Entrei em meu quarto e fui em direção ao banheiro que ficava do lado do meu guarda roupa. Entrei no mesmo e peguei minha escova dental e a pasta de dente, ambas no cantinho da pia. Coloquei um pouco de pasta na escova e comecei a massagear meus dentes lentamente. Lavei minha boca e meu rosto, depois me sequei com uma toalha que estava pendurada ali por perto. Tinha que colocar uma roupa mais confortável para poder ir dormir, por isso, fui tirando as roupas do meu corpo e saí do banheiro só de boxe. Levei um susto quando vi minha mãe Valka, sentada em minha cama.

—Mãe!!- gritei tentando me cobrir. Ela deu uma gargalhada rápida.

—Eu já vi tudo isso daí mesmo.- falou indiferente.

Rodei os olhos e andei constrangido até meu guarda roupa. Abri a gaveta e peguei uma bermuda soltinha e uma blusa sem mangas. Vesti o mais rápido possível e de costas para a mulher atrás de mim. Geralmente eu não sou muito envergonhado como agora, mas quando tratava de ficar seminu na frente da própria mãe, eu não posso deixar de ficar hesitante. Joguei as roupas que vestia anteriormente na roupa suja que estava perto e me virei para encarar a outra atrás de mim.

—Fala mãe.- falei com um ar um pouco tedioso.

—Hiccup meu filho, eu tenho uma ótima notícia para te dar. Senta aqui.- falou e bateu no espaço da cama ao seu lado, indicando um lugar para que eu me sentasse.

—Amanhã você vai faltar aula!!- falou empolgada. Dei gargalhada achando graça que ela esteja mais feliz que eu por faltar aula.

—Tudo bem mãe.- disse ainda sorrindo e me levanto para poder arrumar a coberta.

—Mas por que?- perguntei.

—Porque amanhã você vai ir ao trabalho comigo.- respondeu.- E não pergunte o motivo; amanhã eu te explico.

Ela me ajudou a preparar minha cama e até me cobriu como fazia quando eu era menor. Começou a se afastar para sair do quarto.

—Mãe...- chamei.

—Fala filho.- virou e me olhou.

—Me conta uma história?- pedi dando um breve riso por eu já ter passado da idade. Sentia saudade desse tempo com minha mãe.

—Claro bebê.- respondeu e com um sorriso sarcástico, se aproximou de novo e sentou no colchão.

—Vou te contar a história que eu costumava contar quando você era criança. Você se recorda dela?- perguntou fazendo carinho em meu rosto.

—Hum...- olhei para o teto tentando lembrar.- Na verdade não.

—Bom, hoje eu só vou te contar uma parte dela, porque amanhã temos que acordar cedo.- falou.

—Tudo bem.- falei.

—Prepare-se para uma parte da melhor história que eu conheço.- esfregou uma mão na outra, se preparando para falar a primeira parte da história.

—Ta, começa logo mãe!- me aconcheguei melhor nos lençóis, ansioso.

—“Era uma vez um garoto chamado Jackson Overland Frost. Cabelos castanhos, olhos castanhos, pele bronzeada e um tanto magrelo. Vivia em uma casa de madeira com sua mãe e sua irmã mais nova. Morava em uma ilha que mais nevava do quê fazia sol. Jack amava muito sua irmã. Ele passava mais tempo brincando e passando momentos com ela, do que fazendo suas obrigações. Eles brincavam de amarelinha, de contar histórias, de se pendurar em árvores; mas, o que mais os dois irmãos gostavam de fazer era patinar. E logicamente eles eram muito favorecidos, já que mais nevava do quê fazia sol. Eles patinavam o tempo todo, e patinavam, e patinavam, e patinavam até não conseguirem mais.”- falou essa parte rindo, como se tivesse na história ou como se tivesse vivido a história. Suspirou antes de continuar.- “Um dia em especial, os dois se levantaram para patinar. Pegaram os patins. Jack vestiu a sua capa marrom escuro e procurou por seu cajado que ele não sabia nem o porque de usá-lo. Observou sua irmã mais nova colocar um casaco, e logo depois saíram de casa escutando sua mãe falar para terem cuidado. Sua irmãzinha não parava de falar e pular, estava muito alegre como sempre ficava quando iam patinar. Eles andavam lentamente em direção ao lago congelado, sem se importar com a hora de chegar em casa, pois sua mãe sabia que quando eles saíam para patinar, só voltavam ao pôr do sol. Sentaram em uma rocha e Jack entregou os patins para a sua irmã e começou a colocar os seus. Terminou de colocar e esperou a menina ao seu lado que ainda calçava os seus. Levantou com o cajado em mãos e começou a correr no gelo. Os dois eram muito velozes graças aos vários dias de prática, deslizavam pelo chão congelado com facilidade e sem medo de cair. Em um momento de distração, Jack escutou sua irmã o chamando, e quando ele olhou para ela, viu que a mesma estava em cima de uma rachadura. Sentiu o medo o consumir mas, de qualquer forma, decidiu ficar calmo, e também acalmar sua irmã. Se abaixou lentamente até que tivesse sentado no chão, e começou a tirar os patins, enquanto mandava ela ficar imóvel. Levantou mais uma vez e pensou no que ele faria para salvá-la. Olhou para o lado e viu seu cajado no chão; Jack nem percebeu que o havia soltado. Ele estava muito distante de seu cajado, olhou para a sua irmã outra vez e falou que eles até poderiam se divertir, e ela logicamente lhe deu uma bronca, falando que aquilo não era nada divertido. Sugeriu brincar de amarelinha, e assim o fez pulando com um pé só, escutando a gargalhada da menina, até que chegou perto do cajado para que conseguisse pegá-lo. Quando estava com ele em mãos, falou que era a vez dela de pular amarelinha. Ela deu uns três passos antes que Jack a puxasse com a curva do cajado para um lado seguro. Os dois sorriram ao ver que ela estava a salvo. Jack se preparou para alertá-la a ficar aonde tinha caído, mas, de repente tudo se tornou escuro...” Aqui acaba a primeira parte.

—Anão mãe! Eu estava gostando tanto!- gritei. Ela tinha que ter parado logo agora?!

—Que bom que estava gostando, mas já está tarde. Você e eu precisamos dormir.- se aproximou e me deu um beijo longo na testa. Eu gostava muito quando ela fazia isso, porque é a forma de ela dizer que me ama.

—Boa noite e sonhe com os anjos.- falou o que costumava dizer quando eu era menor.

—Boa noite mãe.- respondi.

Olhei para o teto e adormeci pensando no quê que teria acontecido com Jackson e sua irmã mais nova.