Emma

Capítulo 5 - Festa


Assim que o diretor terminou o discurso, vi as centenas de alunos saindo do estádio. Eu, Maya e Emily descíamos os últimos degraus quando ouvi uma voz me chamar por trás. Era Sean.

—Oi. – ele estava ofegante, talvez estivesse correndo. – Emma. Aqui, - ele respirou fundo – nós vamos dar uma pequena festa no terraço do nosso dormitório e eu queria saber se você e suas amigas – disse apontando com a cabeça para Emily e Maya – gostariam de ir.

—Quando você diz nós...? – perguntei.

—Eu e o Kyle – respondeu ele sorrindo.

Fiz um barulho de pensamento. Era óbvio que eu aceitaria, só queria fazer-me de difícil por um pequeno momento.

—Nós vamos – respondeu Maya sorrindo.

Eu ri.

—Ótimo – disse Sean sem tirar os olhos dos meus. Ele passou a mão por trás da cabeça – a gente se vê. Ah, dormitório 3 às 20h.

—Okay. Tchau – disse por fim com uma voz melosa, sorrindo.

Ele piscou como despedida final. Naquele momento meu coração estava a mil. Senti subindo um calor no meu peito. Eu sabia que era errado cobiçar o namorado alheio, mas, sinceramente, eles não me pareciam ser um casal tão feliz e apaixonado.

—Não acredito que vamos na festa do Sean – disse Maya animada.

Eu e Emily sorrimos.

Dessa vez, pegamos o carrinho nós três e voltamos para o dormitório juntas. Fomos todas para o nosso quarto e lá, Maya me pediu para que eu lhe desse “um jeito”. Repeti o ritual e dentro de poucos minutos ela estava pronta. Eram quase 19h e começamos a sentir fome. Resolvemos pedir uma pizza e ficar de bobeira no quarto.

Sugeri brincarmos de “Eu Nunca” para nos conhecermos melhor. Depois de algumas rodadas, concluí que elas nunca tinham feito muitas coisas normais na nossa idade. Todas nós tínhamos 17 anos e logo faríamos 18. Mesmo assim, nos Estados Unidos não podemos beber até completarmos 21. Todavia, como em qualquer outro país, os adolescentes não respeitam. E comigo, pelo menos, não era diferente. Como nenhuma delas havia bebido na vida, ambas concordaram que experimentariam hoje. Alertei-as, prontamente, que ainda não sabiam seus limites e poderia ser perigoso se bebessem demais. Senti o ar de preocupação no rosto das duas, por isso, expliquei a elas o básico da bebida para que não houvesse problemas. Eu sabia como me cuidar principalmente porque meu pai era bem liberal, por isso nunca tive de fazer nada nas suas costas. Sempre fui muito bem instruída, o que resultou numa conduta quase que rara entre os jovens de hoje, uma vez que não sou de “encher a cara” com frequência.

Por volta de 19h40m, ouvimos a porta tocando, era o entregador mais uma vez. Comemos relativamente rápido e logo começamos a nos arrumar. Sem surpresas, elas não tinham roupas de festa, o que resultou em todas nós usando roupas minhas. Felizmente eu não me importava em emprestar roupas, contanto que essas fossem devolvidas. Assim que terminei de maquiá-las, saímos do quarto. Já havia passado das 20h30m e eu estava feliz. Eu não gostava de chegar cedo nos lugares.

Pegamos o carrinho que estava estacionado do lado de fora do nosso dormitório e fomos juntas para o dormitório masculino. Combinamos de voltar juntas e para evitar qualquer ínfimo problema levamos a chave do carrinho conosco, para que ninguém o pegasse. Pude notar um número razoável de carrinhos estacionados do lado de fora do dormitório. Além disso, a música que tocava no terraço não estava tão alta, mas era perceptível do lado de fora. Entramos no saguão e nele poucos meninos estavam jogando sinuca. Subimos de elevador para o terraço. Comecei a sentir um frio na barriga bem forte, como sempre sinto quando vou a uma festa. Olhei as meninas e as duas pareciam nervosas e não conseguiam parar de rir. Comecei a rir junto.

As portas do elevador se abriram. Vi mais de 40 pessoas no terraço, muitas em pé conversando, algumas dançando, outras sentadas, mas todos bebendo nos red cups. Avistei o bar improvisado embaixo de uma tenda um pouco a frente e na lateral esquerda. Chamei-as para virem comigo. Fomos caminhando juntas até o bar. Nele, havia pouca variedade de bebidas alcoólicas – somente cerveja e vodka – mas inúmeros tira gostos. Sugeri às meninas vodka com suco de limão que estava no isopor com gelo. Não era minha combinação preferida, mas era o “clássico” vodka com limão. Não exagerei nas doses porque sabia que elas nunca haviam bebido. Fiz a mesma mistura para mim, mas caprichei um pouco mais na vodka. Dei os primeiros goles observando as meninas.

—Não gostei muito do gosto, mas adorei essa ardência – disse Maya rindo.

—Eu gostei – Emily sorria.

—Olha, confesso que não é a minha combinação preferida. Eu gosto mais com morango, ou abacaxi, mas o limão é clássico. – disse a elas. – Mesmo assim, que bom que vocês gostaram, só não exagerem – disse, por fim, rindo.

Dei mais uns goles na minha bebida sentindo a ardência no meu corpo. Após uns segundos senti uma mão no meu ombro direito.

—Oi, Emma – ouvi a voz do Sean.

Virei-me para abraça-lo.

—Você adora colocar a mão no meu ombro direito, hein – disse rindo, desfazendo o abraço.

Ele riu e depois cumprimentou as meninas.

—E aí? O que tá achando da festa? – perguntou ele.

Percebi as meninas saindo de fininho. Fiquei meio sem graça porque eu sabia que nada aconteceria e no final eu ficaria sozinha igual a uma idiota.

—A gente acabou de chegar, na verdade – disse sorrindo. – Mas a música está boa.

—Obrigada – ele parecia orgulhoso. – Eu que escolhi a playlist.

—Muito bom gosto! – elogiei-o.

Sean estava prestes a dizer alguma coisa quando Claire chegou. Engoli a raiva e o ciúme quando ela o beijou.

—Oi, meu amor. Estava com saudades? – perguntou ela ao chegar com Chacity e Holly.

—Err – Sean começou a responder.

—O que você faz aqui? – Claire perguntou com grosseria e com cara de nojo. – quero dizer, você também veio? – corrigiu com um sorriso falso.

Abri um sorriso largo e falso também.

—Vim sim, linda. Mas relaxa, não estou interessada no seu namorado se é isso que te incomoda – disse com um tom irônico. Obviamente era mentira, mas eu me esforcei ao máximo para parecer verdade. Acho que me fiz convencer.

Percebi uma tristeza de milissegundos no rosto de Sean. Não queria alimentar minha esperança, mas com certeza o fiz.

Ela sorriu com falsidade mais uma vez como resposta.

Saí de lá e vaguei pela festa a procura de Maya e Emily. Quando olhei rapidamente para trás, vi Sean e Claire se beijando intensamente. Me deu nojo. Felizmente, em poucos minutos, avistei o cabelo ruivo de Maya, o que me deu uma felicidade enorme, mas algo me puxava para trás. Olhei meu braço esquerdo que me impedia de seguir em frente e percebi que ele estava sendo puxado.

—Oi, linda – disse Kyle me puxando para muito perto dele.

Kyle era um menino muito bonito. Ele era bem alto, forte, com cabelos pretos e uma barba rala. Ele não era bronzeado, mas também não era tão claro.

Respirei fundo.

—Oi, Kyle – respondi olhando para cima.

O rosto dele estava muito perto do meu.

—Está se divertindo? – perguntei tentando afastar o meu rosto um pouco. Em vão.

—Eu tava, mas agora que vi você, muito mais – ele dizia sorrindo.

—Ah legal – respondi, tentando me soltar de seus braços que me envolviam. – Mas agora eu tenho que ir, as meninas estão me esperando – apontei a fim de que ele desviasse o olhar, mas em vão também.

—Ah, mas elas podem esperar mais um pouquinho – ele disse chegando mais perto. Eu conseguia sentir a respiração dele perto dos meus lábios.

—Não, Kyle. Tenho que ir agora – retruquei tentando me soltar de novo.

—Me dá só um beijo, Emma – ele pediu.

Eu ri sem graça.

—Agora não, Kyle – respondi sem jeito.

Eu não queria beijar ele. Eu queria o Sean.

—Por favor, Emma – ele pediu, mas dessa vez menos educadamente.

Ele começou a me segurar com mais força, não o bastante para me machucar, mas o suficiente para eu não conseguir me soltar de jeito nenhum. Vi uma mão passar por cima do ombro direito de Kyle.

—Ela disse que não, cara. Solta ela – disse a voz de um menino. Me soou familiar, mas complicado de distinguir em meio ao som alto bem em frente.

—Larga, Sean. Ela tá quase – disse kyle.

Meu coração acelerou de novo. “Meu deus, ele veio me defender!”, pensei, “ele me quer!”, sorri por dentro.

—Larga ela – ouvi o tom de voz de Sean mudar.

Kyle me soltou na hora. Eu não me senti ameaçada nem nada, mas a situação foi um pouco desconfortável. Mas a melhor parte foi quando o Sean me salvou de ser beijada à força.

—Desculpa, Emma. Eu não ia fazer nada que você não quisesse – Kyle disse arrependido.

Eu relevei.

—Que nada, sem problemas – disse sorrindo.

Kyle me deu um abraço. Vi no rosto de Sean uma pontada de raiva por conta daquela situação. Quando Kyle foi embora, Sean segurou no meu braço esquerdo.

—Ele te machucou? – ele parecia preocupado.

—Não, eu estou bem – respondi muito feliz.

—Nossa, eu não imaginava que o Kyle faria uma coisa dessas comigo – ele disse, parecia que para si mesmo.

—Com você? – perguntei intrigada.

Acho que ele não queria que eu tivesse escutado.

—É – ele disse, pensando muito. – imagina se ele te beija à força na minha festa? Não ia pegar bem.

Fingi que engoli. Eu imaginava que eram ciúmes, mas eu poderia estar errada, não é mesmo?

—Ata – falei decepcionada, desviando o olhar.

—Eu fiquei preocupado com você – disse ele puxando meu rosto para olhar nos meus olhos.

Nossos rostos estavam bem perto um do outro. Senti vontade de beijá-lo, porem eu sabia que não podia. Ele tinha namorada.

—Você quer conhecer um lugar? – ele perguntou, agora sorrindo.

—Claro – respondi de prontidão.

Ele pegou a minha mão direita e me puxou para os elevadores. Estranhamente, entramos na porta da escada e subimos um lance até chegarmos a uma portinha. Ela dava para um lugar aberto que era bem pequeno, a cima do terraço. Qualquer um podia nos ver do terraço, por isso ficamos na parte coberta.

Ele sentou no chão e deu dois tapinhas para que eu sentasse ao seu lado. Abaixei com cuidado pois estava com saltos. Felizmente estava de calças, então minha calcinha não apareceria.

—Sabe, você é bem diferente das pessoas daqui – ele começou a falar, olhando para suas próprias mãos.

—Mas você nem me conhece – retruquei.

—Eu sei – ele suspirou.

Ele voltou seu rosto ao meu. Mais uma vez, nossos rostos estavam muito perto um do outro e outra vez tive vontade de beijá-lo. Lutei contra a vontade de novo e com sucesso.

—Eu gosto disso – ele se referia, num sussurro, ao meu jeito de ser, eu acho.

Seu rosto chegava cada vez mais perto do meu. O silêncio do local me permitia escutar seu coração batendo. Eu podia sentir sua respiração no meu rosto. Vi seus olhos fechando-se até que sua testa apoiou-se contra a minha. Nossos narizes se tocaram e eu podia jurar que nossos corações batiam na mesma velocidade. Senti um calor subindo no meu peito, minhas mãos suavam. O toque da pele dele contra a minha me fazia delirar e por um momento eu achei que ele queria me beijar também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.