T8 - Ep 01 -- Encontro Romântico Capítulo único

— Podemos ficar anos sem voltar, então é uma ordem, quero que todos vocês descansem um pouco. Fiquem com quem vocês amam, vocês merecem.

Aquelas eram as palavras de Shiro que Keith não iria esquecer naquele dia. Passar um tempo com quem amava era tudo o que precisava, unicamente porque tinha coisas demais a serem ditas e tempo de menos pra conseguir essa proeza. Apesar da viagem até a Terra ter durado bastante, nunca conseguira de fato um tempo para conversar sobre o que o matava por dentro com a pessoa em questão.

Krolia, observava a angústia de seu filho desde os flashbacks naquela estrela escura. Era como se aqueles momentos os unissem em uma ligação esquecida pelo tempo, mas que fora formada e fortalecida ali. A galra, apesar de séria, mantinha a ternura ao tratar de alguns assuntos com o garoto, pois sua raça era complicada, terráqueos também.

Assim que o garoto chegara em seus aposentos naquela base, tratou de pensar em como começaria a falar sobre isso. Aquele era seu último dia na Terra, não queria que o filho ficasse o tempo inteiro ao seu lado, pois o que viria adiante provavelmente faria com que aquele fosse um dos últimos dias de paz.

— Mãe... Achei que estava com Kolivan. – seu tom de voz fora baixo, visivelmente pensativo.

— Depois eu o encontro. – afagou os pelos do lobo cósmico, que ora a seguia, ora seguia o garoto. – Pensei que estaria com seus amigos.

— Eles estão ocupados... E eu não sou de me enturmar, mas acho que já percebeu.

— Esse é seu lado galra, querido. – acariciou a marca em seu rosto. Ficara triste por aquele lado ter despertado em uma hora tão ruim para seu garoto, mas antes tarde do que nunca. – Acha que Shiro vai fazer algo mais tarde?

— Não sei. – olhou atentamente para a mulher a sua frente e franziu o cenho. Ela já tinha visto muita coisa nos flashes da estrela negra. Muitas coisas que ele queria esconder e não conseguia. Desviou o olhar, ficando novamente aflito. Há muito tempo não via mais Shirogane como um irmão e aquela luta na base Galra o fizera ter a plena certeza de que morreria se fosse necessário para trazê-lo para si novamente.

— Só vai ter hoje pra isso, meu garoto. Apenas hoje.

— Eu sei, mas...

— Mas? Está com medo? – ela provocou. – Arriscou sua vida na batalha contra um imperador Galra e tem medo de ouvir um “não”?

— Não é tão simples. – seu rosto se tornou vermelho. – Mas vou tentar...

— Isso mesmo.

Krolia então se retirou do quarto, beijando a testa de seu filho. Nunca pensara que algum dia sentiria tanto amor por alguém quanto agora e queria que aquele sentimento do garoto passasse. Para ela não era um segredo e nem um defeito o amor que ele sentia por Shiro, mas preocupava-se. Keith era meio galra, no fim das contas. Galras têm a tendência de remoer por muito tempo e criar sombras em seus corações por conta das decepções.

Pensamentos aleatórios. Tratou de focar em outras coisas antes que Kolivan a encontrasse e chamasse sua atenção por conta de problemas que ela não deveria se meter. Ele era bem rigoroso quanto a isso.

Keith esperou por muito tempo para conseguir se colocar em ordem. Seus pensamentos eram como um turbilhão de coisas que pareciam ser jogadas diante de seus olhos, mas teria de fazer aquilo, tanto para se livrar desse peso, quanto para que Shiro soubesse o que realmente estava acontecendo... e de certa maneira afastando os dois.

Saiu do quarto com o lobo cósmico e foi procurar o amigo confidente pela base. Era fácil encontra-lo em horários normais, mas aquele dia era um dia especial... E ele estava onde o via várias vezes desde que pisaram ali, na lápide de Adam.

Shirogane, de fato, estava ali, prestando suas condolências e lamentando por ter terminado daquela forma. Ele sabia que Adam não o esperaria, mas tinha em mente que poderia ao menos tentar uma reconciliação quando voltasse, coisa que não pôde fazer da outra vez e nem agora.

Sabia o quanto o ex-noivo era importante para si e que a perda dele o fizera tomar decisões extremas, afinal, não tinha mais nada além... franziu o cenho ao pensar naquilo. Era óbvio que tinha alguma coisa. Tinha Keith. Quando capturado pelos Galras era nele que pensava todos os dias. Não deixaria seu garoto órfão mais uma vez.

Meu Keith.

Pensou enquanto refletia sobre aquelas ações. Queria passar mais um tempo com ele, pois não o fizera desde que... Desde muito tempo. Nem ao menos lembrava ao certo do tempo que não o tinha ao seu lado para trocar confidências e isso era estranho. Estava um pouco enciumado por conta de Krolia que agora “roubava” esses minutos, mas também feliz pelo reencontro.

Quisnack, Takashi! Pensou quando se deu conta do que estava sentindo. Ela é a mãe, não deveria sentir ciúme... mas e quanto a Kolivan? E Lance?... Ah! Lance...

Sentia seu coração acelerar, mas não mudava a expressão exterior. Olhou a lápide de Adam e se perguntou o motivo para que se sentisse daquela forma para com o garoto. Não era um sentimento que gostava, pois era para Adam que aquilo deveria ter sido direcionado, mas não foi. Hoje, com Keith com seus vinte e quatro anos, lutando de igual para igual, amadurecido e completamente diferente daquela criança que ajudara a crescer, era tão, mas tão difícil pensar que o amava de outra forma.

Sentiu um toque em seu ombro e isso o tirou de seu devaneio, para coloca-lo em uma situação um tanto mais instável. Era ele. Keith e seus olhos lilases.

— Shiro, preciso conversar com você... E tem que ser hoje.

— Sou todo ouvidos, Keith. – o mais velho ainda não conseguia desviar o olhar.

— Não aqui... pensei... no lugar onde a gente sempre ia pilotar. Depois do pôr do sol...

— Ok. – sorriu e observou a marga galra no rosto do garoto. Quando exatamente aquilo foi parar ali?! Esperou o garoto sair para ter mais devaneios sobre aquela luta maldita.

<...:...>

Pouco depois de Lance deixar seu lado sobre a cabeça do leão negro, Keith descansava. O sol se punha e logo cairia a noite e tudo o que mais temia conversar teria de ser falado.

Krolia o havia aconselhado a começar aos poucos, preparar o terreno. Não havia pensado em como faria isso, mas seguiria seus instintos quando a hora chegasse e essa não tardou tanto quanto gostaria.

Shiro subiu no leão em silêncio e permaneceu ao lado de Keith até que o mesmo o percebesse ali. Cosmo o havia teletransportado, então, foi fácil manter o elemento surpresa.

— Que bom que chegou. – o atual paladino negro comentou ao ver o outro bem ali. Estava tão feliz que não conseguiu esconder o sorriso que deixara o outro levemente sem jeito.

— Eu disse que viria, não é? – observara o resquício da luz do sol no rosto do mais novo e então pensou por quanto tempo poderia ter esse privilégio. – Keith... Me perdoe por isso... – referia-se à marca galra.

— É parte de quem eu sou. Não peça desculpas por isso. – ajeitou-se e desviou o olhar pro horizonte agora escuro. – Não era você naquele dia.

— Eu sei. Mas eu devia ser mais forte e ter tentado te avisar antes.

— Você tentou, Shiro. Deu seu máximo. – e então fechou a mão e puxou o ar profundamente. Estava mesmo é com um nó em sua garganta por não ter conseguido salvá-lo naquela luta contra Zarkon. – O importante é que está de volta. – voltou a olhá-lo.

— Você me trouxe de volta, Keith. Se não fosse você eu ainda estaria preso na consciência do leão negro. Eu estaria morto. – admitiria outra coisa. – Você foi quem me manteve são dentro do vazio.

— Eu?

— Keith, era por você que eu chamava. – era constrangedor o quanto precisava daquele garoto. – Era em você que eu pensava. Se estava bem, se precisava de mim. Perdão, Keith, por não estar lá quando precisou.

— Acha que eu desistiria de você, Shiro? Você foi quem acreditou em mim quando ninguém mais acreditava, nem eu mesmo. Era você lá pra me ajudar a descobrir quem eu era e é você aqui ajudando a me descobrir de novo. – Shiro o olhava surpreso, mas sentindo a energia do outro, que estava lentamente ficando vermelho. – Shiro, eu... não conseguiria lidar com sua perda. Eu... Eu lutaria até o fim pra te salvar porque... Porque eu te amo, Shiro. – respirou fundo e olhou dentro dos olhos do ex-paladino negro.

Era difícil ouvir aquilo. Doloroso por pensar que passara tanto tempo guardando sentimentos recíprocos e tão impróprios. Pressionara os lábios finos um contra o outro e tocou a marca galra com a mão biônica.

A verdade é que Takashi Shirogane não sabia o que falar... então entendera o motivo para que Keith seguisse tanto seus instintos. Fechou os olhos e aproximou o rosto ao dele, fazendo com que os lábios se tocassem. Era um breve beijo, mas que diria exatamente tudo o que deveria naquele momento... Breve momento. Quando se afastou um pouco, conseguia sentir a respiração quente do mais novo, que logo encurtou a distância mais uma vez.

Aquilo era Keith. Impulsivo e intenso. Seu beijo mostrava isso melhor até mesmo que o antigo clamor do leão vermelho. Aquele beijo mostrava parte de todo o desejo que sentiam um pelo outro.

Eu te amo...

As palavras ecoavam na mente Shiro desde que voltara a seu corpo por conta daquela batalha em que ainda estava inconsciente.

Eu te amo, Shiro...

Vinha de agora pouco antes do beijo. Declarações que sua mente nunca o deixaria esquecer.

Aquele momento era o que Shiro desejava durar mais que doboshes ou deca-phoebe, mas durou muito menos que o último, mais que o primeiro. Separaram-se brevemente e então sentiu o abraçado do mais novo.

Alívio era o que sentiam por serem correspondidos. Keith parecia muito mais calmo e esboçava um sorriso satisfeito, levemente envergonhado. Takashi parecia assimilar o que estava acontecendo ali, mas não estava triste. Era um momento feliz em meio a toda aquela tensão.

— Keith eu... Também te amo. – respondeu por fim ao que o mais novo dissera antes e nunca tivera a chance de responder.

— Eu sei. – ambos mantiveram o sorriso e antes que o silêncio que se instaurou se tornasse “letal” um bip de alerta havia tocado no comunicador de Shiro. A alteana havia acordado e algo havia acontecido.

— Tenho que ir.

— Vai lá. A gente conversa outra hora. – viu o outro se levantar e chamar o lobo para que o levasse dali mais rápido.

Teriam outra chance? Isso Keith não podia prever, nem Shiro, mas ao menos aproveitaram o único dia que nunca mais se repetiria em toda e qualquer realidade existente.