Varsóvia, 13 de fevereiro de 1941.

A minha rotina era a mesma. Eu ficava no porão o dia inteiro, lia e relia as revistas, livros e jornais que Stephan me trazia, comia a comida que Marg e Conrad me traziam. Ficava espiando por aquele buraquinho na parede o movimento na avenida. Era só. Fiquei sabendo que a SS começou a comandar os campos de concentração. Eles eram uma tropa de proteção, que cometiam os mais terríveis crimes contra a humanidade que vocês podem imaginar. Dei graças que não estava mais nos campos quando isso aconteceu. Fiquei triste pelo tanto de Judeus que morreram naquela época. E os tantos que foram torturados pela Gestapo... Não só Judeus como pessoas negras e opositoras ao regime também.

No inverno de 1941, porém, o Eixo teve uma surpresa.

Os alemães conquistaram territórios do Norte da França, a Iugoslávia, Polônia, Noruega, Ucrânia e até territórios da África. Quando eles tentaram invadir a Rússia, eles se deram mal.

Todos sabem que o inverno Russo é muito rigoroso. E mesmo assim, os alemães atacaram. Só que os Russos foram mais espertos. Eles recuaram para o norte, levando toda a comida, todo medicamento que podiam, pra deixar os alemães sem recursos. Os alemães morriam no meio do caminho por causa do frio. Essa foi a primeira derrota do Exército Nazista. Numa seqüência de tantas outras.

– Os Nazistas foram derrotados! Disse Conrad entrando em casa e jogando seu chapéu na mesa.

– O quê? Marg Saiu da cozinha em direção a sala.

– Isso mesmo! Eles tentaram invadir a Rússia. Stalin foi mais esperto! Hitler foi derrotado! A Guerra está acabando finalmente!

– Deus seja louvado!

Eles falavam tão alto que do porão eu escutei. Foi uma alegria mistura com preocupação. Mas pessoas iriam morrer. Milhares delas. Mais tragédia.

– Aniela! Disse Conrad abrindo a porta do porão. Os nazistas perderam querida!

– Eu escutei Conrad! Estou muito feliz! Finalmente a guerra encaminha-se para o fim.

– Você poderá viver em paz! Livre.

Essa palavra me agradava. Livre. Fazia anos que eu não sabia o que era liberdade. Naquele dia Stephan não veio. Fiquei preocupada. Será que tinha acontecido alguma coisa a ele? Será que os oficiais da Gestapo haviam pegado ele? Estou esperando ele aparecer até hoje.

Eu lutava pra não pensar que ele tinha morrido. Eu tentava... Mais era inevitável. Ele me disse que iríamos viver juntos depois que tudo isso acabasse. Num dia, Marg chegou com uma carta dele para mim.

– Querida? Stephan me mandou entregar isso a você.

– Onde ele está?

– Ele está bem querida. Em Berlim. Em uma reunião com o Fuhrer. Mandou-me entregar esse livro pra que você entenda um pouco mais sobre as idéias de Hitler.

O livro era Mein Kampf. Minha luta. Luta? Ele apenas lutou para aniquilar meu povo como se fossem germes. Desgraçado. Pensava. Hitler destruiu não só os meus como os sonhos de tanta gente... Eu era tão feliz... Ele acabou com tudo. Eu era uma menina alegre, sorridente, romântica. Hoje eu sou uma velha amargurada e coração de pedra. Isso realmente é triste. E pensar que isso aconteceu com tantas pessoas...

Nunca desejei o mal de ninguém mais o dele... Queria que ele queimasse eternamente no fogo do inferno. Queria que sofresse muito em suas últimas horas. Mais nenhum sofrimento que ele enfrentasse seria pior que o sofrimento daquelas pessoas nas câmaras de gás, sendo humilhadas e torturadas por serem diferentes. Melhor ser diferente do que ser um psicopata desgraçado como ele. Eu cresci revoltada. Revoltada com tudo isso que o querido e amado Fuhrer fez. Espero que ele esteja no inferno agora. Deus não iria aceitar alguém como ele no céu. Jamais.

Li a carta que Stephan me escreveu umas duzentas vezes.

Berlim, 15 de Abril de 1941

Querida Aniela,

Queria que soubesse que você é a pessoa mais importante pra mim. Você apareceu-me como um anjo e tomou conta do meu viver. Não sei se agüento passar mais um dia longe do seu sorriso e de sua pele macia. Eu te amo muito mesmo. Queria gritar isso para o mundo. Eu te amo, eu te amo, eu te amo! Não quero te assustar, mais não sei se saio vivo da conversa com o Fuhrer. Ele está louco da vida porque perdemos a última batalha. Disse para não recuarmos em nenhum momento. Ele é louco. Se não recuarmos, iremos todos morrer! Maldita hora que eu entrei para esse exército. Queria estar com você. Minha princesa. Se não nos vermos mais, saiba que eu torço muito por você. Por sua felicidade, mesmo que ela não seja a meu lado. Sentirei sua falta a cada batida do meu coração.

Com amor,

Stephan.

Aquelas palavras me comoveram e me deixaram triste. Pensar em perder Stephan... Eu preferia morrer. Morrer a ter que perdê-lo. Depois desse dia, ele nunca mais me mandou cartas.

Fim do Flashback

– Estou chorando. Não liguem. Depois de velha a gente fica chorando por qualquer coisa... Sabe, eu realmente pensei que ele estivesse morto. Pensava isso até o momento em que você bateu naquela porta, falando que ele me procurava. Agora, eu tenho esperanças.

– Essa é a historia de amor mais linda que eu já vi. Disse Rose, chorando.

– Bem, meu avô ainda te ama Aniela.

– Eu também o amo muito ainda. Bem, acalmem-se que a historia está acabando. Rose, faça um café para nós? Traga bolachas também.

– Claro vovó.

– Continuando...

Varsóvia, 13 de Setembro de 1945.

Os anos se passaram e eu ficava cada vez mais triste e sem esperanças de encontrar Stephan. O exercito alemão ia perdendo as batalhas e as forças e sim, a Guerra estava acabando. Finalmente. Os poloneses lutaram do primeiro até o último dia. Nosso povo não se deixou abater. A Polônia foi o país mais devastado pela Guerra. Nesse ano, os Soviéticos invadiram a Polônia e expulsaram os Nazistas.

Na capital foi alegria total. No que sobrava de Varsóvia. Pela primeira vez, em 4 anos, eu sai pra rua, sem medo de Nazistas me pegarem e me matarem. Os soviéticos andavam pelas ruas, mostrando imponência. Minha vontade era de abraçá-los e dizer: Muito Obrigada! Mais me contive. Varsóvia estava devastada. Os prédios todos caindo aos pedaços, pilhas e mais pilhas de pessoas mortas no meio da rua. Caminhões levavam oficiais alemães para a prisão. Vi Peter num deles. Ele me olhou com olhos de piedade como se fosse me pedir desculpas. Ele era um homem bom. Não vi Stephan em nenhum deles. Aquela altura, já tinha perdido as esperanças de encontrá-lo com vida.

Voltei pra casa dos Masen e eles me fizeram um convite.

– Aniela querida. Começou Marg. Eu e Conrad vamos voltar para a Inglaterra. Gostaríamos que viesse conosco.

– Vocês tem certeza?

– Claro Aniela. Eu e Marg ficaríamos honrados de tê-la morando conosco em Liverpoo. Então você vem?

– Bom. Acho que eu vou aceitar. Não tenho outros recursos e acho que a Polônia vai demorar bastante pra se restabelecer. Obrigada. Vocês são excelentes pessoas. Tenho sorte de ter vocês.

– Nós que temos sorte de encontrarmos uma menina tão doce como você. Você será da família agora, não podemos ter filhos. Vamos te considerar nossa filha.

– Obrigada Marg!

Poucos dias depois, soubemos que invadiram o esconderijo do Fuhrer. Ninguém sabe onde ele está. Nenhum amigo dele. Nem sua esposa, Eva Braun.Desapareceram misteriosamente. Dizem que todos se mataram. Hitler preferia se matar a se entregar.

Na Itália, Benito Mussolini foi morto em praça pública.

Acabou. A Guerra tinha acabado. Finalmente. E eu fui reconstruir minha vida, com os Masen. Na Inglaterra.