Enquanto Houver Sol

Essa Tal Liberdade


Enquanto ajudava aos orfanatos e ouvia as reclamações das viúvas, Elia tentava segurar a própria exaustão.

Sua saúde nunca foi das melhores, mas o estresse, a quase morte dos filhos e todos os aborrecimentos que passou junto ao desgaste físico que era inevitável a estavam deixando esgotada.

Depois que terminou de conversar com as responsáveis pelos cuidados das crianças órfãs e fez uma doação para ao menos uma refeição grátis durante um mês para todas as pessoas da cidade sem condições de comprar comida Elia voltou para a Fortaleza Vermelha.

Pelo caminho as pessoas a olhavam com gratidão. Antes mesmo que ela chegasse perto do palácio a notícia de que graças a princesa teriam o que comer por um tempo se espalhou.

Alguns paravam e pediam a sua bênção.

Elia possivelmente era a pessoa da família real com a fama mais positiva entre as pessoas mais humildes da cidade.

Não que fosse difícil considerando o ódio que adquiriram de Aerys... E também de Rhaegar...
Ninguém estava poupando Rhaegar de suas opiniões sobre a guerra e tudo o que lançou os Sete Reinos para a destruição.

Ela achava maravilhoso que as pessoas estavam cobrando de Rhaegar a responsabilidade que ele devia ter como príncipe herdeiro e agora rei.
Ninguém teria pena de Rhaegar e embora isso fosse mesquinho, Elia se sentia muito satisfeita com a quebra da imagem endeusada que seu marido sempre teve.

Rhaegar o príncipe perfeito de olhos tristes e melancólicos, que toca música para pessoas pobres e esperança de Westeros contra o pai louco se mostrou alguém falho, imoral, indigno.

Fugiu com a noiva do primo sem se importar com quem sofria as consequências e agora seu nome não era falado com carinho e esperança, mas com desprezo e raiva.

Rhaegar era um homem como qualquer outro, capaz de fazer merda. O problema era que a merda de um príncipe herdeiro filho de um rei recae sobre todas as pessoas que dependem da família real, ou seja, todo mundo.

Principalmente sua esposa e filhos.

Entrando no castelo, Elia percebeu uma agitação, caras irritadas e alguns olhares de pena.

—Aconteceu algo?

Uma criada respondeu de forma exitante.

—Lady Lyanna... Rainha Lyanna... Está vindo para cá.

—Prepare o quarto em frente ao quarto de Rhaegar então. E arrume o berçário real para o bebê dela.

Se eles esperavam que ela chorasse ou esbravejasse, ficariam muito decepcionados.

Rhaegar e Lyanna, odiados como eram, não ofereciam perigo para ela, a doce e amada princesa que estava ajudando o povo.

━─━────༺༻────━─━

Lyanna veio acompanhada dos três "valorosos" cavaleiros da Guarda Real que a protegiam na Torre Da Alegria.
Elia não dirigiu uma palavra ou olhar para nenhum dos três.

Olhou para Lyanna com uma expressão neutra.

—Presumo que essa seja Visenya.

Sem graça, Lyanna a respondeu.

—Não. O nome dele é Aemon.

Elia levantou uma sobrancelha. Então a preciosa Visenya não veio do útero da Stark mas um menino que Rhaegar não acharia necessário para a sua profecia.

Será interessante ver o despertar rude dos novos Jonquil e Florian quando a música acabar.

—Venha, vou te mostrar onde em seu filho vai ficar.

Em silêncio, sem saber o que falar, Lyanna a acompanhou.

Arthur, Oswell e Gerrold foram junto, também em silêncio, Elia os tratava como se nem estivessem ali.

—Aqui, esse é o berço do seu filho.

Ela apontou para o berço novo comprado as pressas.

—Chame as criadas se precisar de ajuda. Ou peça ajuda a um dos seus guardas reais.

Ela deu as costas e continuou ignorando os três.

Eles pertenciam a Lyanna, no que competia a Elia.

A deixaram sozinha, desprotegida, em risco, para proteger a nova família de Rhaegar.

De jeito nenhum eles serão responsáveis pela sua segurança e a dos seus filhos de novo.

━─━────༺༻────━─━

—Oh, isso é bom. -Elia sorriu ao ler a carta de Doran.

—Uma boa notícia minha rainha? -perguntou Jaime com curiosidade.

—Sim, finalmente vou parar de te explorar. Doran vai mandar quatro guardas de Lançassolar para mim, eles já estão a caminho. Quatro homens que conheço desde que nasci e de quem gosto muito.

Ela não vai correr o risco de lealdades divididas. Vai se cercar sim, de pessoas em quem pode confiar.

Aprendeu da pior forma como a Guarda Real pode colocar a segurança de mulheres e crianças bem atrás de homens loucos e irresponsáveis.

Tirando Jaime, ela não conseguia por sua confiança em mais ninguém em Porto Real.

Enquanto estava pensativa, Lyanna se aproximou.

—Pois não?

—Me... Me desculpe te perturbar... Mas eu gostaria de pedir um favor.

—Qual?

—Eu... Você poderia... Arthur Dayne está sofrendo muito sem a Alvorada...

—Ah sim, eu soube que minha prima tirou dele. O que quer que eu faça?

—Poderia... Pedir para...

—Para Audelyne devolver? Imagino que saiba a resposta que ela vai dar. Não vou arriscar a ira da minha bisa e da minha prima. Você viu em primeira mão como elas são.

Lyanna ficou vermelha.

Elia queria muito ter visto e ouvido sobre como ambas reagiram a estadia de Rhaegar e Lyanna naquilo que era propriedade da família Dayne.

Eram as duas mulheres mais afiadas de toda Dorne, só podia imaginar como foi o confronto.

Elia olhou para Lyanna com seriedade.

—Por que?

—Hein?

—Por que você fugiu com ele?

Lyanna não sabia como fazer Elia entender. Ela era exatamente no padrão de mulher que Westeros esperava, como entender sua necessidade de liberdade?

—Eu não sou como as outras mulheres.

Eu não gosto das coisas que as mulheres costumam gostar. Eu odeio costurar, conversar sobre frivolidades e agir como uma lady. Eu amo cavalgar, lutar, ser livre. Eu queria ter minha própria voz, meu lugar no mundo, e não ter que conformar com ser apenas a esposa de alguém. Robert não me via como eu era. Ele via minha beleza mas não o aço que tenho dentro de mim. Rhaegar me viu como eu sou, me ofereceu liberdade.

Elia pensou em como a lua de mel entre seu marido e a Stark vai acabar mais cedo do que ela pensava.

A garota era ingênua, inconsequente e politicamente inepta.

—Lyanna, quem era o pai de Rhaegar?
.

A nortenha não entendeu a pergunta.

—Era o rei Aerys, por que?

—Se Rhaegar era o filho mais velho de um rei, qual era a posição social dele?

—Príncipe herdeiro, mas por que está me perguntando isso?

—Por que eu quero entender o seu raciocínio. Você queria liberdade, mas fugiu justamente com o homem que menos podia te deixar livre. Ele tinha responsabilidade por um continente inteiro. Com Robert você seria a lady de Pontatempestade, com Rhaegar você é responsável por todos os reinos. Você escolheu um homem que pode te oferecer sete vezes menos liberdade que Robert podia.

Ela quase sentia pena da garota, não percebendo a cilada que tinha se metido.

Elia entrou na família Targaryen por não ter escolha, foi arranjo de sua mãe, mas Lyanna entrou por vontade própria e ninguém a deixaria sair agora que tinha entrado.

—Você queria liberdade. Ficou trancada em uma torre, apenas transando e depois parindo um bebê. Que liberdade é essa? Foi com isso que sonhou?

Lyanna não respondeu nada, estava com lágrimas nos olhos.

—Você é diferente. Mas por que isso te faz melhor que eu ou qualquer outra mulher? Você anda a cavalo, você gosta de aventuras, mas e daí? Isso te faz superior, te faz acima de tudo e de todos?

Elia balançou a cabeça negativamente.

—Sinto muito Lyanna, você não é especial, nem o centro do universo. É uma mulher como outra qualquer. A grande aventura da sua vida foi abrir as pernas para um príncipe. Apenas isso.

Deu a mão para Jaime, que a ajudou a se levantar.

—Até mais. Tenho trabalho a fazer. Vamos Jaime.