Em Chamas

Capítulo 20 – Último dia, última chance


Depois de 2h30 de prova, os alunos já estavam liberados para saírem na hora que quisessem. Sem querer perder um instante sequer do meu precioso tempo, planejei meu tempo a fim de acabar a prova em menos de três horas – e foi o que fiz. Prova feita, gabarito preenchido, monitor chamado, prova entregada. Pegando meus pertences, corri para a entrada. Com o ar querendo fugir de meus pulmões, andei em volta da saída repetidas vezes; a imagem de uma única pessoa preenchendo minha mente.

O fim da tarde – e das provas – chegou tão depressa que me desesperei. Eu não havia a encontrado, Samanta não estava ali em lugar algum. Com horror, um pensamento corroeu meu cérebro: e se ela tivesse desistido da prova? E se ela sequer estivesse ali...?!!

O desespero alcançou cada célula do meu corpo; uma careta estranha tomando conta do meu rosto.

–Estava tão difícil assim as provas? – minha mãe perguntou preocupada quando ela e meu pai vieram me buscar.

–Não... – comecei, minha voz soando distante demais até mesmo para mim – Acho que só estou cansado mesmo. Vou indo me deitar já.

–Não vai nem jantar? – meu pai perguntou receoso.

–Já comi quando terminei a prova.



O sono, para minha surpresa, veio depressa; a escuridão tomando conta de mim em questão de minutos. Pela primeira depois de muito tempo, tive uma noite de sono sem sonhos.



Quando os portões se abriram, pontualmente, eu já estava lá. De lápis e caneta nas mãos, aguardei próximo da entrada, juntamente com outras centenas de candidatos que chegavam aos poucos. Eu não queria conversar com ninguém, não queria me aproximar de ninguém. Somente queria encontrar a garota que eu tanto procurava mais uma vez.

Desta vez, entretanto, não fiquei parado num único ponto. Dando voltas pela entrada, caminhando entre os alunos... foi assim que busquei por ela.

Mas mesmo assim também não a encontrei.

Uma fagulha de medo começou a crescer dentro de mim. Eu não tinha mais muito tempo.

Só me restava mais uma chance, e eu teria que me aproveitar de cada segundo dela.

Terminando desta vez a prova em exatamente 2h25, já estendi o braço e esperei os longos 5 minutos antes de um dos monitores virem até mim. Entreguei a prova e avancei até a saída. Se naquele momento eu estivesse disputando uma corrida de 500 metros, com certeza eu teria ganhado.

Me joguei num banco, arfando e suando enquanto olhava em volta. Um dos seguranças me olhou desconfiado, e eu tentei sorrir, fingindo estar despreocupado. Os candidatos começaram a chegar aos portões poucos minutos depois de mim. Em menos de uma hora, ali já estava lotado mais uma vez.

Começou a escurecer quando os últimos alunos alcançaram aos portões. Me levantei, olhando em volta. Onde estaria Samanta afinal?!

Me dirigi para o meio deles; cada rosto chegando até minha retina. Os portões tinham sido fechados. Todos que fizeram as provas já estavam ali fora. Desespero, medo, dúvida. Eu sentia uma mistura tão forte de tudo isso que era como se minha pele, meus olhos, meu cérebro, não sairiam ilesos se eu não a encontrasse ali.

O sol enfim se pôs no horizonte. Em instantes, meus pais chegariam.

Eu queria gritar, queria explodir a mim mesmo. Quando deixei que a ruína caísse sobre mim, correndo uma última vez meus olhos pelos candidatos que ainda restavam ali, foi que meu coração parou.

Uma silhueta se afastando ao longe. Uma garota que eu conhecia tão bem.

Não... não era uma ilusão.

Era Samanta quem estava ali. Eu finalmente havia a encontrado.