Em Chamas

Capítulo 10 – Desejo e arrependimento


–Sobre você. Sobre nós.

A hora da verdade tinha chegado.

Samanta arqueou uma das sobrancelhas. Um sorriso de escárnio começou a se formar em seu rosto.

–Você mudou, Samanta. – comecei, sem perder mais tempo – Mesmo conversando com todos da sala e sorrindo... Eu vejo todos os dias eu seus olhos que isso não passa de uma farsa. Você não é nada daquilo!

Com o coração aos pulos, esperei em vão por uma resposta dela. Samanta não disse uma única palavra.

Cerrei os punhos, não tendo escolha a não ser continuar:

–Essa máscara que você pregou em seu rosto... Por que faz isso com você mesma, Samanta?! Me mostre quem você realmente é, e não essa farsa que eu vejo.

Se ela não dissesse nada agora, eu não saberia mais o que seria capaz de fazer em seguida.

–Máscaras servem para isso, Diego. Para esconder aquilo que você não quer que ninguém mais veja. Se são sorrisos falsos que eles querem, é isso que vou mostrar a eles.

Suas palavras saíam numa violêcia fria, entretanto... o que era aquela tristeza em seus olhos?!

–Eu não quero seus sorrisos falsos. – avancei um passo, com medo de perdê-la mais uma vez.

–Essa é a melhor opção. – Samanta se moveu também, a distância de poucos centímetros nos separando agora - Você vai se arrepender por dizer isso quando realmente me conhecer.

–Duvido. – respondi rápido, as palavras surpreendendo-a por um instante – Eu quero ver uma Samanta sem máscaras, sem olhos tristes ou sorrisos falsos. Eu quero me aproximar de você, Samanta, quero ver a garota que você realmente é.

–Nem um pouco insistente você hein – um sorriso indecifrável tomou conta de repente dos lábios dela.

Havia algo naqueles lábios que libertou um desejo insaciável que eu escondia dentro de mim. Não consegui deixar de sorrir também.

–Só o velho e teimoso Diego de sempre.

–Cuidado - pela primeira vez aquela voz, insondável, me silenciou por completo - Você sabe que posso fazer da sua vida um inferno ou um paraíso.

Eu via a fúria em seus olhos; uma fúria ardente, convidativa. Era como se houvesse chamas dançando ali dentro.

Eu girei o pescoço, desviando os olhos dela somente por um segundo. Precisava daquele instante para me controlar, e não agir mais uma vez por impulso. Fechei os olhos ao mesmo tempo em que cerrava os punhos e prendia a respiração. Eu podia fingir que conseguia me controlar por fora, mas por dentro o desejo cravava suas garras por todos os cantos, gritando por liberdade e buscando incessantemente por uma saída.

Voltei a encará-la, já que era imperdoável demais ficar sem olhá-la por mais de um segundo.

Tudo fora em vão. Mais uma vez, aqueles olhos me chamavam.

Meu corpo estremeceu, perguntando-me por quanto tempo mais iria aguentar ficar ali, estático. Eu precisava fazer alguma coisa, e rápido. Só assim saciaria esse desejo.

–O inferno você já me mostrou - minha boca se curvou num sorriso de caçador - E o paraíso?