e o delegado entrou.

– Você está ficando popular por aqui senhorita Martins. - O delegado me disse num tom de sarcasmo.

– Senhor, eu preciso de água. Por favor. - Eu disse a ele com a voz baixa ainda que tentasse falar, minha boca estava seca. O delegado Montesinos gritou para trazerem um copo d'água. Ele se sentou com uma pasta na mão dos arquivos de Maldonado.

– Pode me dizer o porquê a arma estava em seu apartamento?

– Eu a recebi hoje pela manhã sem remetente, achei estranho então eu a peguei procurei alguém nos corredores mas não havia ninguém então eu me sentei ao sofá para poder ver o que havia dentro... Foi quando eu a abri e então a arma estava lá, enrolada num pano. Meu primeiro pensamento foi ligar para meu advogado mas ele está viajando e voltaria amanhã pela tarde de Miami, e eu fiquei assustada e então... - antes que pudesse terminar o delegado Montesinos terminou "Você a escondeu embaixo da cama" - eu fiz um gesto que sim com a cabeça. Logo, o policial me trouxe a água e eu tomei num desespero. O delegado Montesinos apoiou-se sob a mesa e abriu a pasta com os arquivos e o virou a mim, era as fotos de Maldonado morto ao chão, meus olhos encheram-se de lágrimas e eu virei o rosto.

– Olhe! - O delegado grita.

– NÃO, EU NUNCA FARIA MAL A ELE OU A QUALQUER OUTRA PESSOA NESSE MUNDO. EU ADORAVA O DOUGLAS MALDONADO, EU NÃO SEI COMO A ARMA FOI PARAR NO MEU APARTAMENTO. E EU QUERO MEU ADVOGADO. - Eu grito a ele ainda mais alto e isso poderia piorar ainda mais a minha situação.

– Não acabou de dizer que seu advogado está viajando? - Ele me pergunta fechando os arquivos.

– Bom, eu tenho direito a um telefonema, não é mesmo?

– Sim. De fato. - Ele responde se levanta com o arquivo e saí da sala. E logo uma policial entra na sala e me leva até o telefone me sento e disco o número enquanto ela fica parada ali ao meu lado.

– Edmundo? - Eu pergunto nervosa.

– Sim, o que houve Paulina?

– Edmundo eu fui presa. Estou aqui na delegacia sendo acusada de homicídio.

– O que? Mas, com que provas?

– Eu fui trazida para cá pois encontraram no meu apartamento a arma que matou seu irmão, mas não fui eu. A história é longa. Você pode vir aqui me ajudar?

– Paulina me perdoe, por hoje eu não irei poder mas eu vou voltar para o México amanhã. Mas, vou ligar para um amigo meu que cuide desse caso até a minha volta.

– Tudo bem, obrigada. - Eu respondo e Edmundo desliga o telefone me deixando falar sozinha. - Quando me levantei, a policial me levou até a cadeia, fiquei presa ali com mais duas mulheres. - Você irá passar a noite aqui. - O delegado me disse. Eu fiquei desolada, mas calma Paulina é apenas uma noite.

No tardar da noite as duas mulheres que ali dividiam a cela comigo estavam dormindo como se não se dessem conta do lugar em que estavam, e eu pensava em Carlos Daniel no olhar dele para mim quando me viu sair com os policiais, que vergonha! Era só isso no que eu conseguia pensar. As mulheres naquela tarde não falavam nada, uma moça que aparentava ter 20 anos chorou demais e a outra segurava seu colar e olhava fixamente para o chão, deveria estar rezando enquanto eu fiquei quieta apenas sem reagir, cada minuto olhava para um lugar, trouxeram um pão com manteiga e leite para nós como jantar.

Pela manhã fui acordada por um policial que batia com sua chave na cela e todas acabaram acordando. - Paulina Martins? - Ele me chama. - Sim? - Eu respondo. - Seu advogado chegou! - Ele me diz, na hora me levanto e saio dando uma última olhada e ouço a moça me dizendo "Que sorte" abaixo a minha cabeça e assim que saio vejo... espera aí, mas não pode ser é o moço que conheci ao Brasil.

– Bom dia! Meu nome é Luciano Alcantara. - Isso era esse mesmo o nome. Ele me diz entendendo a mão.

– Bom dia. - Eu respondo. - Vai me tirar daqui?

– Sim, você poderá ir para a casa agora enquanto a polícia não tem provas o suficiente até concluírem que foi essa a arma mesmo e se possui digitais.

Em quinze minutos me vi dentro do carro de Luciano que me levaria ao apartamento como Edmundo havia pedido a ele, Luciano no carro me perguntou se de fato eu era a moça que ele conheceu no Brasil e eu respondi que sim era eu mesma.

– Você ainda irá se casar com Carlos Daniel, ele é dono da fábrica, certo? - Luciano me pergunta dando a curva passando em frente a mansão de Carlos Daniel.

– Não iremos mais nos casar. - Eu respondo e abaixo a minha cabeça. - Tecnicamente ao que parece somos imperfeitamente perfeitos e não podemos ficar juntos...

– Entendo. - Ele me respondeu. - Minha esposa também é uma mulher muito difícil. Não me deixa um minuto em paz querendo saber a todos instante onde eu estou e com quem, mas não para por muito tempo em casa.

– Ela é bem ciumenta. Qual o nome dela?

– Leda. Leda Duran. - Ele me responde, eu fico assustada por saber que ele é casado com ela, a mulher que vive dando em cima de Carlos Daniel, mas Luciano é tão bacana. Decidi ficar quieta. - Tudo bem? De repente você ficou calada. Conhece Leda?

– Não conheço. - Eu respondo e volto a ficar calada. Assim que chegamos ao meu apartamento o porteiro me desejou bom dia e eu o retribui com um sorriso e um aceno. Então eu me lembrei que ele poderia ter visto quem me levou a caixa com a arma. - Por acaso o senhor não sabe, ou pode me descrever como era a pessoa que me entregou uma caixa bem cedo ontem? - Eu pergunto a ele com Luciano ao meu lado.

– Vi sim senhorita. Era um rapaz alto, na casa dos 30 anos já. Um cabelo escuro e todo penteado para trás, usava um terno e tinha uma tatuagem em suas mãos.

– Como era a tatuagem, o senhor viu?

– Vi sim senhorita. Era uma âncora. - Ele me respondeu e na hora naquele exato momento me veio uma pessoa em mente, só poderia ser ele... Ai meu Deus! - Eu digo colocando minha mão em minha boca olhando para Luciano Alcantara.

– O que foi Paulina? Conhece esse homem que o senhor acaba de descrever? - Luciano me pergunta retirando sua mão do terno e apoiando-se em meu ombro.

– Sim! É o melhor amigo de Carlos Daniel, Julio. Meu Deus, o Julio por que ele faria isso? - Eu questiono.

– Vou ligar para Edmundo, não comente isso a ninguém. Suba e vá se deitar um pouco.

– Tudo bem, obrigada. - Eu respondo e chamo o elevador, fico parada ali repetindo que isso era um absurdo, repito para mim mesma, era por isso que ele estava ali fora de meu apartamento pela manhã ontem. Quando entrei em meu apartamento fui tomar um banho e assim que sai pedi para Célia ir me visitar e ficar comigo naquela noite, assim que desligo o telefone minha campainha toca, pensei que fosse Carlos Daniel. Abri com um sorriso ao meu rosto, mas logo a tal felicidade sumiu, era Julio...