Em Chamas

Capítulo 16 - Coração mudo


–Samanta – oi, por que sumiu, por que fugiu assim, quem eu sou para você, eu quero te ver... – Sou eu, Diego.

Um arfar do outro lado da linha. Acho que ela nunca esperou que eu fosse ligar assim.

–Queria falar com você... – comecei, quando não aguentei mais o silêncio dela. – Por que se mudou para Niterói?

–Porque eu quero ir para a UFRJ. Se continuasse no colégio daí, nunca conseguiria passar.

A própria voz dela escondeu um segredo naquelas palavras.

–Não é só por isso, não é? – eu tinha que perguntar, tinha que tirar esse peso de mim.

Mais uma vez o silêncio. Não iríamos chegar a lugar nenhum assim.

–Eu avisei pra você, pra todos, saberem o menos possível sobre mim. Foi a primeira coisa que disse. Eu vim também por causa do trabalho dos meus pais, se faz mesmo questão de saber.

–Seus pais estão mortos.

Escutei Samanta prender a respiração. Ela achou que eu não sabia de nada.

–Olha... não quero saber como descobriu isso, mas é, tem razão. Eles, eles... estão mortos.

O que era aquela súbita tristeza e raiva em sua voz?! Me senti inútil por um instante, longe demais para conseguir abraçá-la agora.

–Eu não podia mais ficar aí, não podia deixar que você se envolvesse ainda mais comigo.

–Por quê?

Minha mão apertou o telefone, incapaz de querer se conter.

–Ah... Diego. Eu... eu sou uma pessoa horrível, desprezível. Deixei você se apaixonar por mim apenas como uma brincadeira, mas aí as coisas ficaram sérias demais, que chegou um ponto em que eu...

–Preferiu fugir?

A garota arfou, mostrando-se pela primeira vez cansada.

–Não é exatamente esse o nome.

–Qual é então?

–Por que quis se aproximar de mim? – Samanta me cortou, a raiva e a dúvida tomando conta dela - Por que, Diego?!

E foi então que eu contei a ela, tudo sobre cada detalhe do meu... joguinho particular. Como me senti quando a conheci, o que planejei no trabalho de física, como me senti depois da vingança dela, até quando chegou o momento em que nada mais era mentira e eu realmente me apaixonei por ela.

–Bem que eu pensei que fosse algo assim – a garota disse, depois de me ouvir falar – Fico feliz que tenha me contado.

–Eu tinha que contar.

Mais um instante mudo.

–Samanta... você vai voltar?

–Não.

Como doeu meu coração se quebrando ainda mais.

–Desculpa, Diego. Mas... eu não posso voltar.

“Nunca mais quero te ver.” Diga isso logo e acabe comigo de uma vez, Samanta.

–Olha, eu preciso desligar. Me passa seu e-mail que eu ainda preciso te dizer uma última coisa.

Como ela pediu, eu o fiz. Eu não sabia mais o que responder, não sabia como trazê-la de volta para mim.

–Diego...

–Sim? – falei, fechando os olhos quando pensei que não conseguiria aguentar mais.

–Você foi o único que se aproximou de mim assim. Guarde essa lembrança com você.