A lanchonete onde toda a massa universitária se encontrava era o point social daquele lugar, estudantes de todos os cursos frequentavam ali, e era um ótimo lugar pra conhecer pessoas.
E lá estava Lucinda sozinha em uma mesa, com um copo de suco na mão pra disfarçar sua presença ali. Olhava freneticamente para todos os lados em busca da misteriosa garota que não abandonou seus pensamentos desde que Daniel a mencionou uma semana atrás.
Já começava a ficar frustrada, gastava todos seus intervalos naquela lanchonete e nada de ver a tal garota, o campus era grande não dava pra sair procurando-a por todo aquele lugar. Então precisa ser ali, mas porque ela não apareceu mais? Sentia-se louca por estar tão obcecada por uma desconhecida, mas não podia explicar o porquê, simplesmente precisa vê-la e só descansaria quando isso acontecesse.
Já estava levantando para ir embora quando viu. Parada na entrada uma garota cuja chegada não passou despercebida, todos pararam para olhá-la. Era do tipo que deixava uma marca por onde passava, Lucinda observou paralisada, assim como os demais, a garota atravessar o espaço da entrada até o balcão de atendimento, seu andar firme e cheio de atitude. O barulho de suas botas pretas de cano alto contra o piso de madeira era o único som no local. Seus cabelos negros, em contraste com sua pele extremamente branca, desciam pouco abaixo dos ombros, eram lisos e cacheavam nas pontas. O piercing na sobrancelha arqueada dava o toque perfeito ao olhar de desdém.
Encostou-se displicentemente no balcão e encarou o atendente que a olhava boquiaberto.
- Quero a dose do dia, vamos garoto não tenha pena, quero tomar todas e mais duas.
- Er... ah ... aq... aqui não vendemos bebida alcoólica. Eu já lhe disse isso. – gaguejou o atendente, que parecia prestes a desmaiar só por estar falando com ela.
- Ora mais que cara chato. Deixa de ser tão careta, não lhe mandei trazer uma especial pra mim.
- Aqui é uma lanchonete universitária, não cai bem.
- Ora, quem gosta de beber mais do que universitários? Vocês não concordam? – houve gritos de afirmações, aplausos e assovios.
- E ninguém precisa mais de um porre do que nós, estudamos de mais, precisamos nos desligar de tudo isso de vez em quando. – mais gritos de aprovação. Ela tinha um sorriso sarcástico no rosto angelical.
E Luce não conseguia parar de olhar aquela figura vestida de preto, aquela beldade que tinha uma horrível cicatriz no pescoço, aquela garota cuja visão estava fazendo seu estômago revirar. Limpou as mão suadas no short, o que estava acontecendo? Por que tinha aquela sensação? Um misto de alegria com uma angustiante vontade de chorar? Por que sentia como se tivesse reencontrado alguém especial se nem conhecia a tal garota? Porque sentia a necessidade sufocante de ir até ela? Sabia que precisava se aproximar, tinha um instinto forte de fazer com que a garota também a visse. Ela precisava saber de sua presença ali. Mas suas pernas não se moviam.
O tempo estava passando e Luce foi da imobilidade a caminhada de um milésimo a outro, quando deu por si, já estava na metade do caminho até o balcão, não tinha como voltar, sentia-se uma marionete, não tinha controle de seu corpo.
A garota havia engatado em uma conversa nada filosófica com um garoto que havia encostado a seu lado no balcão, e estavam engasgando de rir de alguma idiotice dita por ele quando Luce tocou o ombro dela.
Foi como se o tempo houvesse parado naquele instante. Luce esperou com o coração aos saltos e quando a garota voltou-se para o ser que a tocou, seu rosto sempre com expressão sarcástica modificou-se, a surpresa inundando-o.
As duas ficaram ali se encarando e o que era aquilo? Eram lágrimas surgindo nos olhos da garota misteriosa? E porque também sentia o choro subindo pela garganta? Porque seus olhos também se encheram de lágrimas? Que emoção era aquela.
- Luce! – a garota disse e quase que inconscientemente estendeu a mão para tocar seu rosto. O toque gentil na bochecha de Luce fez com que sua vontade de abraçar aquela garota aumentasse. Mas o momento durou pouco, como se houvesse tomado um choque a garota afastou-se visivelmente abalada, e depois de um último olhar disparou para fora da lanchonete, não da mesma forma poderosa que entrou, mas sim em uma fuga desesperada que a fez esbarrar em mesas e pessoas. E Lucinda ficou ali parada sem compreender o que acabara de se passar.