Enquanto a Neve Cai
A Enfermeira Protege o Vilão
Cap. 2
A Enfermeira Protege o Vilão
Tendo convencido o detetive Hiroshi e seus assistentes a participar da busca pelo artista ladrão Munir, Jessie os guiou pelas ruas na direção do metrô, onde poderiam ir até a casa de uma conhecida sua para tentar descobrir a localização do, provavelmente, doente homem. Contudo, no caminho eles se depararam com uma agitação em uma praça local, na qual a multidão cercava um grupo de policiais ao redor de suas viaturas.
Reconhecendo um deles, o lobo chamou pelo nome de “Kuniharu Ogino”, e fez o mesmo se virar. Próximo a ele, jazia o corpo de alguém que o ruivo também conhecia.
— Haruka?! – o Inaba mais velho se ajoelhou perto do irmão caçula e segurou suas mãos – Ele está frio!... O que aconteceu?
— Tenha calma Hiroshi, ele está bem. – Kuniharu garantiu, colocando a mão em seu ombro – Embora não tenhamos certeza ainda do que aconteceu.
— Nós dissemos: Haruka-san foi golpeado por um quadro gigante! – disse a ajudante do lobo branco, Natsuki, ao erguer uma tela limpa com a ajuda do amigo de infância, e igualmente assistente de Haruka, Yataro – O bandido acertou para matar!
— E que droga de tentativa de assassinato foi essa?! – Kei indignou-se, apontando para o buraco no quadro do tamanho da cabeça da vítima.
— Se ele está bem, por que não está acordando? – Yuta questionou.
— Bom, o golpe foi forte, então é normal que ele tenha ficado inconsciente. Mas eu já chamei uma ambulância. – relatou Ogino, e foi quando um furgão pintado de branco estacionou na rua, afugentando os curiosos antes de duas figuras vestidas com jalecos e máscaras pegarem uma maca da traseira.
— Com licença, viemos levar o paciente! – informou com voz abafada a que parecia ser uma mulher, pegando o Inaba mais novo com a ajuda do parceiro para leva-lo ao carro.
— Eu sou irmão dele, quero ir junto! – Hiroshi seguiu a dupla até o veículo.
Foi aí que, esticando o pescoço, seu assistente Nozaki reconheceu uma cauda peluda sacudindo atrás da metade fechada das portas duplas da ambulância. Antes que dissesse algo, porém, Jessie se adiantou e levantou a mão direita em atenção, mantendo um sorriso.
— Com licença, senhores enfermeiros! – os dois paralisaram antes de colocar a maca com o paciente na ambulância, olhando desconfiados para ela – Eu conheço uma pessoa que pode atende-lo rapidamente no hospital para onde, certamente, estão o levando, então gostaria de acompanhar o Inaba-san também.
— Heim?! Ryan-san, isto não é uma boa ideia não!
— Tudo bem Kei-kun, assim será mais rápido. Eu dou a minha palavra que Haruka-san será atendido com todo o carinho necessário. E você e Yuta-kun podem acompanhar o chefe Ogino em sua viatura até o hospital, bem como os outros dois. Tome o endereço.
Sem esperar resposta, a jovem retirou um papel dobrado do bolso do vestido, dando a ele, e subiu na traseira do carro sem cerimônia, ofertando a mão ao detetive para fazer o mesmo. Ambos se acomodaram à direita de Haruka, enquanto a suposta enfermeira foi para a esquerda e seu parceiro tomou a direção, partindo dali. Mesmo ainda confuso com a identidade da moça, Kuniharu obedeceu seu comando e pediu aos colegas policiais que dispersassem a multidão, logo entrando numa viatura com o restante do grupo.
Dentro da ambulância, Jessie fitou de relance o evidente animal que a encarava com curiosidade, usando máscara e sentado ao seu lado, mas não disse coisa alguma.
— Você conhece mesmo alguém que pode cuidar dele direito? – o bicho perguntou de repente, e sorrindo ela acenou em confirmação.
— Sim. É uma amiga de muito tempo. Mesmo assim, não pretendo tentar ensina-los a fazer seu trabalho, então não irei atrapalhar se decidirem escolher outra pessoa. – depois de segundos em silêncio, o diagnosticado bode autorizou a parceira a mandar o motorista mudar a rota pela qual já seguia, e então voltou a observar a ruiva.
— Quem é você? – também recebendo a atenção de Hiroshi, dividido entre cuidar do irmão e o interesse pela quase estranha, a dama riu.
— Meu nome é Jessie Ryan. Cheguei de viagem há pouco tempo do Reino Unido.
— Também é parente do lo... Digo, do irmão do paciente?
— Não. Inaba-san está me ajudando a realizar uma missão secreta. – ela falou baixo, inclinada para ele, como se compartilhasse uma fofoca engraçada.
— Desculpe pela interrupção. – o lobo vermelho pediu de orelhas baixas.
— Tudo bem. – Jessie respondeu ao virar na sua direção – Não me incomodo de ir pelo caminho longo da trilha. É onde se escondem as maiores surpresas.
O sorriso da estrangeira encantou todos os presentes, que não falaram mais até a ambulância estacionar em frente ao hospital. Recebendo a ajuda de outros enfermeiros no local, o grupo conseguiu encaminhar o paciente para um quarto enquanto Ryan se dirigia à recepção. Parado não muito longe, o quarteto que a acompanhou visualizou com mais atenção o quão bem recebida ela foi pelas pessoas que a reconheceram.
Logo, a ruiva pediu aos enfermeiros socorristas de Haruka para esperarem no quarto dele, enquanto aguardaria os amigos dele e de Hiroshi ao seu lado. Não demorou muito e os mesmos chegaram, interrompendo a conversa entre Chapeuzinho e o lobo começada por iniciativa dela, para distrai-lo de sua preocupação. Tendo a permissão de levar todos para o aposento do Inaba caçula, Jessie guiou o grupo para o local calmamente.
— Oh, Haruka! – o lobo vermelho ficou junto ao leito após entrar, segurando a mão do irmão – Por que você está sempre me deixando preocupado?
— Enfermeiros, como ele está? – o trio de máscaras olhou para Ogino com aflição.
— Bom, é... Ele... – o bode começou – Espere, policiais não podem ficar aqui! Agora o paciente não vai responder qualquer pergunta!
— Está bem, eu vou embora. – antes que tivesse chance de dar dois passos, Kei pegou o paletó do homem para puxa-lo de volta e fitou a equipe perversamente.
— Espere aí, Ogi-san! Esses três não são enfermeiros!
— Do que está falando? Somos especialistas! – afirmou a mulher de óculos escuros.
— Então respondam: o que deve se dar para uma pessoa que teve entorse aguda?
— Ah, é... Uma balinha, talvez? – o animal questionou à parceira, tão confusa quanto.
— Podem ser prescritos analgésicos e anti-inflamatórios, que devem ser utilizados conforme orientação médica. – disse o colega ao lado, com um estranho saco na cabeça.
— Como se reanima alguém que foi eletrocutado? – Nozaki estreitou os olhos.
— Colocando sobre o tórax as duas mãos sobrepostas e realizando 30 compressões seguidas de suas insuflações. – seu peculiar rival se aproximou determinado.
— Mulheres acima de 30 anos correm mais riscos durante os partos normais? – diante a pergunta, subitamente o aparente enfermeiro silenciou, cruzando os braços e virando o rosto mesmo a contragosto, devido o incômodo pelo sorriso vitorioso do adversário.
— Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
— Por que não, senhor enfermeiro? Você deve saber a resposta, se é um enfermeiro mesmo! Vamos, diga, diga, diga! – Kei passou a cerca-lo.
— NÃO, ME DEIXE EM PAZ! ISTO É NOJENTO! – nesse instante, pondo um pé no meio para fazê-lo tropeçar sobre os colegas, o adolescente se aproveitou para tirar as máscaras dos três indivíduos fantasiados, revelando o mafioso bode Don Valentino, o seu ajudante Lorenzo e a assassina de sua família, Gabriella.
— Viram? Eu avisei! Ogi-san, prenda logo esses farsantes idiotas!
— Don Valentino?! Muito bem assistente, bom trabalho! – o inspetor elogiou ao tirar um par de algemas do bolso, pondo uma mão sobre o ombro do rapaz.
— Não sei é como você e o Inaba-san não percebem esses disfarces fajutos!
— Ei, que confusão é esta aqui? – depressa, os olhares então se voltaram à entrada.
Parada na porta, uma voluptuosa e real enfermeira segurava uma bandeja com itens farmacêuticos perto do curto uniforme rosa decotado, expondo o seu sutiã preto e as ligas das meias 7/8 brancas, tal qual os sapatos. Seus olhos âmbar se estreitaram em repreensão e ela adentrou o local, balançando os compridos e ondulados cabelos alaranjados, presos em altas marias-chiquinhas com fitas vermelhas. Após deixar a bandeja numa mesa perto da parede, a jovem centralizou o chapéu rosado e virou ao grupo com as mãos na cintura.
— Isto é um hospital! Não podem fazer bagunça, ainda mais no quarto dum paciente!
— Desculpe Bridgit. Todos estão um pouco nervosos, mas isso não se repetirá.
— Acho bom Jessie, ou a sua autorização para entrar aqui com tantos visitantes será revogada. – relatou a outra ruiva, soprando as mechas mais curtas do cabelo para longe dos olhos ao manusear uma seringa e limpando respingos do líquido da pele xantoderma.
— O que é isso? – Hiroshi indagou ao vê-la afastar a cortina branca perto do leito.
— Não se preocupe. – ela sorriu, injetando a agulha no braço do lobo branco – É só um pouco de soro, por precaução. Ele parece desidratado.
— Pessoal, esta é a minha prima, Bridgit. – anunciou Jessie, ficando ao seu lado – A família dela costuma acolher a minha quando viajamos de férias para o Japão, e o mesmo ocorre durante as idas deles até o Reino Unido. Ela é enfermeira de saúde familiar, e uma excepcional por sinal; não digo só por ser minha prima! – as duas sorriram uma a outra.
— Uau, que conveniente! Temos uma família em crise aqui mesmo. – Kei anunciou de modo apático, direcionando a mão aos irmãos Inaba – Sem contar os agregados.
— Você também faz parte dos agregados! – Gabriella lembrou ao se levantar.
— Bom, eu coordeno um grupo de enfermeiros para tratar de planejamento familiar, então podemos falar disto depois. – Bridgit afirmou antes de pegar a prancheta pendurada na grade do pé da cama, lendo os dizeres nos papéis presos a ela – Então vejamos... Esta pequena criança se chama Haruka, heim?! Respiração fraca... Parece bastante debilitado.
— Oh, que pena. – Yuta riu maldosamente – Talvez ele não sobreviva. Devíamos ter certeza disto. – antes que dissesse algo mais, Nozaki tapou sua boca e a segurou.
— Então... – a enfermeira tossiu, ignorando-os – O que aconteceu exatamente?
— Ele foi atingido por um quadro, bem na cabeça. – Natsuki explicou mais uma vez – O culpado tinha cabelos negros e um dragão tatuado no pescoço, e levou o Soumei-san!
— Já foi tarde. – o lobo vermelho falou com as bochechas infladas, e nesse momento Haruka acordou desnorteado, chamando a atenção de todos.
— Onde eu estou? – ele coçou os olhos, passando a vista por todos no quarto.
— Está no hospital, Haruka-san. Soumei-san foi levado pelo bandido. – Yata disse.
— Bom, ele faz parte da família, então, eu normalmente não iria propor isto, mas... Talvez possamos fazer uma aliança temporária: a polícia e a família Valentino.
— Don, tem certeza? Eles são nossos inimigos! – relembrou Lorenzo.
— É o jeito mais rápido de acharmos quem queremos. O que acha, senhor policial?
— O bode fala? – a surpresa prima da britânica sussurrou para a mesma, que riu e fez um gesto afirmativo com a cabeça – E você não devia tomar parte na conversa?
— Sim. Com licença, pessoal! – ela levantou a mão – Antes desta confusão, eu estava encaminhando Inaba-san, Kei-kun e Yuta-kun até a casa de uma grande amiga, que pode nos ajudar a localizar a pessoa que pretendem capturar. Eu também estou atrás dele.
— E quem é você? – o inspetor levantou uma sobrancelha.
— Sua melhor amiga, pode confiar. – a enfermeira disse rindo, levantando o cabelo do paciente, o que o deixou rubro e hipnotizado – Ganhou um belo galo, e está febril.
— Eu acho que é porque ele tem um corpo fraco, desde criança. – Hiroshi relatou.
— Entendi. Bem, se todos quiserem sair em missão, podem deixa-lo comigo.
— Acho que não é uma boa ideia. Ele é um terrorista. – o policial alertou, fazendo o clima ficar tenso novamente, mas apenas até Bridgit sorrir.
— O que me importa no momento é que ele é um paciente, então eu vou pedir para um dos médicos examina-lo melhor e tomarei as devidas providências para sua saúde se estabilizar. O que acha? – ela se curvou na direção do cativado lobo branco – Vou dar um cuidado todo especial para você se sentir melhor. – depois de alguns segundos de reflexão, o Inaba mais novo levantou o braço esquerdo e movimentou a mão.
— Podem ir embora, eu vou ficar. Boa sorte com a operação de resgate.
— Está nos enxotando sem pestanejar? – Gabriella aborreceu-se, batendo o pé direito.
— É melhor que seja assim. Bridgit cuidará bem dele. – Jessie garantiu – Mas, se o senhor inspetor preferir, pode pedir que alguém de sua confiança fique vigiando o quarto.
— É justo. – ele concordou, pegando seu celular no bolso – Não gosto muito da ideia, mas vou ligar para o Ogata. Ele pode montar guarda.
— Está falando daquele policial cruel amante de cães? Nem pensar! – Don negou – Não se pode deixar um amante de cães tomando conta de um coelho!
— Eu tenho a ligeira sensação de que eles vão se dar bem. – Kei alfinetou.
— Não mesmo! E também não vamos levar o lobo na operação de resgate!
— Eu já estava neste caso antes de você, bode! Não pode me impedir de ir!
— Certo, certo! – a ruiva estrangeira bateu as mãos – Vamos nos acalmar, ou todos seremos expulsos do hospital. – ela avisou, apontando para a prima zangada logo atrás, e riu quando o grupo silenciou – Que tal um pacto, para ficarem mais confortáveis?
— Que tipo de “pacto”? – Yuta questionou antes da moça pegar uma faca da bandeja deixada sobre a mesa ao seu lado, cortando o próprio polegar.
— Um pacto de sangue. – a jovem anunciou, entregando o objeto à Hiroshi e fitando os membros chocados do público – Formaremos uma aliança, e se alguém trair o grupo, atacando os aliados ou indo contra a decisão majoritária em uma votação, essa pessoa vai ser amaldiçoada, assumindo a forma do ser que mais detesta.
— Não tem como isto ser verdade! – Kei bradou indignado, porém, a menor hipótese do caso ocorrer fez todos, de imediato, concordarem com o pacto, unindo dedos e casco levemente cortados para selarem o acordo; a enfermeira não tardou a sorrir.
— Maravilha. Só peço que na próxima visita, não façam tanto barulho, mesmo que eu até goste de desafios clínicos. A propósito, a resposta para aquela última pergunta é: depende. Uma alma saudável compõe-se de um corpo saudável e uma mente saudável. – ela afagou a cabeça do paciente – Tendo-se isto, a idade não passa de números.
Continua...
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