Enjoy the Silence

VI. Erros e mais erros.


— Bella! — Alice me chamou, a sua voz estridente me retirando de meus devaneios. — Eu estou me sentindo uma idiota que está falando sozinha enquanto você mergulha no mundo de seus pensamentos e me deixa aqui.

— Desculpa, Alice. — Murmurei e passei uma mão por meu cabelo, suspirando. — É… estou preocupada com a formatura. — Não era em seu todo mentira, eu não podia simplesmente sair falando a ela que estava pensando no babaca de seu irmão.

— Até porque você já recebeu cinco cartas de admissões, não é, Bella? — Ela revirou os olhos.

— Mas não de Cambridge ainda.

Ela suspirou e, nervosa, passou uma mão por seu cabelo longo fazendo com que o pequeno e discreto adereço que estava preso nele caísse. Quase pude ver ela me culpando com os olhos por aquilo e não demorou muito para que a pequena peça prata voltasse a se prender do lado de sua cabeça. Como em uma desculpa para não olhar para Alice, comecei a comer meu hambúrguer antes que ele esfriasse.

Ela era perceptiva demais para uma pessoa ficar confortável em seus momentos de picos — e era o que estava acontecendo agora. Eu podia sentir o desconforto se arrastando para dentro de mim quando ela me perguntava mais uma vez onde minha mente se encontrava, Alice parecia saber que não era na bosta da formatura que eu estava pensando e de repente eu fiquei com medo que Edward tivesse falado algo para ela.

Não que nós tivéssemos nos falado esses últimos meses — não como antes — ou combinado de não falar isso para alguém, era só que eu deduzi que essa sua vontade. Afinal, ele não queria que ninguém soubesse que ele quase me beijou, não é? Eu não era uma pessoa elegível para se beijar ou para se ter companhia e, sim, eu já havia me acostumado com essa ideia.

— Sabe de uma coisa? — Indaguei exacerbadamente, levantando-me da mesa assim que terminei de comer tudo. — Vamos fazer compras, tirar essa depressão da formatura.

— Eu não sei, não, Bella. — Ela prensou os lábios, olhando para baixo e as bochechas adquirindo um tom de vermelho. — Estou sem dinheiro.

Eu sorri docemente para ela mesmo que sua atenção não estivesse em mim.

— Não tem problemas, eu compro pra você.

— Não posso aceitar isso.

— Pode e vai, Alice. Por favor, por favor… faz tanto tempo que eu não compro nada para vestir… faz três meses que eu não compro no cartão.

— Bella…

Mas eu a arrastei comigo e enchi seus braços de roupa mesmo ela dizendo que não precisava de nenhuma roupa agora. Não estava fazendo aquilo porque achava que ela precisava, eu apenas precisava me distrair e Alice era a melhor pessoa para que isso ocorresse. Então gentilmente a convenci a aceitar meus meros presentes uma vez que não via problema nenhum que ela o fizesse. Pelo que parecia, ela era bem mais teimosa que eu e demorou um tempão para que parasse de resmungar o quanto aquilo era desnecessário.

E depois a puxei novamente para um salão de beleza que tinha dentro do shopping mesmo e apesar de ela implorar para que eu fizesse algo diferente em meu cabelo, somente mandei cortar as pontas crescidas demais. Alice era doida por natureza — disso eu não tinha dúvidas nenhuma —, por isso não hesitou em mandar que fizessem mechas um pouco mais claras em seu cabelo e depois me irritou tanto que eu tive de lhe seguir também, colorindo algumas mechas em uma cor perfeita de bronze.

Não ficou feio, na verdade eu seria sempre grata por Alice ter me forçado àquilo, tinha uma cor a mais em meu rosto, deixando-me com um aspecto saudável. Depois fizemos a unha e saímos de lá quando eram oito horas da noite, uma hora mais tarde do que Alice deveria chegar a sua casa.

— Por que não dorme na minha casa hoje? Amanhã é sábado e a gente pode estudar para a prova que vai ter segunda-feira…

— Não sei, não, Bella. — Ela mordeu o lábio inferior e olhou para o chão. — O Edward não deixaria.

— Por que não? — Franzi meu cenho.

— Ele não gosta que eu durma na casa de outras pessoas.

— Mas você me conhece, ele me conhece…

— Mesmo assim.

Eu dirigi para a minha casa em vez de deixar Alice no apartamento que Edward tinha do outro lado da cidade, tinha certeza que ele deixaria se eu pedisse e além do mais não era por motivos fúteis, era por uma prova que estava a deixando preocupada. E eu era boa em biologia, poderia lhe ensinar sem problemas algum. Eu não via problema nenhum nisso… e se Edward visse algum, eu concluiria que era implicância comigo.

Alice estava mais que inquieta enquanto eu dirigia de volta para minha casa, ela estava dizendo que era melhor não falar nada com ele uma vez que sabia da resposta imediata a qual ele nos daria. Amanhã, ela tentou, de manhã cedo ela estaria na minha porta para estudar pelo resto do dia.

— Então tudo bem. — Dei de ombros, erguendo o queixo. — Se você não quer e tem tanto medo assim do Edward…

— Eu não tenho medo do Edward. — Ela sibilou.

Deixei o assunto de lado enquanto virava na outra esquina para pegar o caminho oposto da minha casa, dirigindo em silêncio até chegar lá. Novamente Alice me agradeceu pelas roupas e pelo dia mais que maravilhoso e se despediu com um beijo de desculpas em minha bochecha direita. Tive de abrir a mala para que ela tirasse suas várias sacolas de roupa de lá de dentro — uma solução para diferenciar a minha das dela.

Nove horas em ponto, era o que o relógio do rádio de meu carro dizia para mim quando eu o liguei em um sinal vermelho. Coloquei meu CD favorito para tocar e dirigi calmamente até minha casa, sorrindo ao lembrar que faltava pouquíssimo tempo para que aquela tortura psicológica acabasse. Em breve eu iria para a Inglaterra e não teria de aguentar os resmungos mal-humorados de meu pai, não teria de aguentar mais nada.

Seria uma nova vida e uma nova Isabella Swan. Sem os fantasmas.

A parte ruim disso tudo era que Edward trabalhava somente de noite dia de sexta e domingo e eu não pude deixar de vê-lo quando estacionei meu carro na garagem — embora vários seguranças se ofereceram para fazer isso para mim. Pelo pouco que eu o conhecia, podia perceber que ele estava tenso pelo modo como seus ombros estavam erguidos assim como os lábios prensados. E também não pude deixar de lado a sua expressão raivosa. Perguntei-me o porquê daquilo.

Como ele decidiu me evitar nesses últimos meses, passei direto sem nem olhar em sua direção já que eu achei que ele não gostaria daquilo. Desde o último sábado o qual passamos juntos, ele se exonerou do papel de me levar para escola ou pegar, ele se exonerou de qualquer coisa que me envolvesse como se tivesse nascido um nojo imenso que não permitia que ele ficasse perto de mim por mais nenhum momento.

Não que eu me importasse com Edward e as merdas que eram seus pensamentos sobre mim. Eu não me importava, eu não me importaria! Era só que… assim… ele foi tão áspero e legal comigo em um mesmo dia que eu desejei que ele nunca tivesse se inclinado para limpar o chocolate em minha bochecha. Ele daria um ótimo amigo se tudo não tivesse acabado como acabou e ele não tivesse se afastado por um motivo que ainda me era desconhecido.

De qualquer jeito, eu nunca corria atrás de alguém e Edward não seria a exceção para tudo em minha vida, já bastava ele conseguir me fazer sorrir. Não tive problemas nenhum para pegar as sacolas, mas como eu iria fazer duas viagens caso não quisesse esparramar tudo pelo chão, Riley que estava perto da garagem viu a situação e me ajudou sem nenhuma palavra.

— Obrigada. — Eu o agradeci com um sorriso tímido.

— Gostei do seu cabelo. — Murmurou ele. — Ficou legal.

— Ah é… obrigada. — Baixei meu rosto e deixei que o cabelo o qual ele elogiou alguns segundos atrás caísse sobre o meu rosto.

Riley sorriu, expondo a arcada dentária perfeita e se despediu rapidamente antes que eu começasse a pensar que meu rosto explodiria de tanto corar. Arrastei as sacolas para dentro de meu quarto e arrumei tudo em apenas meia hora já que odiava quando tinha coisas fora do lugar. Anéis, pulseiras e colares ficaram num pequeno porta-joias transparente que vovó Swan me dera no meu aniversário de dezesseis anos; shorts dobrados cuidadosamente em várias gavetas, e blusas presas a cabides que não deixava com que elas se amassassem.

Olhei os óculos de plástico em minha mão e suspirei, colocando-o em cima da prateleira que ficava um espelho, perfumes e todas essas coisas. Sim, eu tinha seguido o conselho de Edward, tinha comprado um óculos para nadar porque meus olhos estavam ficando irritados e ressecos muito rapidamente.

Tive vontade de me afundar dentro da piscina ou da banheira imensa que tinha dentro de meu banheiro, no entanto meus olhos pesavam e eu podia sentir que estava com sono. Então fui prática ao tomar banho sem molhar meus cabelos e sair do banheiro dentro de um roupão escuro que estava pendurado a um gancho que servia para aquilo. Vesti-me e fechei as cortinas de todas as janelas, deixando o quarto em um escuro confortável ao desligar a luz.

Dormi em menos de dez segundos… pelo menos era tudo que eu me lembrava. O estresse das provas mais o nervosismo de não ser admitida em Cambridge estava acabando com o meu psicológico — não que ele esteja muito estabilizado ultimamente — e me deixando mais atacada do que antes. Se chegasse a carta de Cambridge, eu não me preocuparia com mais nada, nunca mais.

Alice chegou de dez horas no outro dia e ficamos estudando até seis horas da noite que foi quando Edward a chamou para ir embora. Sequer me olhou ou demonstrou que sabia que eu estava parada ao lado de sua irmã e aquela atitude não passou despercebida pela baixinha que franziu o cenho, mas graças aos céus não comentou nada. Ela se despediu com um abraço, dizendo que era grata por tudo que eu fazia a seu favor.

Eu somente assenti e sorri.

O dia de domingo seria o dia mais normal de todos se ao entrar na cozinha eu não tivesse me deparado com a cena que mudou todo ele. Não somente a cena, como também Charlie com uma carta que eu tinha certeza ser de Cambridge em suas mãos. Ele a olhava raivosamente enquanto girava-a na mesa com um dedo, parecendo pensar em modos de tortura-la.

— Você sabe que não vai para a Inglaterra, não é? — Ele não se virou para saber que eu o estava observando e isso fez com que eu desse um pulo de susto. — Quero dizer… ser aceita em Cambridge é ótimo, mas a UCLA também oferece ótimas opções de estudo.

— Eu quero ir para a Cambridge. — Murmurei. — Eu vou para a Cambridge.

— Você não vai sair de Los Angeles, Isabella. Eu e sua mãe já decidimos e você não vai para Inglaterra, precisamos de você aqui!

— Eu vou para onde eu quiser. — Tive que trincar meu maxilar para não acabar gritando — Eu fui aceita, não vocês!

— Já está decidido. — Charlie se virou com a expressão frívola e me olhou bem nos olhos antes de pegar o isqueiro que ele usava para acender seus cigarros dentro da calça social.

Observei com os olhos marejados ele acender e abrir a carta que tinha o escudo laranja da universidade estampado na frente. Depois de encostar o fogo no papel, ele o jogou na pia, e foi uma atitude reflexa o empurrar com toda força e raiva que tinha dentro de mim para conseguir, sei lá, salvar pelo menos uma parte da carta. Eu não pensei em nada antes de bater a minha contra a carta, tentando apagar com minha própria mão.

Tinha a torneira, por que eu não usei a água? Simplesmente porque o papel frágil se desintegraria se eu tentasse pegá-lo e tudo iria por água abaixo, literalmente.

— Eu odeio você. — Sussurrei a ele, pegando o papel ainda quente e saindo da cozinha com o rosto molhado de lágrimas que não puderam ser evitadas.

Minha mão latejava por causa da maldita queimadura, então não hesitei antes de abrir a porta de frente da casa e sair por ela, raivosa demais para pensar em como eu dirigia se toda vez que eu me mexia doía. Por sorte ou azar eu desci as escadas desconcentrada demais para notar que tinha uma pessoa também subindo — também distraída — e eu esbarrei na mesma ao tentar dar um passo à frente.

Eu estava pronta para reclamar com a sua falta de atenção se não tivesse levantado meu rosto e me deparado com os olhos confusos de Edward. Cambaleei para trás e passei a mão boa em meu rosto, tirando os resquícios de lágrimas que estavam manchando minha bochecha e me fazendo soar patética na frente dele. Não que eu me importasse com isso, estava pouco me lixando para a opinião dele, eu apenas não gostava que ninguém me presenciasse chorando.

— Você está bem?

— Essa é uma pergunta muito idiota para se fazer, você não acha?

— O que… — Ele desceu os olhos para a minha mão e suspirou. — aconteceu com a sua mão?

— Pode dirigir pra mim? — Perguntei fungando.

Foi uma viagem silenciosa até o hospital, ele às vezes olhava de relance para mim, encontrando-me de olhos baixos e lábios prensados. Eu não podia e não iria chorar dentro do carro, e nem mesmo quando eu estivesse sozinha porque tudo que Charlie me disse não afetaria em nada. Eu iria para Cambridge ele querendo ou não, eu fiz por merecer e era isso que a carta em minha mão dizia.

Em nenhum momento Edward perguntou por que eu saíra daquele jeito de minha casa, ele não fez nenhuma pergunta a não ser para qual hospital ele deveria me levar. Fiquei grata que ele não fosse tão curioso a esse ponto porque eu não estava disposta a responder nada.

Quando chegamos ao hospital novamente colocaram aquela faixa terrível ao redor de minha mão e passaram uma pomada para eu ficar colocando por duas semanas inteiras. Nada de piscinas, foi o que o médico me disse. Pelo que parecia o cloro fazia a queimadura de segundo grau piorar e se eu quisesse ficar boa logo, nada de nadar. Nem que corroesse todo meu braço eu iria seguir essa orientação.

— Cambridge, hum? Parabéns! — Edward disse enquanto eu lia mais uma vez a carta que em todo esse tempo não saíra de minhas mãos. Eu tinha medo que quando eu a soltasse, ela sumisse sem mais nem menos.

Eu dei de ombros sem me importar em falar nada e fiquei calada até ele estacionar o meu carro na garagem. O agradeci com um mínimo sussurro e em vez de entrar pela porta da frente e o seguir, entrei pela porta de trás que ficava na cozinha. Subi para o meu quarto sem ser notada por ninguém sem ser Edward que franziu o cenho na minha direção, entrei em meu quarto e o tranquei atrás de mim.

Ainda era de tarde, mas não foi isso que me impediu de jogar-me na cama e em poucos segundos estar adormecida. Eu acordei várias vezes com minha mãe me chamando do outro lado da porta e eu até iria atendê-la se não me lembrasse da sua conspiração com meu pai para me impedir de ir para Inglaterra viver meu sonho. Não tive piedade, afinal, e apenas me virei para o outro lado e cobri o meu rosto com o lençol.

Tive pesadelos e um sono conturbado. No meu pesadelo, Renée e Charlie estavam do lado esquerdo e Edward — por mais que pudesse parecer estranho logo ele estava meu sonho — no direito, deixando-me no meio. Eu virava meu rosto para os dois lados, confusa e com uma expressão desesperada. Só depois de um tempo eu percebi que ambos seguravam algo em suas mãos. Edward, uma carta com o escudo de Cambridge e meus pais, um cartaz que estava escrito: Conforto.

Não preciso dizer que eu fiquei mais que assustada com aquilo e ofeguei por um momento, os olhos arregalados. Eu não sabia o que era mais aterrorizante do sonho: o fato de Edward estar nele e ser meu caminho para Cambridge, ou os meus pais me oferecendo conforto. Mas de que forma isso poderia ser possível? Conforto ao lado de meus pais nunca foi uma opção que eles me deram.

Suspirei e arrastei meu corpo recém-acordado, mas ao mesmo tempo exausto para dentro do banheiro, deixando minhas roupas no chão quando fechei a porta atrás de mim. Daquela vez não resisti ao chamado que a minha banheira me fazia, então prendendo meu cabelo em um coque alto, esperei que ela enchesse. Não demorou muito, na verdade — ou talvez tenha demorado e minha mente estava tão aérea que eu não percebi os longos segundos se arrastando para se transformarem em minutos que se transformaram em horas…

A água estava cheirosa por causa dos sais de banho que eu adicionara e gelada como eu gostava. Deslizei o corpo um pouco pela superfície lisa da banheira a fim de encostar minha nuca e fechar meus olhos, esperando que a paciência e calma fluísse para dentro de mim. Eu só queria aquilo. Tranquilidade, era pedir muita coisa? Sabia que não era quando tinha tanta coisa a minha disposição.

Eu só me levantei da banheira porque estava morrendo de fome. Se não fosse por aquele fator incômodo, eu teria continuado na banheira até ser sete horas da manhã que era quando eu teria que me levantar pra valer por causa da escola. Receber resultados, planejar o diacho de baile para o qual eu não perderia meu tempo indo. Eu já sabia de todos os meus resultados, tinha feito minhas provas com confiança, então não tive medo ao recebê-las e ver as notas boas.

Se minha mãe se preocupasse em saber, ela com certeza teria orgulho de mim. Passaria as minhas notas boas na cara das amigas e riria daquele modo como ela costumava fazer em Forks… bons tempos, tão bons que não voltariam mais.

Enxuguei-me e vesti um short jeans solto e escuro junto com uma regata que não me apertava ou era muito calorenta. Eu adorava o frio da madrugada, adorava o modo como ele arrepiava minhas pernas e meus braços quando eu abri minha janela para que o ar circulasse em meu quarto. Soltei meu cabelo antes de sair pela porta que delimitava meu quarto, mas que no entanto não impedia ninguém de entrar. Tendo isso em pensamento, passei a chave antes de me afastar, afinal se tinha uma pessoa que eu nunca confiaria era meu pai e eu sabia de tudo que ele seria capaz de fazer para pegar a carta.

Somente as luzes da piscina acesas deixava o jardim com um tom escuro de azul, por isso assim que peguei meus três pedaços de pizza gelada, eu saí para me sentar em um dos bancos-balanço de madeira. Apesar de ser madrugada, ainda estava escuro e por aquele motivo eu sentia vontade de ficar ali para sempre, observando as águas calmas da piscina e suas luzes não muito eficientes.

— Não é permitido que você fique aqui a essa hora, sabia? — A voz de Edward parecia longe e sussurrada, mas mesmo assim eu escutei e me virei na direção que ela vinha.

— Não vejo perigo algum. — Murmurei, deixando meu prato de lado para me virar completamente na sua direção.

— Você não vê, mas eles sim.

— Você é esquizofrênico, por acaso? — Eu indaguei com um sorriso incrédulo na voz.

Ele sorriu.

Edward olhou para os lados e caminhou com passos largos na minha direção e pareceu indeciso se ficava de frente para mim ou se sentava ao meu lado. Decidiu, por fim, se sentar ao meu lado no banco, fazendo-me virar para ficar ao seu lado e não olhando o vazio como uma retardada mental. Não virei meu rosto em sua direção, não queria pensar no quanto ele ficava másculo com aquela calça e aquela camisa que destacava seu peitoral. E aquela arma que ficava presa a sua calça tornava tudo melhor.

— É perigoso ficar aqui, Bella. — Ele disse.

— Perigoso é morrer de fome. — Eu respondi, trazendo o prato novamente para o meu colo. A minha fome sumira tão rapidamente que eu suspirei e deixei-o no pequeno espaço que tinha entre minha perna e o fim do banco.

— Coma na cozinha, então.

— Não quero acordar os monstros.

Ele riu com a minha voz mal-humorada e parou alguns segundos antes de eu sentir seu olhar perfurando o meu rosto. Perfurando era uma palavra grosseira demais, aquecendo seria uma forma mais correta de usar. Edward parou de me fitar quando não correspondi ao seu olhar, eu era mais precavida que ele… eu sabia os meus limites e estes seriam ultrapassados se eu o olhasse. Primeiro seus olhos e depois seus lábios… a situação que acontecera no meu Abrigo Natural foi um aviso o qual eu não desobedeceria.

— Por que me ignorou nesses meses? — Apesar de manter meus dentes trincados para não perguntar merda, eu acabei o fazendo. Não consegui esconder minha curiosidade e aquela pergunta pegara Edward desprevenido, eu pude perceber.

Ele me olhou e daquela vez eu correspondi ao seu olhar, não podia esperar por sua resposta. Queria realmente saber os motivos, além dos óbvios, pelos quais ele evitou ficar em um mesmo ambiente que eu por mais de dois meses.

— Como? — Ele indagou.

— Você sabe bem que fez isso, Edward, não tente negar, por favor. Eu quero saber os motivos que te levaram a fazer isso.

— Aposto que não quer, não.

— Quero saber, sim. — Apertei meus olhos, de repente com raiva por ele achar que sabia o que eu queria fazer quando na verdade estava deduzindo tudo errado. Eu queria saber, saber se eu fiz algo de errado.

— Porque… bom… — Ele passou a mão pelos cabelos e desviou os olhos de mim. — Olha, o que quase houve no parque foi…

— Errado. — Sussurrei. — Eu sei.

— Também. — Inclinou o rosto para o lado e não pude deixar de perceber o quanto a sua linha de maxilar era atraente, eu poderia ser ousada e passar a mão somente para saber se era mesmo verdadeira, mas eu me parei antes que eu realmente o fizesse. Isso era loucura. — Mas Bella, eu… quero te beijar.

Eu não pude deixar de arfar de surpresa. O fato era que ele se referira ao presente, não ao passado. Ele ainda queria me beijar, mesmo depois desses dois meses em que ele me evitara… seu desejo ainda era presente. Eu não sabia como me sentia em relação aquilo, tudo que pensava no momento era “Lábios, lábios, lábios, lábios de Edward”. Eu não tinha culpa, ele estava se aproximando de mim e… era impossível pensar em outra coisa sem ser isso.

— Talvez… eu não devesse fazer isso. — Sussurrou ele colocando sua mão em minha nuca. Seu hálito era divino e fazia eu me perguntar se ele tinha chupado alguma bala antes de vir falar comigo.

— Talvez devesse. — Minha voz foi fraca, assim como eu me encontrava no momento.

Ele sorriu um pouco, torto. Aquele era seu melhor sorriso e eu queria o ver sempre que pudesse, Edward deveria sorrir sempre. Não que eu gostasse que meu coração surtasse dentro de meu peito quando ele me olhava e sorria daquele jeito, não gostava, mas também não desgostava.

Assim como ele, coloquei a mão em sua nuca e me aproximei, sendo ajudada por ele que me puxou pela cintura com força e me fez ficar parcialmente perto dele. E então, seus lábios. Macios e quentes, confortáveis, assim como eu imaginei. Dedilhei sua nuca e me deparei com seus cabelos, entrelaçando meus dedos neles de modo rápido.

Tudo era tão novo para mim que por um momento eu fiquei completamente parada, os olhos fechados. Minha mão, pelo menos, cooperava e acariciava seu couro cabeludo com a mesma suavidade que ele afagava a minha nuca e a minha cintura. E então lenta e hesitantemente ele capturou meu lábio superior entre os deles e a minha inexperiência no assunto “beijos” mandou que eu o imitasse. E o fiz.

Aquela era a melhor sensação de todo o mundo, nem nadar se comparava a toda magnitude que o beijo de Edward representava. O meu coração disparado e a minha vontade de se aproximar cada vez mais dele definia isso. E ele também parecia sentir a mesma coisa já que me puxou para mais perto e colou seu peitoral com o meu, apertando seus braços ao redor de minhas costas.

Deslizei minha mão por sua nuca, pescoço e peito, desgrudando nossos lábios somente para sorrir. E eu senti que ele também sorriu, voltando a me beijar logo em seguida, dessa vez aprofundando a ponto que nossas línguas se entrelaçaram de uma forma que eu nunca — nem sequer nos meus beijos aos 13 anos — tinha provado. Somente naquele momento eu descobri que o meu “não quero ser tocada, nem beijada” não se aplicava de nenhuma maneira para os toques e os beijos de Edward.

Eu não me aplicava a tudo que Edward fazia.

Apesar de o ar faltar com facilidade, ficamos nos beijamos por tanto tempo que eu sequer sabia que horas eram quando terminei. Na verdade, eu estava sendo um pouco exagerada demais. Eu simplesmente me perdi no sabor dos lábios dele e não me encontrei de volta assim que ele finalmente decidiu se desgrudar de mim. Não era uma coisa boa, eu queria que ele continuasse a me beijar e a causar todos os arrepios que ele causou nos últimos dez minutos.

— Tenho que assumir meu posto. — Ele sussurrou, o rosto tão perto do meu que nossos narizes chegavam a se tocar. — E você tem que entrar e ir dormir porque amanhã tem aula cedo.

E me beijou de novo, segurando meu rosto entre as mãos. Daquela vez não durou nem um minuto e logo ele se afastou sorrindo tortamente e me fazendo sorrir também, mas não era um sorriso tão bonito quanto o dele. Era bobo como eu nunca fora. Deitei-me naquela noite com o gosto dele em meus lábios e suas memórias marcadas irremediavelmente em minha mente.