Em Chamas

Capítulo 13 – Revelação


–Como? – minha voz saiu rouca, embargada pelo desespero.

–Se mudou, meu jovem. Parece que foi ver os pais.

Cerrei os punhos. Isso não podia estar acontecendo.

–Onde os pais dela moram, senhora?

–Ah, é em outro estado, o nome da cidade eu não me lembro.

Baixei os olhos. Eu a tinha perdido.

Encarando o chão, fiz minha última pergunta:

–Sabe se aconteceu alguma coisa com os pais dela...?

A mulher parou para pensar.

–Não... Samanta me disse que só iria voltar a morar com eles. Acho que não aconteceu nada com nenhum dos dois não.

–Certo, obrigado. – minhas palavras saíram vazias, num murmúrio tão baixo que nem mesmo eu ouvi direito.

Sentei-me na calçada. Samanta se mudou... Se mudou... Mas, por que?!! Se eu soubesse essa resposta, essa única resposta, talvez com isso pudesse preencher o espaço vazio e inútil que restou dentro de mim.

Só que quem poderia me dizer isso?! Imaginei não uma pessoa, e sim um único lugar. Voltei em disparada para a escola.

A secretaria estava abandonada, as duas mulheres que ali ficavam saíram para o almoço. Me joguei num dos bancos vagos e esperei; a angústia abrindo um abismo dentro de mim.

Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, só podia ter sido culpa minha essa mudança repentina dela. Eu nunca devia ter me aproximado dela, era melhor nada entre nós ter acontecido. Será que era isso que esse desespero que me envolvia queria me dizer...?! A verdade doía em meu cérebro.

–Diego...? – uma voz que me pareceu distante num primeiro momento, disse de repente.

Abri os olhos, piscando duas vezes.

Elas haviam chegado.

–Roberta! – exclamei, correndo até a secretária – Queria te perguntar uma coisa.

–Diga – a mulher sorriu gentilmente para mim, a bondade me ferindo ainda mais.

–Chegou alguma notícia ontem ou hoje da Samanta? Parece que ela se mudou sem avisar ninguém...

–Deixe-me conferir aqui – ela disse, começando a digitar freneticamente no teclado do computador. Seus óculos refletiam fieis as imagens ali da tela.

O que eu podia fazer agora além de esperar?!

–Achei. Chegou sim, Diego. – os olhos de Roberta percorreram os dizeres do computador – Ela saiu da escola, veio ontem no fim da tarde pegar seus documentos.

–Para onde ela se mudou? – perguntei depressa.

–Niteroi, Rio de Janeiro.

Longe demais. Senti meu coração de partir.

–Mais alguma coisa? – a mulher perguntou, vendo que eu ficara um minuto em silêncio.

–Tem alguma informação sobre os pais dela?

Roberta voltou os olhos para a tela.

–Tem sim... – alguma coisa em sua voz soou receosa. Uma sensação de alerta percorreu minha pele – Aqui diz que ela mora sozinha, Diego. Os pais dela estão mortos.