Enjoy the Silence

XXV. Deliberadamente.


— Fique quieto. — Resmunguei, segurando o queixo de Edward com mais firmeza.

Edward sorriu e eu bufei.

— Vou acabar te cortando desse jeito.

— Não tem problema, você dá um beijo e passa. — Ele zombou.

Revirei meus olhos e levantei mais uma vez o seu queixo, passando o barbeador em seu maxilar onde estava nascendo a pouca barba que ele tinha. Apesar de não ser uma das melhores pessoas para fazer isso, eu me voluntariei a ajudá-lo na medida do possível e aqui estávamos nós. O maxilar de Edward estava coberto por espuma de barbear e ele não facilitava em nada o meu trabalho ao se mexer e sorrir toda hora.

Será que ele não sabia o desastre que eu era quando fazia coisas delicadas? Pelo que parecia não e sua ignorância naquele assunto pareceu aumentar quando ele passou suas mãos por minhas coxas. Fui firme ao reprimir os arrepios, por isso soltei minhas pernas de sua cintura e tentei deixá-las longe das mãos dele.

Não funcionou muito, como bem sabemos. Edward era e sempre seria teimoso e eu acabava não tendo escolha nenhuma por estar sentada no balcão do banheiro com ele entre as minhas pernas. Não tinha muitos movimentos que eu pudesse fazer para afastá-lo sem abrir um corte gigantesco em seu rosto, então deixei que ele acariciasse de um modo muito ousado as minhas pernas enquanto eu o barbeava.

Não foi nada fácil.

— Não é pra esfregar a toalha no rosto! — Exclamei arregalando meus olhos e puxando a toalha de suas mãos.

— Besteira, Bella. — Ele resmungou.

Não o devolvi a toalha, então sem escolhas ele voltou para a minha frente e deixou que eu enxugasse o seu rosto levemente com a toalha o qual estava usando antes para fazer aquela atrocidade. Não podia passar com muita força quando tinha acabado de se barbear, a pele acabaria irritada ou envelhecendo cedo demais. Como eu sabia disso tudo? Bom, eu não estava muito certa disso, mas achava que quando eu era menor eu me sentava ao lado de Charlie enquanto ele fazia a barba e ficava o perguntando esse tipo de coisa.

Eu era uma criança bem curiosa.

— Obrigado. — Edward me agradeceu, erguendo o meu queixo com um dedo e deixando nossos lábios se tocarem por míseros segundos.

A campainha emitiu seu tom gritante com alarde, fazendo-me suspirar e soltar minhas pernas da cintura de Edward, abrindo meus olhos para o seu rosto atento à minha expressão de desgosto.

— Pode atender pra mim? Tenho que vestir alguma coisa.

— Preferia que ficasse desse jeito enquanto eu despacho quem quer que esteja lá embaixo. — Ele murmurou de mau-gosto com suas mãos bobas deslizando por minha cintura e coxas.

Eu ri, empurrando sua nuca para baixo mais uma vez a fim de alcançar seus lábios.

— Você não está facilitando as coisas, Bella. — Sua voz tinha aquele tom mal-humorado mais uma vez, que sempre me fazia rir.

— Certo, desculpe-me. — Beijei-o somente uma vez mais, e com muito esforço, me afastei dele e pulei do balcão.

Edward foi como estava atender à porta, sem camisa alguma. Não que eu reclamasse de seu peitoral desnudo, nunca o faria, era apenas que… as vizinhas poderiam vê-lo e sei lá. Eu sabia muito bem que não deveria ser ciumenta, mas alguma coisa estava instigando isso dentro de mim toda vez que eu cogitava a ideia de ir embora. E, ultimamente, eu sempre estava pensando em ir para Inglaterra.

Bufando mentalmente de raiva — como um touro faz quando é atiçado —, peguei um vestido solto qualquer dentro do closet e me vesti. Desci as escadas após ter colocado minhas sandálias rasteiras e estaquei no antepenúltimo degrau, vendo Charlie parado de frente a Edward, falando-o algo com um sorriso no rosto. Parecia relaxado em suas roupas básicas, sem paletó ou algum guarda-costas atrás de si. Perguntei-me o que eu havia perdido nesse pouco tempo que eu passara longe, parecia-me muita coisa.

Forcei minhas pernas a saírem do breve estado de congelamento e terminei de descer os poucos degraus. Foi um alívio ver as costas nada tensas de Edward e ver o sorriso presunçoso que tinha em seu rosto quando eu fiquei ao seu lado e preferi olhar primeiro para ele a Charlie. Ele continuava sendo meu pai? Era tão confuso tudo isso de pai e não pai, minha mente ainda não tinha se acostumado com as devidas denominações.

— Bella.

— Oi, Charlie. — Lhe ofereci um sorriso amarelo quando finalmente o olhei.

— Bella, Charlie veio aqui para nos chamar para um almoço. — Edward me informou.

— Infelizmente, não vou poder comemorar seu aniversário com você amanhã porque vou ter que viajar para Londres por algumas semanas, por isso eu estou aqui para saber se você e Edward não querem ir almoçar hoje comigo.

Não era que eu não quisesse sair com Charlie, mas eu tinha planejado ir para o jogo dos Lakers mais tarde, lá pelas sete horas da noite com Edward e tudo mais, porém como eu ia almoçar com Charlie, não daria para comprar os ingressos. E as vendas seriam encerradas às uma hora da tarde.

Eu sabia que deveria ter ido comprar mais cedo, mas com tudo que vinha acontecendo, eu estava começando a ficar ocupada demais para ficar procurando notícias sobre os próximos jogos dos Lakers. Sempre tinha alguém me chamando para sair, almoçar, jantar ou qualquer outra coisa. E se tinha uma pessoa que não sabia administrar seu tempo, essa pessoa sem nenhuma dúvida era eu.

Quando eu olhei para Edward, ele somente fez assentir para mim e sorrir. Então, sem escolhas — e quase me sentindo compelida a sair com Charlie — perguntei-lhe em qual restaurante deveríamos nos encontrar. Tentei me consolar mentalmente dizendo-me que seria legal, que eu iria passar um tempo a mais com meu pai de criação e logo parei. Aquilo era patético. Fazia tempo que eu não sabia quem era Charlie e fazia tempo também que eu não ficava mais de dez minutos em um mesmo ambiente que ele, sendo assim impossível a capacidade de diálogo.

Era exatamente por aqueles motivos que desconhecidos não tem assunto entre si: não passam tempo juntos ou conversam. Somente através destes meios que eles se tornam conhecidos. E, quase com desespero, notei que não havia um assunto sequer que eu pudesse conversar com ele — e olhe que eu passara dez minutos observando as possibilidades. Todas elas eram desconfortáveis demais.

— Qual é, Bella, foi legal da parte dele vir aqui. — Edward disse, encostando-se a parede e pegando uma mecha solta de meu cabelo.

— É — Murmurei, distraidamente —, foi.

— Você não parece estar convencida disso.

— Hum… estou me perguntando que possibilidades nós temos de conversar algo que não envolva minha mãe, Cambridge e eu mesma. E olha… não tem muitas.

— Você está sendo pessimista de propósito.

— Estou sendo realista. — Resmunguei. — Charlie quer consertar as coisas do jeito dele sendo que é impossível, será que ele não percebe isso?

— Talvez ele tenha a esperança que vocês voltem a se falar com antes, Bella. Você não gostaria disso?

— Sim, mas há outras coisas entre querer. Ele queimou a minha carta de Cambridge, Edward, e antes disso infernizou a minha vida como nenhum pai, sendo ou não legítimo, faria! E você sabe que eu sou de guardar rancor.

— Talvez ele se arrependa.

— Sim.

— Não vou conseguir te convencer, não é mesmo? — Ele sorriu tortamente e ergueu uma mão para colocar uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha.

— Não. — Eu sorri para ele. — Não vamos falar mais sobre isso, sim?

Edward assentiu e me puxou pela mão para a cozinha. Ele não escutou meus protestos que lhe informavam sobre a minha falta de fome, apenas colocou a caixa de cereal em minha frente junto com o leite e ordenou que eu comesse. Fiz uma carranca para ele e suspirei, comendo desanimadamente o cereal que parecia aumentar dentro da tigela.

Eu não estava com paciência para assistir televisão ou me deitar no sofá como normalmente fazia, por isso assim que terminei, lavei a minha tigela e a colher que eu tinha usado e fui de novo para o meu quarto. Deitei-me na cama ainda bagunçada e cobri-me até a altura do pescoço, fechando os olhos para tentar dormir de novo.

Apesar de não estar acostumado com minhas crises de TPM, Edward entendeu que eu queria ficar sozinha e que era melhor que ele me deixasse por um momento. Ele não apareceu no meu quarto por umas duas horas e quando decidiu o fazer, espiou para ver se eu estava dormindo e com uma expressão travessa ao perceber que eu o observava, entrou completamente. Deixei o livro que eu lia ao meu lado quando ele se deitou sobre as minhas pernas, virando seu rosto para o meu.

— Você está bem? — Perguntou-me.

Eu assenti, mais uma vez distraída e tirei cuidadosamente minhas pernas debaixo da cabeça dele, deitando-me horizontalmente na cama ao seu lado.

— Eu… — Até tentei me explicar, mas nada coerente se formou em meus lábios.

— Sei que você está tendo muitas informações nesses últimos dias, sei disso. Apenas… dê uma chance para o Charlie, mesmo que você tenha descoberto que ele não é seu pai…

— Sim. — Murmurei.

— Se você quiser, eu posso ligar para ele e falar que você não está bem. — Edward sugeriu. Eu quase sorri por sua ideia mais que tentadora, mas aquilo não seria muito legal com Charlie, então sacudi meu rosto em negação.

— Eu vou me aprontar, não tem problema.

Apoiei-me em meu cotovelo e rocei seus lábios nos meus.

— Você vai ter que ir pegar roupa no seu apartamento, não é?

— É tudo que me impede de fazer você ficar nessa cama por algumas horas a mais. — Ele murmurou, levantando seu rosto para conseguir morder meu lábio inferior brevemente.

— Seu pervertido! — Acusei com as bochechas coradas, colocando para trás de minha orelha o cabelo que caiu em seu rosto. — Não me dê ideias e volte logo, hein?

Ele riu e forçou minha nuca para baixo, beijando-me por uma última vez nos lábios antes de se levantar da cama.

Por minha vez, preguiçosamente rumei até o closet à procura de alguma roupa adequada e ao mesmo tempo não muito arrumada ou quente. Eu precisava de roupas novas e de alguém com quem ir para o shopping comprar e era nesses momentos que eu sentia uma falta absurda de Alice Cullen que era minha incentivadora. Eu tinha que tentar ligá-la ou pedir para Edward falar com ela, tentar dissuadi-la, algo desse tipo.

Entretanto eu a conhecia. Se ela não havia me procurado, era porque ainda não queria o fazer. E eu até tentei ser compreensiva e dá-la um tempo para pensar, refletir sobre mim. Eu até imaginava que nesse tempo que ela passou pensando sobre como eu havia afetado sua vida indiretamente e nunca lhe contado, ela tivesse percebido o nojo inevitável que sentia por mim. Não me surpreenderia nada se fosse isso que tivesse acontecido mesmo.

Cheguei a pensar em pegar meu celular para ligá-la, implorar por seu perdão mesmo que ela nunca escutasse a mensagem de voz. Toda tentativa seria o suficiente, ou pelo menos era disso que eu tentava me convencer. Porém, não a liguei, a daria uma semana a mais.

Eu poderia dá-la um mês sem problemas algum, não fazia questão que ela pensasse quanto tempo ela quisesse — com um limite, é claro — o problema era que daqui a mais ou menos duas semanas eu estava embarcando para a Inglaterra e queria vê-la antes de ir. Queria, pelo menos, ter a oportunidade de esclarecer as coisas com ela antes de qualquer coisa. Alice, porém, parecia sentir aversão aquilo.

Suspirei pesadamente ao notar que não havia nenhum jeito espontâneo de apressar Alice a vir falar comigo. Decidi, portanto, não pensar muito mais sobre aquilo sabendo que no final de tudo eu somente faria me frustrar. Depois eu arrumaria um jeito de falar com ela, nem mesmo que fosse forçado. Ela era franzina e eu poderia agarrar seus ombros e explicar rapidamente o que havia acontecido.

Eu nunca saberia se ela acreditaria em mim ou não. E, no entanto, ainda valia a pena. E como!

Tomei meu banho alheia a água gelada e o perfume de sândalo o qual meu sabonete tinha, terminando logo que notei que já se passara muito tempo e que eu estava irremediavelmente atrasada. Passar meia hora em um banho pensando sobre sei lá o quê com certeza me atrasou, e assim que eu saí do banheiro, enrolada em uma toalha escura, percebi Edward já devidamente arrumado sentando em minha cama com seu melhor sorriso torto e malicioso.

— Nem pense. — O avisei, desviando meu caminho direto para ele e indo para o closet que ficava ao seu lado. — Eu tenho que me arrumar.

— Eu nem me mexi! — Ele exclamou, ultrajado.

— Eu sei o que você estava pensando em fazer. — Murmurei numa voz alta o bastante para que de onde eu estava, ele pudesse escutar.

— Para a sua informação eu ainda estava na fase de considerar. — Edward disse e apareceu na entrada do meu closet enquanto eu abotoava a minha camisa clara.

— Bom, estamos atrasados. — Informei-o.

— Não que você não queira.

Eu ri, parando o que eu estava fazendo para lhe olhar com as sobrancelhas erguidas de incredulidade.

— Sua autoestima está bem elevada ultimamente, não é?

— Graças a você que sempre faz questão de explicitar o quanto eu sou ótimo de cama e o quanto você ama que eu lhe…

— Já entendi. — Dispensei suas explicações com um gesto e repudiei minhas bochechas vermelhas quando Edward se aproximou de mim com um sorriso que estava claramente zombando de mim.

Ele me ajudou a abotoar os botões que faltava de minha blusa sempre com um sorriso de escárnio que sumiu em apenas milésimos de segundos de seus lábios quando ele ergueu meu queixo e encostou sua boca na minha. Não passou disso, apesar de ser o que eu mais queria naquela hora. Acariciei com a palma de minha mão a sua nuca, bem onde começava os seus cabelos e suspirei quando ele encostou sua testa na minha.

— Seria muito ruim se desmarcássemos com Charlie? — Pude sentir um sorriso se formando em seus lábios.

— Hum, eu não acho. — Sussurrei, cúmplice.

— Ótima tentativa. — Ele se afastou e eu, preguiçosamente, abri meus olhos para olhá-lo.

Minha vontade de ir era zero, mas nem mesmo eu implorando para que Edward desviasse o caminho, ele o fez. Cheguei até a me perguntar se ele não percebia o quanto eu não queria ir ou o quanto eu me sentiria desconfortável em falar com Charlie e logo me parei. Ele percebia.

Nos sinais vermelhos em que paramos, Edward se virava na medida do possível para mim e pegava minhas mãos ou acariciava o meu joelho em uma tentativa falha de me acalmar. Eu admirava a sua boa vontade, mas eu tinha a certeza de que nada que ele fizesse iria funcionar. Eu sabia, tinha plena certeza, que o almoço com Charlie seria a situação mais constrangedora pela qual eu passaria em toda a minha vida.

Em uma escala de zero a cem, quão horrível seria a situação que eu passaria a seguir? Bom, como eu era pessimista desde sempre, achava que chegaria ao limite. Edward, com sua visão positiva que era uma das coisas que eu amava nele, falou que não seria tão mal. Tudo isso era culpa minha, eu quem não queria abrir meus olhos para uma coisa que poderia ser boa se eu quisesse. E, sabe, talvez fosse aquilo mesmo.

Deixei que ele me convencesse com aquela teoria que veio seguida de seu sorriso complacente em minha direção. E então, suspirando, assenti e, quando ele parou o carro no estacionamento do restaurante, inclinei-me e o beijei brevemente nos lábios como uma forma de agradecimento.

— Seja uma boa garota para com Charlie, sim? — Ele pegou a trança que caia sobre meu ombro e a puxou de leve, implicando claramente comigo. — Ele está arrependido.

O sorriso distraído que pairava em meus lábios sumiu para que minha expressão confusa pudesse assumir.

— Ele te disse isso?

— Sim. — Confirmou. — Por isso que eu acho tão importante que você… comemore seu aniversário com ele.

Prensei meus lábios e, mais uma vez, balancei meu rosto em concordância. Acariciei por uma última vez sua nuca com as minhas unhas e, com movimentos cadenciados e culpados, soltei o cinto de segurança para poder sair do carro. Fiquei incrivelmente mais confortável ao sentir o calor morno da mão de Edward se juntando a gelidez que eu me encontrava por nervosismo quando ele pegou minha mão, entrelaçando com a sua.

Charlie já estava lá quando a hostess nos levou até a reserva que ele tinha feito em seu nome. Pela sua expressão alegre quando nos viu, pude dizer sem dúvida alguma que ele não esperava que eu comparecesse mesmo. Ele deveria agradecer a Edward por ser tão bom com argumentos e com carícias no joelho e nas mãos.

— Bella, Edward… sentem-se. — Com a voz aliviada, ele disse ao se levantar brevemente de seu assento por educação.

Eu sorri com cortesia e me sentei na cadeira que tinha de frente a ele, ao lado de Edward que agora estava com os ombros relaxados por eu ter me mostrado maleável.

— Eu tenho uma coisa para você. — Charlie disse, sorrindo da mesma forma como ele fazia quando estava em Forks. Leve e despreocupadamente. Fazia-me ter vontade de sorrir também e perguntar sobre algo somente para conversar.

— O que é? — Indaguei-lhe franzido meu cenho ao mesmo tempo em que um sorriso assaltou meus lábios.

Eu juro que não estava me sentindo nostálgica — não tanto —, mas eu pude vê-lo me lançar um olhar de “Espere, você vai ver na hora certa” como fazia quando eu tinha 13 anos e ficava ansiosa demais para algum presente. Alguns costumes, afinal, mesmo que diminutos, não se perdem com o passar do tempo.

— Sinto muito por ter te impedido tanto de ir para Cambridge — Ele começou cautelosamente, colocando um chaveiro com cinco chaves em cima da mesa e empurrando em minha direção. — Acho que nem que eu passe o resto da minha vida lhe pedindo desculpas será o suficiente para apagar o que eu fiz. Mas quero que considere a ideia de perdoar-me. — Ele baixou seu rosto e mordeu a parte interna da bochecha. — Esse presente é pelo seu aniversário.

Arqueei uma sobrancelha, pegando incertamente as chaves entre minhas mãos.

— É uma casa em Cambridge, Bella. Perto do campus da universidade e… eu não sei onde você iria ficar por um tempo, então eu tomei a liberdade de lhe dar esse presente. Eu espero que goste e… diga-me se não for de seu agrado ou sei lá.

— Charlie… — Eu sorri, abobada. — obrigada.

Não que eu fosse completamente interesseira — grande parte minha não era —, mas receber um agrado de vez em quando faz bem para todo mundo. E até facilita o processo de perdão quando a coisa que você fez é ruim demais. Tudo bem, talvez houvesse uma pequena parte minha que fosse irrevogavelmente interesseira, mas eu duvidava que não houvesse uma pessoa na terra que não fosse.

Eu acabei olhando para Edward e lhe lançando um sorriso agradecido. Ele retribuiu de muito bom grado e começou uma conversa desinteressante sobre beisebol com Charlie que logo estava fazendo comentários animados sobre o jogo que teria daqui a uma semana. Então, sem sequer me perguntarem se eu queria ir, combinaram de irmos. Eu nem gostava de beisebol! Porém, por Edward e por Charlie que parecia ambos muito animados, assenti tentando parecer animada.

Era perceptível para todo mundo que Charlie tinha mudado muito em tão pouco tempo, era normal que pessoas ficassem com um pé atrás quando coisas como essa acontecesse. Ou talvez não, talvez eu só quisesse justificar a minha insegurança quando se tratava dele e de toda a bondade que ele parecia transpirar. Não era assim antes e outrora, eu me acostumara que nunca mais seria a mesma coisa.

Pelo visto, eu estava enganada. Como sempre.

— Quando é que você vai para Cambridge, Bella? — Ele perguntou enquanto eu mastigava competentemente o sushi.

Engoli antes de falar.

— Hum… minha última entrevista está prevista para dia 2 de outubro, então eu vou chegar lá dia 1 assim vou poder me organizar antes.

Eu olhei para Edward discretamente, percebendo que ele não estava nem um pouco confortável com as datas. Naquela hora me dei conta que eu nunca falara com ele sobre isso, como ele se sentia sobre a minha ida à Inglaterra. Não diretamente. Tudo que eu me importei foi o dilema que eu estava envolta, deixando-o de lado sem nem mesmo ter consciência do que eu estava fazendo.

Depois de alguns segundos, Edward desviou seus olhos dos meus e recompôs sua expressão. Charlie continuava absorto ao meu debate mental e ao desconforto, porém ele claramente percebeu que Edward com certeza não iria comigo. Quase consegui perceber a pergunta escapando de seus lábios e sendo reprimida por ele ao desviar seus olhos para o salão cheio de mesas.

Continuamos em silêncio até que Edward nos tirou daquele clima comentando comigo sobre os Lakers e a derrota humilhante que ele teve no último jogo. Charlie, por sua vez, logo começou a tirar sarro de nós dois já que fora de seu time que os Lakers perderam. O ignoramos por pirraça, mas foi o mesmo que nada, ele continuara passando na nossa cara a maravilhosa vitória que ocorreu. Eu e Edward fizemos questão de enumerar todas as vezes que os Lakers ganharam dos Celtics e, contrariado, ele apenas murmurou que o que estava em questão era aquela vitória.

Charlie nunca foi mesmo de ter bons argumentos.

Ficamos até umas três horas no restaurante, jogando conversa fora. Por pirraça, Edward às vezes me olhava com uma cara de “Eu estava certo. Sempre estou” e eu somente o ignorava, rindo quando ele me cutucava com o dedo indicador e me fazia olhá-lo de novo.

— Você vai em duas semanas, é isso? — Edward finalmente perguntou, olhando para mim quando parou o carro em um sinal vermelho.

Olhei para as minhas mãos e assenti.

Não falamos mais nada durante o consideravelmente curto caminho que tivemos até a minha casa, porém assim que eu tranquei a porta ao entrar na casa, ele me agarrou quase com ansiedade, puxando meu rosto para o seu. Não passou de um beijo desesperado e angustiante que acabou com todo o controle emocional que eu tinha guardado para quando chegássemos. Eu sabia o que ele queria dizer com aquilo, queria dizer que sentiria minha falta tanto quanto eu sentiria a dele.

Naquele momento, não gerou em nada além de um carinho no meu rosto e um beijo em minha testa. Edward tinha que ir e a percepção disso fez meus lábios soltarem um suspiro involuntário que o fez sorrir e dizer que daqui a algumas horas ele voltaria e dormiria comigo. Ele não quebrou nenhuma de suas promessas sussurradas, dormimos juntos em todos os sentidos possíveis e imagináveis.

Ele soltou uma risadinha sarcástica assim que voltou para a cama onde eu já estava encolhida debaixo dos lençóis. Sequer percebi as horas ou o olhar que ele mandou para o relógio, apenas em seu cabelo molhado e a sua quase ausência de roupas. Infelizmente, a sua cueca boxer escura escondia a sua nudez. Mas, de qualquer jeito, ele tinha umas coxas e tanto, assim como o abdômen, o peitoral e os ombros largos. Além de bonito facialmente, o corpo de Edward era uma verdadeira perdição.

Suspirei, sorrindo bobamente ao sentir a cama ao meu lado afundando. Com o calor aconchegante dele por perto, pude sentir facilmente o sono tomando conta de minha mente.

— É uma hora e meia da madrugada, Bella. — Ele murmurou, acariciando meu ombro com o nariz. — E você está tão cheirosa que é impossível me concentrar em o que eu ia falar. — Ele se afastou e subiu o rosto para que estivesse me olhando. — Feliz aniversário!

— Oi?

— Já é dia 13, ora! Portanto já é seu aniversário de dezoito anos.

— Ah é… — Minhas pálpebras estavam, agora, pesadas demais para eu pensar em um agradecimento a altura,

Edward roçou seus lábios nos meus e sussurrou mais uma vez “Feliz aniversário, meu amor”. Foi a última coisa que eu me lembro de ter escutado. Eu estava com sono demais para pensar em me derreter ao escutá-lo me chamando de “amor”, por isso, sem mais delongas, caí em um sono sem sonhos.

No outro dia, eu me acordei com o som da campainha tocando no andar de baixo e Edward meio que murmurou algo em seu sono e, entorpecido, se virou para o outro lado. Somente quando eu me levantei da cama foi que ele demonstrou algum pingo de consciência em seu rosto amassado e corado quando me olhou. Lindo, com aqueles cabelos bagunçados e a expressão confusa.

Sem falar nada — ou com sono demais para falar algo — ele desceu as escadas ao meu lado e se adiantou para abrir a porta. Conferi minhas roupas e as dele. Não eram tão ruins assim se a camisa que eu vestisse não fosse dele e deixasse a amostra metade de minhas coxas. Edward se encontrava com uma bermuda jeans branca, mas somente com aquilo. Deixando seu peitoral divino livre para apreciar.

— Oi, Edward. — A voz harmoniosa dela me seria conhecida se não fosse cheia de sarcasmo e ironia. — A Bella está? — Minha melhor amiga, eu acho, perguntou. Seu tom era cheio de uma cortesia forçada.

Como Edward era alto o bastante para me cobrir, esforcei-me para ficar ao seu lado e fitar curiosamente a nossa visitante de última hora.

— Oi, Bella. — O sorriso que ela deu também era forçado, podia perceber isso por seus olhos ressentidos. — Feliz aniversário.

Alice sorriu.