EATHAN

Juramento dos Anjos da Guarda

Eu Eathan juro guardar e guiar minha protegida Alice Ashford. Juro que serei leal e cumpridor das Leis Divinas, responsabilizando-me por todos os meus atos. Se descumprir este juramento ou qualquer Lei Divina aceitarei todas as consequências.

Leis Especiais para Anjos da Guarda

1- Não manter nenhum tipo de relacionamento amoroso com qualquer humano, especialmente seu (sua) protegido (a);

2- Não faltar com proteção para com seu (sua) protegido (a);

3- Não matar ou deixar propositadamente um humano morrer;

4- Não deixar de cumprir seu juramento de guardião;

5- Cumprir todas as Leis Divinas;

6- Arcar com as responsabilidade de suas escolhas;

7- Não triar, prejudicar e/ou matar nenhum anjo;

[...]

Oração dos Guardiões aos Mortos

Que os céus se abram perante ti e que a piedade divina recaia sobre vós. Oh, Pai misericordioso receba este teu filho, perdoa-lhes os pecados e o encha de graça. Não tenha medo da morte, pois nela encontramos a vida. Que a sua eternidade seja de luz, e não de trevas. E que assim seja.

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Mason e Scarlet vieram ao meu encontro. Alice estava desmaiada no meu colo. O corpo do Mark estava a menos de dois metros de nós. Mesmo morto seus olhos continuavam abertos, como se a qualquer minuto ele pudesse se levantar. Mas não podia.

– Como você está? - perguntou Mason agachando a minha frente.

– Bem.

– E ela?

– Vai ficar bem.

– O que houve? - perguntou ele olhando para o Mark.

– Era ele, o Destruidor. - contei desanimado. - Estava estrangulando a Aly quando cheguei.

– Uau. - exclamou Mason baixinho.

– É melhor irmos embora. - falou Scarlet. - Os arcanjos devem estar vindo.

– Certo.

Deixamos para trás um tapete de corpos. Anjos caídos, mortos. Nada disso precisava ter acontecido. Refizemos o caminho pela trilha na floresta de volta ao Toyota. Meus passos eram automáticos. Eu nem sentia o peso do corpo da Aly nos meus braços. Quando chegamos no carro sentei no banco de trás com a Aly. Mason à direção e Scarlet ao seu lado.

– Mason, me prometa que vai cuidar da Alice para mim. - pedi-lhe enquanto acariciava o cabelo da Aly deitada no meu colo.

– O quê? Por que isso? - perguntou ele surpreso.

– Porque depois de tudo que aconteceu eu não vou mais ser o guardião da Aly, e preciso que alguém cuide dela por mim. - disse-lhe soturno. - Ninguém melhor do que você.

– Eathan...

– Escuta, eu vou assumir a culpa por tudo, sozinho. Nenhum de você tem que pagar pelo que houve. Foi responsabilidade minha. Então eu não vou ter um futuro bonito. Se eu tiver sorte, perco só as asas. Se não tiver sorte, o que é bem provável, eu vou para o inferno. Eu posso aceitar isso. Mas preciso ter certeza que a Alice vai ficar bem. E só confio em você para protege-la.

– Você não pode assumir tudo sozinho. - reclamou Scarlet.

– Não só posso, como devo. - argumentei. - Eu arrastei vocês para isso e agora vou tira-los. Não há necessidade de nós três sermos punidos.

– Eathan, por favor...

– Só me prometa que vai cuidar dela, Mason.

– Tudo bem. - concordou ele afinal com um suspiro cansado. - Não se preocupe, ela vai ficar bem.

– Obrigado.

Fomos o reto da viagem em silêncio. Eu entendia a preocupação deles, mas não achava justo que eles tivessem que pagar por algo que era culpa minha. Não queria ter que deixar a Aly, não mesmo. Mas não tinha como fugir.

Demoramos quase vinte e quatro horas da campina até a casa da Alice. Quando chegamos o sol ainda estava longe de nascer. Saltei do carro e peguei a Aly no colo. Parei ao lado da janela do carona.

– Juízo, crianças. - esbocei um pequeno sorriso.

– Tem certeza que é isso que você quer? - perguntou Mason.

– Tenho sim, Mase.

– Ai, eu odeio despedidas. - reclamou Scarlet segurando o choro.

– Ei, isso não é uma despedida, ok? Vai ficar tudo bem. Toma conta do Mason enquanto eu estiver longe, Scar.

– Pode deixar, amor. - ela deu uma piscadela.

– A gente se vê.

Virei-me para entrar em casa. Ouvi o carro de afastar. Quando entrei vi que a sala estava do mesmo jeito que da última vez. Móveis quebrados, sangue manchando o chão, tudo espalhado. Levei a Aly até o quarto, colocando-a cuidadosamente na cama. Ela havia acordado algumas vezes durante a viagem. Abria os olhos, sorria para mim e voltava a dormir. Acho que ela só queria ter certeza que eu estava com ela. Aninhei-me na cama do seu lado.

– Oi. - disse ela com a voz rouca.

– Te acordei?

– Não, acordei sozinha mesmo. Na verdade, tive um pesadelo. - confessou.

– Não parecia que você estava tendo um pesadelo. - comentei mexendo no seu cabelo.

– Acho que era mais um sonho ruim do que um pesadelo. - ela ponderou.

– Tem diferença?

– Pesadelo são sonhos ruins dos quais você não consegue fugir.

– Ainda bem que eu não durmo. - abri um pequeno sorriso e ela retribuiu.

– Cadê o Mason?

– Foi resolver umas coisas. - dei de ombros.

– E a Scarlet? - perguntou ela com certa relutância.

– Voltou para casa.

– O céu?

– É.

– O que acontece agora? - quis saber ela com uma nota de tristeza e preocupação.

– Agora virão as mentiras. mentiras sobre a morte do Ralf, sobre a morte do seu pai, sobre onde você esteve todos esses dias. Mas o Mason vai te ajudar com isso.

– O Mason? Por que não você? - agora sua preocupação era palpável.

– Linda, eu fiz mais coisas erradas nessa última semana do que em todos os meus anos de guardião. Tudo isso terá uma consequência que eu precisarei aceitar.

– O que isso quer dizer, Eathan?

– Quer dizer que... - hesitei. Se você realmente pretende dizer a verdade então não pode hesitar. A hesitação é uma pré-mentira. - Quer dizer que terei que passar por um julgamento e talvez tenha que ficar longe por um tempo. - tipo a eternidade, pensei desgostoso.

– Mas vai ficar comigo, não é? - Alice me olhava fixamente me arrastando para o fundo do azul dos seus olhos.

– Você me ama?

– Sim. - respondeu ela com firmeza.

– Então estarei sempre no seu coração.

Com certeza não era essa a resposta que ela queria. Mas eu não podia mentir para ela. Não podia dizer-lhe que ficaria com ela quando provavelmente eu seria jogado no inferno. Alice me encarava de um jeito que fazia eu me perguntar se ela podia ler meu pensamento.

– Eu te amo, Aly. - dei um beijo na sua testa. - Não se esqueça disso.

– Não vou esquecer. - disse ela. E eu percebi que ela sabia.

Sabia que talvez não me visse mais. Mesmo assim não disse nada e se manteve firme. Era um presente. Estava me dando uma despedida tranquila, sem brigas nem nada do tipo.

Selei nossos lábios com um beijo lento. Estava gravando cada gosto e sensação. Se aquilo não fosse um adeus teria sido o melhor momento da minha vida. Tão simples e complexo ao mesmo tempo. Tão curto e tão perene. Tão suave e intenso. Tão errado e tão certo.
Fiquei abraçado com ela, murmurando-lhe uma melodia suave até que ela caísse no sono. Depois arrastei-me para fora da cama. Dormia tão serena e tranquila. Sem dúvida eu a levaria para sempre na memória. E no coração.

E então eu senti. Era uma força incrível. Se eu esticasse a mão talvez conseguisse sentir a energia magnetizando o ar. Aí eles apareceram. Graciosos e imponentes. Arcanjos. Dois deles. Um homem alto com a pele rosada, cabelo raspado e olhos azuis que pareciam cristalizados. E uma mulher bem alta também com a pele morena, olhos verdes e um cabelo preto muito comprido, com uma franja que caia-lhe nos olhos.

– Somo a Guarda Celeste e viemos te buscar. - anunciou o homem com uma voz severa.

– Seus crimes serão analisados e você será julgado. - completou a mulher.

– Sabe pelo que está sendo acusado? - perguntou o homem.

– Sim.

– Se tentar fugir ou se esconder isso servirá como agravante. - continuou o homem.

– Não vou fazer isso. - garanti-lhes.

– Venha conosco então. - disse a mulher.

Os dois estenderam uma mão para mim. Dei uma última olhada para a Alice. Senti meu coração se rasgar, como papel. Com a tristeza me sufocando deixei os arcanjos me levarem embora dali.