"Eu estou aqui, alguém pode me ver?

Alguém pode me ajudar?

Eu estou aqui, uma prisioneira da história

Alguém pode me ajudar?

Você pode ouvir meu chamado?

Você vem me buscar agora?

Eu estive esperando

Você vir me resgatar

Eu preciso que você segure

Toda a tristeza

Com a qual eu não consigo viver"

(I'm In Here, Sia)

Ela não planejava se envolver dessa maneira com ele.

Ele era mais jovem do que ela, era um membro da Guarda Real, era uma das poucas pessoas que podia confiar na capital.

A amizade entre eles se tornou cada vez mais próxima e profunda.

Quanto ao pai de seus filhos, ela apenas aturava a presença de Rhaegar.

Ele estava passando dificuldades em se aproximar das crianças. Aegon apenas não o reconhecia e o rejeitava. Normal, afinal ele era extremamente pequeno quando Rhaegar fugiu para o seu ninho de amor idílico. Um bebê ama quem cuida dele, quem está por perto, um pai que desaparece quando ele mais precisa simplesmente será um estranho. O agora rei de Westeros estava aprendendo a lição do jeito mais difícil.

E falando em lições difíceis, ele também era obrigado a aprender a perder a admiração de Rhaenys. A sua garotinha podia ser pequena, mas não era tola. Ela ouviu os comentários sobre Rhaegar fugir com outra mulher deixando a família nas mãos do avô que a odiava e a ofendia. Rhaenys se lembrava das ofensas e xingamentos de Aerys, do medo que sentia daquele homem estranho e se lembrava de ser jogada pelo próprio avô no fogo.

Seu papai não estava lá, só sua mãe estava, só mamãe gritou por ela, só mamãe lutou por ela, ela gritou por seu pai e ele nunca veio, só quando tudo tinha acabado.

Ela não pedia mais o colo dele, ou o ouvia tocando harpa, ou implorava por histórias de ninar. Ela tinha apenas três anos mas os traumas estavam bem gravados em sua mente infantil.

Elia às vezes ouvia a filha chorando baixinho quando pensava que ninguém estava vendo, ou durante o sono. Isso partia seu coração, sentia que tinha falhado, que não protegeu Rhaenys o suficiente.

E nesses momentos só com Jaime ela era capaz de desabafar, pois só Jaime estava ali para entender o terror que era estar nas mãos de um louco homicida piromaníaco e imprevisível que poderia matá-los a qualquer segundo, dependendo da paranóia em sua cabeça.

Rhaenys e Aegon também se apegaram a Jaime e exigiam constantemente a sua presença.

É como se os quatro formassem uma bolha em que ninguém mais podia entrar. Rhaella percebeu isso mas disse apenas palavras que Elia só entendeu mais tarde.

—Meu filho merece. Vocês têm a minha bênção.

Rhaella via de longe o que estava criando raízes e crescendo lentamente. E não se importava. Foi seu filho quem plantou aquelas sementes e será obrigado a colher os frutos delas. Ela e Elia cumpriram seus deveres, fizeram tudo como ordenado, deram cada pedaço de si mesmas até restar meras cascas das mulheres que um dia foram e o que receberam em troca? O limite foi alcançado. Não havia nada mais a ser tomado delas, nem mesmo lágrimas ou culpa. Eles as usaram, abusaram e agora não podiam exigir mais nada.

Ela viu Jaime colocar a mão no ombro de Elia, e Elia por sua vez sorrir para ele, um sorriso leve e genuíno, um que Rhaella não a via dar a muito tempo.

Se havia nem que fosse um pedaço mínimo de felicidade, que ambos a agarrassem!

Se afastou e sutilmente pediu que os guardas de Dorne que agora faziam parte dos que protegiam Elia não deixassem ninguém chegar perto agora.

—Não se sinta assim.

—Como não vou me sentir Jaime? Eu dou o meu máximo mas nunca parece ser suficiente. Rhaenys tenta esconder sua dor de mim mesmo eu garantindo que ela pode contar comigo. Aegon é só um bebê de colo e já tem medo de qualquer estranho, qualquer pessoa que se aproxime que ele não conheça ele começa a chorar! Ele ficou com medo da Rhaella quando ela o pegou! Chorou um pouco e até tremeu! Não sei o que eu faço, parece que é mais fácil curar os danos causados nos reinos do que os que foram causados nos meus filhos! Eles são bebês e já sabem o que é sofrer e temer por suas vidas em uma idade em que deveriam pensar apenas em comer, dormir e brincar. Eu sou a mãe deles e não consigo fazer seus medos irem embora.

—Os medos estão aqui mas você também está. Eles têm você, Elia! Você está aqui e os dois sabem que têm a mãe para protegê-los.

—Ah Jaime. Além de velha e feia me sinto cansada.

—Como assim velha e feia?

—Rhaegar coroou outra mulher na minha frente como Rainha Do Amor E Da Beleza. Rhaegar fugiu com essa menina e me deixou sozinha e em perigo. Aerys e até mesmo o falecido Robert Baratheon gritaram em alto e bom som que seu fosse uma esposa melhor e satisfizesse meu marido ele não teria fugido com outra mulher. Eu tenho não levar isso para dentro do coração Jaime, mas minha autoestima sofreu uma série de golpes e nem sempre ela se ergue totalmente curada.

Ele acariciou seu rosto.

—Você é linda. Você é incrível. Você brilha como o próprio sol. Não deixe nenhum idiota te fazer sentir menos do que a mulher linda e maravilhosa que você é. Nenhum deles mereceu você.

Elia sorriu, colocando a sua mão em cima da mão de Jaime, que estava em sua bochecha.

—Obrigada Jaime. Se você não estivesse aqui...

—Eu sempre estarei com você, Elia. Eu prometo.

Eles mal perceberam a proximidade. E quando perceberam o quão perto estavam, era tarde demais para parar o beijo que inevitavelmente seria dado.