... Pois agora iríamos seguir caminho andando, Carlos Daniel por mais que estivesse estressado comigo e preocupado com tudo o que havia acontecido andou do meu lado mas economizou demais em seu vocabulário para falar comigo. A noite caia sobre nós andando por entre as árvores sentindo aquela brisa da noite e ouvindo o som dos animais, sem comer, beber qualquer coisa ainda seguimos nosso caminho. Carlos Daniel pegou seu celular que estava em 53% de bateria e um pedaço de graveto ao chão para nos guiar.

— Fique do meu lado. Se ouvir ou sentir algo me avise. - Carlos Daniel me diz e eu passo minhas mãos em meu braço como forma de aliviar um pouco do frio. - O que foi? - Ele me pergunta se virando para mim.

— Não foi nada. É só essa brisa que está muito gelada. - Eu respondo e olho para ele, meus olhos estão inchados por conta de não dormir a dias, Carlos Daniel retira seu casaco e envolve em meus braços e eu o visto e continuamos andando até encontrar um lugar tranquilo para passarmos a noite.

— Sente-se aqui Lina, descanse um pouco. - Carlos Daniel me disse empurrando um tronco de árvore, ele recolhe muitos gravetos enquanto eu me sento e minha cabeça doía demais.

— Sabe fazer fogo? - Eu pergunto a ele enquanto estou sentada e ele se senta num amontoado de folhas arrumando os gravetos na sua frente.

— Quando eu era pequeno antes do meu pai morrer, eu vinha aqui com ele e meu tio e acampávamos e então eles me ensinaram.

— Mas, faz tanto tempo...

— Nunca me esqueço da convivência com meu pai. Ele me ensinou tudo o que eu precisava saber sobre acampar, e quando ele morreu eu ainda vinha com meu tio acampar. Me ensinaram a fazer um ninho de graveto, manter a madeira seca. Deveria ter palha de aço ou qualquer outra coisa, mas não tem então eles me diziam que eu deveria usar grama seca, me ensinaram que eu devo manter firma na base e começar a pressionar os gravetos para fazer o fogo... Eu quero um dia fazer isso com Paola e Gabo. - Carlos Daniel me responde e eu abaixo a minha cabeça.

— Eu não fui uma boa mãe. - Eu digo a ele ainda com minha cabeça baixa e minha barriga começava a roncar de fome.

— Você é a melhor mãe que eles poderiam ter. - Carlos Daniel me responde e olha para mim na ponta dos pés de frente para o pequeno fogo que ele havia feito.

— Não sou. Eu estava um pouco distante deles por conta das dores.

— Eu fui um pai preocupado com o trabalho. Eu só quero o melhor para eles, deixa-los na melhor posição possível e acabei deixando eles, quanto tempo eu não saio para pescar com o Gabo? Ou que não conto histórias para Paola? Mas, você... Lina meu amor, você ficou com eles todo esse tempo. Os levava para escola, lia história, brincava, dava broncas, ajuda no dever de casa e ainda cozinhava, trabalhava no escritório. Eu não soube separar meu tempo.

— Um dia eu entrei no quarto de Gabo e ele estava desenhando deitado ao chão, olhei para o seu desenho e ele desenhou você e ele... Perguntei a ele o que era aquilo e me sentei ao seu lado, ele se levantou e me mostrou o desenho onde você era o herói dele. - Eu respondo a Carlos Daniel e ele abaixa a sua cabeça chorando. - Paola te ama muito, um dia me disse que quando crescesse queria casar com alguém como você. Ela só tem 10 anos! - Novamente eu digo a ele que dá um sorriso e se senta ao meu lado e me dá um beijo. Fazia tanto tempo que eu não o beijava, amanhã seria a nossa celebração de 10 anos juntos e passaríamos longe de todos.

No dia seguinte...

Não dormimos aquela noite, eu fechava os olhos e logo Julio vinha em minha mente. Abracei Carlos Daniel que cochilava e a cada cinco minutos acordava e me abraçava ainda mais forte. Procurei um lugar onde pudesse fazer minhas necessidades, eu não tomei nada desde ontem e enquanto fazia minhas necessidades, notei que fazia 2 semanas que eu não menstruava. Será que estava grávida? Como poderia estar grávida, com dois filhos sequestrados e um aneurisma cerebral? Não comento nada com Carlos Daniel, me levanto e continuamos andando procurando algo ou alguém e só se ouvia o som dos pássaros.

Andamos a tarde inteira sem parar para comer, parando uma vez apenas para procurar água, num momento de muita sorte e com a bateria de meu celular acabando também o meu celular toca, havia sinal eu e Carlos Daniel paramos na hora e eu atendo o celular, era o meu pai.

— Oi pai. - Eu digo a ele e meu pai desesperado fala comigo.

— Estou mandando duas viaturas para aí agora, eles não devem demorar, já sabemos onde estão na floresta e deve haver uma casa aí perto ou no final. Nos espere.

— Eu e Carlos Daniel vamos acabar com isso pai. Não posso demorar mais. Sinto muito. Mas, obrigada. E cancele as viaturas.

— Por que cancelar?

— Se tiver viatura, Julio vai tentar... - O sinal caiu e eu perdi a ligação com a bateria que havia acabado. Olhei para o meu celular e segurei para as lágrimas não cair e continuei andando com Carlos Daniel. E, para a nossa surpresa havia uma casa bem longe num local isolado. Ficamos de longe para vermos quem era, e não tinha nenhum sinal de Julio quando chegamos mais perto da casa, ouvi o som de uma arma sendo carregada e quando olho para trás era Julio apontando a arma para a cabeça de Carlos Daniel.

— Ora, ora... Olha quem já adivinhou as pistas? - Julio nos diz em um tom irônico, Carlos Daniel solta o graveto que segurava e eu olho para trás e antes que eu pudesse dizer algo, Julio me manda ficar quieta e encara Carlos Daniel. - Comecem a andar, agora! - Julio nos diz e empurra Carlos Daniel com a arma apontada em sua cabeça ainda e nós dois seguimos até a casa. - Chamaram a polícia? - Julio nos pergunta. Droga! Meu pai mandou duas viaturas. Deus por favor nos ajude! Eu pensava.

— Não chamamos. Julio, por favor me escute eu te dou todo o dinheiro tudo o que você quiser. Mas, solte meus filhos. Por favor! - Eu peço a ele e Carlos Daniel fica quieto olhando para os cantos daquelas paredes da casa. Subimos até um quarto vazio que fedia muito e Julio nos deixou lá sem me responder nada. Logo, enquanto eu e Carlos Daniel ficamos ao chão nos levantamos tentando abrir a porta ou procurar uma saída. E ouvimos uma discussão do lado de fora, eram duas vozes e com certeza uma era de Julio. No momento de silêncio, eu me afasto da porta e volto para trás com Carlos Daniel, e Julio abre a porta trazendo Paola em seus braços desacordada.