Enquanto houver nós - 10 anos depois.

Na imensidão os dois ainda se amam para todo o sempre


Amelia...

Muitas coisas mudaram. É claro que deveriam mudar. Essa é a história dos meus avós Paulina Martins Bracho e Carlos Daniel Bracho, são os finais da vida deles que se encerram. Hoje faz 7 anos que eles faleceram.

Quando a professora Anna pediu um trabalho em que devêssemos contar uma história de amor, muitos de vocês inventaram uma, mas eu não... Me inspirei na história deles que foi o amor mais puro e sincero que já existiu. Só que claro que não irei contar como tudo aconteceu, isso somente ficará com a professora Anna, irei contar como foi há 7 anos atrás, os últimos momentos dos dois amados.

Tudo começou quando eu tinha 9 anos, eu passei o verão na casa dos meus avós, a mesma casa que eles residiram por 50 anos. Minha mãe Paola Martins Bracho viajava por toda a Europa desde que se tornou estilista e eu iria passar o verão com meus avós e logo voltaria para a minha casa. Junto de mim meus primos João Lucas, Elise, que são filhos do meu tio Gabriel, mas como é conhecido e chamado - Gabo. E os gêmeos David, Caíque e a pequena Lorena de 3 anos na época, filhos da minha tia Maite.

Seria 30 dias de brincadeiras, comidas gostosas, histórias. Ao chegarmos lá, minha avó Paulina havia arrumado os quartos para nós e pude ouvir do outro lado do corredor o meu avô alertando ela "Meu amor, peça para algum dos empregados arrumar o quarto. Não estamos em condições." ele disse a ela que sorriu a ele e mexeu em seus cabelos brancos. "Não me preocupo com isso amor meu" ela retrucou e logo atendeu David e Caíque que estavam brigando por quem ficaria na cama de cima da beliche. Haviam 3 quartos de hóspedes, eu dividiria com Elise que era um ano mais velha do que eu. João Lucas teria de suportar David e Caíque, e João Lucas tinha 13 anos e na época achava o rei de todos nós. E a pequena Elise ficaria com meus avós por seu pequena. O que sobrava um quarto ainda mas ninguém queria ficar sozinho.

Passamos muitas brincadeiras juntos e comíamos muito. Sem contar na deliciosa comida que minha avó preparava para nós e a noite meu avô contava histórias para nós enquanto ficávamos ao quintal observando estrelas. Lembro que no dia seguinte eu havia subido na árvore do quintal deles para observar o pôr do sol, meu avô se aproximou da árvore e pediu para que eu descesse, depois de brigar com o meu avô assim o fiz, desci e ele me pegou ao colo me rodopiando.

— Obrigada vovô! - Eu disse a ele e o abracei bem forte. - Posso te perguntar algo? - Eu pergunto a ele que me coloca ao chão e pega em minha mão me levando para sentar no balanço antigo que ele tinha.

— Pode. - Ele respondeu, nos sentamos ao balanço eu olhei para ele que estava observando minha avó regar as flores do jardim enquanto ficava com Lorena ao seu lado.

— Você já amou alguma outra mulher além da vovó? - Eu perguntei a ele, e que pergunta era aquela que saltou da minha boca de 9 anos? Não sei... Ele deu um sorriso e encostou ao balando, arrumando suas roupas.

— Jamais irei amar alguém como amei sua avó. Ela é a mulher mais importante do... - Meu avô respondeu, e antes que pudesse terminar sua frase linda, meu avô caiu ao chão, entrei em desespero gritando por ele, virei seu corpo e meu avô balançava ao chão. Não sabia o que estava acontecendo, logo meus primos se aproximaram e minha avó que já não conseguia andar ou correr, deu seus passos largos como pôde e chegou até ele se debruçando sobre seu corpo.

— João Lucas, chame a emergência! - Ela ordenou ao meu primo e pediu para que nos afastássemos. - Carlos Daniel meu amor. Fique comigo! - Ela repetia ao seu colo suja de barro, peguei Lorena ao colo e a retirei de lá junto com as minhas outras primas. A ambulância não demorou a chegar, e logo eles foram para o hospital, ficamos com Matilde que era a empregada na época.

Se vocês me perguntarem agora o que houve depois naquela ambulância, não sei responder porque minha avó passou a noite com ele, e então minha mãe Paola voltou para o México logo em seguida, minha tia Maite largou os restaurantes na mão da sua gerente e ficou conosco na mansão dos meus avós. E meu tio Gabo que trabalhava na fábrica de Cêramicas depois de assumir o cargo do meu avô ficava ao hospital com minha avó.

Foi uma tremenda confusão, minha tia Maju chegou com sua filha Piedade, que era o nome que ela havia dado em homenagem a avó da minha avó Paulina... É confuso, mas sei que entenderam! Os 30 dias de diversão para mim e meus primos haviam acabado.

Minha mãe nos colocou para dormir as noites que ficamos sem os nossos avós bem cedo, mas foi naquela noite de sexta-feira muito calorenta que eu me levantei porque queria ficar com a minha mãe, Paola, desci as escadas e ouvi umas conversas vindo da cozinha, na ponta dos pés fui até lá e fiquei atrás da porta para ouvir a conversa.

— Paulina me disse que Carlos Daniel teve um ataque cardíaco, fizeram mais exames nele hoje, e o pai de vocês foi diagnosticado com Melanoma. - Minha tia Maju disse a todos eles.

— O que é isso? - Minha tia Maite pergunta em troca.

— Um tipo de câncer, e ele está no estágio IV, tendo metástase no fígado e cérebro. Eu sinto muito mesmo. - Novamente ela responde, eu não sei o que é Melanoma, ouço meu tio Gabo com sua voz rouca e baixinha ainda posso ouvi-lo.

— Ele tem quanto de chance? - Ele pergunta e um silêncio toma conta na cozinha.

— 5% - Minha tia Maju responde, eu começo a chorar sem entender o que estava acontecendo, mas sabia que câncer matava saí de lá correndo e fui para o quintal batendo a porta, me sentei no balanço e coloquei meu rosto nos joelhos chorando, e logo minha mãe Paola se senta ao meu lado me pegando ao seu colo, ela me abraçou muito forte e quando tomei coragem para olhar em seus olhos, vi que ela estava com lágrimas e as segurava.

— Eu fiz isso com o vovô? - Perguntei a ela que me envolveu em seu peito mexendo em meus cabelos.

— Claro que não meu amor. - Ela respondeu, contei a ela a última pergunta que fiz a ele e então finalmente minha mãe chorou, passei minha mão em seu rosto limpando suas lágrimas.

Faltando 20 dias para as aulas voltar, meu avô se submeteu a inúmeras cirurgias, meus tios revesavam o tempo que passavam na mansão, até que um dia simplesmente minha avó voltou para casa, desolada. Ela entrou nos cumprimentou e subiu para o seu quarto, não saiu de lá por 2 dias.

Eu e meus primos tomamos coragem para entrar em seu quarto, nos sentamos ao chão do lado da cama.

— Está vazio. Eu ainda não sei dormir sem o avô de vocês ao meu lado. - Ela disse olhando fixamente para o lado dele na cama passando a mão no travesseiro, minha prima Elise subiu na cama e a abraçou e pela primeira vez na vida vi minha avó Paulina chorar. Todos os meus tios e minha mãe entrou ao quarto com suas roupas preta de luto, prontos para o funeral. Quando vi meu avô lá deitado calmamente, pedi perdão pois eu achava ainda que aquela pergunta mexeu com ele. E hoje eu sei que não foi assim.

Depois do funeral, nossos pais nos levaram para casa e então, um dia depois minha mãe recebeu uma ligação. Ela me deixou com o meu pai Pietro e saiu as pressas de madrugada. Uns dias se passaram e minha avó Paulina havia falecido, ela teve um ataque cardíaco e não havia ninguém para chamar a ambulância, mas isso não importava. Pois remexendo em suas coisas, eu achei o diário que ela escrevia quando conheceu meu avô, encontrei inúmeras cartas que meu avô escreveu a ela quando conheceu minha avó Paulina em 1998. E então, novamente escutando atrás da porta ouvi meu tio Gabo lendo uma outra carta que seria o que minha avó escreveu.

"Amei Carlos Daniel desde a primeira vez que ele entrou na cafeteria que eu trabalhava, passei meses o amando secretamente e passei 52 anos o amando verdadeiramente ao seu lado. Por tudo o que passamos sei que foi necessário por Deus quis assim, e sempre serei grata pelo homem que Ele colocou em minha vida.

Perder Carlos Daniel foi a coisa mais difícil que me aconteceu, sinto como se houvessem pegado meu coração e o jogado para cima para ver onde ele iria cair, só que o meu coração sempre pertenceu a ele. Dei meu coração a Carlos Daniel, ele se tornou propriedade do meu lindo e saudável coração.

Agora que perdi o meu único amor sei que meu fim estará próximo, pois não posso viver num mundo onde não haja Carlos Daniel Bracho. Não posso viver e nem quero. Amo os meus filhos que leram em breve esta minha carta, Gabo, Paola e Maite. Os amo verdadeiramente, se querem um conselho o meu último conselho, então aqui vai. Ame! Ame muito! Ame intensamente, ame mais do que você pode querer amar alguém. Ame alguém como vocês amam seus filhos, ame alguém como seu avô me amou e eu o amei. Só faça isso. A minha irmã Maju lhe desejo o mesmo, amor...

E aos meus netos quero que passem essa lição para eles, pois de nada nessa vida servirá se não houver amor. Dizem que finais felizes para sempre não existe, quando perdi Carlos Daniel tive certeza absoluta disso pois viver com ele cada dia da minha vida, cada hora segundo e minuto foi como viver um conto de fadas. Se finais felizes para sempre não existe, tenho certeza então que Deus me preparará para viver na eternidade com Carlos Daniel, pois como sempre dizíamos Uma vida seria pouca para amar você. E foi muito pouco. Porque amar Carlos Daniel é tão fácil, e sei que isso ainda não acabou.

Então, aqui deixo o meu legado: Apenas ame! Assim como eu amo vocês! Com amor: Paulina Martins Bracho."

Dizem que minha avó morreu um dia depois dessa carta que ela entregaria a um de nós, ela sofreu uma parada cardíaca, e desde então observando as estrelas como eu fazia com meu avô eu vejo duas estrelas grandes e brilhantes, e tenho certeza que são os dois, lá na eternidade. Os dois estão se amando para todo o sempre.

Pois viveram juntos para sempre, foram cremados e há uma montanha que dá encontro a praia onde um dia minha avó disse que gritava a ele "Rumo ao amor, não importa qual caminho trilhe" o vento os levou, aquela montanha era um dos lugares favoritos que eles visitavam com minha mãe e seus irmãos, pois tinha a vista de todo o México.

Então, esse é o meu trabalho, minha história romântica favorita. Hoje a noite irei para casa e sei que as estrelas grandes e brilhantes me seguirão, como segue meus primos, meus tios. A todos! É só uma pequena prova do imenso amor deles, que hoje ainda se amam lá no infinito. Obrigada a todos pela atenção!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.