“Talvez eu esteja esperando algo legal para esse primeiro dia.”
—Baixinho?
—Por que demorou tanto?- perguntei, levantando da cama.
—Bom, meu chefe me mostrou uma boa parte da cidade, e depois eu fui fazer a sua matrícula e da Astrid.- explicou, depois de adentrar meu quarto.
—Ah! Eu estava preocupado.- respondi, sentando na cama novamente.
—Tudo bem. Mas eu já estou aqui.- falou, sentando ao meu lado.
Deitei na cama e fechei meus olhos, logo sentindo minha mãe fazendo o mesmo ao meu lado. Ficamos alguns minutos apenas deitados. Eu estava cansado, mas não tinha sono, ao contrário de minha mãe, já que eu sabia que a mulher estava para cochilar ali do meu lado. Mas tinha certeza que não iria o fazer.
—Vi que você já arrumou boa parte das coisas.- a outra perto de meu corpo comentou vagarosamente, virando de lado para olhar para meu rosto. Aproveitei para também virar em sua direção.
—É... Jack me ajudou.- falei, sorrindo de lado.
—Pensei que você não gostasse de caras da mudança.- respondeu irônica, me fazendo revirar os olhos.
—E eu não gosto, mas esse dá para o gasto.- falei indiferente.
Ela deu risada, e esperei a mesma parar.
—Quando que eu começo a estudar?- perguntei, assim que mamãe deu trégua.
—Semana que vem.- respondeu.
Ótimo! Não aguentava mais ficar em casa, embora prefira ficar quieto, estava começando a ficar tedioso demais.
Não demorou muito para que, assim que o silêncio se instalou por muito tempo, minha mãe levantar da cama, me assustando de leve.
—Está tudo bem por aqui?- perguntou.
—Está mãe. Pode ir dormir.- falei, sentando.
—Ótimo. Até amanhã, Hiccup.- disse, logo dando de ombros.
—Até amanhã.- respondi num sussurro, ao que a observei sair do cômodo, e não demorei mais para levantar dali.
Peguei minha toalha perto do guarda roupa, do qual eu já havia montado, e fui em direção ao banheiro do quarto. Tomei um banho rápido, e também troquei de roupa no mesmo ritmo. Só queria deitar na cama, e quem sabe, pensar sobre o meu dia, ou sobre minha casa nova. Mas o que aconteceu não foi isso: no instante que eu me aconcheguei no cobertor, e deitei minha cabeça no travesseiro, caí no sono rapidamente.

—Acorda!
Levantei assustado, e com a respiração ofegante. Com a súbita surpresa, e com o movimento rápido que eu fiz, senti uma leve tontura, o que me fez colocar minha mão em minha testa, fechando os olhos, ao que senti aos poucos a sensação se distanciando.
Quando abro os meus olhos, cerro os mesmos, a fim de enxergar através do clarão que vem da janela. Assim que minha visão está melhor, as vejo dando gargalhada, logo me fazendo perguntar o motivo para não estar escutando suas risadas, e então percebo que é porque estou de fones de ouvido, e então me pergunto mais uma vez como é que eu consegui escutar o grito me mandado acordar.
E a resposta é fácil de ser imaginada: foi porque Astrid que o fez. Só ela consegue gritar mais alto que tudo nessa vida.
Tirei os fones, logo assumindo uma expressão nada amigável.
—O que vocês querem?- perguntei resmungando e logo deitando na cama novamente, também aproveitando para elevar a coberta, a fim de cobrir meu rosto.
—Hiccup, é sério... Acorda.- era Astrid, ao que a senti tentar arrancar a coberta de mim.
—Pra quê? Hoje é domingo.- respondi, virando para o outro lado.
—Não é não. Hoje é segunda-feira.- mamãe corrigiu.
—Mesmo assim. O quê que tem demais em uma segunda-feira, para vocês me levantarem tão cedo?- tirei a coberta do meu rosto, e virei para o lado que eu estava antes, olhando para elas, e esperando por uma resposta boa o suficiente.
—Aula.- Astrid respondeu simples.
—Mentira. Minha mãe falou que eu voltaria para a escola semana que vem.- ditei, cobrindo meu rosto novamente, decidido a voltar a dormir.
—Eu falei isso mesmo, mas foi na semana passada. Hoje já é a semana que você terá aula.- escutei a voz da mulher.
Ainda duvidando, aproximei meu relógio para perto de meus olhos, forçando minha vista a enxergar a data. Oh... Elas estão falando a verdade.
Esperei mais alguns segundos, então afastei o cobertor, fazendo questão de mostrar minha cara emburrada.
Em resposta, elas apenas sorriam debochadas.
Revirei os olhos, pegando meu celular e desconectando do fone de ouvido, e levantei da cama, calçando minhas sandálias, logo indo em direção ao banheiro. Tirei minhas roupas, e fui para o box. Liguei o chuveiro, fechando os olhos enquanto recebia a água fria, e encostei minha mão na parede. Teria dormido, se eu não estivesse escutado batidas na porta.
—Anda logo com isso Hiccup! - me assustei ao escutar a voz de Astrid.
—Já vai.- falei, me apressando em passar o sabonete pelo meu corpo.
Lavei meu cabelo rapidamente, e pude finalmente sair do box.
Peguei a toalha pendurada, e a passei pela cintura. Caminhei para fora do banheiro, com as roupas sujas na mão, jogando-as no cesto para depois minha mãe lavar, e fechei a porta atrás de mim.
Observei por alguns segundos Astrid sentada em minha cama, mexendo em meu celular. Teria reclamado, mas como era a garota que estava mexendo, não tem problema.
Caminhei até o guarda roupa, pegando uma calça jeans preta e uma blusa azul escuro, logo pegando em outra gaveta uma cueca, jogando as roupas na cama assim que terminei. Estava para tirar a toalha, quando lembrei que Astrid estava ali.
—Vai ficar para o meu showzinho?- perguntei, com a mão na barra da toalha.
—Hm? Ah! Não seria má ideia.- respondeu irônica, desviando a atenção do celular, e fazendo uma expressão provocadora.
Franzi o cenho, antes de responder.
—Sai logo daqui, Astrid!- falei, sorrindo também.
Ela gargalhou, antes de levantar e sair do quarto. Escutei a porta se fechando, e tirei a toalha da cintura logo depois.
Coloquei a cueca, e passei desodorante. Vesti primeiro a calça jeans, e depois fui calçar meu all star preto. Vesti a camisa, e arrumei meu cabelo de lado, sabendo que quando o mesmo secar, a franja irá ficar caindo em meus olhos. Passei meu perfume, e peguei minha mochila, que só tinha o caderno e o estojo, já que eu ainda não tinha livros.
Desci as escadas escorregando pelo corrimão, e deixei a mochila no sofá, indo para a cozinha logo depois.
—Oi, filho. Já estou saindo para o trabalho.- minha mãe falou quando eu cheguei.
Veio até mim, e meu deu um beijo na bochecha.
—Até daqui a pouco então, mãe.- a respondi.
—Tenha uma boa aula, os dois. E tomem cuidado... Boa sorte.- gritou da porta.
Sentei na cadeira ao lado de Astrid, me servindo de cereal e não podendo evitar de pensar na última vez que eu o comi. Dei um sorriso pequeno com a recordação. Eu e Astrid comemos rápido, e subi para escovar meus dentes. A loira veio atrás de mim.
—Me dá uma escova.- pediu, entrando no banheiro comigo.
Abri a gaveta do armário, e peguei uma escova nova para ela. Escovamos nossos dentes, e descemos a escada, prontos para sair.
Pegamos nossas mochilas, antes que eu pudesse fazer a pergunta.
—Você sabe onde é?- questionei para a loira, pegando meu celular de sua mão.
—Sei.- respondeu, abrindo a porta.
Ela saiu primeiro e eu fui depois, me encarregando de passar a chave antes de me distanciar, ao que logo depois guardei o chaveiro no bolso da calça preta.
Começamos a andar, e eu logo encosto meu braço em um dos ombros de Astrid, abaixando minha cabeça e descansando a mesma no braço encostado, sendo guiado por ela, por não estar de olhas abertos.
—Ei, o que foi?- perguntou, sem se incomodar com o meu ato.
—Estou com sono.- digo vago, sem levantar a cabeça.
Ela não responde, então decido mudar de assunto.
—Como está na casa nova e no emprego?- perguntei.
—Na casa nova está legal até agora, e no emprego também.- respondeu.
—E os seus vizinhos?- continuei, antes de soltar um bocejo.
—A vizinha é uma tagarela, e o vizinho é um idiota com o ego lá em cima.- respondeu, e sua voz saiu um tanto irritada.
—Nossa, você não gosta de ninguém mesmo!- brinquei, ainda que fosse verdade.
—Vai me dizer que os seus vizinhos são legais?- perguntou debochada.
—São sim.- disse indiferente, e levantei a cabeça olhando para o caminho.
—Sei.- duvidou, olhando para mim, e virando a atenção para o lugar onde estava antes.- Chegamos.
Só aí que eu percebi que estávamos em frente à uma escola.
Suspirei, e então eu e a garota nos aproximamos, não demorando tanto para entrar. Passamos pelo porteiro, logo dando de cara com o pátio, que é enorme. Perto do mesmo, tem uma área verde... talvez sirva para estudarmos, ou para os excluídos. No espaço grande, há alguns bancos e mesas, e perto destas, há uma lanchonete.
Andamos sem rumo, não demorando em escutar um sinal tocar. Os demais que estão ao nosso redor, começam a caminhar em direção à uma porta.
Inicialmente, o seguimos. Entramos no que eu penso ser a biblioteca, e depois passamos por outra porta, que acabou por dar para um corredor imenso de salas.
—A gente precisa ir até a sala do diretor pegar nosso horário.- Astrid diz agarrando minha mão, e me puxando.
Ando sendo guiado por ela, e esbarrando em algumas pessoas que me xingam ou que resmungam, me levando a pedir desculpas toda vez que recebia um protesto de alguns.
Chegamos perto de uma porta, e Astrid finalmente soltou minha mão, que notei ter ficado vermelha no ponto onde ela fez pressão. Massageio meu pulso, antes de ver a loira bater na porta umas duas vezes, e sem esperar pela resposta, entra na sala.
—Você está l...- chamo sua atenção, percebendo não ter adiantado, pois ela já estava perto da mesa do diretor.
—Nós precisamos do nosso horário.- diz, colocando a mão na cintura.
Entro e fecho a porta atrás de mim.
Sorrio sem graça para o homem moreno, que não parece ter gostado da atitude de minha amiga, mas não briga com a garota, como eu pensei que ele faria. Apenas abre a gaveta da mesa, e tira de lá dois papéis.
—Esse é o seu horário.- fala entregando uma folha para ela, e outra para mim.- Nesse papel, há algumas instruções de como funcionam as aulas, dentre outras coisas.
Damos uma olhada rápida por alguns segundos, sendo que depois dos mesmos, Astrid anda até a saída.
—Tem mais alguma coisa que precisamos saber?- pergunto.
—Sim. Aqui não aturamos relacionamentos, nem mãos dadas, nem beijos. Se quiser namorar, namore fora da escola.- ditou, entrelaçando as mãos e as colocando em cima da mesa.
Não abri minha boca para responder, pois sabia que Astrid o faria por mim, e sua resposta será bem melhor do que a minha, mesmo que eu ainda nem tenha escutado.
Olho para trás, vendo a loira se virar para nós novamente.
—É mesmo? Pois eu já vi um monte de casal se pegando no corredor, no caminho até aqui. Imagina o que eles estão fazendo em lugares escondidos, huh?- fala séria.
Astrid não suporta que falem que nós somos namorados. Não é porque é constrangedor, mas é porque eles sempre nos julgam dessa forma.
—Eu te disse que a monitoração daqui é excelente, Hiccup.- por fim, comentou sarcástica e saiu da sala, batendo a porta.
Virei para o diretor, que assumia uma expressão surpresa, ao que fiz questão de dar um sorriso, e não demorei mais para começar a me afastar.
—Tenha um bom dia, diretor. Ah, e obrigado pelos horários.- falei, e saí da sala.
De imediato encontrei Astrid encostada à parede, com os braços cruzados. Também reparei no corredor completamente vazio; provavelmente todos já estavam nas salas.
—Que diretor mala.- ela disse, desencostando da parede quando me notou
—Você que é uma mala.- respondi sorrindo, e puxando-a pela cabeça, depositando meu braço por seus ombros logo depois. Começamos a andar.
Olhei para o papel em minha mão esquerda, e vi meu primeiro horário: Química! Não podia ter começado com uma matéria melhor!
Sorri, virando minha atenção para Astrid.
—Qual é o seu primeiro horário?- perguntei.
—Química.- revirou os olhos.
Ela odeia a matéria... Nos nossos trabalhos, a loira nunca faz a parte que lhe cabe.
—Temos esse horário juntos.- anuncio, vendo qual é a sala da matéria no papel.
—Ótimo.- diz por fim.
Quando achamos a sala, batemos na porta, esperando pelo professor, ao que não demorou para que um homem loiro aparecesse, e mantesse a porta entreaberta, não deixando que passássemos ainda.
—A aula começou faz dez minutos.- falou, olhando para o relógio de seu pulso.
—Nós estávamos pegando os nossos horários, professor.- explico.
—São novatos?- pergunta, assumindo uma expressão curiosa, e mais amigável.
—Sim.- respondo.
Ele dá de ombros, e abre a porta, esperando que passemos.
—Qual o nome de vocês?- pergunta sussurrando.
—O meu é Hiccup e o dela é Astrid.- respondo.
—Ei! Turma, esses dois são novatos aqui.- nos olha, antes de continuar.- O nome dele é... Hiccup.- assim que o disse, pareceu perceber o quão estranho era dizer meu nome, e o quão estranho era o mesmo. Mas não posso fazer nada, já que minha mãe que o colocou...- E o dela é Astrid.- apontou para a loira um pouco atrás, virando logo depois para os demais sentados.
A sala toda olha para nós dois parados com uma expressão indecifrável.
Há alguma coisa mais constrangedora do que ser apresentado para uma turma nova?