– Foi a situação mais estranha do mundo – Martin começa a explicar a Nicole o acontecimento já de volta ao hotel – Primeiro ele fica bravo conosco de manhã e em seguida nos encontra invadindo a casa e age como se nada houvesse acontecido. Falou que nossa descoberta serviu como uma grande peça para o instituto e quando perguntei onde a casinha estava agora ele simplesmente desviou do assunto. Sem contar que a voz grossa que ouvimos na biblioteca em Oxford naquele dia é dele!

– O quê será que ele estava a fazer lá? – Nicole questiona a si mesma – Nunca o vi antes, ele com certeza não é funcionário do colégio.

– Pelo menos conseguimos a próxima pista – Lucas comenta enquanto termina de ajeitar as coisas na mala.

– Eu guardei para podermos ler juntos. – disse Martin retirando o pergaminho do bolso e abrindo-o.

“Bem, eu já vi muitos gatos sem sorriso”,

Pensou Alice,

Mas um sorriso sem gato, é a coisa mais curiosa que já vi em toda minha vida!”

– É mais uma citação do livro. – confirmou Nicole. – A parte em que Alice reflete sobre o Gato de Cheshire (Gato Risonho).

– “Um sorriso sem gato” – Martin repete a frase marcada para si mesmo – “É a coisa mais curiosa que já vi em toda minha vida”.

– Fascinante. – Nicole se dirige a Martin.

– É incrível.

– É esquisito isso sim. – suspira Lucas. – Suas malas estão prontas? Porque eu já estou vazando.

Nicole pegou sua mochila e correu atrás de Lucas pelo corredor vitoriano-de-araque. Enquanto isso, Martin termina de colocar seu casaco e coloca a carta da Rainha de Copas de qualquer jeito no bolso externo da mochila.

Quando se levantou e correu em direção ao corredor, a porta se abre de repente, era a empregada Samantha, aparentemente indo dar uma última vistoria no local.

Ele tentou desviar, mas o acontecimento foi muito rápido. Os dois se chocam contra o outro. Ela deixa cair alguns esfregões e papeis de suas mãos e a carta mal colocada na mochila de Martin sai voando até os pés de Samantha.

– Desculpe-me, desculpe-me senhor! – ela se abaixa para pegar os objetos – Eu já vou p...

Sam fica paralisada, sua aparência fica uma mistura de preocupada, aflita, confusa e assustada. Ela começa a tremer. Ao se levantar, Martin vê seu rosto pálido.

– Onde foi que conseguiu isso?! – diz com uma voz trêmula, rouca e baixa apontando para a carta da Rainha de Copas.

Martin tentou falar algo, mas a mudança trágica de humor de Samantha o estava assustando. Ele percebeu que ela iria desmaiar, foi quando ela voltou a si.

– Só estou dando uma última vistoria querido – sorriu – Precisa de alguma coisa?

O garoto não conseguia falar nada, a camareira voltara a si como se nada tivesse acontecido. Samantha dá o mesmo sorriso de antes e sai correndo do quarto, deixando para trás seus pertences no chão.

Martin apanha a carta de volta e a coloca no bolso. E anda até a sala da recepção confuso. Enquanto isso Samantha se enfiara num armário de vassouras, ela tira um celular do bolso do avental, coloca na discagem rápida e quando é atendida somente duas palavras foram pronunciadas de sua boca.

– Eu encontrei.

***

De volta a Oxford algo parecia diferente para eles, o colégio não parecia mais tão colorido e atrativo como antes, sentiam a mesma sensação quando estavam na casa de Lewis Carroll em Guildford. Uma sensação de como estivesse perdido no meio de uma escuridão, com frio.

Martin não dormiu bem. Quase passou a noite toda em claro. Os pensamentos antes animados agora se tornaram confusos e questionadores.

As aulas matutinas passam mais uma vez em branco em sua mente devido aos prolongados pensamentos e reflexões.

O sinal toca e em vez de ir para a biblioteca como de costume ele opta ir ao refeitório. Como era o primeiro intervalo o lugar se encontrava vazio.

Nicole chega acompanhada de Lucas que claramente estava animado com alguma coisa.

– Eu descobri mais coisas! – diz ele empolgado abrindo o notebook na mesa. Enquanto isso Martin só se encolhia cada vez mais funda na cadeira. – O autor nasceu num condado chamado Cheshire e nesse mesma cidade eram fabricados queijos moldados em forma de gatos. Acho que foi isso que o inspirou a criar o Gato Risonho.

– Uau, bom trabalho Lucas – brincou Nicole.

– Eu sei - disse estufando o peito.

– Mas também tem outra coisa, quando Carroll era criança conheceu um pintor, e ele fazia pinturas de leões sorrindo nas tabuletas das hospedarias da cidade. –Nicole estufou o peito imitando Lucas.

– Gostei de vocês terem pesquisado isso, mas, eu quero deixa essa coisa do livro um pouco de lado. Estou cansado e preciso começar a me concentrar mais nas provas. Já estamos praticamente no meio do ano. – Martin cuspiu as palavras com um tom cansado. – Sem falar na quantidade de faltas que temos. Eu não estou a fim de perder a bolsa.

Nicole e Lucas se olharam por um tempo. Dão de ombros, começam a abrir seus livros e agendas. Enquanto isso, Martin se distrai fazendo alguns pequenos rabiscos nas margens de suas anotações.

O mesmo liga o celular conectado ao wi-fi do colégio e manda mais um sinal de vida a sua família. Confere as horas.

– Aqui sempre será a hora do chá Martin – Nicole sorri a ele e ele devolve o sorriso.

Nicole abaixa a cabeça para voltar a estudar e Martin percebe por trás dela, dois lindos vitrais antigos. Feitos em homenagem a Charles L. Dodgson, as pequenas partes de vidro recriavam os vários momentos do livro. Inclusive a cena de Alice com o Gato Risonho.

– Porque não vão dar uma olhada no vitral? – pergunta Martin aos seus dois amigos – Tem o Gato de Cheshire lá, talvez seja sobre o quê fala a pista.

Lucas e Nicole se viram ao ouvirem isso se viraram para olharem, em seguida se levantam e vão até lá.

– Martin vem até aqui! – Nicole o chama. – Acho que realmente descobrimos.

O menino se levanta sem jeito e vai à direção dos outros dois.

– O quê é?

– Está vendo? O lugar onde fica o sorriso do gato está incompleto, faltando um pedaço do vitral – Nicole aponta o lugar.

– E por incrível que pareça é exatamente do tamanho do sorriso, isso foi retirado de propósito. – Lucas analisa.

– Hummm... É verdade.

– Precisamos saber o que aconteceu aqui. – Nicole confirma. No mesmo momento um dos faxineiros passa pelo refeitório fazendo uma pequena vistoria.

– Senhor. – Nicole o chama, o mesmo a atende – Poderia me dizer por que algumas peças do vitral estão faltando?

– Algumas saíram devido ao tempo – explicou – Mas se está se referindo ao gato que todos perguntam, saibam que o vitral já foi construído sem essa parte.

– Mas, por quê? – Lucas o questiona, há um pouco desapontamento em sua voz.

O faxineiro dá com os ombros e coloca-se de novo a andar.

– “Um gato sem sorriso...” – Martin relembrou – com certeza sobre isso que falava a última pista.

Na mesma hora o som do sino ecoa por toda a universidade.

– Precisamos voltar ao trabalho – Martin falou cabisbaixo – Se não se importarem, gostaria de deixar isso pra depois, ok?

– Tá tudo bem cara. – Lucas sorriu fazendo gesto com o dedão.

Os três andavam juntos a caminho de suas classes. Quando dobraram a esquina, numa fração de segundo mal puderam perceber que a professora e coordenadora Louis, dobrava a esquina apressada na mesma velocidade que eles, também indo para a sala.

Os seus corpos se chocam contra os outros, a professora deixou cair pelo corredor sua pilha de livros e apostilas. Os três começaram a pedir desculpas simultâneas a ela.

– Está tudo bem, nos se preocupem – falou numa voz doce e calma.

Martin e Lucas se abaixaram para recolher as coisas, foi quando o inesperado aconteceu. Em meio de tanta papelada um pequeno brilho de uma correntinha surge.

Martin a puxa e são revelado dois estranhos medalhões. Um era feito claramente de ouro maciço, e por mais intrigante que pareça, o mesmo símbolo do brasão do País das Maravilhas estava marcado nele e refletia em contraste com a luz. O outro já os deixou de queixo caído, era um pequeno “caco” de vidro colorido.

– Algum problema? – Senhora Louis os questiona.

– Onde foi que a senhora conseguiu isso? – disse Martin erguendo os medalhões na mão.

A expressão da coordenadora mudara, agora ficara séria e seca.

– É uma herança de família Senhor Martin – respondeu enquanto os arrancava da mão dele. – Muito obrigada pela gentileza.

Ela continuou o seu caminho até a sala. Os três amigos se viraram e fizeram uma troca de olhares.

– O que foi isso? – Nicole sussurrou.

– Ela tinha um medalhão que tenho certeza que é o sorriso do gato do vitral. E no outro havia o mesmo símbolo que já vimos antes. – Martin fala olhando para o chão tentando entender a situação.

– E que história foi essa de “herança de família”? – Lucas indigna-se confuso.

– Precisamos nos arriscar mais uma vez, para pegar aquele colar. – Nicole fala firme. - Todos? Por Alice?

– Por Alice.

Martin entrou na sua sala, a professora Louis já estava arrumando suas coisas na mesa, no último segundo ele pode perceber o mesmo brilho de antes vindo da bolsa dela.

*

Ele assistiu à aula sem dizer uma palavra, Louis estava apresentando uma palestra sobre Dante, havia no projetor uma pintura do mesmo, no qual Louis disse se tratar sobre Doppelgangers. Quando o sinal tocou ele esperou todos saírem para a próxima classe para que pudesse colocar seu plano em ação.

– Senhor Martin, você precisa se levantar da sua cadeira para assistir a próxima aula – Advertiu a senhora Louis.

– Senhora, há algo de errado. Eu não consigo levantar. – sussurrou alto o bastante para ela poder ouvir.

– O que?

Martin começou a fazer força diante as bordas da mesa, colocou um pé para fora no lugar e desabou no chão, começou a gemer e gritar da forma mais dramática e escandalosa possível que você possa imaginar.

A professora se assustou no princípio, travou tentando entender o que estava acontecendo. Em seguida correu até ele.

– Santo Deus! Martin, o que está acontecendo com o senhor?! – disse enquanto o levantava pelas costas.

– E-Eu acho que... – ele não completou a frase e voltou a gritar.

Lucas e Nicole ouviram o “sinal” e entraram na sala na ponta dos pés. Martin passou o braço pelas costas de Louis e apontou para a bolsa em cima da mesa.

– Espere aqui, vou chamar um médico na enfermaria! – berrou tentando escutar a própria voz no meio dos gritos.

Louis já ia se virar, mas Martin a segurou impedindo que pegasse seus amigos mexendo na bolsa dela.

– Espera um pouco professora Louis!

Lucas ergueu o medalhão para mostrar a Martin de longe e correu junto a Nicole de volta para os corredores.

– Agora sim, chame um médico!

Louis saiu em disparada da sala. Martin se levantou como se nada tivesse acontecido e foi em direção do refeitório.

Seus amigos estavam lá, o sorriso do gato encaixado perfeitamente no vitral.

– Martin, acho que cometemos um erro. Nada aconteceu – Nicole comentou num tom baixo.

– É, nada destrancou ou uma mensagem foi revelada. – continuou Lucas.

Martin se dirigiu até ao vitral e olhou nos dentes profundos, detalhados e brilhantes do gato.

– Como não?! – questiona em dúvida – Tem algo escrito aqui.

Martin observou até chegar à conclusão de que as escrituras no sorriso eram uma espécie de mapa esquematizado.

– Parece estar nos direcionando para algum lugar dessa sala – Martin comentou.

– Peguei vocês! – a voz da professora Louis os surpreende.

– Senhora Louis! Nós só estamos... – Nicole tenta começar a criar uma desculpa.

– Não precisa explicar nada Senhorita Fialho. Sabe Martin, história natural não é só o que vivi. Fui uma grande atriz em Londres dos anos 70 até os 80. Sei identificar uma má atuação de longe. – firmou o passo olhando diretamente para ele – Só fingi acreditar porque queria ver o que você pretendia. Agora me devolva o sorriso do gato.

Ela esticou a mão na direção deles, claramente não estava pedindo e sim mandando.

– O quê você quer com isso? – Martin pergunta, ele precisava de respostas.

– Ah, meu caro Martin... Não ia fazer diferença nenhuma te contar isso agora. Um segredo só faz sentido se for descoberto no momento certo. – ela disse com um sorriso diferente, um que ele não conseguia decifrar dessa vez.

Ele tirou o pedaço de vidro do bolso do casaco e colocou sobre a mão da professora. Ela deu as costas e andou mais ereta possível até a porta, se virou na direção deles e sorriu de novo, todos entenderam o significado dessa vez. Era um sorriso de esse-vai-ser-o-nosso-segredinho.

– Rápido! Alguém me dê uma agenda e caneta antes que eu me esqueça da mensagem do vitral. – Martin sacudiu com as mãos nervosas.

Nicole vasculhou sua pequena bolsa e tirou um bloco de anotações amarelo com uma caneta roxa amarrada na lombada.

– Aqui está.

Martin rabiscou uma folha sem piscar, quando terminou suspirou de alívio.

– Era isso que estava lá. – explicou - Eu tenho uma teoria talvez-

– Ei! Ei! Ei! – Lucas interrompe todo o raciocínio. – Não perceberam o que acabou de acontecer?! A senhora Louis sabe de alguma coisa sobre isso tudo!

– É verdade! O que foi aquilo dela com você Martin? Ela ficou te encarrando o tempo todo, falando frases enigmáticas....

O olhar de Martin virou para baixo acompanhado de sua cabeça.

– Eu acho que... Ela me espiona. – a voz do garoto não chegava a ser nem um sussurro.

– O quê?! – Lucas e Nicole berraram, pareciam irritados por ele não os ter contado aquilo antes.

– Desde quando isso começou tenho a sensação de estar sendo observado. Naquele dia quando estávamos no trem, juro que vi uma pessoa encapuzada de vermelho do lado de fora. Agora descobrimos que ela certamente tem algo haver com isso tudo do livro. Talvez até ela mesma tenha colocado aquela carta nas minhas coisas.

– Mas Martin, porque ela faria isso? – a voz de Lucas torna-se um pouco melancólica.

– Verdade, se ela estiver atrás do livro também porque te ajudaria? – Nicole pergunta tentando olhar nos olhos dele.

– Eu não sei. Mas uma coisa é certa, temos mais uma pista para descobrir aqui.

– Certo. – os dois falam em coro.

Martin pegou o desenho que fez no bloco de Nicole e começou a explicar.

– O desenho do sol só pode se referir ao vitral, em seguida o balcão. Só não entendi esse quadrinho com números.

– Vamos até o balcão então. – Nicole os levou até lá. Eles ficaram por algum tempo analisando o local, não parecia ter nada que relacionasse com um pequeno quadro com números.

– Tem certeza de que era isso mesmo que estava no papel Martin? – perguntou Lucas coçando a cabeça.

– Sim, eu não entendo o que é para descobrirmos aqui.

– Lembra-se naquela vez na casa? Use a carta de novo. Talvez ela revele mais alguma coisa.

Martin tirou-a de dentro do bolso e começou a analisar a sala por um só olho através da camada de plástico da carta. Seus olhos se viram para baixo, no piso xadrez do lugar, ele descobriu.

– Já entendi. Olhem – ele coloca a carta nos olhos dos amigos – no piso xadrez dá pra ver os mesmos números escritos no desenho do vitral.

– É verdade, deve ter algo por debaixo do piso! – refletiu Lucas.

– Vocês não perceberam ainda? – questiona Nicole num tom com uma ponta de indignação. – Isso é praticamente um jogo de amarelinha!

Ela se posicionou em frente ao quadrado de número um e pulou sobre ele, um som estranho surgiu no momento.

– Viram? Tem alguma coisa.

Em seguida avançou para o dois, respectivamente o três e quando colocou seu peso no quarto azulejo o som de algo saindo do lugar foi ouvido.

Nicole se abaixou e começou a analisar o chão junto de Lucas e Martin. Acharam um azulejo solto.

– Eu sabia! – Exclamou Nicole retirando o azulejo do chão.

– Deve ter algo lá no fundo – Lucas enfiou sua mão no buraco do chão, ele ficou um tempo vasculhando com os dedos. – Nada! Não tem nada aí dentro!

– Será que alguém já encontrou antes de nós? –Nicole perguntou intrigada.

– Não. – Martin pegou o azulejo solto e o analisou – A pista não está dentro do buraco e sim no próprio azulejo. Deem uma olhada.

Lucas e Nicole carregaram a pequena peça com as mão que quando bateu em contraste com a luz, a mensagem foi revelada.

“Qual a semelhança entre um corvo

E uma escrivaninha?”

***

Martin reconhece o toque de seu celular, ele faz todo esforço para se levantar da cama e atende-lo. Era Nicole, parecia animada.

– Vocês podem vir aqui? Minha colega de quarto saiu e acho que descobri algo sobre o enigma.

*

Lucas bate na porta com a maior delicadeza possível, em plena madrugada, os dois amigos estão fora de seus dormitórios, na parte “proibida para garotos”.

O som da tranca e ouvida do outro lado da parede. O ranger das engrenagens é escutado.

– Rápido, entrem! – Nicole sussurra.

Martin analisa o local rapidamente, era mais espaçoso do que os quartos do dormitório masculino (que de certo modo cria um sentimento de inveja dentro dele), o lado esquerdo era o de Nicole, tudo era bem arrumado, colocado em seu devido lugar e havia uma cama de montar com um lençol cor-de-rosa.

O lado direito do quarto havia uma cama de palha (onde o cobertor residia no chão), na parede um filtro dos sonhos e vários tipos sortidos e inimagináveis de amuletos pedras e folhas, também havia uma pilha de livros empoeirados no canto, potes com ervas e também tinha um leve aroma de incenso no ar. Parecia mais uma botica indígena do que um quarto.

– Que tipo de companheira de quarto você tem? – Martin não aguentou segurar a ironia.

– É a Sabrina, ela é meio que “natureba” – disse fazendo aspas com os dedos – Mas eu a apelido de Salem. Vocês irão se acostumar com o cheiro de ervas daninhas.

– Vamos direto ao ponto, sim? – Lucas resmungou impaciente.

– Bem, eu virei e revirei a internet toda em busca do enigma do chapeleiro (Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?) e encontrei algumas possíveis respostas.

Ela correu até a escrivaninha mais próxima e retirou da primeira gaveta um molho de papéis impressos, eram vários screenshots de páginas da internet relacionadas a Alice.

– Eu descobri que em 1989 uma sociedade aqui da Inglaterra realizou um concurso para as pessoas tentarem descobrir o enigma. Algumas pessoas falaram que porque “corvo” contém cinco letras que podemos esperar encontrar em escrivaninha, ou porque ambos têm pernas imensas e também porque “raven” e “desk” contêm ambos um rio: Neva e Esk.

– Hmm, faz sentido – Martin refletiu embora não estivesse certo sobre aquilo – Mas, de que modo iremos responder isso?

– É verdade, esse é o ponto. – Lucas olha para o chão.

– Podemos voltar naquela sala secreta na biblioteca, talvez tenha mais alguma coisa. – Nicole sugere.

– Não, é muito arriscado. Vamos nos dar um tempo para pensar mais. Aliás, já nos esquecemos de que a professora Louis tem alguma coisa a ver com isso tudo? Talvez até saiba que invadimos a biblioteca, roubamos o manuscrito e estamos atrás de um livro que pode não ser nada mais nada menos do que uma lenda urbana. – Martin diz olhando diretamente para Nicole.

Nicole já ia começar a rebater de volta, mas todo o raciocínio deles fora interrompido por um ranger de dobradiças no final do quarto.

Um guarda-roupa enorme e velho de mogno, a porta dele se abrira, havia algo, alguém dentro dele, os observando todo esse tempo.

As espinhas dos três jovens congelam simultaneamente, fazendo tudo ficar tão silencioso que foi capaz de ouvir suas próprias respirações.

Os olhos observadores brilham mais fortes e por fim uma voz fina e séria se revela na escuridão.

– Eu estava apenas duvidando de vocês três... Mas agora tenho certeza. Eu sabia que estavam escondendo alguma coisa.